Calaleão O Mundo Perdido

Cap. 23. Aliada

Se havia uma coisa boa naquela loucura de Rito, com toda a certeza eram as belas paisagens, Gestar podia ser um lugar traiçoeiro e perigoso, mas onde há a natureza há também encantos únicos.

— Olha Haru! Que peixe lindo!!! – A rosada apontou no córrego onde estava mantendo seus pés submersos. – Faz cocegas!

O lobo sentado a margem apenas acompanhava com a cabeça as estripulias dela, sacudindo – se (e consequentemente atirando faíscas para todo lado) a cada vez que a garota o atingia com os respingos d’agua.

— Que bom que achamos agua! – Comentou ainda admirada pelos peixes coloridos que passavam vez ou outra entre seus pés, a agua limpa e clara possibilitava ver até mesmo as pedrinhas alojadas no fundo do córrego. Era a primeira vez que via um rio tão limpo. – Hora de reabastecer!

Alguns minutos depois estavam prontos para partir, já era o 6º dia dentro daquele lugar e aos poucos Sakura se tornava mais e mais confiante, até por que pelos seus cálculos já estava bem adiantada em relação ao labirinto. Havia deixado para trás o Veraneio e as arvores floridas assim como os pequenos animais cheios de vida a sua volta informavam que ela acabara de entrar na área Primaveril.

“Uma estação em cinco dias! Estou indo bem!” Comemorava internamente, feliz por ter completado 14 de sua missão.

Passaram por mais córregos e campos de flores, alguns lugares eram tão cheirosos e convidativos que por mais de uma vez a rosada se vira tentada a parar para admirar melhor, porem não podia se dar a esse luxo, tinha que percorrer a maior distancia possível enquanto ainda estava claro, não queria correr o risco de por culpa de algum imprevisto no meio do caminho perder o prazo de chegada. Devia se manter firme e...

Deu um pulo de susto para trás quando os arbustos a frente da trilha começaram a tremular, ao que parecia alguma coisa estava ali e vinha direto em sua direção. Levou a mão a pequena faquinha que Sasuke lhe dera e esperou, o que quer que fosse era pequeno pois não conseguia enxerga – lo mesmo nos arbustos mais baixos e essa constatação a fez soltar um suspiro de alivio. Talvez não fosse um inimigo em potencial.

O rosnado baixo de Haru junto a sua perna assim como o abaixar de orelhas dele a fez retomar a guarda e se reprender internamente, quantas vezes mais se deixaria levar apenas pela aparência e tamanho antes de aprender?

Um animal comprido e esguio saltou para a trilha de terra batida e no mesmo segundo o lobo negro arremeteu em sua direção pronto para destruí – lo, mas por alguma razão ele parou de repente quase tropeçando nas próprias patas para evitar a colisão eminente.

— Haru? – Chamou confusa tentando entender o que acontecera e que bicho era aquele uma vez que a investida do guardião foi tão rápida que ela nem mesmo pode vê – lo. – O que houve?

 A postura da fera negra mudara para relaxada e quando ele se virou para ela a rosada pode constatar que o animal era uma espécie de fuinha, com o longo corpo branco e olhos pequenos não era uma ameaça e a princesa de Calaleão deu graças por enfim reconhecer algum ser vivo de Gestar.

A fuinha se levantou ficando apenas sobre as patas traseiras e inesperadamente correu para ela que recuou vários passos antes de enfim ser alcançada, o bicho não hesitou subindo por suas pernas, depois pelos braços e por fim se acomodando sob seus ombros, ficou lá um segundo antes de voltar a saltar pro chão e disparar em direção ao caminho que tinha vindo, parou antes dos arbustos e repetiu o processo, mas duas vezes antes que Sakura se desse conta do que ela queria.

— É pra te seguir? – Indagou e ao som daquela ultima palavra a fuinha voltou a disparar. Olhou para Haru insegura. E se aquela fuinha estivesse conduzindo – os á uma armadilha?

“Deixa de ser boba, Sakura. Se o seu guardião não a atacou é por que ela não é um perigo pra você.” Pensou meneando a cabeça ainda sob a mirada do lobo negro que esperava a decisão dela sobre o que fazer.

