Era sua dança laranja e amarela e vermelha, o calor consumindo tudo a sua volta, as labaredas dando rodopios no ar, consumindo tudo. Seus olhos brilhavam emocionados ao verem tão cena, pequenas lágrimas, tão discretas, escorriam tímidas pelas bochechas dele. JiYong era fogo, fora feito dele, ele sentia no seu mais intimo ser, que seu coração pulsava chamas. E a cada vez que as via, seu corpo tremia, as pernas ficavam bambas, ah, e seu coração, seu coração parecia rugir dentro do peito.

Era disso que era feito. Fogo. Fúria. Calor. Era seu mais íntimo eu, seu mais profundo e escuro segredo. Sua alma velada. E então, escondido, deixava seus pés o guiarem, sempre, qualquer lugar que fosse, e no final tudo virava cinzas, virava pó e fumaça. Não gostava desse fim. Não gostava de fim algum. Queria suas pequenas crias vermelhas e amarelas e alaranjadas correndo eternamente. Mas se contentava, e fugia, e podia chegar em casa sorrindo, abraçando o pequeno e único travesseiro de sua cama e o sono lhe consumir, tomado em mais uma noite sem sonhos.

Tinha uma vida, tinha duas filhas que há tempos moravam com os avós e uma falecida esposa. Amava-a, amava as duas crianças, mas sabia que não poderia nunca parar. E não o queria afinal. Queria sentir a adrenalina lhe correr o corpo, tomado em fúria enquanto suas crias, quentes e irrequietas, consumiam o que conseguissem, devorassem tudo a frente, e então tudo ficaria escuro. Seu show particular.

Mas nunca chegara a tanto. Nunca. Mas agora via o quão tolo fora. Sozinho, enquanto seu corpo permanecia em pé em cima do colchão, as paredes ao seu redor queimavam, quebravam, morriam. E JiYong sentindo-se sempre vivo, cada vez mais vivo, enquanto o calor se aproximava ainda mais. O corpo nu brilhava em suor, os fios lhe caíam sobre o rosto e o borrado negro em seus olhos que um dia fora maquiagem. O sorriso, seu grande sorriso, reluzia em frente a tanta luz, podendo quase rasgar seu rosto.

Desceu do colchão, deixando os pés descalços se encostarem ao chão quente, as chamas cada vez mais próximas. E então, apenas abrira seus braços, os passos lentos ao se aproximar de seu próprio eu, deixando seu verdadeiro corpo o engolir, o queimar, o derreter. Seu mais puro e verdadeiro e único amor. Fogo.