Demorei muito para dormir naquela noite, preocupada com a proximidade de Grover e Annabeth, o que fez com que eu me sentisse muito, muito cansada no dia seguinte quando madrugávamos. 

- Quanto antes melhor, preciso escoltar vocês antes que seja tarde demais - resmungava Grover.

Annabeth parecia que estava com molas nos pés, ela pulava no lugar, mal escondendo a empolgação.

- Eu vou chegar ao topo da parede de escalada antes de você - ela desafiou Luke.

- Ah, isso nós vamos ver - ele sorriu e piscou para ela.

Luke olhou pra mim e abriu um sorriso malicioso.

- Tire a tábua das costas, Thalia - brincou ele, notando o modo rígido em que eu me mantinha.

Eu lhe dei a língua.

- Vamos? - perguntou Grover.

Assentimos pra ele, e o seguímos.

- Então... Onde fica esse Acampamento, exatamente? - senti-me burra por não ter perguntado isso antes.

- Long Island - respondeu o sátiro sem hesitar.

- Nova York? - perguntei incrédula.

- O mais próximo o possível do Empire State. Você sabe, o Olimpo.

- Ah, claro - murmurei, por que não?

Andamos por um longo tempo, parando de vez em quando para Grover fazer algum tipo de mágica com bolotas de carvalho.

Ele as observava, preocupado.

- Algum problema? - levantei as sobrancelhas pra ele.

Grover mordeu os lábios.

- Não, não. Tudo... Tudo sobre o controle. É por aqui.

Eu sabia que todos estávamos cansados, mas ninguém sugeriu parar até que os joelhos de Annabeth se dobraram de exaustão.

Grover não pareceu feliz com a ideia.

- Tudo bem, duas ou três horas e então partimos.

- Três horas? - protestei - Grover, precisamos descansar!

- Eu sei, sinto muito, mas Hades está mandando todo o tipo de monstro atrás de você, não podemos arriscar.

- Hades? Ele é quem está nos trazendo problemas?

Grover não respondeu, apenas foi sentar-se no tronco de uma árvore.

Enquanto Luke e Annabeth montavam acampamento, eu fui me sentar ao seu lado, e ele me contou tudo: O fato de eu ser perigosa, que eu não deveria ter nascido, e que eu atraía mais monstros do que qualquer outro semideus.

- Então é minha culpa - murmurei observando Luke e Annabeth - é minha culpa que fomos atacados tantas vezes.

- Não! - protestou Grover - Eles teríam sido atacados de qualquer forma. Você atrai mais monstros, é verdade, mas também aposto que já salvou a vida deles muitas vezes.

Não discuti, em parte porque era verdade, em parte porque senti que se falasse começaria a chorar.

Eu me senti idiota.

Não sei quanto tempo permaneci encarando os dois. Luke tinha dois pedaços de ferro das barracas nas mãos, e usava um para cutucar Annabeth na barriga, e o outro ele mantinha no alto, enquanto ela pulava para tentar pegar.
Estaríam eles melhores ou piores comigo?

- Obrigada, Grover - murmurei.

Passamos tanto tempo em silêncio, que ele se sobressaltara mesmo com a minha voz baixa.

- Pelo que?

- Por... nos encontrar. 

Ele abriu um sorriso minúsculo.

- Então acredita em mim?

Eu suspirei.

- Eu não tenho escolha. Minha vontade de vê-los em segurança é maior do que qualquer outra coisa. Mas eu vou lhe avisar - minha voz se tornou sombria - se você fizer qualquer coisa para machucá-los... Eu te mato sem pestanejar, entendeu?

Ele engoliu em seco e assentiu.

Eu me levantei e fui ajudá-los a terminar de montar as barracas.

- Grover, você disse que estávamos perto! 

- E estávamos, quer dizer, as bolotas diziam...

- Estamos atrasados há 7 dias não é? - perguntou Luke.

- Quíron vai me matar - choramingou Grover.

- Onde está Annabeth? - perguntei, de repente notando sua ausência.

- Annabeth! - gritou Luke.

Ela saiu do meio de algumas folhas, com um fino arranhão recente no rosto e a faca na mão, mas parecendo bem.

- Um monstro com pés de galinha tentando nos surpreender, já me livrei dele.

Eu não devia ficar surpresa. Sempre me esquecia de que Annabeth, apesar de nova, era uma ótima lutadora, com coragem de sobra.

- Tudo bem, quer saber? Já está na hora de descansarmos - disse Luke.

- O que? - gritou Grover, meio desesperado - Não! Estamos andando apenas há apenas meio dia, nesse ritmo não vamos chegar vivos!

- Grover, relaxe está bem? Vamos ficar bem, eu posso montar guarda e... - comecei a dizer, mas parei ao ver Luke balançar a cabeça.

- Você está montando guarda há três dias Thalia, precisa dormir. Eu fico de vigia.

Eu queria discutir, mas estava tão cansada que sabia que pegaria no sono nos primeiros minutos.

Montamos acampamento de uma maneira bastante desleixada. Grover pulava de um casco para o outro, me irritando.

- Quer parar com isso, menino-bode? Está me dando nos nervos.

- Eu sinto cheiro de monstros... - repetia ele.

- Você sempre sente cheiro de monstros - interpôs Annabeth sensatamente.

- Porque eles sempre estão por perto. Mas agora é sério, não estou gostando disso...

- Grover! - reclamei - Não podemos andar até desmaiar de cansaço. Apenas durma um pouco.

Ele mordeu os lábios, mas acabou deitando e em cinco minutos começara a roncar.

- Você também - eu disse à Annabeth, cujo os olhos mal permaneciam abertos.

- Eu quero ajudar Luke na guarda - reclamou ela.

Olhei para Luke, ele deu um mínimo sorriso.

- É claro que você pode me ajudar, Annabeth.

Antes que eu pudesse discutir, ele pegou um saco de dormir e colocou ao seu lado, onde Annabeth se sentou. Reprimi um sorriso ao perceber seu plano, é claro que Annabeth em breve cairía no sono ao seu lado.

- Vá dormir, eu fico de olho em tudo - Luke prometeu.

Assenti e adentrei em minha barraca, me jogando no saco de dormir.

Eu não queria dormir. Essa era a verdade. Pesadelos horríveis me açoitavam, e eu tinha a terrível sensação de que não eram apenas pesadelos. 

Manti meus pensamentos calmos, na esperança de que assim os pesadelos seriam menos aterrorizantes. Pensei que em breve estaríamos seguro, faríamos novos amigos, teríamos um pouco de diversão para variar. E o melhor: Segurança.

Suspirei essa última palavra e peguei no sono.

Me pareceu que eu tinha dormido menos de duas horas quando um grito estridente me fez pular.