Não posso mentir que a casa dele me fazia sentir bem desconfortável, um peixe fora d'água. Primeiro porque não era uma casa, era um projeto de palácio. Ele me levou de mãos dadas pela sala de estar, subiu as escadarias e entrou em uma das sete portas do primeiro andar.

E lá me deparei com o que deveria ser seu quarto. Chão de porcelanato, uma cama na parede da frente, posta no centro, com dois criados-mudos, na parede da direita, um guarda-roupa de doze portas, tomando conta de todo o espaço. E do lado esquerdo, uma parede livre com uma porta que deveria ser o banheiro. Em frente à cama, havia uma teevisão de tela plana, com um enorme raque onde estavam milhares de coleções de discos e LPs antigos. Todos os móveis eram pretos e o chão e o forro de cama eram brancos. Tudo muito luxoso e arrumado, tinha cheiro de limpeza e organização.

 - Imagino que não deve ser você que é tão organizado... - bufei. - Quanto tempo os seus empregados levam para deixar tudo isso em ordem? Eu consigo ver meu reflexo no chão.

Ele riu um pouco e fechou a porta atrás de nós.

 - Do que está falando? Eu sou muito organizado, sabia?

Brincou.

 - Sei...Duvidei, rindo. Ele andou até o guarda-roupa e abriu uma das portas, de lá jogou uma toalha branca bem fofa, agarrei. 

- Vai tomar um banho quente ou vai ficar resfriada.

Mandou. Eu andei pelo quarto para entrar no banheiro, um pouco tímida e quando cheguei lá tmei outro susto com o tamanho do banheiro. 

- Você por acaso tem um mapa do seu banheiro?

Gritei de lá, e ouvi suas risadas. Fechei a porta e tirei a roupa. Tinha uma banheira normal e outra de hidromassagem, mas eu ia tomar banho no chuveiro mesmo. Quando liguei a ducha quente, saiu fumaça e ouvi a voz de Dylan do quarto: 

-Se você quiser eu ajudo...

Gritou de lá, safado.

 - Não, obrigada.

Respondi numa risada esperta. Não vou mentir que o chuveiro era ótimo, senti como se estivesse lavando minhas mágoas. Enquanto tomava banho passaram-se algumas coisas pela minha cabeça, sobre o que eu teria passar para ficar com ele, ou o que ele teria que passar. Ainda achava aquela ideia muito confusa, mas ao mesmo tempo, estava perdendo minha vontade própria, e sobre isso, Dylan estava extremamente certo.Saí dali e me enrolei na toalha.

Dylan estava esparramado na cama olhando para o teto. Parei ali e cruzei os braços sorrindo, ele parecia um garotinho às vezes. Quando percebeu que eu estava lá, levantou a cabeça e num sorriso sentou na cama.

 - Preciso de algo para vestir.

Pedi. Ele mordeu o lábio e levantou disposto para pegar alguma coisa no armário. Pegou uma camisa social dele e me deu. Peguei e sem querer, li a etiqueta, minha nossa, era um Vintage. Fingi que não me importei e fui vestir. E se eu derramasse alguma coisa em cima? Tudo bem, eu preciso pensar mais elegantemente se eu quiser namorar um cara famoso. Vamos lá.

Entrei no banheiro e vesti. Ficou muito curto à cima das coxas, mas, vive-se.Saí do banheiro e ele estava tirando os sapatos sentado na cama, encostei na parede ao lado da porta e fiquei observando, ele levantou o olhar para mim curioso. 

- Ah, você não vai ficar aí, né? Senta aqui do meu lado.

Chamou, convidativo. Andei devagar e sentei na cama, na realidade, ela parecia uma bacia de plumas. Assisti ele tirar o casaco e deitar-se na cama, fazendo-a balançar com o peso do seu corpo, soltando um gemido de alívio e recostando-se nos travesseiros. Me aproximei engatinhando na cama e deitei com a cabeça em um travesseiro do seu lado, ficamos cara a cara e sorrimos. 

- Acho que vou demorar para me acostumar.

