Show De Vizinha escrita por Luana Rocha


Capítulo 17
Eu sou a morsa


Notas iniciais do capítulo

*Obrigado pelos reviews.
*Bom o nome do capítulo é meio estranho, mas eu vou explicar no final.
*A ofensa do capítulo é inventada por mim baseada na letra da música, eu nem sei mesmo se os hippies se ofendem com isso.
*Bom, espero que gostem do capítulo.



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“Vai, solta logo a bomba Brittany.” Ele falou para a filha e ficou olhando diretamente em seus olhos. Brittany respirou fundo, mas não conseguiu evitar o nó na garganta e as pernas trêmulas, mas ela precisava acabar com aquela aflição de uma vez. Era agora ou nunca.

A adolescente temerosa olhou para a mãe, que colocou uma das mãos em suas costas, lhe dando forças. Nesse momento todos os seus irmãos e seu pai sabiam que seja lá o que fosse, era sério.

“Vocês sabem que eu não gosto de esconder nada de vocês, mas às vezes é necessário, mas nada dá para esconder para sempre, então eu quero que vocês saibam que...” Ela engoliu seco “Eu estou namorando...”

“UFA...” Foi o grito de alívio de Gregory. “Sinceramente achei que você iria dizer que estava grávida do rapaz Chang, namorando não é problema, filha.” Ele até sorriu para Brittany, que continuou tensa.

“Eu estou namorando Santana Lopez.” Ela soltou de uma vez, fazendo o sorriso no rosto de seu pai desaparecer no mesmo instante, e um olhar de confusão no rosto de seus irmãos.

“Você o quê?” O patriarca Pierce perguntou com um misto de raiva e descrença. “Repete o que você disse!”

“Você entendeu Gregory.” Joan respondeu para o marido. “Não faça a menina passar por isso de novo.”

“Eu?” Ele riu ironicamente.

“Britt, por que você fez isso?” Tammy perguntou inconformada. “Você a odiava tanto quanto nós, o que te deu?” 

“É uma boa pergunta, eu não te reconheço mais Brittany Pierce, ou quer dizer, devo te chamar de Brittany Lopez agora?” Gregory perguntou. “Você vai querer pegar suas coisas e se mudar do outro lado da rua, viver numa casa maior, quem sabe até ganhar um carro importado do ano, além de comer burritos no jantar e depois brincar com uma piñata cantando ‘la cucaracha’ enquanto comemora por ser agora uma nova morsa...”

“PARA GREGORY!” Joan perdeu a paciência com o marido. Suas palavras duras haviam feito Brittany começar a chorar. “Não fale assim com ela!”

“Joan, você está vendo que está acontecendo?” Ele perguntou.

“Sim, eu estou, e isso é tudo culpa sua!” Gregory sacudiu a cabeça, incrédulo.

“Minha culpa?” Gregory riu ironicamente. “Eu dei o melhor de mim, fiz de tudo para os nossos filhos, um deles se corrompe e a culpa é minha?”

“Ninguém se corrompeu, pare de fazer drama!” Joan retrucou e crispou os lábios. “Isso não é o fim do mundo!”

“É pior que o fim do mundo, é uma traição!” Gregory se levantou. “Nunca na minha vida eu poderia esperar uma coisa dessas de um filho meu, muito menos dela!” Ele apontou para Brittany, que chorava silenciosamente de tão duras que eram as acusações de seu pai. Ela jamais faria qualquer coisa para prejudicar sua família, eles eram as pessoas mais importantes para ela no mundo. Ela os amava mais que qualquer outra coisa.

“Ela não traiu ninguém, você está sendo infantil, Brittany sempre foi a mesma, tanto que você nem sequer percebeu o que estava acontecendo.” Ele não aceitava aquilo, não importa o que sua esposa lhe dissesse. “Isso serve de lição para você, e para quem mais insistir em manter essa rixa ridícula!”

“Lição? Que lição?”

“Para você aprender a controlar sua língua, ano após ano você falou e ironizou tanto os Lopez, e eles a nós, e as duas meninas acabaram se apaixonando.” Joan sorriu. “A vida é bem irônica Greg.”

