Almas Prometidas escrita por ChatterBox


Capítulo 15
Capítulo 15 (Parte I)


Notas iniciais do capítulo

Melancolia nesse capítulo Y.Y
Boa leitura ;)
Beijocas, Anonymous girl writer s2.



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Capítulo 15(Parte I)

 - Por favor...! – Gritei enquanto me jogava nos pés de Jessica com as lágrimas rolando o meu rosto. – Fale com ele, por favor! Por favor! Por favor! Eu te imploro, Jessie!

Jessie olhava em volta estarrecida vendo as pessoas nos olhando no meio do estacionamento do colégio. Mas eu não estava nem um pouco preocupada com o que os outros estavam achando daquela cena. Precisava da ajuda dela.

Principalmente depois de Jared ter me admitido que tinha me drogado, colocando uma erva que confunde os sentidos na minha garrafa de água, aquele estúpido, aquele filho da...!

Precisava me manter sã... Precisava me manter sã...

 - Lara, querida, se levante...! – Jessie pediu de canto de boca enquanto olhava em volta sem graça para as pessoas rindo. – Me explique o que aconteceu, não consegui entender nada. Não precisa se jogar no chão para me pedir nada.

Me ergui do chão limpando minhas mãos sujas de areia e tentando me reestabelecer, era certo que eu não estava ligando nenhum pouco para minha reputação naquele momento, mas não precisava acabar com a dela também.

 - Não consigo achar ele. Ele sumiu depois do que aconteceu...

Chorei para ela.

 - Eric? Mas o que aconteceu?

 - Jared! Me drogou, colocou uma erva na minha água e quando eu bebi, não via nada, não ouvia nada, estava tonta e fraca, entrou no meu vestiário e pensei que fosse o Eric... E...

Não conseguia continuar, mas não foi preciso, ela adivinhou:

 - Ele beijou você?

 - Sim..!!

Chorei acabada. A visão de Eric me pedindo para ficar longe dele ainda se repetia milhares de vezes na minha cabeça.

 - Eu vou tentar contar a verdade para ele, mas não posso garantir, entende? Não sei se ele vai querer me ouvir.

Jessica explicou preocupada, enxugando minha lágrimas com humanidade.

 - Muito obrigada.

Agradeci num fio de voz, caindo em prantos de novo.

 - Mas não posso deixar você ir para casa desse jeito. Vamos, eu te dou uma carona.

Jessica me levou para o carro dela. Um Porsche conversível vermelho, foi a primeira vez que entrei num carro daquele porte. Mas não me importava nada naquele momento.

A esperança estava se esvaindo. Não sabia se ele iria conseguir esquecer isso para se lembrar do mais importante. Não posso amar outra pessoa. Mesmo que ele soubesse disso, não sabia se ele conseguiria esquecer aquela cena deplorável no vestiário com Jared.

Argh. Jared. Eu o odiava tanto. Não podia acreditar que ele podia ter feito aquilo comigo, ele era uma criatura desprezível, era isso. Ponto final. Não queria o ver nunca mais.

Quando entrei em casa. Nada parecia a mesma coisa. Meu corpo se moveu sozinho até meu quarto e abriu a janela. Nada do outro lado. Ele não estava lá. Onde ele estaria a final?

Me joguei ajoelhada no chão. Chorava e me encolhia em mim mesma. No meu peito, uma aperto como se meu coração tivesse se retraído depois de ter sido perfurado por milhares de alfinetes, como uma tortura.

As horas se passavam e parecia não sentir. Não sentia fome, sede, estava no mesmo lugar, encolhida no meio do quarto banhando meu rosto em lágrimas.

O telefone quebrou o silêncio do meu sofrimento. Corri, me arrastando no chão até lá e atendi desesperada, cheia de esperanças:

 - Alô??

 - Ahm... Lara?

Não era a voz dele. Era a voz de Jessica. Tentei engolir o choro. Ela poderia estar trazendo uma boa notícia.