— É o nosso caminho mesmo... vamos conferir. – Disse, andando atrás da fuinha com o lobo em seus calcanhares e o rabo branco logo a frente.

 Meio caminhou, meio correu, pois a sua guia alternava a velocidade com que seguia, levantou os olhos verdes da trilha a tempo de ver uma clareira mais adiante e era exatamente pra lá que estavam indo, assim como era lá que o corpo de alguém estava estirado.

“Droga!” Praguejou quase passando por cima da fuinha na pressa de chegar ao ferido. Havia sangue a sua volta e os cabelos cor de chocolate estavam empapados dele.

— Ei! Acorda! – Chamou se ajoelhando ao lado do corpo e o virando, era uma garota, mais ou menos na idade dela, com cabelos estavam presos em dois coques e havia um ferimento em sua cabeça, um grande corte um pouco acima das sobrancelhas, era dali que esvaia todo o sangue. – Droga...

 Sem saber o que fazer a rosada abriu a mochila e procurou algo ali que pudesse pelo menos ajudar a estancar o sangramento, a garota ainda tinha pulso e estava respirando então a prioridade era faze – lá para de sangrar.

 Encontrou algumas tiras de pano que usava para proteger os seus dedos na hora de retirar as canecas do fogo e as amarrou como um curativo no ferimento, teria que encontrar outra coisa para ajuda – lá naquela tarefa mais tarde.

 Apertou o nó e colocou a sua mochila debaixo da cabeça da garota, prendendo o folego nervosa ao constatar que o sangue atravessara uma das tiras, mas relaxou ao ver que o mesmo parara ali, conseguira deter o sangramento.

Sentiu o nariz úmido de Haru tocando a sua mão e teve certeza de que fizera a coisa certa. A fuinha depois de olha – lá por um instante enroscou – se no colo da garota com a cabeça erguida, atenta a qualquer ameaça.

“Hum... faz tanto tempo que estou aqui que já tinha até me esquecido que havia outras pessoas no Rito... o que será que aconteceu com ela? O que pode fazer um corte tão profundo assim?” Perguntou – se a rosada sentando – se ao lado da outra, que usava a sua mochila com travesseiro. O lobo negro estava inquieto, andando de um lado ao outro da clareira, em clara apreensão.

— O que foi Haru? Tem algum inimigo por aqui? – Indagou temerosa, afinal não tinha como carregar aquela garota caso algo acontecesse e abandona – lá desacordada a própria sorte não era uma coisa que seria capaz de fazer. Se algum animal agressivo aprece – se naquele momento, só lhe restaria lutar sem a opção de fugir...

— Hum... Kamaitachi... – A voz sonolenta chegou aos seus ouvidos, a primeira voz que ela ouvia em muitos dias, a garota havia acordado, os olhos da mesma cor escura dos cabelos fitavam confusos o céu, mas se suavizaram quando a fuinha entrou em seu campo de visão e esfregou a cabeça em seu queixo pedindo carinho. – O que aconteceu...?

— Você foi atacada por alguma coisa... – Começou a princesa não se surpreendendo ao vê – lá se sobressaltar ao notar a sua presença. – Seu guardião me encontrou um pouco mais abaixo na trilha e me trouxe até aqui... cuidei do seu ferimento na testa...

— Ah, sério? – Surpresa a morena levou a mão ao curativo e suspirou ao ver que não mais sangrava. – Obrigada! Eu nem sei o que... obrigada mesmo...

— Não se preocupe... – Sakura disse a ajudando a sentar. – Agradeça a esse carinha, estava prestes a acampar quando ele apareceu pedindo ajuda.

— Obrigada Kamaitachi. – A garota acariciou a cabeça da fuinha que voltou a enrolar – se em seu colo satisfeita. – Ah, meu nome é Tenten Mitarashi. Qual é o seu nome?

— Hã... Kaya... meu nome é Kaya Hyuuga. – Respondeu depois de alguns segundos tentando lembrar o nome falso que escolhera para entrar no Rito.

