“Eu sou Alpha e Omega,
O início e o término,
O primeiro e o último...”

“Espaço... Você nunca tem noção do que essa palavra significa, até estar nele. Talvez seja a última vez que o vejo assim, um emaranhado infinito de pontos e cores, um vazio sem fim... Estou contente por atingir a minha aposentadoria, mas acho que vou sentir muita falta disto tudo...”

- Capitão?
- Hmm?
- Capitão!


Logo os sombrios olhos azuis do Capitão da Nau Mahannom voltaram a realidade do tecnológico convés novamente, dispersando aquela típica névoa que todo pensamento cria. O capitão não aparentava ser tão velho quanto era. Uma espessa barba castanha esconde o claro rosto, dando destaque às espessas sobrancelhas e aos olhos azuis, um azul cansado e profundo, que acentuavam a imponente expressão dele. Mas no momento, o capitão estava rindo para si mesmo, mais uma vez envolto em pensamentos.

- Capitão, ocorreu uma... – mas a imediata foi interrompida pelo som das sirenes que ecoou por toda a sala, e logo a sala de operação de Mahannom passou de um calmo cinza a um ofuscante vermelho, gerado pelas tantas telas de operação. – Capitão, há um intruso no sistema, linha 10323 coluna 512.
- Procedimento padrão – respondeu o capitão com a voz autoritária de sempre...
- Bloqueando acesso. . . . . Sem sucesso. Ele conseguiu o controle...
- Desligando sistemas – disse outra voz feminina de outra imediata – o comandos não obedecem! Capitão, o que fazer?
- Desconectar cabos manualmente...
- Desconectando...

Por um momento a sala de operações de Mahannom se calou, esperando uma resposta positiva para enfim voltar a calma do espaço. Todos aguardavam a resposta positiva daquela ação, e pensavam em como seria bom voltar a calma habitual do espaço. Mas não era isso que passava na mente do capitão... Ele estava mais uma vez envolto em seus próprios pensamentos...

- Conector principal ejetado, queda de energia eminente...

O Capitão só pensava naquela carga, carga não, ser, que ele levava em sua nave... E que tanto insistiram para que ele levasse...

- Nada bom. Nada aconteceu...

Ele sabia que era estranho, uma simples Nau-colonizadora carregar um ser artificial, mais foram ordens diretas... Porque tanta urgência para tirar do planeta um ser que mal respira sozinho? Só se...

- Capitão, o modificador Zohar está fora de controle!
...ele representasse...

- Sobrecarga eminente, se continuar recombinando força assim fará uma explosão grande o bastante para engolir toda está nave!

... uma ameaça!
- Eu quero a criatura na tela principal agora!
- Sim Senhor!

Logo a imensa janela que dava vista para o infinito espaço dividiu espaço com um vulto sombrio, um tipo de embrião, que crescia lentamente...

- Ele está evoluindo! O que está havendo Capitão?

Mas ele não deu ouvido a esta pergunta. Afinal, como havia tolo o suficiente para cair em um truque tão sujo? Não, mas ele jurou a si mesmo que não perderia uma luta a um maldito ser que mal respirava sozinho, ele não poderia!

- Droga, ele pensa em nos atacar! – e com um rápido gesto de mão o Capitão pegou o comunicador – Ângelo? Destrua aquela cois... Ângelo? Ângelo?

Mas, de nada adiantou chamar, pois a única resposta obtida foi o surdo baque do comunicador na parede e o faiscar de fios arrebentados...Ao erguer os olhos, o Capitão viu a mensagem que ocupou todos os monitores da Nau, deixando um vermelho macabro se refletir nos rostos dos imediatos...

“ Sejam vocês, um com Deus “


Vendo isto, o Capitão baixou os olhos até eles desaparecerem por completo embaixo de seu quepe. Então deu seu último comando a sua tripulação.

- Os veículos de emergência estarão nos pontos combinados, quero que vão e ajudem todos a se acomodar. Essa é minha última ordem, Evacuar agora...

Da sala de controle o Capitão assistiu tudo: as massas de pessoas que se espremiam pelos corredores estreitos da Nau, seus gritos abafados pelas sirenes de emergência. Viu eles embarcarem e viu os peões montarem as pistas de decolagem com uma pavorosa agilidade. Viu as naves decolarem e viu os canhões de sua própria Nau atirarem sozinhos em cada nave de emergência, enquanto gigantescos fios se levantavam como cobras abrindo o casco da Nau. Ele já sabia que não havia mais escolha. Pela última vez olho o relicário onde mantinha a foto de sua esposa e filha, duas belas ruivas com penetrantes olhos azuis. E colocando a foto na sua frente, acionou a autodestruição de sua Nau, o último recurso que ele não hesitou em usar, mesmo que nunca mais fosse ver as pessoas qua tanto amou....

A água do mar salpicava as ferragens em chamas que a pouco havia chegado a aquela praia. O azul do belo céu era ofuscado pelo cinzento da fumaça, dando um toque futurístico à bela paisagem paradisíaca. Uma bela mulher de longos cabelos roxa e bela curvas exposta, sem nenhum arranhão, surgiu dentre os escombros, e ficou a admirar a beleza daquela terra inabitada...

Continua...."