 - Jessie, você falou com ele? Ele vai voltar? Ele me perdoou? Ele ouviu você?

 - Lara... – Suspirou do outro lado com tom de tristeza. Soltei um soluço. – Escute querida, ele está muito nervoso. Não consegui falar direito com ele, está tão nervoso que não consegue pensar. Estava quebrando tudo onde eu o encontrei. Mas... Você tem que ficar calma. Ele vai se acalmar e com um tempo, você mesma vai poder esclarecer tudo. Não se preocupe, ele não pode viver sem você, sei do que estou falando.

 - ...

Não consegui responder, minha respiração parou. Tudo pareceu escuro de repente. Podia ser o fim. Tudo ameaçava desabar. Não via minha vida sem ele. Não existia vida sem ele. Nada existia sem ele.

 - Lara...?

Desliguei. Não podia pensar. Não fazia a menor ideia de onde ele estava e não sabia se iria me perdoar. Um pânico me invadia, não podia imaginar que tudo estivesse acabado.

Fechei os olhos. Todas as imagens vieram para minha mente. Tudo o que passamos até estar juntos de novo. O beijo dele no carro. A primeira vez que dormi ao seu lado. Todas as vezes que ele conseguiu me fazer me sentir segura no seu abraço. Tudo partindo. Tudo estava ameaçado a ir embora.

Dia 1(Sem Eric)

No dia seguinte não senti que dormi. Minha cabeça latejava e não tomei banho. O despertador tocou e me vi deitada no mesmo lugar. No chão. Lágrimas secaram no meu rosto e o endureceram.

Tomei banho. Deixei aqueles jatos de água baterem na minha testa e molhar meu cabelo tentando afastar a dor que latejava na minha cabeça.

Não consegui achar uma roupa. Abri o guarda-roupa e parecia que todas elas sumiram, não via nenhum interesse nelas. Peguei uma blusa moletom e uma calça jeans e fui para a escola.

Pelo menos deveria ir. Respirei fundo vendo meu pai pegando seus pertences antes de sair. Ele notaria que aconteceu alguma coisa e que Eric não iria me levar aquela manhã porque nós brigamos. Não sabia se aguentaria assistir a expressão de alegria que abriria, já que ele nunca aprovou nosso namoro.

Não, não faria isso. Liguei para a Stella, torcendo para que ela ainda não tivesse saído de casa.

 - Alô?

Ela atendeu. Pigarreei, lembrando de tentar não fazer ela notar o meu estado.

 - Stella...?

Não funcionou muito bem, não tinha forças para falar. Respondi num fio de voz falhado e quase sem som. Houve uma pausa da outro lado.

 - O que aconteceu, Lara? Que voz foi essa?

 - Nada, Stella. – neguei, sem forças. – Pode me dar uma carona para o colégio?

 - Mas e o Eric?

Respirei fundo. Ouvir aquele nome de novo em outro lugar que não fosse minha mente ameaçou o começo de um choro, o engoli.

 - Pode só vir me buscar, por favor?

Pedi, quase implorando.

 - Claro...

Sua voz assobiou preocupada e compreensiva. Desligou.

Olhei sem interesse para a mesa do café da manhã. Não comi nada e não sabia por que ainda estava sem fome. Mas me sentia fraca. Talvez a dor da fome fosse nula comparada a que estava em meu coração.

Peguei uma panqueca e mordi, sem cobertura, sem nada. Só pela obrigação de me manter de pé. Saí pela porta para esperar na varanda. Sentei-me na escada que dava da varanda para o gramado e fiquei ali, mordendo minha panqueca.

 Não consegui evitar de olhar para o outro lado da rua. O carro de Eric não estava lá. Ou ele não foi para casa desde ontem, ou tinha saído muito cedo para não se deparar comigo.

