The Night Belongs To Love escrita por Bubi


Capítulo 2
Enterrada




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A chuva era a única coisa audível na noite escura. Meu cérebro parecia querer ficar ligado eternamente, me torturando com imagens e mais imagens.


O relógio marcava exactamente 4:13 da madrugada, eu ainda não tinha dormido. Claro que pra muitas pessoas é normal virar o dia sem pregar o olho, eu não sou uma dessas pessoas. Pra ser sincera o máximo que fiquei acordada foi uma da manha, na ceia de natal, no sitio de minha tia. Uma festa com gente velha, totalmente
entediante.

Eu estava sentada num sofá de janela, raramente o usava, não sei bem o por que. Virei para a janela, nada era visível, tudo estava escuro. Normalmente a escuridão me dava arrepios e admito que me dava muito medo, e esse era um dos motivos por dormir "cedo". Agora tudo pra mim era indiferente.

Olhei o relógio novamente, 4:15. Meu rosto pedia descanso e meus olhos doíam. Mais eu não podia fechar os olhos sem imagens horríveis tomarem conta de meu cérebro.

A tempestade realmente não ajudava.

****

Jason tirou meus óculos escuros e, com os dedos, contornou os círculos roxos em baixo de meus olhos.

– Você não dormiu nada. - Ele sussurrou com a voz triste e cansada, ele também não havia dormido.

Eu neguei com a cabeça olhando pra baixo, ele me envolveu com seus braços e murmurou que tudo ficaria bem, que cuidaria de mim. Eu sabia que nada ficaria bem.

Sentamos no sofá da sala de estar, teríamos que esperar tia Amélia descer pra depois finalmente irmos nos despedir de mamãe.

Nos despedir. Seria o fim.

***

Nunca pensei que diria adeus a alguém tão importante. Nunca imaginei ir ao um enterro de um ente querido, muito menos de mamãe ou
Jason, meu irmão. É uma das coisas que você nunca imagina e nunca vai estar preparado.

Mamãe nos criou sozinha, num apartamento em São Paulo. Não conheci meu pai e, pelo que minha mãe me disse, nem ele me conheceu. Ele estava trabalhando quando seu navio afundou, erro humano.
Jason, que é três anos mais velho, o conheceu, mas segundo ele não se lembra.

Temos três fotos dele. Uma no casamento dos dois, mamãe linda com um vestido tomara que caia branco grudado no corpo, o cabelo preto meio ondulado em um ombro só e um
buque com suas flores preferidas e papai elegante em um terno branco com o cabelo loiro arrumado e com um sorriso de orelha a orelha. Outra ele na frente de um navio uniformizado totalmente feliz. E, a mais recente pelo que entendi, por ultimo papai com Jason no colo e mamãe gravida do seu lado sentados numa toalha de piquenique em uma grama incrivelmente verde, todos felizes. Em todas ele estava feliz.

Depois nos mudamos pra o interior de Santa Catarina, em um sobrado confortável com jardim e quintal. Estávamos felizes, inclusive mamãe. Até que na volta de seu trabalho, o carro perdeu a
direçao e saiu da pista, capotou e caiu no rio que cruzava a cidade. Ela morreu afogada, a dois dias atrás.

***

Chegamos ao cemitério, o dia estava relativamente bonito em relação a madrugada de hoje, relativamente bonito para um enterro.

Saímos do carro, todos estavam de preto e de
óculos escuros, como nos filmes. Era a primeira vez que eu via um enterro, e era da minha mãe.

Estava de tarde e o calor era de verão, todas as mulheres de vestido preto. Observei que mais de 50% das pessoas choravam. Todos eram vizinhos, ou trabalhavam com minha mãe na cidade vizinha. A única pessoa da minha família era tia Amélia, e eu mau a conhecia.

Pra ser sincera era a única pessoa que restava da família, por parte de pai eu não conhecia absolutamente ninguém.

As pessoa se aproximavam e davam pesamos, alguns realmente sentidos, outros só marcando presença. O padre começou o enterro, eu apenas ouvia sentada ao lado de
Jason, o único que conhecia minha dor. Eu não chorava, já não tinha mais lágrimas.

Quando o padre anunciou que era pra se despedir o aperto no coração foi a pior coisa que eu já senti, superava tudo, ate as piores dores físicas. Eu estava tão absorta em meus pensamentos que a dor parecia ser além do emocional.