“Não comigo, afinal, essa história acaba agora.” Brittany olhou para o pai com os olhos arregalados. “Você não vai mais ver Santana Lopez.”

“Não...” Ela falou.

“Sim, você está proibida de manter qualquer contato com essa garota se quiser continuar sendo uma Pierce.” Brittany pareceu confusa.

“Papai...” Julian começou, mas o pai fez sinal para o rapaz se calar.

“Você me entendeu Brittany? Ele perguntou olhando fixamente nos olhos da filha, que não demonstrou nenhuma reação. Gregory sacudiu a cabeça. “Graças aos céus vamos embora daqui logo, e nos livraremos para sempre dessa raça egoísta que são os Lopez.”

Brittany se levantou e correu para o quarto.

“Você está sendo egoísta.” Joan falou baixo para o marido.

“Eu só estou pensando no bem da nossa família, no bem dela própria.” Gregory se defendeu. “Ou você acha que eles a receberiam de braços abertos e a tratariam como uma filha?”

“Mas não precisava acusá-la de traição.” A mulher argumentou. “Isso foi pesado.”

“E não é? Ano após ano ela viu como todos naquela família nos tratavam como lixo! Quantas vezes ela própria não foi humilhada por aqueles dois moleques mal criados?  Egoísta foi ela que deveria ter pensado nisso antes de fazer sei lá o quê com aquela garota.” Gregory sacudiu a cabeça. “Não estou dizendo que isso é imperdoável ou algo assim, só estou querendo mostrar a verdade para ela, e você deveria estar do meu lado, porque você sabe que eu estou falando a verdade.”

“Eu não disse que você está errado Gregory, mas você nem sequer ouviu o que a menina tinha a dizer.” A mulher falou. “Você nem quis saber como ela se sente em relação à Santana Lopez.”

“Historinha de amor adolescente, ‘ela me faz sentir única e especial, eu nunca vou amar outra pessoa na minha vida, meu único e verdadeiro amor’, Joan, eu já tive dezessete anos, sei bem como é.” Ele respondeu. “Vai ficar tudo bem, eu continuo amando Brittany da mesma maneira, não se preocupe com isso.”

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Simon fumava um charuto enquanto olhava um álbum de fotos, principalmente as de Santana, desde que ela era um bebê, até as mais atuais. Foto dele com ela no colo um dia após o seu nascimento, seu primeiro aniversário, o primeiro passeio de bicicleta, o primeiro dia na escola, o primeiro carro, várias festas de aniversário e dia das bruxas.

Seu coração estava partido, como nunca estivera antes, e ele nem fechou os olhos durante toda a noite, pensando em Santana. Um forte arrependimento invadira seu peito, mas o seu orgulho ainda era maior, ele queria que sua filha voltasse e lhe pedisse desculpas pelos seus atos errados.

“Simon, o que você está fazendo?” Foi a voz de sua esposa que entrou em sua sala naquele momento. O homem em sua poltrona, de costas para a porta fechou o álbum rapidamente.

“Eu só estou aqui fumando um charuto.” Ele respondeu.

“Você sabe que deveria parar de usar isso, você tem problema no coração.” A mulher disse, seus olhos estavam inchados, porque ela também não dormira.

“Eu estou bem, meu coração é mais forte do que um de leão.” Ele respondeu com um sorriso falso. “Mas, aconteceu alguma coisa?”

“Simon, Santana nossa filha.” Ela falou de braços cruzados, fazendo o marido engolir seco. “Você parece não se importar.”

“Ela está bem, ela dormiu na casa da sua irmã, aposto cinquenta dólares, que hoje, no mais tardar amanhã ela volta para casa consciente das coisas que fez, pede desculpas e tudo volta a sua normalidade, você vai ver.” Ele assegurou com um olhar confiante.

“E se isso não acontecer?” A mulher perguntou crispando os lábios. “E se isso for permanente, nossa filha for mesmo uma... Uma lésbica?” Simon suspirou.