Nunca pensei que um dia isso fosse acontecer. Que criatura desprezível eu deveria ser para que ele tivesse de fugir de mim como se eu fosse alguma espécie de monstro. Acho que implorar e insistir que me ouça não é um ato monstruoso. Se for, seria um monstro milhares de vezes, por toda a minha vida.

O carro de Stella parou na porta. De alguma forma foi difícil me erguer da escada, senti dor nas costas, talvez por ter dormido no chão.

Entrei no carro e sentei no banco do carona, bem ao lado dela. Não ia falar nada, mas lembrei da obrigação de dizer:

 - Bom dia.

Não era um bom dia.

Stella não disse nada quando me viu. Ficou parada pelo que me pareceu serem três minutos me examinando de cima a baixo com expressão de horror. Depois lançou o olhar na casa de Eric, como se estivesse juntando as peças.

 - Amiga... – Respirou fundo depois do que me pareceu ser uma longa reflexão. – O que aconteceu? Vai, me fala. Olha para você, amor, está com olheiras esburacadas de baixo dos olhos, o cabelo está molhado sem desembaraçar e olha essa roupa...

Seu tom era de preocupação, angústia e pena.

Stella sempre foi minha melhor amiga. Mas sobre isso, ela não podia me ajudar.

 - Briguei com Eric.

Sibilei sem voz. Esperava que essa fosse uma explicação convincente porque não estava forte o bastante para formular outra.

 - Por quê?

Quis saber.

 - Não posso dizer.

Admiti, numa tristeza profunda.

 - Amiga, eu sabia que uma dia isso não ia acabar bem, mas isso nunca aconteceu com você antes, você até aceitava muito bem os términos dos seus namoros, até agora. Viu? Os bad-boys são um caos, por mais que a gente tente, sempre acabamos apaixonadas.

Stella lamentou. Eu sempre passava bem pelos meus términos de namoro porque eu nunca conseguia amar de verdade quem eu namorava.

 - Olha, eu não vou insistir. – Stella puxou o ar para dentro numa rendição, virou-se para frente encaixando a chave na ignição e dando a partida no carro. – Mas eu posso te dizer uma coisa amiga, vai passar, existem muitos caras que são melhores que ele no mundo, e você vai achar um que te mereça.

Assenti por obrigação. Aquilo só me fez me sentir pior porque eu sabia que aquilo não era verdade. Não era culpa da Stella, ela estava muito longe de saber o que estava acontecendo de verdade e conseguir me ajudar.

Quando cheguei na escola, aconteceu ao menos o que eu queria. Ninguém me notou estando naquelas roupas. Fui direto para o meu armário. Tinha que encontrar Eric de algum jeito e pedir perdão, de algum jeito, só não sei como.

Mas a parte pior era a sensação estranha e incomum que me invadira desde que me deixou. Sentia-me estranhamente e extremamente sozinha, como se ninguém ao meu redor fosse o suficiente para satisfazer meu desejo de atenção. Eu precisava dele. Precisava de qualquer pessoa, de todos ao mesmo tempo e sentia uma inquietação terrível que me fazia ter vontade de abraçar o mundo inteiro ao mesmo tempo para ter certeza de que ninguém me deixaria.

Todos , os que eu conhecia, e os que eu não conhecia. Até estando com Stella, aquilo me deixou bem melhor, aquela comunicação curta de preocupação parecia ter tirado levemente um alfinete entre os milhares que espetavam o meu coração. Mas ao me afastar dela, esse alfinete voltou a se cravar nas paredes do meu órgão cardíaco.

De repente, alguém me puxou bruscamente pelo ombro e me jogou contra os armários, bem na hora do susto, eu pensei que fosse Eric. Mas me decepcionei quando vi Jared ao invés disso.

E para a minha surpresa, ele estava reclamando comigo, me repreendendo grossamente com muita irritação como se eu estivesse fazendo algo muito ruim com ele:

 - O que está fazendo? Eu quase não te reconheci nessas roupas! Olhe para si mesma! Acha mesmo que aquele cara merece isso? Você não pode deixar de ser você, Lara, você não pode se estragar depois do que eu fiz porque não foi essa minha intenção.

