Eu não deixei liam dormir, Cloe tirou um cochilo ao anoitecer, mas logo a acordei. Ambos concordaram que eu estava ficando paranoica com isso, mas era obvio que não iam tornar as coisas fáceis para os tributos, muito menos para nos, com a filha da “Garota em chamas” nos games. 

- Acordados - murmurei roendo as unhas enquanto os dois quase caiam de sono.

- Kim você não ta exagerando um pouco? se for para mandarem algo, mandariam a luz do dia… - Liam começou.

- Não - falei rispida.

- Acho que ela bateu a cabeça enquanto lutava com a garota e ficou meio doida - ouvi Cloe sussurrar para Liam entre bocejos.

- Shiiiiiu - não era minha intenção ser tão chata, mas eu estava preocupada, muito preocupada.

Mais duas horas e eu estava quase caindo de sono, Liam tirou um cochilo e Cloe também, mas logo os dois acordaram. Liam se sentou ao meu lado, eu estava de costas para os dois, de olho na floresta… 

- Kim, você tem que dormir - ele disse colocando seu braço em volta do meu ombro e afagando meus cabelos, tentando me reconfortar, em casa ele sempre conseguia me fazer dormir com isso, porem ali eu estava mais preocupada com a vida dele e de Cloe e ignorei o jesto. 

- Eu tenho que proteger vocês - murmurei tão baixo que aposto que nem Cloe ouviu.

- Você esta paranoica, descança um pouco - ele me deu um beijo na testa e encostou minha cabeçaem seu ombro.

Eu ousei fechar os olhos por dez segundos enquanto ele tentava me fazer dormir, quando os abri de novo um par de olhos vermelhos me fuzilhavam, mas eu sentia como se um milhão daqueles estivessem sobre mim e eu não estava enganada.

- Cloe? - Chamei me levantando de vagar.

- Sim? - ela se levantou também, Liam a puxou para perto de nos.

- Proteja o rosto - Liam sussurrou.

Troquei um breve olhar com Liam que só ele entenderia. Os olhos vermelhos começaram a ganhar corpos com penas negras enquanto iam e vinham na escuridão, pousando em arvores, ginchando de vez em quando, nos rodeando. Corvos? Sim, mas não corvos comuns, isso era notavel.

Todos atacaram ao mesmo tempo, naquilo era mais fácil se defender com uma faca do que com um arco e flecha, por isso desisti de usa-los logo no começo. Minha maior preocupação era Liam e Cloe, desviando o olhar toda hora para ver se estavam bem, acabava levando bicadas e arranhões. Recuamos enquanto nos defendiamos dos corvos-mutantes. Eu puxava Liam e Cloe toda hora para fora do caminho dos corvos, mesmo sabendo que eles se defenderiam bem sozinhos. 

Alguns corvos começaram a tentar bicar minha perna, cortando a bainha da minha calça e bicando minha bota. Eu preferia que eles continuassem tentando fazer isso, porque assim era mais fácil de mata-los, eu simplesmente podia esmagar suas cabeças. 

Tropecei em alguma coisa levando nos três ao chão. Droga, droga, droga. Comecei a chutar os passaros, mas estes arranhavam minha perna, até que começaram a recuar. Gritavam para mim e voavam de volta para a floresta. Eu pensei que todos tinham ido, Liam e Cloe já estavam de pé novamente, arfantes e machucados, pelo menos não mortos. 

Um farfalhar alto demais, um grito e então eu tinha meu antebraço rasgado pelo mesmo corvo que estava me encarando antes de tudo começar. Uma flecha atravessou seu pescoço e a ave caiu aos mes pés.

Tudo bem, eu fui um pouco exagerada, não rasgou meu braço, mas o bico do corvo deixou dois cortes compridos pelo meu antebraço e consideravelmente graves. Liam começou a brigar comigo por eu ter me preocupado demais com ele e Cloe. Minha pequena aliada pegou meu kit de primeiros socorros e começou a cuidar dos meus ferimentos ao invez de se proocupar primeiro com os seus. 

- Nunca pensei que diria isso, mas o que custa pensar um pouco só em si mesma? - Liam quase gritava. Sua vida, a de Cloe… respondi mentalmente.

Eu estava quase chorando, estava segurando as lagrimas o que fazia meu peito doer. Enquando Cloe cuidava do meu braço Liam continuava falando, me dando broncas, me fazendo querer chorar e consequentemente fazendo meu peito doer. 

- Já chega Liam - Cloe gritou num tom tão autoritario que eu mal podia acreditar que era mesmo ela. - Ao invez de ficar brigando com ela por ter salvo sua vida vá buscar água ou fazer algo que preste ao invez de reclamar.

Liam ia abrir a boca para responder, mas Cloe o fuzilou com o olhar.

- Já. Chega. - ela disse devagar e estendeu a guarrafa para ele ir buscar água.

Relutante e bravo Liam pegou a guarrafa e foi para o riacho que estava apenas a alguns metros de nos. Cloe continuou a cuidar dos meus ferimentos.

- Obrigada - sussurrei enquanto a dor no peito começava a se dissipar.

- Tudo bem - ela respondeu - apesar de odiar ter que gritar com alguém.

- Você não ta brava comigo, né? 

-Claro que não, Kim. Mas chateada por você ter se machucado tanto só para me proteger - ela disse fazendo careta.

- Somos aliadas. Eu me machuco, você cura. - Eu disse sorrindo, eu queria que ela pudesse curar outras feridas, as internas, que ganhei com o tempo e que o mesmo não ia curar. 

Cloe terminou os meus machucados e cuidou dos seus, assim que ela acabou Liam chegou com a guarrafa de água. Um silencio perturbadoramente torturante se intalou entre nos, Cloe sussurrava algumas coisas pra mim e as vezes outras pra ele, mas eu não escutava. Eu não consegui dormir o resto da noite e meus olhos começaram a arder pela manha, eu tinha que aguentar mais um dia acordada e poderia descançar a noite, pelo menos era o que eu achava…