“Quando os comedores de grama finalmente desaparecerem de nossas vistas para sempre, ela vai voltar a ser a nossa velha e adorada Santana.” O homem lhe assegurou. “E além do mais, mesmo que ela seja mesmo uma lésbica, isso não é a pior coisa do mundo, o pior é ela querer se engraçar com aquela garota estranha lá, a Brittany Pierce.”

“Você não pode estar falando sério.” Angélica lhe disse incrédula. “Você sabe o que isso vai nos trazer?”

“Eu não vejo nenhum problema com isso desde que ela encontre alguma menina do nível dela.” Simon falou e sorriu. “Eu sou um pai moderno, não cabeça aberta e sem cérebro como o Pierce, mas também não tenho meu cérebro atrofiado.”

“Eu não acredito que você esteja falando essas coisas.” Angélica não se conformava. “Você sabe a vergonha que vai ser para mim? Todas as minhas amigas falando de suas filhas com seus namorados e noivos, então quando elas me perguntarem da Santana eu vou dizer: ‘minha filha não tem namorado, ela é uma lésbica’, então todas vão rir de mim.” A mulher já começou a chorar. “Então vamos passar a ser discriminados, você vai ver.”

“Quem liga para o que essas mulheres pensam?” Simon ironizou.

“Eu ligo!” Ela respondeu impaciente. “Você não sabe o que isso realmente significa, eu sei que você está dizendo essas coisas porque não quer ficar para trás do Pierce, porque ele aceita a filha dele que é assim, mas a Santana não é uma Pierce, ela não vai ser assim!” Ela enxugou as lágrimas. “Eu ainda acho que isso tudo não passa de uma armação daqueles hipongos, eles fizeram isso para nos desestabilizar, e usaram a pessoa mais vulnerável da nossa família, a nossa garotinha!”

“Calma Angel, vamos resolver um problema de cada vez, talvez isso seja só uma fase, você sabe como esses são esses adolescentes, diferentes de nosso tempo, eles gostam de ser diferentes, você sabe.” Simon começou a explicar. “Querem ser os rebeldes.”

“Ser rebelde é querer colocar um piercing ou fazer uma tatuagem, isso já é demais.” A mulher não podia se conformar com aquilo, e sacudia a cabeça. “Nós precisamos tomar uma atitude.”

“Na hora certa nós vamos tomar, eu prometo a você.” O homem lhe assegurou.

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Santana mal dormira a maior parte da noite, e quando ela finalmente conseguira um pouco de sono fora acordada duas horas depois com uma cantoria que lembrava muito a de seus vizinhos, ou ex-vizinhos agora, comemorando o nascimento do Sol, como se isso fosse algo muito especial. Ela apenas sacudia a cabeça, mas nem tentava entender a motivação dessas pessoas para fazerem isso, ela nunca iria conseguir.

“Então, já sabe o que vai fazer?” Eileen perguntou assim que entrou em seu quarto e encontrou Santana sentada na cama.

“Eu preciso falar com a Brittany.” Ela respondeu e pegou seu celular. “Depois eu vou falar com Fernando.”

“Eu também preciso falar com ele.” Eileen disse com certo pesar na voz. “Santana, você acha que seu pai expulsa o Fernando de casa se ele souber que eu sou hippie também?”

“Meu pai só odeia os Pierce, e além do mais o Fernando não sabe que você é hippie.” Santana sorriu para ela e discou o número do celular de Brittany.

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Brittany e Tammy ajudavam a mão a por a mesa do almoço. O silêncio era sepulcral entre as três, mas Brittany podia ver os olhares julgadores da irmã em sua direção, e todas as vezes que ela sacudia a cabeça em descrença.

O celular de Brittany tocou, mas como ela era sempre tão distraída acabara esquecendo-o na sala, e quando ela correu para atendê-lo, viu seu pai pegando-o antes, o que lhe fez quase passar mal. Era Santana, ela tinha certeza disso.

“Alô.” Ele disse, ao atender ao telefone.

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O coração de Santana gelou ao ouvir a voz de quem ela logo reconheceu ser Gregory. Primeiro ela arregalou os olhos, e sem demora desligou o telefone. Eileen observava a cena.