Via a boca dele mexer, e as palavras ecoarem nos meus ouvidos e via a imagem dele na minha frente com preocupação e irritação.

E não acreditei no que fiz, eu o agarrei num abraço. Um abraço desesperado por conforto e compreensão, enquanto as lágrimas caíam descontroladas pelo meu rosto.

Sabia que fora só por conta dele que eu estava vivendo aquele momento de completo terror na minha vida, mas eu não podia controlar isso. Aquela estranha emoção de solidão que me invadiu desde que Eric me deixou só conseguia se estabilizar com a dor da perda quando eu estava perto de alguém, seja quem fosse, mas todos que me dirigiam a palavra serviam, e assim que abracei Jared, senti-me melhor como se dois alfinetes tivessem sido arrancados do meu coração de vez.

Fiquei mais ali, apreciando a sensação de estar o mínimo melhor possível.

Ele não entendeu, ficou três segundos surpreso com a minha atitude e paralisado, mas depois entendeu que devia responder o meu abraço. E quando me envolveu nos braços dele, pareceu que mais um alfinete se fora.

Não eram os braços fortes e quentes de Eric. Eram os braços duros e frios de Jared, mas eles serviam, porque naquele momento eu me sentia tão mal que qualquer migalha que me fizesse me sentir um grão que seja melhor, não importava qual fosse, eu a acataria. Mesmo que fosse abraçar o homem que causou tudo, por mais incrível que parecesse.

A voz dele soou no meu ouvido, num murmúrio:

 - Eu vou cuidar de você, Lara. Não vou deixar você sozinha nunca mais e você vai se sentir melhor, você vai ver. Fiz isso para o seu bem...

As palavras dele me machucavam e eram calúnias e me fazia ter vontade de retrucar e debater irritada, me soltando dele naquele mesmo momento e o fazendo se sentir a pessoa suja e doente que ele é.

Mas ao mesmo tempo, eu pensei e não adiantaria nada. Ele já fez. Já fez isso e a sua proposta podia ser, não a minha cura, porque a cura do meu sofrimento era Eric, mas o meu tratamento. Se ele ficasse comigo o tempo todo como disse, iria melhorar aquela sensação de solidão e alfinetes no coração e eu conseguiria me estabelecer para pelo menos conseguir armar uma estratégia que fosse válida para ter Eric de volta.

Minha cabeça moveu-se automaticamente com o sentimento de esperança, assentindo para a sua sugestão, freneticamente.

 - Sim...? – Olhou para meu consentimento como confirmação. Depois sorriu com satisfação. – Bom...!

Acho que ele pensava que o plano dele de conseguir me conquistar depois de Eric me deixar estava dando certo. Mas na verdade não era isso. Eu não diria, enquanto ele me desse o que eu precisava, podia enganá-lo, porque ele fez o mesmo comigo.

Jared me acompanhou para todas as aulas. Eric estava desaparecido. Ninguém sabia onde ele estava e isso estava me fazendo me sentir cada vez mais em pânico.

Quando fechava meus olhos... Ele era tudo que eu via.

A solidão apertava meu peito e os alfinetes ameaçavam voltar sempre que Jared permanecia alguns segundos longe. Odiava precisar dele, mas naquele momento, estava muito fraca para odiar qualquer coisa.

*************************************

Não acreditei, mas levei Jared à minha casa. Não conseguia imaginar como teria forças se chegasse em casa e me deparasse com a solidão de estar sozinha outra vez, sem ninguém à minha volta.

Eu não era assim. Não antes de Eric, não era carente. Nunca precisei da presença de ninguém para me satisfazer, mas ele fizera isso, me tornara dependente dele e me obrigara a depender de Jared agora. Era o único que se oferecia disponível para mim vinte e quatro horas por dia e podia satisfazer minha estranha sede de atenção.