Sibilei um pouco tímida.Pousou a mão no meu rosto e colocou uma mecha do cabelo atrás da minha orelha.

 - Essa casa também é sua.

Beijou minha boca levemente. Que droga, por que ele era tão bom com as palavras? Não era para menos, né? Ele escrevia músicas lindas... 

- Para de ficar me deixando corada.

Pedi dengosa. Ele riu, satisfeito. 

 - Mas e agora? - lembrei, sentei na cama um pouco transtornada.- Eu tinha que gravar um catálogo de atores que iriam estar presentes em uma premiação para a Hillary. 

- Você vai?

Ele perguntou animado. Eu simplesmente suspirei ainda preocupada. 

- Tenho que ir, a Hillary precisa saber o nome das pessoas.

Fiz uma careta desdenhosa.

  - Não, eu... - negou e depois pairou para pensar em uma solução. - Acho que o primeiro passo é você sair dessa. Se demitir, depois da premiação, eu termino com ela e... - parou para pensar mais. - Quanto tempo falta para o seu contrato de estágio expirar?

Eu parei para lembrar. Por mais que fosse surpreendente, fazendo as contas agora, eu estava a exatamente sete meses e meio desde que entrei no estágio.

 - Duas semanas...Pronunciei num fio de voz impressionado. 

- Perfeito. - sorriu com os olhos brilhando. - Eu também vou ter terminado o filme e então, eu arranjo vários testes para você, e você vai ter experiência no seu currículo. - suspirou e pôs as mãos nas minhas bochechas. - E aí a gente fica junto para valer.

Sorri de volta, um alívio passou pela meu corpo, uma felicidade. Talvez desse certo. Tinha que dar certo.

Beijei ele contente, quase que matando ele sem deixá-lo respirar. 

- Tudo bem. - ele me afastou um pouco, recuperando a respiração. Ri alto. - Eu também te amo, mas acho que preciso respirar.Avisou ofegante. Continuei rindo.             

 ****************

 - ...Então é isso.

Finalizei meu discruso de demissão, enquanto tentava prender o riso olhando a cara estarrecida da Hillary de boca aberta. Acho que por essa ela não esperava. Ficou sem palavras por um bom tempo, depois finalmente explodiu:

 - Não pode fazer isso! Eu preciso de uma assistente, tenho a premiação hoje! Tem que ficar comigo até eu arranjar outra pelo menos!

 Reivindicou. Não podia fazer isso por dois motivos: Um, eu não queria, dois, eu ia acabar ficando com ela para sempre, ninguém ia se candidatar. 

- Me desculpe, se quiser tirar do meu salário final o que eu ganharia por esperar outra assistente eu não me incomodo, mas preciso acabar isso de uma vez.

Me desculpei, um tanto cinicamente educada. Podia ver a fumaça saindo por seus ouvidos, neste momento ela estava em uma pose teimosa de braços cruzados, sem querer acreditar que estava sendo contrariada logo por mim. 

- Que seja. Eu mando depositar o seu salário final. Deu as costas. Eu dei uma risadinha abafada. A pesar de tudo, eu podia rir de ter passado por aquela situação. Ter que ficar atrás da patricinha mimada. No fim foi tudo como acreditei que seria, eu estava rindo das dificuldades, porque tudo acabou se ajeitando. Eu sonhava em um dia ter uma carreira brilhante e poder dizer que batalhei para estar onde eu estava.

  - Ah, e só uma coisa. - me lembrei antes de sair. Agora não fazia mal eu falar aquilo. - Você está engordando de tanto chantilly. 

- Ahhnn!!Ela tapou a boca abismada.

Dei as costas rindo e saí. Quem diria, hein? Eu acabei não precisando mais dela e ainda tirando uma com a cara dela. Suspirei com um grande alívio que brotou em meu peito. Agora só restava o Dylan terminar com ela. Ficaríamos escondidos por um tempo até o contrato acabar e depois podíamos ficar juntos, livres da ameaça da Hillary.

Rezava para que tudo desse certo.