“O que foi?” Ela perguntou.

“O pai dela atendeu o celular.” A latina respondeu meio com medo, esperando seu telefone tocar, mas isso não aconteceu. “Eu acho que ele descobriu.”

“Talvez não, pode ser só uma coincidência.” Eileen comentou com um sorrisinho.

“Eu não sei, só espero que ela não esteja encrencada.” Santana suspirou.

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Gregory olhou para Brittany e depois olhou para o celular novamente.

“Era ela, e você sabe disso.” A loira permaneceu em silêncio, e imóvel, segurando as lágrimas. “Isso vai ficar comigo.” Ele guardou o celular no bolso da calça.

“Papai...” Ela murmurou quase que implorando.

“Brittany, eu sempre lhe disse, ela não, você não vai ficar com ela!” Gregory falou com muita seriedade. “Eu nunca tive problemas em relação às suas preferências, mas ela não, e você sabe muito bem disso.”

“Mas ela é diferente, eu estou falando...” Brittany tentou argumentar, mas Gregory sacudiu a cabeça.

“Ah sim claro, ela é muito diferente.” Ele ironizou. “Todos esses anos de humilhação que ela impôs aos seus irmãos e à você própria foram para mostrar o quanto ela é diferente!” Gregory encarou a filha. “Ela é igualzinha ao pai dela, só que adolescente e de saia, seria bom você pensar na sua família pelo menos uma vez Brittany.”

“Eu sempre penso em vocês, está sendo injusto comigo me chamando de egoísta.” Brittany se defendeu, agora chorando.

“Egoísta sim, e vou chamar de egoísta qualquer pessoa dessa família que se associar a qualquer uma daquelas pessoas que vivem do outro lado da rua e nos chamam de comedores de capim!” Gregory falou com raiva. “E o que me deixa mais triste é que foi logo você, a minha garotinha, que agora se tornou uma morsa.” Brittany fechou os olhos, ela não podia acreditar que o seu pai havia chamado de morsa pela segunda vez. “Você é uma deles agora...” Ele murmurou. “E eu quero a minha filha de volta.”

“E você é igual a ele, você não tem nada de diferente de Simon Lopez!” Os olhos de Gregory se arregalaram quando Brittany lhe disse aquilo. Ele não podia acreditar que aquelas palavras saíram da boca de sua garotinha, comparando-o justamente com aquele homem que ele odiava e que odiava a ele e sua família.

I am he

(Eu sou ele)

As you are he

(Assim como você é ele)

As you are me

(Assim como você sou eu)

And we are all together

(E nós estamos todos juntos)

Brittany não esperou mais nada acontecer, apenas correu para o quarto e se trancou lá. Deitou em sua cama e abraçou o travesseiro chorando.

As acusações de seu pai eram totalmente injustas, e ela nunca iria aceitar isso, assim como ele nunca iria aceitar seu amor. Ela precisava fazer alguma coisa.

I am the eggman

(Eu sou o intelectual)

They are the eggmen

(Eles são os intelectuais)

I am the walrus

(Eu sou a morsa)

Goo goo g'joob

(Bom bom bom trabalho.)

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Santana olhava para as fotos em seu celular, lembrando-se de suas últimas férias na Califórnia com sua família. As coisas eram mais fáceis naquela época, e agora tudo estava tão diferente e complicado, mas ela não se arrependia de nada, porque apesar de tudo, ela se sentiu completa pela primeira vez em sua vida, e Brittany era a responsável pelas melhores coisas que lhe aconteceram, mesmo quando tudo estava tão difícil assim.

Seu celular tocou, fazendo seu coração disparar, mas era apenas Fernando.

“E aí Nando?” Ela atendeu.

“Tudo bem, e você?” O irmão parecia um pouco chateado.

“Eu estou legal, você vai vir me ver? Eu sei que vou me arrepender de dizer isso, mas eu estou sentindo sua falta, cara.” Ela ouviu a risada do rapaz.