Não tinha ninguém em casa. Joguei-me no sofá ouvindo os passos de Jared caminhando atrás de mim. Por um minuto, não quis ouvir o som de mais nada, só das minhas lembranças, mas Jared interrompeu com sua voz vinda da cozinha, que pareceu achar rápido...

 - Nossa, to morrendo de fome... Tem o que para comer. Também deve ta faminta, não vi quase nada no seu prato do almoço.

Reparou, ouvia o som dele fechando e abrindo os armários, à procura de comida.

Claro, fome. Uma das necessidades básicas do ser humano. Tinha me esquecido disso. Ainda não a sentia. Não havia fome, minha barriga estava vazia, mas não roncava ou me dava vontade de procurar algo para comer.

 - Não quero nada.

Sibilei num fio de voz. Sem me mexer no sofá.

 - Ham... – Jared resmungou, seus passos se aproximaram quando entrou na sala e me olhou deitada no sofá. – Escuta... – Jogou-se ao meu lado, sentado. Odiei isso, era só para ficar por perto, não precisava tentar me reanimar, ele já fez demais. – Sei que se sente mal, mas a minha função é não deixar você esquecer de si mesma. Tem à mim agora, e quero que você acabe curada daquele cara. Quando acabar, vai ver que ainda sentirá algo faltando, mas terá uma vida normal, será como antes.

Sinalizou e abriu um pacote de maçãs desidratadas. Não lembrava em qual parte eu lhe dei tanta liberdade em minha casa, mas que seja.

 - Coma.

Ergueu uma maçã em frente ao meu rosto, deitado no sofá, imóvel. Peguei a maçã por obrigação e mastiguei. Estava tão desligada no que eu precisava que tinha me esquecido completamente o quanto eu odeio maçãs desidratadas. Elas me davam ânsia de vômito.

  - Aaaarghh!!!!

Resmunguei longamente, quase vomitando e obrigando meu estômago a receber aquilo.

 - Eu odeio maçãs desidratadas, por que me deu isso?

Reclamei com ódio.

 - Não tinha mais nada na casa. – Explicou. – Está vazia, seus pais devem ter ido fazer o mercado hoje, não?

Sugeriu enquanto se levantava do sofá.

 Quando fez isso, relembrei com mais atenção o que disse um minuto atrás. “Será como antes”... Não fazia ideia de como ele sabia que antes era assim. A sensação de abstinência sem solução, mas uma vida razoável.

 - Como você sabe sobre como eu me sentia antes de Eric voltar?

Levantei do sofá desta vez, querendo prestar atenção em qual seria sua explicação. Embora já tivesse uma ideia. Espionou.

 - Eu pesquisei, Lara. Sabe que nós caçadores temos acesso a livros sobre o assunto, não é? Para ajudar na caça, saber sobre o que caçamos. Li uns livros sobre como é a relação entre os pares. Fala como vocês reagem à situações. Dizia que quando um par se afasta do outro bruscamente, sem nenhuma preparação, primeiro vem o sofrimento, depois, dependendo em quanto tempo passaram juntos, vai passar o mesmo tempo de recuperação e depois é assim que se sente... Abstinência, mas conformismo.

Franzi o cenho.

 - Mas eles só dizem a parte teórica, não mencionam os nossos sentimentos, o quanto é doloroso até a recuperação e quanto é terrível a sensação que sente quando está recuperada. – Cruzei os braços. – Nós não somos felizes como você pensa. Nunca estamos felizes, não importa o que fazemos, sempre sentimos uma sensação de faltar algo, como se houvesse uma angústia permanente que você não consegue se curar.

Senti aperto no peito ao lembrar de como era me sentir assim e pensar que poderia viver tudo de novo.

 - Eu sei como é isso, mas... – Jared virou-se para mim, sua expressão era semelhante à compreensão, junto com ceticismo. – Era a única forma de ter você, tinha que tentar.

