Show De Vizinha escrita por Luana Rocha


Capítulo 3
Uma conversa.


Notas iniciais do capítulo

*Obrigado por lerem a fic e pelos reviews.
*Boa leitura.



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Ao contrário da casa dos Pierce, que era média e comportava um número alto de pessoas, os Lopez moravam em uma casa enorme que comportava apenas quatro pessoas, além de uma empregada. O terapeuta de Simon  lhe disse uma vez que isso era para suprir uma necessidade de infância, já que ele nascera em um bairro muito pobre de San Juan, capital de Porto Rico, mas mudou-se para os Estados Unidos ainda muito jovem, passando por várias cidades até chegar em Lima onde conheceu Angélica,  também de descendência porto-riquenha e casou-se com ela.

Nada que ele conseguira em sua viera de forma fácil, ele sofreu um bocado para chegar aonde chegou, para depois ter que aguentar aqueles “bichos-grilos” dos Pierce se colocarem em seu caminho toda vez que ele estava próximo de conseguir algo, como a construção daquele shopping anos atrás.

Aqueles hippies e aqueles hábitos de vida mais do que estranho deles eram uma grande pedra no sapato dele e de sua família, e por mais que ele odiasse se rebaixar ao nível deles, ás vezes era necessário.  Eles se faziam de santinhos por serem contra a poluição, vegetarianos e fazerem aquele V dizendo que queriam a paz e o amor, mas mesmo assim não perdiam a mínima chance de ataca-los, seja usando algum daqueles animais fedorentos que eles tinham no fundo do quintal com o único intuito de destruir o belo jardim de lírios que ele cultivava, ou uma daquelas crianças quebrando a janela de sua casa toda vez que eles decidiam jogar beisebol.

Por falar nas crianças, Simon tinha muita pena delas, tendo duas pessoas que não levantavam seus traseiros preguiçosos para conseguir um emprego de verdade e lhes dar uma condição de vida melhor como seus pais, que além de tudo lhes ensinavam valores duvidosos como o tal “amor livre” que nada mais era do que pura promiscuidade, porém, naquela manhã de domingo, o latino ouviu as boas novas que lhe pareceu a luz no fim do túnel.

Ele entrou em casa sorrindo, não podia estar mais feliz. Esse seria o negócio mais vantajoso de toda a sua vida, e nada poderia estragar seu dia.

“Vocês não podem acreditar na maravilha que está para acontecer.” Simon falou assim que entrou na cozinha, para toda a sua família que estava tomando café-da-manhã.

“De qual empresa as ações subiram?” Fernando perguntou, já que sempre que seu pai estava feliz assim era porque alguma de suas empresas estava lhe dando lucro, e com certeza era grande.

“Não, não foi isso o que aconteceu, foi algo muito melhor.”  Simon respondeu, impressionando a todos ali.

“Ganhou na loteria?” Santana ironizou, já que ela sabia muito bem que seu pai não jogava na loteria, mas era a única forma dele ganhar mais dinheiro do que a valorização de suas ações.

“Não, por que vocês acham que a minha felicidade está sempre relacionada a dinheiro?”  Simon perguntou aborrecido.

“Talvez porque sua felicidade esteja sempre relacionada a dinheiro?”  Angélica sugeriu, com o mesmo ar que Santana usava quando falava alguma maldade para alguém. A jovem herdara isso da mamãe.

“Pois saibam que existem muitas outras coisas importantes além de dinheiro nesse mundo!” Simon se defendeu, parecendo bastante ofendido com os comentários. Talvez sua família estivesse adquirindo os pensamentos de seus “biovizinhos”. “Eu ouvi uma conversa do Robert com a Layla, e o que eles falaram tornou esse dia bonito magnífico!”  nenhum membro da família podia imaginar qual grande notícia foi capaz de deixar Simon naquele estado de euforia.

“Deve ter sido uma super notícia,hein?” Santana  comentou, tomando um gole de café.

“Os Pierce vão se mudar daqui!” Simon disse aquilo com tanta alegria e animação, que seus olhos chegaram a brilhar e ele parecia que iria sair dançando e cantando pela casa.

“Ah, finalmente! Paz para os meus ouvidos!” Angélica comemorou, imaginando o quão bom seria suas noites de verão sem ter que ouvir aquela cantoria insuportável.

“Aposto como eles vão morar numa colônia de hippies desajustados, e lá vão fazer competições para ver quem tem mais filhos!” Fernando comentou rindo. Santana lhe lançou um olhar de desprezo, porque nunca na vida dela ela ouvira algo tão sem-graça. Seu irmão já teve piadas melhores, serio mesmo. Mas era outra coisa que a estava impedindo de achar graça nas piadas de seu irmão.