“Eu também estou sentindo a sua falta San, e os nossos pais também.” Santana engoliu seco ao ouvir isso. “O pai ficou trancado o dia todo na sala dele fumando charuto e a mãe está pelos cantos da casa chorando.” Aquilo doeu muito em Santana.

“Eu também sinto falta deles.” Ela falou baixo, com um tom de tristeza.

“Não se preocupe, logo você vai voltar.” Ele lhe assegurou.

“Eu não tenho tanta certeza assim.” Ela não estava nem um pouco animada, e considerava essa possibilidade distante.

“Tudo bem, então eu vou te ver a noite, tudo bem?” Ele disse.

“É, mas eu não estou na casa da minha madrinha.” Ela respondeu deixando-o confuso.

“Você está aonde então?”

“Na casa da Eileen.” Agora ele ficou mais confuso, pois tinha quase certeza que sua irmã não gostava de sua ex-namorada. “Mas não na casa que você conheceu.”

“O quê? A Eileen tem outra casa, é isso?”

“Sim, existem muitas coisas sobre ela que você não sabe, e que provavelmente irão te deixar surpreso.” Fernando não entendeu sobre o que Santana poderia estar falando, mas ele esperava que fosse uma coisa boa.

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Gregory estava sentado na frente de sua casa sozinho, enquanto observava a mansão dos Lopez. Ele estava tão chateado, como nunca ficara antes em sua vida, e aquilo tudo parecia não caber em seu peito.

Milhares de lembranças de bons momentos ao lado de Brittany passavam pela sua cabeça quase como um filme. Ele ainda não conseguia acreditar que ela havia se deixado levar pela conversa da filha da única pessoa no mundo que ela poderia chamar de inimigo. Alguma coisa muito errada estava acontecendo, e ele se sentia um verdadeiro inútil por não estar conseguindo fazer nada que pudesse mudar aquela situação.

Ele sabia que a filha estava sendo inocente acreditando que Santana iria ficar com ela pela vida toda, provavelmente ela só estava fazendo o que alguns adolescentes de sua idade gostavam de fazer, ‘experimentação’, e obviamente estava se aproveitando da inocência e da sexualidade de sua filha para isso. Ele sabia que no final de tudo, Santana sairia disso rindo, enquanto Brittany ficaria com seu coração partido

So fathers, be good to your daughters

(Então pais, sejam bons com suas filhas)

Daughters will love like you do

(Filhas amarão como vocês amam)

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Angélica não se conformava aquela garotinha que ela criara com tanto amor, a quem lhe dera tudo, agora havia se tornado algo que era de destruir o coração de qualquer mãe.

Nenhuma mãe queria sua filha sendo uma lésbica, e tendo tudo tão limitado em seu mundo. Ela queria ver Santana entrando em uma igreja com um vestido lindo, brando e perfeito, assim como ela imaginara, ela queria estar ao lado de sua filha segurando sua mão quando ela tivesse seus filhos. Ela queria sua filha ao lado de um homem bom, que lhe desse amor, conforto e segurança assim como Simon lhe dera, não ao lado de uma garota, que não tinha onde cair morta e era rejeitada pela maioria da sociedade. Aquilo era um pesadelo para ela, durante toda sua vida ela havia dado o seu máximo para evitar qualquer sofrimento para sua garota, e agora, aquilo viria da pior forma possível se ela continuasse mantendo essa atitude.

Mas ela não achava que isso era culpa de sua filha, e sim de Brittany, que com toda a sua experiência com esse tipo de coisa havia seduzido Santana, e ninguém iria lhe convencer de outro jeito. Ela sabia que Santana tinha experiência com rapazes, mas ela não seria capaz de tomar a iniciativa nessa situação. A filha daqueles hipongos estava se aproveitando da inocência e inexperiência de sua filha, e isso era provavelmente verdade.

Girls become lovers who turn into mothers

(Meninas se tornam amantes que se transformam em mães)

So mothers, be good to your daughters too

(Então mães, sejam boas com suas filhas também)

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Já era noite e Brittany continuava trancada sozinha em seu quarto. Não chorava mais, mas ainda sentia um enorme pesar dentro de seu peito. Porque as pessoas tinham que manter aquele orgulho por tanto tempo? Aquela briga era tão longa e já nem fazia mais sentido.