Fora necessário aquilo, Kimimaru estava nas redondezas e se descobrisse que a Princesa de Calaleão estava no meio de Gestar, podia aproveitar a oportunidade para ataca – lá, a ideia fora de Sasuke, ele lhe dissera que ela estaria mais segura se escondesse o seu verdadeiro nome assim como a cor tão singular de seus cabelos, no momento encobertos pela magia de Codan dando a todos a impressão de serem negros como a noite.

“Sasuke... onde será que você esta agora? Ter sumido tão de repente só me deixou preocupada. Espero terminar esse Rito rápido para poder reencontra – lo...” Pensou franzindo cenho, o moreno simplesmente desaparecera no dia anterior ao começo da prova e nem mesmo tivera um vislumbre dele na torcida postada na entrada daquele labirinto... o que ele estaria aprontando? Estaria bem? Será que o seu estado de saúde piorara? Aquelas perguntas a estavam matando.

— Kaya? Ei, Kaya! – A voz de Tenten a tirou de seus devaneios e mais um vez a fez se reprender por distrair – se daquele jeito, não era seguro ficar viajando em pensamentos naquele lugar.

— Hã? O que foi?

— Estava te perguntando que tipo de animais você encontrou por aqui desde o começo do Rito.

— Hum... foram bem poucos... o primeiro agressivo foi um que parrudo, baixinho, com pernas curtas, coberto de pelos, com olhos de gato e duas fileiras de dentes...

— Ah, um Kaib, que azar. – A morena comentou a olhando com uma mescla de pena e compaixão. – Eles costumam ser impiedosos e mortais, como conseguiu se livrar dele?

— O Haru me ajudou. – Contou sentindo – se mais feliz por enfim estar falando com alguém e contando a sua aventura. – Ele atacou o focinho do monstro dando tempo para usar um feitiço no ferimento.

— Incrível! – A outra respondeu ainda acariciando o guardião enrolado em seu colo e observando sorrindo o lobo negro que só naquele momento se acalmara e viera se sentar aos pés de sua protegida. – Realmente, é a primeira vez que eu vejo um Okami Netsuppoi (Lobo Febril).

— Um o que? – A rosada indagou confusa ao passo que a Mitarashi apenas riu da expressão dela.

— É o nome da raça do seu guardião. – Respondeu passado o ataque de risos.

— A raça dele?

— É, o escolheu sem saber disso?

— Hã... eu estava com pressa no dia...

— Bem, de qualquer modo é incrível que o Reino tenha um desses domesticado, até onde eu sei, os poucos que restam dessa raça são selvagens.

— Entendo.

— Você tem que ver as variações das raças dos Okamis, o sonho de toda garota é ter um Amaterasu! – A morena contou animada quase não cabendo em si de alegria, algo estranho para alguém que acabara de acordar depois de ser atacada.

— Essa não é o nome da Deusa do Sol?

— Sim, sim. Os lobos dessa raça receberam esse nome por que todos são completamente brancos, tem poderes curativos e são capazes até de fazer nascer arvores.

— Legal! – Sakura falou animada, já imaginando como devia ser belo um animal daqueles.

— Ah, e dizem que por onde eles andam brota um rastro de flores e grama, eles são os Okamis mais adorados e mais difíceis de se ver, mesmo em território selvagem.

— Que pena...

— É... – Tenten concordou observando divertida a interação entre aqueles dois, um animal como aquele nunca permitiria aquele tipo de carinho atrás da orelha, mas o guardião daquela garota, aceitava de bom grado e ainda balançava o rabo animado. – Esta começando a escurecer...

— Hum... tem razão... – Concordou a rosada se levantando junto do guardião. – Que tal arrumarmos um lugar para passar a noite?

— Quer que eu vá com você?

— Eh? Claro, por que? É contra as regras?

— Não. Não é. Só achei estranho você querer companhia, ferida desse jeito talvez não possa ser de muita ajuda se algum inimigo atacar.

— Se isso acontecer daremos um jeito. Vem, logo vai começar a esfriar.

Sakura pegou a mão de Tenten e a ajudou a levantar, a garota lhe deu um sorriso agradecido e a rosada sentiu – se mais feliz por enfim ter companhia. Lado a lado as duas saíram da clareira com o lobo negro rente as pernas da princesa e a fuinha segura no ombro da Mitarashi, aquele podia ser o começo de uma bela amizade.