Ela odiava como ninguém todos aqueles bichos, aquelas cantorias, e os Pierce eram mesmo um tormento em sua vida, mas apesar disso tudo, a notícia de sua mudança a deixara com um nó na garganta.

“Essa é uma grande notícia, provavelmente a melhor desde a última década, quando eu consegui comprar cinquenta e um por cento das ações daquele Resort na Califórnia! Agora ninguém mais vai meter o nariz nos meus negócios, Bill Gates que me aguarde!” Simon falou com um sorriso enorme e raro, vislumbrando um futuro glorioso, assim como Angélica e Fernando, que nenhum deles foi capaz de enxergar a expressão decepcionada de Santana.

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Santana sentou-se no degrauzinho da frente de sua casa, e ficou parada por alguns instantes enquanto olhava para a casa simples  dos Pierce, sem conseguir imaginar outras pessoas morando ali naquele lugar. Apesar de todas as brigas e confusões eles iriam fazer falta, de um jeito estranho, mas iriam, porém ela se distraiu ao ver Tina saindo de sua casa ouvindo seu Ipod.

Santana levantou-se e correu para alcançar a asiática, que estava distraída provavelmente ouvindo alguma música que  falava de morte, sangue ou vampiros.

“Ei, menina Chang, espera aí!” Santana falou , atraindo a atenção da menina , que já começou a imaginar mil coisas, porque Santana nunca falava com ela, a menos que fosse para lhe insultar de alguma forma.

“Está falando comigo Santana?” Tina perguntou, e ao revirar dos olhos da latina ela soube que a resposta era positiva. “Você nunca fala comigo...” a asiática explicou.

“Nós precisamos ter uma conversa.” Santana sentenciou, com um tom sombrio que causou arrepios na asiática.

“Uma conversa?” Tina repetiu, e a latina assentiu com a cabeça. “ Tudo bem.”

“Você deveria ter vergonha das suas atitudes, sabia?” Santana falou, deixando Tina bem confusa, imaginando o tipo de atitude vergonhosa que ela estava tendo, mas não conseguiu encontrar nada.

“Do que você está falando?” Santana estava diferente, parecia bastante incomodada com alguma coisa, e tina torcia para que não fosse nada a ver com ela.

“Sabe, sua família é tipo...A vergonha do bairro, vocês perdem a Olímpiada ano após ano, são humilhados sempre, e continuam agindo como se nada tivesse acontecido, quando na verdade uma coisa muito errada está acontecendo!” Santana começou com seu tom ríspido. “Você deveria estar treinando ao invés de confraternizar com seu inimigo, você não acha?”

“Por que você está me dizendo essas coisas?” Tina perguntou, totalmente confusa. Santana nunca havia demonstrado um pingo de compaixão por ela ou sua família, na verdade, eles faziam o contrário, sempre ridicularizando e humilhando ela e seus parentes.

“Eu sei que não sou a melhor pessoa do mundo, mas eu realmente sinto vergonha alheia pelos resultados patéticos da sua família em todas as edições, e você ao invés de ter consciência disso fica gastando seu tempo cantando e dançando com a Brittany, como vocês estavam fazendo ontem?” Tina riu ironicamente.

“Cuida da sua vida, tudo bem? Eu tenho mais o que fazer do que ficar ouvindo essas suas palavras maldosas em relação a mim e a minha família.” Tina defendeu-se, irritada com Santana por ter aquele comportamento, como se a latina realmente se importasse com ela e sua família.

“Tina, algum problema?” Julian perguntou, aproximando-se das duas garotas logo que viu as viu ali, porque ele sabia muito bem que Santana estava fazendo algo maldoso para a pobre tina.

“Ninguém te chamou na conversa, comedor de capim!” Santana respondeu irritada com aquele hippie intrometido. “Isso é uma conversa de garotas, e além do mais, aposto como você deve ter muito mais para fazer do que ficar se intrometendo aonde não é chamado, por exemplo,  lavar e cortar esse seu cabelo seboso!”  Santana abriu seu sorriso debochado, Julian apenas cruzou os braços, não foi embora.

“Está tudo bem Julian,  Santana e eu já terminamos essa conversa.” Tina disse olhando fixamente para a latina, que levantou uma sobrancelha. “Obrigada pela preocupação Julian.” Após dizer isso, a asiática virou-se e seguiu seu caminho.

