LEE TAEMIN POV

Fui o primeiro a acordar no dormitório. Espreguicei-me e rolei para a cama ao lado, esbarrando em Onew. Imitei um rolo-compressor e fiquei passando por cima dele, tentando acordá-lo. Ele gemeu e me jogou para o lado.

– Bom dia. - eu disse, num tom cinico.

Ele olhou para mim piscando um olho, ainda sonolento. Deu seu sorriso usual e bocejou. Fui acordar Minho, mas ele já estava com os olhos abertos, encarando-me com um olhar de "Se você rolar em cima de mim, você morre". Forcei uma risada e pulei para o próximo candidato, Key.

Subi pelas escadas da bicama e comecei a cutucá-lo. Ele gemia, mau humorado. Cutuquei seus pés e ele começou a balançá-los, se negando a acordar.

– Omma. - brinquei, fazendo uma voz fofinha.

Ele se levantou rapidamente, em encarando e logo me abraçou. Eu comecei a rir pois seu cabelo estava para cima, parecendo um moicano.

– Bom dia, meu querido filhinho. - ele disse, esfregando meu cabelo e bagunçando-o ainda mais.

Me virei e Onew já tinha acordado Jonghyun e Minho já ocupava o banheiro.

Desci da escada e fui separar minhas roupas. Jonghyun batia na porta do banheiro furiosamente. Minho já tinha ido tomar banho.

– Abre! - gritou Jonghyun. - Eu tenho que ir no banheiro!

Minho não respondia e Jonghyun começou a apertar suas pernas.

Fui para a sala e os nossos empresários dormiam calmamente. Preferi não acordá-los e fui para a cozinha, beber água.

Por algum motivo, eu sentia que esse dia seria ótimo.

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Cliquei no botão do elevador e fomos subindo. Onew tentava fazer piadas, mas ninguém prestava atenção dele.

Quando saímos do elevador, viramos em direção à sala de ensaio, mas Jonghyun parou no caminho. Olhei na direção que ele olhava e vi duas pessoas.

Uma mulher alta - nossa estilista, Shin Hye noona. Ela estava bonita como sempre, mas eu não gostava muito dela. Havia algo nela que fazia todos ao seu redor se sentirem inferiores.

Conversando com a Shin Hye noona, estava um garoto baixinho carregando nas suas costas um violão quase maior que ele - Luca.

Ele certamente era garoto estranho, mas muito divertido. Diferente daquela mulher, ele me deixava muito confortável e aliviado. Era bom ficar ao lado dele.

Olhei para Jonghyun e ele encarava a nossa estilista. Eu sempre suspeitei que ele gostava dela, mas ele não parecia fazer nada sobre isso.

Jonghyun se virou e foi para a sala de ensaio e então eu resolvi ir falar com a Shin Hye noona.

Me aproximando, consegui ouvir um pouco da conversa dos dois.

– Garotos? Você parece ser íntimo deles. - ela falou isso com uma ironia forte na voz.

Olhei para Luca e ele parecia congelado perto dela. Coloquei minha mão no ombro dele, para avisá-lo que eu estava ali.

– Shin Hye noona, como está? - falei, e a moça virou seu olhar para mim, forçando um sorriso. Olhei para Luca e ele tinha uma cara péssima e olheiras enormes. - E você, Luca? Parece cansado. Quer ir comigo para a sala no fim do corredor? Tenho que pegar algo.

Coloquei um pouco de força na mão que segurava seu ombro, para empurrá-lo na direção do corredor, mas me surpreendi quando Luca segurou minha mão e me puxou.

A mão dele era pequena e de alguma forma, me deixava nervoso.

Ele andava desconfortável com o violão nas costas e foi diminuindo os passos enquanto se aproximava da sala de tralhas - uma sala onde guardávamos coisas extras. Não pude deixar de notar a diferença de altura entre mim e ele. O garotinho parecia extremamente descuidado e fraco.

Ele abriu a porta da sala, me empurrou para dentro e a fechou - parecia bem aliviado. Quando se virou para mim, parecia surpreso.

– Me desculpa. Acabei te puxando comigo. - ele sorriu, desajeitado, e suas bochechas coraram levemente.

Meu coração se apertou ao ver aquele sorriso, mas quando tentei mover minha mão para cobrir minha boca, percebi que ainda estávamos de mãos dadas. Senti as batidas no meu coração ficarem aceleradas. O que há comigo?, pensei.

– A-Ah - me apressei para respondê-lo, mas senti meu rosto esquentando cada vez mais. - Tudo bem.