Me aproximei do caixão junto com
Jason. Olhei pra mamãe e passei a mão em seu rosto, ela estava morta. Meus olhos encheram-se de lágrimas que eu nem sabia que ainda existiam. Um nó na minha garganta se formou. As lágrimas escorriam pelo meu rosto devagar.

– Eu vou cuidar de você. -
Jason disse me abraçando e afastando-me do caixão junto com ele.

Ele beijou minha testa enquanto fechavam o caixão. Observei em meu silencioso sofrimento o caixão descer para de baixo da terra, para nunca mais voltar.

Não sei quanto tempo fiquei ali, olhando para o chão com
Jason ao meu lado. Mas percebi que tinha passado muito tempo quando olhei em volta e só vi tia Amélia ao lado do carro nos esperando.

Virei para
Jason tirando os óculos. Ele me olhou com a expressão triste, limpou minhas lágrimas e respirou fundo. - Estão nos esperando em casa - Ele disse com a voz baixa, olhou nos meus olhos. - Sophie, amanhã nos voltamos.

Concordei assentindo levemente. Fomos para o carro.

Era tarde quando as pessoa começaram a ir embora, eu não percebi, meus olhos estavam grudados em uma parede, não estava pensando em nada.

Quando alguém se aproximava de mim
Jason já falava que eu precisava de tempo pra absorver tudo e que agora o melhor era não falar com alguém.

Minha vontade era gritar, pra todo mundo sair e nos deixar em paz, eu sabia que
Jason também queria isso.

Quando o barulho de pessoas foi substituído por um silencio senti braços me envolvendo, primeiro pensei que fosse
Jason, depois senti seu cheiro e vi que era Renan.

Renan é melhor amigo de Jason e meu amigo também.

Seu abraço era tudo que eu precisava, melhor, que estava ao meu alcance.

– Desculpa não vir antes. - Ele disse com a voz cheia de culpa. - Mas eu precisava trabalhar.

– Tudo bem. - Falei com dificuldade, o no na garganta continuava ali, desde o enterro.

– Podemos subir? Quero leva-la a cama. -
Renan perguntou a Jason.

– Pode. - Ele disse com a voz dura.

– Ela apenas precisa de um amigo. -
Renan falou, depois me pegou no colo com facilidade subindo as escadas.

Já no meu quarto ele me deitou na cama, sentando do meu lado.

– A quanto tempo não dorme? - Ele perguntou.

Eu não respondi.

Ele foi no banhei e pude ouvir ele preparando a banheira, depois voltou. - Consegue tomar banho sozinha? - Perguntou.

Fiz não com a cabeça,
Renan me olhou sem entender, mas mesmo assim não perguntou.

Me pegou no colo com cuidado e levou ate o banheiro, que
estava abafado. Me colocou de pé e tirou meus sapatos.

– Prometo que
não vou olhar, - Ele disse.

Olhou pra cima e abriu o
ziper de meu vestido, deixando ele cair. Desabotoou meu sutia e depois tirou minha calcinha. Tudo sem olhar, e me tocando o mínimo possível. nua me encolhi, mas não falei nada.

Ele me pegou no colo
de novo e depois na banheira, deixei soltar um gemido baixo.

– O que foi? - Ele perguntou com cuidado.

Olhei pra agua coberta de espuma.

– Tenho medo - Falei segurando o choro,
não queria chorar de novo. Ele pareceu entender o que eu quis dizer.

– Estou aqui. - Ele disse.

Depois de eu estar de camisola e sentada na minha cama, ele sentou-se ao meu lado acariciando meu rosto.

Não vou falar que chorar não ajuda em nada e nem que é pra você soltar tudo. - Ele disse calmo. - Apenas faça o que seu corpo quer fazer.

Enterrei meu rosto na curva de seu pescoço e perguntei alterada - Por que ela? Por que?

Chorei tudo o que eu tinha segurado no enterro, tudo o que
tava preso dentro de mim e Renan apenas passava a ao em minha cabeça.

Quando fiquei mais aliviada me endireitei na cama, respirando fundo.

– Acho melhor eu descer, você precisa dormir. -
Renan disse.

Neguei com a cabeça, abraçando-o e deitando-o na cama comigo.

Dessa vez fechei os olhos, sem imagens ruins. Apenas o cheiro
amadeirado de Renan em minha mente.


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Notas finais do capítulo

Obrigado para quem leu, fico muito feliz :)
E eu adoraria críticas construtivas!