“É sempre assim, os Chang são os primeiros a serem derrubados.” Santana falou com um tom de voz mais alto que o normal, apenas para ter a certeza que Tina lhe ouviria, e se satisfez  ao receber um olhar pouco amigável da asiática.

“Você é uma das pessoas mais maldosas que eu conheci em toda a minha vida, e sinceramente, isso não vai te levar nenhum.” Santana riu ironizando as palavras do loiro de cabelos compridos. “Do que adianta você ter todo esse dinheiro, se não pode comprar um coração para colocar no lugar dessa pedra que você carrega no peito e se tornar uma pessoa melhor?” O hippie sacudiu os ombros ao ver o sorriso da latina sumir de seus lábios “Você e a sua família podem achar nós somos uns coitados porque não podemos comprar carros luxuosos ou viajar para fora do país, mas sabe de uma coisa? Os verdadeiros coitados são vocês, e você sabe por quê? Porque ninguém se aproxima de vocês sem ter algum interesse, diferente de qualquer um de nós, que não temos dinheiro, mas não precisamos comprar as pessoas para gostarem de nós, e se amanhã ou depois vocês perderem tudo isso, vocês vão estar sozinhos, porque vocês pisam em cima de todo mundo porque estão por cima, mas amanhã as coisas podem mudar, e vocês precisarem dos comedores de capim perdedores!” Após isso Julian virou as costas com uma enorme satisfação dentro de si. Era ótimo “quebrar as pernas”  de algum daqueles seus vizinhos arrogantes. Era uma sensação de alívio poder despejar de volta todo o lixo verbal que os Lopez lhes jogavam diariamente.

Santana, por outro lado, continuou parada, ainda digerindo as duras palavras de Julian, sem acreditar na ousadia que ele tivera ao lhe dizer aquilo, indo totalmente onde mais lhe machucava o medo da solidão. Santana era uma pessoa muito orgulhosa, e não gostava  de admitir para ninguém, nem mesmo para si própria seus medos e inseguranças , e quando aquilo lhe era jogado em sua cara, como fora, lhe deixava extremamente indefesa e sem palavras.

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Já era noite e após o jantar Brittany foi alimentar Ernesto, o bode, e Lewis, o passarinho que sua mãe encontrara com uma asa quebrada e a família pegou para cuidar até ele ficar bom, porque não era justo deixar um ser livre em uma gaiola, mas ele já estava curado há um bom tempo e mesmo assim continuava preso.

“Oi Ernesto, você estava com fome, não é?” Brittany perguntou, enquanto o animal se alimentava, sem lhe dar a mínima atenção. “Você já está sabendo que logo nós vamos embora daqui, não sabe?” Brittany falou baixinho, demonstrando toda a sua tristeza “Eu sei que lá vai ser melhor para você, que você vai ter uma namorada...”

“Britt, a Tina está aí”  Douglas, seu irmão de 11 anos veio lhe dizer. “Britt, você empresta o Hendrix pro Julian me ensinar a tocar?”

“Claro.” Brittany respondeu, indo ao encontro de sua amiga. Hendrix era o violão da loira, que assim como todos os instrumentos musicais da família tinham nomes de seus ídolos do rock.

Logo que saiu da sua casa, Brittany avistou Tina, que estava no pequeno jardim, que parecia tensa ao trocar olhares com o vulto de Santana, que estava sentada no degrau de sua área, fumando um charuto.

“Você não deveria fumar.”  Brittany a advertiu. Ela fizera um grande trabalho na escola sobre os males que os fumantes sofriam pelo seu péssimo hábito, mas Talvez a latina não tivesse lhe escutado quando ela o apresentou para a sala, porque estava muito ocupada fazendo comentários maldosos sobre a loira.

“Cuida da sua vida, cérebro de ameba!” Foi a resposta de Santana, quase imediata. Brittany apenas sacudiu a cabeça. Só dissera aquilo porque não gostaria de ver sua vizinha morrer de um forte câncer de pulmão.

“Ei Britt, ignore isso!” Tina falou com um sorriso simpático, e segurando  a mão de sua amiga, fazendo Santana tossir , e não foi por causa da fumaça como a hippie pensou. “Vamos tomar um sorvete?”

“Eu adoraria, mas eu não tenho nenhum dinheiro.”  Brittany respondeu desapontada . Os passeios com Tina eram sempre divertidos , e sorvete era seu doce favorito.

“Não tem problema, eu pago.” Tina sorriu, ela sabia que os Pierce viviam com pouco dinheiro, e não tinha nenhum problema em pagar um sorvete para sua melhor amiga.