O jeito que ele falava como se não fosse nada de mais, me irritava profundamente. Respirei fundo, tentando não me afetar com sua nojeira.

  - Está doente, sabia? É isso que eu penso.

Revelei calmamente, mas dura como pedra. Não reagiu, apenas ignorou como se o que eu dissesse fosse loucura e que ele pudesse curar depois.

 - Foi assim que fiz o plano... – Começou a explicar, mudando inteiro de assunto. – Dizia que quando um par é obrigado a ter uma atitude de afeto com outro que não seja o seu par, ele projeta a imagem perfeita dele para que possa fazer isso. E no caso de estar drogado, a sua mente projeta o que quer ver, como você sempre quer vê-lo, imaginei que te drogando seria fácil fazer aquilo. Quando a reação passasse seria tarde de mais. Funcionou.

Tentava arduamente não me abalar com suas palavras.

 - Vai ficar bem logo, logo, vai ver.

Passou a mão no meu cabelo. Não disse nada. O ignorei rígida e seca.

***************************************

Não queria que voltasse a ser como antes. Se de imaginar eu produzia pensamentos suicidas.

Na cama, à noite, já não era novidade para mim que não conseguiria dormir. Jared ficaria para dormir comigo se pedisse, mas eu não podia fazer isso, não podia deixar outro deitar no lugar de Eric, principalmente quando esse outro era o que tinha nos separado.

Procurava a resposta para tudo aquilo, tentando entender o porquê de estar fazendo aquilo. De estar deixando Jared ficar perto de mim, e me perdia tentando lembrar em qual parte me tornara uma pessoa tão excessivamente dependente.

Dia 2 (Sem Eric...?)

Um som me despertou, quer dizer, me levantou, já que não dormira profundamente a noite toda. Um som de um carro. Me ergui da cama rapidamente e corri até a janela, na ânsia de ver o carro de Eric e quando vi, foi como se os alfinetes que pregavam-se no meu coração, fossem rapidamente substituídos por uma onda de esperança.

Foi a mesma onda de esperança que me levou correndo para fora de casa, não sei como fui parar lá tão rápido, mas lá eu estava, correndo em direção ao FIAT de Eric, que tinha acabado de estacionar na garagem da sua casa.

Quando saiu do carro, a primeira coisa que viu foi eu. De pijama, talvez despenteada e com olheiras ainda mais fundas cravadas à baixo dos meus olhos.

Mas o que importava foi que não conseguia descrever o que senti quando o vi. Não tinha tempo para trocar de roupa ou qualquer outra coisa. Ele podia escapar em qualquer fração de segundo, era assim que eu me sentia. Meu coração acelerou quando vi sue rosto mais uma vez. Dois dias foram o bastante para imaginar que ele não era mais real, começava a se parecer com uma ilusão, uma ilusão perfeita que minha mente criara, todo aquele tempo e toda aquela história me parecia uma ilusão desde que se fora.

Usava seu boné. Também não parecia em seus melhores dias. Saiu do carro de expressão rígida e gélida. Tinha olheiras e parecia não ter penteado o cabelo fazia dias. Estava acontecendo o mesmo com ele. Eu sabia.

 Não esboçou sorriso ou qualquer reação boa ao me ver. Apenas inquiriu seco:

 - Que parte de “Não me procure mais”, você não entendeu?

Aquilo soou como uma rocha em meu estômago, mas eu já esperava essa reação dele. Ignorei o que disse e sibilei:

 - Todas as partes, eu acho.

Fechou a porta do carro com força e respirou densamente, o ar que puxava parecia vir junto com mágoa.

 - Que pena. – Lamentou, mas não havia tristeza na sua voz. – Não faz a menor diferença. Acabou.

Tudo bem, aquela foi muito difícil de aguentar. Mas eu me contive, precisava me conter. Precisava deixar claro tudo que aconteceu, precisava tê-lo de volta. Engoli o choro que me veio, ignorei sua última frase e perguntei num fio de voz:

 - Onde esteve...?