– Algo errado? - ele perguntou, entortando a cabeça para o lado.

O olhar dele me encarava de uma maneira estranha, então desviei e acabei encarando nossas mãos juntas. Luca também olhou para nossas mãos e logou as separou.

– Descupa. - riu. - Me esqueci que tinha segurado sua mão. Ah. Você queria pegar algo na sala ao lado. O que é? Eu vou pegar.

Ele se direcionou para a porta e, por impulso, eu o impedi, segurando-o. Não sabia porque tinha feito aquilo, mas já era tarde demais, porque agora ele me encarava com seus enormes olhos de cachorrinho. Procurei uma desculpa pelos meus atos.

– Eu só quis te tirar de perto da Shin Hye noona. Você parecia bem desconfortável perto dela. - tentei soar confiante.

O olhar dele brilhou para mim e então suspirou. Soltei seu pulso e ele foi para o meio da sala, tirando o violão das costas e sentando no chão. Ele não parece nem um pouco bem.

Sentei-me na sua frente, esperando que ele dissesse algo, mas o silêncio continou.

– Você tá com uma cara péssima. - comentei.

– Não consegui dormir de noite. - pensei que um sorriso fraco iria se abrir nos seus lábios, mas nada aconteceu. - Estou com muito, muito sono. - ele fechou os olhos por alguns instantes, e eu jurava que ele tinha caído no sono.

– Por que ficou acordado? - perguntei, tentando confirmar que ele ainda estava acordado.

– Muita coisa na cabeça. - Luca me respondeu, abrindo os olhos, mas sua expressão parecia pior ainda. - Fiquei tocando violão, também.

– Tocando o que? Alguma música nossa? - tentei mudar de assunto, mas não foi bem uma boa idéia.

O garoto soltou uma risada seca e aquilo estava me incomodando. Luca não era assim. Normalmente ele era tímido, mas animado e falava o que pensava. Parecia que algo havia drenado toda a sua energia.

– Não.. É outra música. - ele continou, pegando o violão e tirando-o da cama.

O silêncio predominou enquanto ele posicionava o violão no seu colo. Eu não conseguia olhar para o rosto dele daquela forma, então encarei o instrumento.

– Nee.. Taemin hyung.. - ele começou, com a voz fraca.

– Hn. - respondi, provando-o que estava prestando atenção.

– Você.. já gostou de alguém?

Aquela pergunta havia me pego desprevinido. Por algum motivo, novamente meu coração palpitava rapidmente. Então é por isso que ele está assim? Por uma garota? Senti-me decepcionado. Olhei para Luca e ele parecia sério sobre o assunto. De alguma forma, aquela pergunta me deixou mais desconfortável do que o esperado. Passei a mão pela minha franja, tirando-a do rosto. Tentei pensar numa resposta convincente.

– Acho que todo mundo já gostou um pouco de alguém, nem que tenha sido apenas um pouco. - sorri. - Por que?

Naquele momento, ele olhava diretamente para mim e eu sustentei seu olhar.

– Eu.. gosto de uma pessoa. - ele começou, parando logo em seguida. Sua voz continuava fraca e aquele assunto parecia ser mais desconfortável para ele do que para mim. - Essa pessoa não sabe e também gosta de outra pessoa. - ele encostou o queixo no violão e encarou a parede.

Eu quis olhar nos seus olhos enquanto falava sobre aquilo, não sabia porque, apenas queria.

– Como você sabe que essa pessoa gosta de outra? - me aproximei de seu rosto.

– Eu vi o jeito que eles se olham. - ele respondeu, ainda sem olhar para mim.

– Hm. Então.. - num movimento impensado, peguei seu rosto e levantei-o para mim, fazendo Luca olhar diretamente para mim, mas ele virou o olhar para outro lado. - Por que você não se declara para ela?

Luca respirou fundo e segurou minhas mãos. Meu coração deu um pulo. Ele parecia tentar segurar minhas mãos com força, mas ele era bem fraco, parecia bem frágil.

– Eu.. - sua voz falhou. - Acho que não sou bom o suficiente para ela. - cada palavra parecia ser dita de mau gosto. - Não sou alto, nem bonito ou másculo o suficiente para ela.

Algo realmente se passava naquela cabecinha e havia muito mais por trás dessa história, não apenas aquilo. Eu podia sentir isso apenas olhando para o seu olhar vazio.

As mãos de Luca eram pequenas - as minhas eram pequenas, as dele eram minúsculas. Elas eram delicadas e gordinhas. Mãos de garota. Eu parecia um gigante perto dele.

