Yesterday you asked me something I thought you knew. So I told you with a smile: it’s all about you…

Era a primeira vez que nos falávamos decentemente após a guerra e após o término. Harry estava se sentindo irritado por não ter conseguido evitar todas as mortes como gostaria, se sentindo culpado por não ter conseguido deixar todos fora disso como desejava e se sentindo triste, como todos nós, pela falta que sentíamos dos nossos familiares e amigos. Mas estava na hora de superarmos, de seguirmos em frente. De voltar a viver, de reconstruir, mas nunca esquecer. E apesar dos pesares, eu estava bem, sabia que onde quer que Fred estivesse ele permaneceria comigo, olhando por mim e, é claro, aprontando todas no lugar.

Me perguntei quando resolveríamos nossa situação já que nós passamos da cota de tempo separados.

Encontrei Harry com a cabeça escondida entre as pernas na escadinha da porta da cozinha. Ele me ouvira chegando e me sentando ao seu lado, mas não se moveu. Não sabia o que fazer para que ele finalmente se mexesse; estava em dúvida se eu podia tocá-lo sem o risco de agarrá-lo ali mesmo, sem conversa e sem rodeios.

Resolvi simplesmente esperar ele falar comigo.

– Você ainda gosta de mim? – Harry perguntou finalmente, olhando para o teto. – Quer dizer, mesmo depois disso tudo, dessa confusão toda e de todo esse tempo sem nos falarmos.
– Por que não gostaria? – Respondi com uma pergunta. Harry odiava quando eu fazia isso, por isso sorri.
– Eu não tenho certeza se eu sou a melhor companhia para alguém nesse momento... – Harry disse com os olhos verdes ainda fitando o vazio. – Eu os vejo quando fecho os olhos, Gin, eu vejo todos que perderam a vida nessa guerra maldita. E é minha culpa.
– Não é sua culpa. – Eu disse simplesmente. – É sua culpa estarmos todos aqui agora, é sua culpa ainda termos um ao outro. É sua culpa eu te amar tanto. Sim, é tudo sobre você.

Then you whispered in my ear and you told me too, said you make my life worthwhile: It's all about you.

Ele sorriu por um tempo e eu fiquei olhando como uma retardada, tentando entender por que ele me encarava daquela maneira. Então percebi que tinha dito que o amava, assim, espontaneamente, pela primeira vez.

Um tanto quanto corada, olhei para baixo e não o vi se aproximando de mim. Senti minha pele arrepiar quando percebi o hálito fresco de hortelã sussurrar no meu ouvido.

– Eu te amo. – Sorri e me virei para olhá-lo nos olhos. Com o nariz encostado ao meu, ele completou. – Você faz minha vida valer a pena. E sim, é tudo sobre você.

Amei Harry por muitos anos, em um segredo tão declarado que até hoje não entendo como ele não notou. Desde o poema dos sapinhos no meu primeiro ano, muita coisa tinha mudado. Não era mais a garotinha que o idolatrava. Não o amava por ser o garoto que sobreviveu, por ser Harry Potter.

O amava por ser Harry Potter. Alguém que não estava nem aí por ser famoso, alguém que era corajoso... Alguém que abriu mão dos próprios sentimentos para manter outro alguém em segurança. Me manter em segurança, por mais que eu achasse desnecessário.

Harry me salvou de tantas maneiras a vida toda que era impossível não amá-lo.

And I would answer all your wishes if you asked me too, but if you deny me one of your kisses: Don't know what I'd do!

– Vem comigo. – Harry se levantou e me ajudou a me levantar. – Eu tenho um pedido para te fazer.

Harry me puxou em direção a uma bancada na cozinha e abraçou minha cintura ainda me olhando fundo nos olhos. Tentei sorrir para incentivá-lo a fazer o tal pedido, mas notei o quanto eu sentia falta daqueles olhos verdes me encarando. A perspectiva de que teria aqueles olhos me olhando por mais tempo do que já tive me fez sorrir.

– Faça seu pedido. – eu disse sorrindo e ele encostou a testa na minha. Acho que imaginei que ele tenha dito ‘me beije’ pois nos segundos seguintes estava inebriada com o cheiro de hortelã que vinha de seus lábios. Afundei as mãos nos cabelos negros que eu sentira tanta falta.

Não eram as saudades que me faziam sentir todas aquelas sensações incomparáveis: um leve tremor, arrepios e uma sensação de estar finalmente completa. Não eram as saudades, pois eu sentiria aquelas sensações em todos os nossos beijos para o resto de nossas vidas.

– Esse não era o meu pedido. – Harry disse sorrindo genuinamente. – Mas você já me deu a resposta.
– Como assim? – Meu rosto sempre fazia caretas quando ou soava confusa.
– Eu ia te pedir para voltar comigo, mas a resposta eu já tive. – Ele sorriu torto e me lançou uma piscadela.
– Ah é? E qual foi? – O desafiei e ele respondeu me beijando novamente. – É sem dúvidas positiva.

So hold me close and say three words like you used to do… Dancing on the kitchen tiles: Yes you made my life worthwhile! So I told you with a smile… It’s all about you.

Ficamos em silêncio matando a saudade dos nossos sorrisos por um bom tempo. Foi quando Harry puxou a varinha, e fez o aparelho que tocava musicas trouxas do meu pai tocar. Me abraçando forte ele me fez dançar.

Eu ri da maneira desengonçada com a qual ele me conduzia, mas só em vê-lo sorrindo meu coração ganhava uma certa paz.

– Acho que eu te devia uma dança, acho que eu te devia um namoro decente, acho que eu te devo tudo. – Me disse olhando para baixo.
– Eu te amo. – Eu disse pela segunda vez, me sentindo melhor em relação a dizer essas palavras em voz alta. Ouvir era maravilhoso, dizer parecia certo.
– E eu não sei dizer o que fiz para merecer isso. – Harry falou simplesmente.
– Você não precisa fazer algo para merecer o amor de uma garota. – Ele me olhou confuso. – Ela simplesmente o ama. Não sei se esse é o conceito de almas gêmeas, mas acredito que não há outra pessoa para mim no universo além de você.
– Eu te amo. – ele me abraçou forte após dizer as três palavras que eu mais gostei de ouvir em toda a minha vida. – Você fez e faz minha vida valer a pena.
– É tudo sobre você. – Eu disse sorrindo e ele me beijou novamente.

Dançamos abraçados nos azulejos da cozinha até meu pé doer bastante das pisadas de Harry. Quase tudo parecia estar no lugar novamente, sempre sentiríamos falta dos que partiram, sempre teríamos pesadelos, sempre os veríamos quando fechássemos os olhos. Mas estaríamos juntos, com os que sobreviveram e com os que se foram... Estávamos juntos. Juntos vencemos o inimigo quando parecia não haver solução e juntos sobreviveríamos as consequências de uma guerra que nos deixou frágeis, mas não nos destruiu.

E agora que parecia não haver mais obstáculos, ficaria junto a Harry enquanto o tempo permitisse.

Sempre seria tudo sobre nós.