“Eu vou perguntar para a minha mãe se ela me deixa ir, tá bom?”  Brittany correu para dentro da sua casa. Outra vez sozinha, Tina olhou para o outro lado, e Santana ainda estava lá, encarando-a, com um ar de mafiosa adolescente, que era de dar medo. Graças ao Senhor, Brittany voltou logo e pela sua animação estava claro que sua mãe  havia lhe dado uma resposta positiva. “Ela deixou!”

“Legal!” Tina respondeu.

Ela e Brittany foram até uma sorveteria que ficava dois quarteirões de distância de suas casas. Como sempre Brittany pediu sorvete de morango e Tina de flocos, logo após sentarem-se  uma de frente para a outra. Tina estava estranha, parecendo pensativa e não demorou para Brittany notar, e ir logo ao assunto.

“Tina, está tudo bem?” Brittany perguntou, fazendo a asiática olhar confusa para ela. “Você parece preocupada ou algo assim.”

“Coisas estranhas estão acontecendo Britt.” Tina falou de uma vez, mas a loira não havia notado nada estranho, por isso não entendeu o que Tina quis dizer com aquilo. “Eu sei que o que eu vou dizer é estranho, mas é o que me parece estar acontecendo Britt.” Tina suspirou fundo procurando as melhores palavras para explicar à amiga o que estava vendo acontecer. “Eu acho que Santana está com ciúmes de nós.”

“Ciúmes?” Brittany repetiu. “Acho que eu sei porque, ela era minha melhor amiga, agora você é minha melhor amiga , e ela é orgulhosa, você sabe.” Não tinha outro motivo para Santana ter ciúmes.

“Não Britt, eu não acho que seja esse tipo de ciúme, na verdade eu acho que ela está gostando de uma de nós duas.” Brittany não segurou o riso.

“Não...Impossível.” A hippie respondeu ainda rindo, porque Santana era a garota mais hétero que ela conhecia, quando ela olhava para as meninas era apenas com o intuito de ver o tipo de calça que elas vestiam, ou qual o tipo de decote de suas blusas, nada mais que isso, era o que a latina sempre dizia quando era questionada por alguma Cheerio por que ela estava olhando tanto. “Por que você acha isso Tina?” Brittany estava achando muita graça daquela história, mas Tina não. Na verdade duas coisas lhe afligiam muito, se Santana estivesse gostando dela seria um problema mais fácil de ser resolvido, mas se fosse de Brittany, primeiro, as famílias já se odiavam e a situação só iria piorar, causando grandes problemas para Brittany, e segundo,  ela era tão possessiva e mandona que iria dar um jeito de acabar com sua amizade com a hippie.

“Britt, você não viu agora a pouco como ela estava olhando para nós? Ela até tossiu quando você segurou minha mão.” Tina sabia que a tosse não era por causa da fumaça do charuto. “ E hoje de manhã ela veio tirar satisfações comigo porque nos viu dançando juntas ontem.”

“Nós podemos falar com ela e perguntar o que está acontecendo.”  Brittany sugeriu o que era mais fácil de se fazer, se queria saber algo sobre alguém o melhor era ir diretamente na fonte.

“Brittany, estamos falando de Santana Lopez, você acha mesmo que ela vai colaborar?” Tina não conseguia entender o raciocínio de Brittany, que achava que tudo era muito fácil.

“Nós podemos usar nosso charme matador.” Brittany sugeriu e piscou para Tina, que ficou boquiaberta por alguns segundos, realmente não sabendo o que pensar, estava chocada mas ao mesmo tempo com vontade de rir.

“Não... Tipo, eu não ...Nada contra, mas eu  não sou gay.” Tina sentenciou, então Brittany abriu a boca para protestar. “Nem bi.” Ela sabia que a amiga iria dizer que ela também não era gay.

“Tudo bem, eu posso fazer isso sozinha, mas você tem que prometer segredo.” Ela sabia muito bem do tamanho do problema que seria se sua família soubesse que ela planejava falar e talvez usar seu charme com Santana. “Você promete Tina?”

“Eu prometo, mas tome cuidado, hein?” Tina prometeu, porque sabia que Brittany não iria desistir da ideia, mas ainda achava que havia uma grande probabilidade daquilo acabar mal.

“Não se preocupe, nós vamos descobrir qual o problema da Santana.” Brittany disse com toda confiança do mundo. Era a chance que ela precisava para se aproximar da latina sem que a gótica percebesse que ela talvez estivesse gostando dela.


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Notas finais do capítulo

* Gostaram? Vocês acham que Brittany vai conseguir arrancar alguma coisa de Santana com seu charme matador?
*Por favor deixem reviews.
*Logo logo tem mais.