Não aguentei mais o nervosismo então tirei as mãos dele das minhas e as levei até o violão.

– Se ela não gostar de você como você é, então ela não te merece. - citei o que alguém já havia me falado antes, sorrindo. - É o que penso.

Olhei para Luca e seus olhos lacrimejavam. Aquilo realmente me surpreendeu, mas ele parecia ignorar as lágrimas.

Começou a tocar o violão e eu reconheci a música. I Guess You Don't Know. Quando ele cantou, a sua voz parecia travada e que não queria sair, mas ainda assim, era umas das vozes mais bonitas que eu já tinha ouvido.

Era fina e delicada, tinha o vibrato no tom certo e era bem afinada. Apesar de ser fina demais para a voz de um homem, de certa forma, combinava com ele.

As lágrimas escorregavam por suas bochechas e a minha vontade de mandá-las para longe era enorme, mas eu não conseguia me mover vendo aquilo. Vendo ele tão frágil.

Ele parou de tocar e parecia que ia desabar a qualquer segundo. As suas lágrimas escorriam sem parar, por mais que ele tentasse pará-las e eu não consegui me segurar.

Coloquei seu violão longe, puxei-o para perto de mim e o abracei com força. Tudo que eu queria fazer era protegê-lo de tudo e de todos. Não queria vê-lo sofrer mais.

Passei a mão pelas suas costas e seu corpo frágil parecia desconfortável dentro dos meus braços, mas logo ele se alivou e começou a chorar alto. Ele soluçava e apertava minha camisa com força. Tudo que fiz foi abraçá-lo mais forte. Eu não aguentava vê-lo assim.

Meu coração batia rapidamente e parecia que ia explodir a qualquer segundo e eu senti meus olhos lacrimejando, então afundei minha cabeça no cabelo de Luca.

O garoto parou de chorar depois de um tempo, mas eu não o deixei sair dos meus braços. Eu queria continuar daquele jeito, abraçando-o daquele jeito.

Apesar de ele ser homem e eu também, ficar com ele nos meus braços era confortável e eu me sentia bem. Ficar protegendo aquela pessoa frágil que fazia meu coração palpitar rápido desde a primeira vez que a vi era o que eu queria continuar fazendo.

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Luca respirava fundo, ainda deitado nos meus braços.

– Ele dormiu..– comentei comigo mesmo.

Tirei-o dos meus braços e coloquei sua cabeça deitada na minha perna. Seu rosto ainda estava molhado pelas lágrimas mas ele parecia bem mais calmo agora. Não consegui conter o sorriso.

Tirei seu cabelo do rosto e percebi algo estranho. Uma peruca?

Puxei a peruca e longas mechas se soltaram, caindo no meu colo e pelos ombros de Luca.

– Então ele é uma garota?! - eu estava nervoso e confuso ao mesmo tempo.

A garota se virou para mim, segurando minha camisa com força.

– E ainda por cima, está tendo um pesadelo. - acabei rindo comigo mesmo e um alivio tomou meu corpo.

Tirei o cabelo dela de seus ombros e aquele perfume me inebriou. Um cheiro doce e leve vinha de seus cabelos longos. Respirei fundo e acabei, novamente, rindo sozinho, todo bobo.

Passei o polegar pela sua bochecha molhada, limpando-a.

– Pelo o menos não sou gay. - comentei, ajeitando minha coluna e me encostando no armário atrás de mim. Tirei a franja da testa dela e observei aquele rosto que tanto me deixava nervoso e descuidado, mas logo um pensamento desagradável tomou conta. - Ela gosta de outro.

Olhei para ela e imaginei que tipo de idiota deixaria uma garota linda dessas escapar. Fechei os olhos e a música que ela cantou mais cedo veio à minha mente.

– Ela gosta de outro, mas ele não gosta dela e sim de outra e enquanto isso, eu fico aqui, gostando dela. - ri da situação desconfortável em que eu havia me metido, então comecei a cantar, de olhos fechados. - Apenas vire-se e eu estarei aqui, atrás de você. Quando você estiver cansada do amor de outra pessoa, quando estiver machucada pelo amor de outra pessoa, vire-se apenas uma vez.

A garota soltou a minha camisa e eu segurei sua mão - e, surpreendentemente, ela acabou apertando minha mão. Sorri, nervoso.

Fechei os olhos e dormi. Infelizmente, terei que acordar desse sonho uma hora ou outra.