Almas Prometidas escrita por ChatterBox


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Transição para a emoção maior esse cap. ;)
Boa leitura.
Beijocas, Anonymous girl writer s2



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/175119/chapter/13

 Jared não perguntou, apenas sentou-se ao eu lado na aula de química.

Soltei um longo suspiro de exaustão.

 - Oi.

Saudou. Parece que não fazia a menor diferença para ele o quanto eu queria que ficasse longe de mim.

 - O que você quer?

Fui direta.

 - Calma. – Riu. – Achei que você quisesse saber que uns colegas meus já sabem da volta do par da sua amiga.

Alertei-me. Raymond. Corria perigo. Fiquei gélida no mesmo momento, tinha de avisar Jessica.

 - Eles... Querem sacrificá-lo?

 - E o que mais seria? Vão leva-lo para tomar chá?

 - Preciso avisa-los... – Suspirei tensa, peguei meu celular e redigi uma mensagem para Jessie dizendo que precisava falar com ela e Ray urgentemente. Foi numa fração de segundos que me veio a ideia. Jared tinha me ajudado? – E... Por que está me avisando isso?

Ele ficou meio perdido, deu uns suspiros, como se também não tivesse ideia.

 - Não sei. – baforou meio irritado. – Diga-me você.

Franzi o rosto sem entender.

 - Do que está falando?

 - Você. Está me deixando confuso. Devo ajudar você ou não? Disse que concordava que não precisávamos brigar até o eclipse e agora acha estranho?

 - Mas é claro. Não precisar brigar não significa que somos tão amigos assim. Traiu seus colegas de caça para me avisar?

Puxou o ar para o peito arrastando o corpo pela mesa, inexato.

 - Não sei mais o que eu quero. – Do nada se declarou com tristeza, quase chorando. Passou a mão no rosto agoniado com a confusão. Não nego que fiquei sensibilizada com a situação dele. Eu era a única que lhe apresentei algum sinal de amizade. – Você precisa me ajudar.

 - Em troca de quê? Você vai me matar no final.

 - Não sei se é isso que eu realmente quero. – Disse-me, pela primeira vez, uma pitada de esperança surgiu. Poderia mesmo desistir de me matar? – Se me ajudar eu prometo que posso te livrar e ainda ajudar seus amigos.

Era uma proposta arriscada, poderia ser um truque, mas também era minha única chance.

 - No que você precisa de ajuda?

Talvez eu venha me arrepender depois, mas já era tarde de mais. Riscos são para se correr.

 - Quero que me leve a algum lugar. Eu quero conversar com você, preciso saber de umas coisas.

Não sabia se era uma boa ideia. Estava me convencendo ainda mais de que aquilo era um truque, para me levar para alguma emboscada e me manter de refém até a data prevista para minha morte.

 - Por que você não me pergunta aqui? Posso responder o que você precisa.

 - Pode me levar aonde você quiser, pode ser um lugar público, juro que isso não é uma emboscada.

Parecia até convincente, mas não podia confiar, mas pelo visto, em um lugar público e com Eric na vigia eu não corresse nenhum risco, era o único jeito.

 - Tudo bem, mas eu vou te levar sem dizer para onde, pode ser?

 Dei a condição.

 - Claro. Depois do colégio.

Concordou.

Eu o levaria à sorveteria Janine’s Claire Bottom. Era um lugar onde todos me conheciam e que deveria estar movimentado, com certeza. O motivo de não dizer para onde vamos ainda? Para ele não ter chances de avisar os colegas de caça se estivesse tramando uma emboscada.

Eric quase quis me matar quando contei. Pegou-me pelos ombros e me chacoalhou fitando meus olhos com desespero:

 - Você ficou louca???

Respirei fundo. Tentei pensar em algo para dizer, a verdade é que nem eu sabia se estava certa. A primeira coisa que veio na minha cabeça foi a visão dos olhos dele me fitando de perto, estavam azul meio púrpura, difícil dizer, mas estava quase roxo.

 - Você está fraco, não está...?

Bem que era fácil perceber, ele nunca me chacoalharia estando forte e podendo quebrar meus ossos. Revirou os olhos num suspiro.

 - Estou, e o que me aconselha a fazer agora? Tenho que ir sugar depois da aula, não vou poder ficar de vigia.

 - Então posso pedir à Jessie. Ela também está envolvida agora, os caçadores ficaram sabendo da volta de Raymond, tem certeza que é ele o par dela agora.

 - É mesmo? – Preocupou-se. – Tenho que avisá-la, mas não sei se posso deixar ela vigiar você, não é seguro, só confio em mim mesmo para ficar de olho em você, sou eu o seu par aqui, não é justo passar a responsabilidade para outro.