Com certeza o shopping daria à Simon muito dinheiro, mas ele precisava de mais do que já tinha? Ele já tinha tantas coisas, tantos empreendimentos. E a maldita área já estava sendo usada para outra coisa, naquele momento. Um estacionamento fora construído ali, ou seja, todo o esforço de seu pai fora em vão, porque ninguém ligava mesmo para a destruição do mundo, mas ele agia como se Simon Lopez fosse o único culpado pelo aquecimento global.

Ela estava cansada daquilo, até porque ela não havia pedido para sua família virar amiga dos Lopez, ela só queria namorar Santana e que eles a respeitassem, ela não esperava que seu pai e Simon sentassem juntos em uma tarde de domingo e assistissem beisebol, ou que suas mães trocassem receitas ou sentassem em frente de casa para falarem sobre as novidades da moda hippie e das mais novas coleções do mundo fashion, ou mesmo que seus irmãos se sentassem com Fernando e todos cantassem e tocassem juntos. Ela jamais pediria isso à eles. Ela os respeitava e só queria que eles a respeitassem também.

Aquilo só seria possível em um mundo perfeito, e isso definitivamente não existia, nem nunca iria existir, mas ela já sabia o que fazer.

In a perfect world

(Em um mundo perfeito)
One we've never known

(Um que nós nunca vamos conhecer)
We would never need

(Nós nunca precisariamos)
To face the world alone

(Enfrentar o mundo sozinhos)
They can have their world

(Eles podem ter o mundo deles)
We'll create our own

(Nós vamos criar o nosso)
I may not be brave or strong or smart

(Eu posso não ser corajosa ou forte ou esperta)
But somewhere in my secret heart

(Mas em algum lugar no meu secreto coração)

Ela precisava encontrar Santana, pois ela já não agüentava mais de saudade. Com certeza Santana estaria na casa de sua madrinha.

Sem muita demora ela pulou a janela e desceu para o quintal. Não era difícil para ela, porque já fizera aquilo inúmeras vezes, e aquele momento em que sua família estava jantando era perfeito.

Correu pelo quintal de sua casa e estava a caminho da casa de Tina, quando...

“Ei!” Ela olhou para trás, e lá estava Fernando. “Fugindo de alguma coisa?” Brittany ainda estava com raiva dele pelo incidente na praça, apesar de nunca ter contada para ninguém.

“Eu vou ver a sua irmã.” Ela respondeu. “Então eu estou fugindo da minha família.”

“Eu posso te levar até ela.” Fernando disse sério, mas Brittany não estava confiante.

“Porque eu confiaria em você depois do que você me fez?” Ela perguntou desconfiada.

“Olha, eu sei que o que eu fiz foi errado, e eu me arrependo disso, e eu acho que eu ainda não me redimi com você por isso, então, vamos lá, me dê um soco na cara, eu mereço.” O rapaz fechou os olhos e ficou esperando por um golpe da loira. “A Santana já me deu tanta porrada mesmo, aposto que a sua deve doer menos.”

“Para com isso, eu não vou bater em você.” Brittany respondeu, então o rapaz abriu os olhos.

“Obrigado.” Ele sorriu para ela. “Então, você vem comigo?”

“Tudo bem.” Ela concordou e sorriu de volta.

O rapaz pegou o carro e Brittany sentou-se ao seu lado.

I know love will find a way

(Eu sei que o amor vai encontrar um caminho)
Anywhere I go, I'm home

(Em qualquer lugar que eu vá, vou estar em casa)
If you are there beside me

(Se você estiver lá do meu lado)
Like dark turning into day

(Como a madrugada transformando-se em dia)
Somehow we'll come through

(De alguma maneira vamos superar)
Now that i've found you

(Agora que eu te encontrei)
Love will find a way

(O amor vai encontrar um caminho)

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O celular de Santana vibrou e ela foi com Eileen até a frente da casa da garota.