Respirou densamente outra vez.

 - Por que se importa? – Berrou irritado. Depois suspirou como se procurasse a calma. – Não faz mais jus à você. Por que não pergunta onde o Jared esteve? Aliás, acho que você sabe, já que ficou perto dele o tempo todo.

Olhei-o boquiaberta e imóvel. Onde quer que estivesse nos dias anteriores, esteve por perto. Viu eu com Jared. Mas não fazia a menor diferença! Eu-não-amava-ele!

 - E-eu... – Gaguejei, nervosa. – Me sinto péssima. Sinto como se precisasse de qualquer pessoa para ficar perto de mim desde que você foi embora, estou fraca e ele foi único que se disponibilizou. Mas não faz a menor diferença, porque ele me drogou aquele dia. Foi tudo um plano. Ele colocou uma erva na minha água e eu vi você ao invés dele.

 - Não importa, Lara! Você sente alguma coisa por esse pivete! – Urrou. – Não pode amar outra pessoa, mas pode gostar, pode se sentir atraída, o fato é que você gosta dessa sedução nojenta dele! Por isso você sempre concordava em conversar com ele, sempre insistia em ajuda-lo, eu sei de tudo agora!

Urrou e simplesmente disparou indo para a entrada da sua casa. Nunca fui tão insultada em toda a minha vida. Já esperava a rejeição dele, mas nunca pensei que iria ser tão cruel e injusto.

Terrível hora que resolvi ser solidária com aquele caçador desprezível!

 - Isso é mentira! – Gritei. Entendia a mágoa dele, mas não admitia aquela falta de confiança, nem aquelas audácias que disse. – Tudo que eu fiz foi para ele nos deixar em paz. Eu nunca respondi às cantadas dele! E eu só tenho que ficar andando com ele para todos os lugares agora, por sua causa!

Parou na porta e virou-se bruscamente, andou depressa até mim, se aproximando, me encarou com olhar ameaçador e cheio de ódio, não pude segurar a primeira lágrima.

 - Não adianta mentir mais. Eu já conheço essa sua carinha de inocente. – Me enfrentava. – Agora espero que entenda direito: Não me procure mais.

Bateu a porta entrando bruscamente em casa.

Milhares de lágrimas rolavam.

Agora era definitivo. Não iria me perdoar nunca.

Mas o que eu pensava agora era como eu conseguiria fazer isso. Viver sem ele. O que eu faria dali para frente se tudo com que eu sonhava para o futuro o incluía?

Não sonhava com uma carreira profissional muito grande, tudo que eu sonhava era me casar com ele, ter filhos e tudo mais. Tudo era ao lado dele, mas que grande droga!

**************************************** 

Não estava pronta para voltar para a escola. Não estava pronta para olhar para Jared outra vez e fingir que gostava dele. Tinha cada vez mais raiva dele.

Mas tudo indicava que assim seria minha vida dali para frente. Tinha que me preparar para isso.

 - Amanhã...! O eclipse é amanhã, Lara.

Sentou-se ao meu lado segurando uma página escaneada da previsão da lua de amanhã. Olhei com curiosidade. Odiava ele, mas de pensar que essa data que me dava calafrios desde a volta de Eric finalmente chegou, ainda não parecia real.

 - Mas não vai me sacrificar.

Disse sem ânimo.

 - Eu, sei, mas ainda existem outros caçadores, tenho que manter você segura amanhã.

Fez a observação. Pensando bem, não era má ideia ser sacrificada. Seria muito mais fácil. Não teria mais de aguentar toda a minha vida de vazio. Longe de Eric, nada aquilo fazia sentido.

Mas... No que eu estava pensando? Estava começando a perder a razão... O que fora aquilo? Pensamentos suicidas?

Tem de se manter viva, Lara! Nenhuma razão é tão grande que valha sua própria vida. Certo?


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Notas finais do capítulo

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