 - Ela vai entender, é uma desalmada também, sabe como é quando precisa sugar e além disso vocês tem um acordo de parceria, não é? Faria o mesmo para ela, cuidando do Raymond.

Tentei o tranquilizar, passou o polegar no lábio ainda indeciso.

 - Tudo bem, mas... – Arriscou de uma vez. – Sabe as regras, não é? Não deve dar nenhuma informação sobre nós. Ele pode usar. E não confie, não vá a lugares vazios com ele e... – Se aproximou e beijou minha boca, brevemente, embora eu tivesse me esforçado para que não fosse. – Tome cuidado.

Implorou em voz baixa. Como eu poderia desobedecê-lo naquelas circunstâncias? Me jogaria de uma ponte se fosse isso que tivesse implorado.

Jessica ficaria na espreita, disfarçada como uma das clientes enquanto eu entrava na sorveteria, chequei com ela antes de entrar, fazendo o sinal. Vi-a sentada no balcão tomando um sundae, de chapéu e óculos escuros, o casaco grande cobria os cabelos, que entregariam tudo se ficassem à mostra.

Entrei ao lado de Jared e sentamos em uma mesa, a mesma que sentei com Rick e Stella da última vez que fomos ali. Estava curiosa para saber o que queria, se aquilo poderia me ajudar ou não, se iria ser verdade ou não, estava ali para arriscar, mas precisava parecer que não estava com medo, foi um trato, eu ajudaria ele e ninguém ajuda ficando com expressão amedrontada o tempo inteiro.

 Corrigi-me e pigarreei a primeira pergunta:

 - Então...? Você sai com seus colegas de caça? Vão a lugares como esse?

Peguei o cardápio que a garçonete entregou para me distrair, a tensão se quebrara um pouco depois de um de nós ter se manifestado.

 - Não. – A pesar de parecer assustador a maioria das vezes, Jared estava sempre rindo, tinha risos meio sarcásticos, mas eram espontâneos, conseguia me sentir à vontade. – Nós não somos amigos, Lara. É mais algo como colegas de trabalho, um competindo com o outro para serem promovidos.

Bufei um riso breve.

 - Então por isso pediu para eu vir? Quer saber como sair dessa? – Adivinhei. – Na verdade não acho que eu seja a pessoa certa para isso. Não sei nada sobre o mundo de vocês, tudo que sei é o que me contam.

 - Eu sei. Mas a verdade é que não existe um jeito, fazemos um juramento de sangue, sabe o que isso significa? Juramentos de sangue não podem ser quebrados. Nunca, se escolhi ser um caçador, terei de ser para sempre.

Engoli o seco. Me perguntava porque alguém decidiria fazer algo tão cruel consigo mesmo.

 - Por que fez isso? Nunca pensou que poderia se arrepender, como se arrepende agora?

  - Eu tinha catorze anos. Eu era um daqueles garotos apaixonados por histórias sombrias, que vivia se perguntando a relevância do mundo, da morte, da vida além da nossa... - Algo como um gótico leitor de livros de bruxaria negra. Entendi. - Eu achava que era minha decisão final, adolescente rebelde, que achava que todos estavam contra ele, sabe como é. Achei que essa seria a vida que fui destinado, a imortalidade, a caça, o segredo. Tudo isso.

 - E agora você vê que não. É, deve ser horrível. Mas pensando bem não culpo você, quando somos pré-adolescentes sempre achamos que sabemos o que queremos da vida, mas não sabemos.

Acabei relaxando um pouco. Não tinha porque ele ter mentido, só podia estar dizendo a verdade. Todos aqueles caçadores, tinham feito o mesmo, eram criaturas deploráveis presas a um erro que cometeu no passado.

 - Mas existem formas de fugir, a caça é basicamente individual de cada caçador, fazemos o pacto e desde então caçamos sozinhos, só entramos no conselho quando mudamos de nível, para trocar a tatuagem, você sabe.

Sei? Não, mas imagino.

 - E qual é a forma?

 - Se eles não nos supervisionam, não vão saber se eu largar a caça. Resolver ser só mais um humano e ignorar o pacto. Não posso cancelar o pacto, mas posso ignorá-lo, entende?

 - Entendo.

Ainda era um pouco mórbido, a vida dele não seria nunca igual aos dos outros, seria um adolescente que pode se tele transportar, completamente responsável por suas ações.

 - Mas e a sua família?

Era algo que sempre me deixou curiosa, que tipo de família permitiria essa vida para o seu filho?