“Você acha pode ter um ataque ao saber sobre mim?” Eileen perguntou, parecendo um pouco nervosa. Santana sorriu, porque ela ficava bonitinha assim, ou talvez ela tivesse uma quedinha por meninas hippies, mas ela não queria pensar nisso, seu coração tinha lugar para uma hippie.

“Ah sim, ele vai, mas vocês nem estão mais juntos, então nem vai importar tanto.” Santana respondeu, Eileen apenas assentiu com a cabeça.

Mas a surpresa maior foi quando a latina viu o carro de seu irmão virando a esquina e uma pessoa no carro junto dele. Seu coração disparou, e ela pensou até que ele fosse parar, e o sorriso mais apaixonado surgiu em seu rosto, quando sua bela namorada surgiu, com um sorriso encantador e um brilho apaixonado em seus olhos azuis.


I was so afraid

(Eu estava com tanto medo)
Now I realize

(Agora eu percebo)
Love is never wrong, and so it never dies

(O amor nunca erra, e assim ele nunca morre)
There's a perfect world

(Há um mundo perfeito)
Shining in your eyes

(Brilhando nos seus olhos)

A loira correu e se jogou nos braços de Santana. Elas se beijaram apaixonadamente sem se importar com mais ninguém ali.

“Eu não quero mais ficar longe de você.” Brittany sussurrou no ouvido de Santana.

“Eu também não.” Santana  respondeu, ainda abraçando forte a sua namorada.

And if only they could feel it too

(E se apenas eles pudessem sentir também)
The happiness I feel with you

(A felicidade que eu sinto com você)
They'd know

(Eles iriam saber)
Love will find a way

(Que o amor vai encontrar um caminho)
Anywhere we go, we're home

(Em qualquer lugar que vamos, vamos estar em casa)
If we are there together

(Se estivermos lá juntos)
Like dark turning into day

(Como a madrugada transformando-se em dia)
Somehow we'll come through

(De alguma maneira nós vamos superar)
Now that I've found you

(Agora que eu encontrei você)
Love will find a way

(O amor vai encontrar um caminho)
I know love will find a way 

(Eu sei que o amor vai encontrar um caminho)

Fernando olhou para Eileen e piscou várias vezes imaginando estar tendo uma ilusão. A sua ex-namorada estava naquele momento vestida como um Pierce, em frente à uma casa que lembrava muito a casa dos Pierce.

“Eileen?” Ele perguntou confuso, a garota apenas sorriu, de forma tão amável, que ele nunca tinha visto antes.

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Tammy entrou no quarto, já que sua mãe mandara chamar Brittany para comer alguma coisa.

“Ei Britt, a mamãe falo...” Ela parou ao ver o quarto vazio. Ela já imaginou onde a irmã pudesse ter ido. “Merda!”

A garota foi para a cozinha, onde seus pais estavam lavando a louça juntos.

“Papai, mamãe, Britt não está no quarto.” Ela falou, atraindo a atenção dos dois.

“Ah não...” Gregory murmurou. “Espero que ela não esteja fazendo o que estou imaginando.”









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Notas finais do capítulo

*Músicas: I am the walrus(Beatles), Daughters (John Mayer) e love will find a way (Rei Leão 2)
*Sobre o nome do capítulo:" Jamais me ocorreu que Carroll estivesse comentando o sistema capitalista........mas tarde voltei e percebi que a Morsa era o bandido da história e o Carpinteiro era o mocinho. Pensei: Que droga, me identifiquei com o cara errado!
Vimos o filme em L.A. e a morsa era um grande capitalista que comia todas as ostras.......eu gostava muito dela. Por isso nem fui ver o filme. Ela é sacana, isso é o que se revela no filme.
Nós todos presumimos isto porque eu dizia "eu sou a Morsa" , que significava " eu sou Deus" ou algo assim. É apenas poesia, mas passou a me simbolizar!"
John Lennon, Anthology, página 273
*Quando Gregory chama Brittany de morsa ele a chama de capitalista, comparando-a aos Lopez.
*Espero que tenham gostado do capítulo.
*Deixem reviews, por favor.
*Quem tiver Tumblr e quiser me seguir aqui vai o endereço:
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