 - Não tenho, ou melhor, não mais, abrimos mão dela quando nos juntamos ao bando, não temos, família, fingimos a morte para ficar como indivíduos desconhecidos pela lei, como se não existíssemos, meus pais acham que eu morri.

Estremeci. Isso era três vezes pior. Não tinha casa, família, era tido como morto pela sociedade, vivia entre ela como um ser invisível.

 - E agora pretende fazer o quê?

 - Me afastar dos outros companheiros de caça, e começar uma vida normal, sem que eles saibam, tudo que eu fizer vai ser segredo meu agora.

Era uma boa ideia, não resolveria todos os seus problemas, mas era uma boa saída.

 - Então pode ter uma vida de um adolescente comum agora.

Sorri. De alguma forma, fiquei feliz em poder ajudar, era como poder ajudar alguém a ter uma vida.

 - Por isso te chamei. Não sei como fazer isso.

Era óbvio. Suspirei pensando no primeiro passo.

 - Bom, você está na escola, comece estudando de verdade e fazendo amigos. Depois você continua sua vida, vai para uma faculdade legal, tudo isso.

Expliquei.

 - Vou viver todas as experiências se fizer isso?

Quis saber de mim.

 - Claro. Ir à festas, chegar atrasado na aula, assistir aos jogos do colégio, conhecer garotas...

Dei os exemplos esperando que se empolgasse. Ele curvou um pouco o lábio, achei que aquilo fosse um sorriso. Foi então que senti o seu toque na minha mão. Gelei alarmada, fiquei imóvel e sem reação. O que foi aquilo? Demonstração de afeto exacerbada?

 - Posso começar com você.

Sinalizou. Finalmente consegui ter uma reação sólida, tirei minha mão de perto da dele e pigarreei desconfortável.

 - Sugiro que não. Lembra que tem de me matar?

 - Não mais.

 - Não importa, você sabe mais do que nunca que eu tenho um par. Eric. Isso está fora de questão, arranje outra garota.

 - Mas você me interessa. Estive observando outras garotas e elas não são como você, são agitadas de mais, tem hormônios de mais, e falam besteira de mais, você não, você... – me analisou, fiquei ainda mais enojada. – Você é centrada, madura e... Linda.

Tudo bem, tudo bem, isso está saindo do controle.

 - Existem outras garotas como eu, acredite.

 - Não no colégio, esqueceu que sou mais velho do que você, tenho dezenove e estou em classes de adolescentes de dezesseis e dezessete. Você é a única que eu encontrei ou vou encontrar que chega ao meu nível de maturidade.

 - Escuta, esquece isso. Foi ajuda que pediu, não foi? Disse que tinha que responder às suas dúvidas, foi isso que eu fiz, isso não incluía flertes, então... Vou pedir a conta... Aliás, nós não pedimos nada, então eu só vou para casa.

Levantei apressada, Jared olhou para baixo e mordeu o lábio como se ainda não tivesse desistido, era tudo que eu não queria, que ele achasse graça nesse jogo de insistir para focar comigo, ele era inclinado a isso, por mais que não quisesse, passou a vida toda instigando o seu faro para a caça, jogos de insistência aumentavam seu interesse.

Saí pela porta apressada, e liguei para Jessica, Jared ficou na mesa lá dentro. O combinado foi só eu dar um toque que ela saberia que eu acabei, vi-a olhar o celular tocando pelas paredes de vidro da sorveteria e chegar segundos depois se afastando bastante do lugar e arrancando o chapéu.

 - E aí? – sorriu. – Como foi? Foi muito cansativo?

 - No começo não, mas no fim... Fiquei preocupada.

 - Com o quê? O que ele disse?

 - Tudo indica que eu tenho grandes chances de ser o novo objetivo dele. Se ele dedicou quase a vida toda para atingir o seu antigo objetivo, a imortalidade, imagine quanto tempo pode passar correndo atrás de mim?

Grunhi irritada, parecia que tudo estava desmoronando de novo, justo quando achei que estava melhorando.

 - Fica fria, Eric e você foram feitos um pro outro, pode ter chegado perto do antigo objetivo, mas desse ele não vai ter chance.

Ela tinha razão, seu conselho me tranquilizou um pouco mais.

 - Mas e vocês? – me lembrei. – Quanto tempo falta para o eclipse? Ray está em perigo agora.

 - Argh... – grunhiu num suspiro de frustração. - Uma semana, dá para acreditar? Depois de tanto esforço para deixa-lo em segurança...! Estou muito feliz de estar com ele de novo, mas ás vezes penso que estou arriscando a vida dele por simples satisfação própria!

 - Não é assim, o destino quer vocês juntos assim como quis eu e Eric, vocês se amam e se querem viver em paz tem que acabar logo com isso, a vida é feita de riscos.

Aconselhei desta vez. Concordou com a cabeça:

 - É... Só é bem chato. – lamentou. – Mas falando nisso, Eric ligou enquanto eu estava na sorveteria, – Jessica animou-se, espantando a tristeza. Estávamos caminhando pela rua, só ali eu percebi que nem tinha seguido o caminho direto para casa, fui pelo caminho mais longo distraída com a conversa. – disse que tinha acabado de caçar e que ia te esperar na sua casa...

O tom de Jessie estava sugestivo, como se ela estivesse dizendo: “Safadinhos...!”, era normal que pensasse isso, a final tínhamos dezesseis anos, a idade de grande parte da independência na América e éramos namorados, mas eu bem sabia que isso não ia acontecer, graças à estúpida promessa do Eric. Aquilo estava me incomodando faz uns dias, entendia a preocupação com ele de me machucar, mas eu tinha pressa. Desejava-o mais e mais, o quero muito.

Enrubesci na frente de Jessie, não ia contar que ainda não tínhamos feito isso, ela obviamente já devia ter tido sua vez com Raymond e eu não queria mostrar quanto nós éramos um casal careta.

 - Tudo bem. Então eu vou, e você?

 - Vou me encontrar com meu par. – sorriu enquanto suspirava. – Te vejo amanhã.

Se despediu, só então vi que já estava na rua da minha casa.

Entrei em casa e encontrei Eric na sala, sentado no sofá, meu pai estava de pé, de braços cruzados resmungando alguma coisa com minha mãe na cozinha.

Dei risada ao vê-lo com cara de tédio assistindo um programa qualquer na tv.

 - O que está fazendo aí?

 - Não consegui esperar, entrei mesmo sabendo que seu pai ia querer arrancar minha cabeça.

Dei uma olhada rápida nos meus pais na cozinha, meu pai me viu e fez uma careta de rigidez para nós.

 - Onde estava?

 Quis saber, sério.

 - Na sorveteria.

 - Sozinha?

Cruzou os braços. Respirei fundo tentando ter paciência com aquele interrogatório.

 - Com um amigo.

 - Rick?

 - Não interessa pai!

Soltei um berro irritado.

 - Acho que anda muito solta desde que começou a namorar com esse aí...!

Apontou com o nariz para Eric com desdém. Eric passou a mão no rosto como se estivesse cansado.

 - Não se preocupe, Sr. Cambrige, eu faço o possível para ela deixar vocês cientes das nossas programações daqui em diante, está bom assim? Começando por agora, ela vai passar na minha casa.

Meu pai fez uma cara de uma mistura de desconfiança e pânico ao pensar em nós dois sozinhos na casa dele.

 - Sozinhos??

 - Não, minha mãe está lá.

Informou. Assisti meu pai suspirar aliviado.

 - Ah, sim, mandem um beijo para a Cyntia.

Virou-se com descaso para o balcão, nos dando as costas.

Suspirei ao sair de casa com Eric. Meu pai estava ficando cada vez mais bravo comigo sem o menor motivo, estava começando a me irritar, ele nunca foi de não confiar em mim.

 - Achei que o fato de sermos perfeitos um pro outro por sermos pares, também vinha com a aceitação dos sogros de brinde.

Suspirei.

 - Talvez seja erro de fabricação.

Zombou, não consegui evitar de rir. Vi que estava com os olhos negros, tinha sugado a alma de alguém. Confesso que era meio mórbido pensar em como ele fazia isso, ou no destino dessa pessoa, mesmo que fosse um criminoso, não conseguia imaginar Eric como o predador.

Entramos na casa dele e ele saiu em direção ao lavabo. Não consegui deixar de o seguir, ele saiu correndo para o banheiro e começou a lavar as mãos. Cheguei perto e olhei para suas mãos, estava esfregando as unhas na palma, estavam sujas de alguma coisa preta e quando escorria pela pia ficava vermelho. Era sangue.

Fiquei paralisada aterrorizada, primeiro fiquei com medo, depois, senti pena. Olhei para o rosto de Eric, limpava-se desesperadamente, como se não quisesse se livrar das lembranças.

Não tinha me dado conta de como aquilo devia ser difícil para ele, devia ser sentir péssimo em ter de fazer isso.

Toquei seu ombro em ato de compreensão, ele me afagou num abraço forte, como uma criança precisando de acalento.

Fiquei fragilizada.

Talvez não tivesse dado atenção a algo muito importante, o quanto ele devia estar sensível a ter que sugar almas de pessoas todas as vezes que se sente fraco.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Owwnn, tadinho, n?
Kkk'
Beijocas,Anonymous girl writer s2.