O bairro de McKinley era famoso por sua diversidade. Nenhum outro bairro de Lima, Ohio, tinha dentro de si uma enorme  família hippie, uma família de latinos capitalistas e uma família de asiáticos com filhos adotivos. E o melhor, nenhum outro bairro naquela cidade tinha uma competição anual entre famílias durante o verão, que era conhecida como as Olímpiadas do McKinley, que valia além de um troféu e uma quantia em dinheiro,  a briga pela soberania de uma ideologia.

Os participantes eram os Pierce (a enorme família hippie), os Lopez (os latinos capitalistas) e os Cohen-Chang (os asiáticos com filhos adotivos), mas desde a primeira edição, os únicos vencedores haviam sido os Lopez e os Pierce, empatados, com cinco troféus cada um. Os Cohen-Chang sempre haviam ficado na terceira e última posição, sendo conhecidos assim como os grandes perdedores.

A briga pela ideologia era gritante entre os hippies e os capitalistas, e havia começado anos antes das Olímpiadas se iniciarem, quando Simon Lopez e Gregory Pierce  já vizinhos, mas que ainda eram politicamente  educados entre si, e seus filhos costumavam brincar juntos ( apesar dos latinos acharem que o hábito dos Pierce não eram muitas vezes higiênicos)até que seus interesses entraram em confronto, quando Simon, um influente tinha planos de construir um shopping em uma das poucas áreas verdes da cidade, coisa que Gregory foi contra e fez tudo o que podia para impedir ,e acabou vencendo.

A partir desse acontecimento ambas as famílias se tornaram inimigas declaradas, e a rivalidade que começou com os pais respingou em todos  os membros da família, suas esposas Angélica Lopez e Joan Pierce, também nunca mais se falaram, e até mesmo seus filhos adquiriram esse sentimento, e as mais afetadas com isso foram as meninas Brittany e Santana .

As duas costumavam ser amigas, mas foram bruscamente afastadas e por ironia do destino, sempre competiam uma contra a outra nas Olímpiadas, e na maioria das vezes a loira saia vencedora, visto que seu condicionamento físico era sempre melhor que o de Santana .

Além disso ,ambas meninas estudavam juntas e faziam parte das Cheerios, a equipe de líderes de torcida da escola.

Brittany era conhecida por ter um bom coração e seu talento para dançar, além de ser considerada por muitos, a menina mais bonita da escola, já Santana, que também era muito bonita, era mais conhecida por seu jeito nada agradável, sempre tendo algo na ponta da língua para colocar as pessoas para baixo. Bom, isso funcionava com quase todo mundo, menos com Brittany, que ao invés de chorar ou revidar aos insultos da latina como a grande maioria fazia, apenas sorria em resposta, enfurecendo a outra, que era incapaz de entender esse tipo de reação.

Mas a relação entre as duas meninas começou a mudar duas semanas antes do início da décima primeira edição das Olímpiadas do McKinley.

Era início de noite, e Santana estava sozinha em sua casa, seus pais estavam fazendo compras e seu irmão fora visitar a namorada. A adolescente adorava ficar sozinha em casa, porque ela podia fazer exatamente o que queria, como ela fazia naquele momento, assistindo vídeos da t.A.t.U, coisa que ela não poderia fazer sem ser questionada por ver um clipe onde duas meninas se beijavam na chuva se sua família estivesse em casa.

A latina estava confortável em seu sofá até que ouviu um barulho vindo de fora de sua casa que lhe chamou a atenção, parecia algo em seu quintal, fazendo-a parar o que estava vendo, e prestar a atenção. Ouviu outro barulho, teve certeza que havia alguém, ou pelo menos algum animal no quintal.

Santana levantou-se e pegou um bastão de beisebol de seu irmão, que estava sempre em lugares estratégicos da casa, caso algum ladrão ou um hipongo Pierce aparecesse ali, afinal, com aquele tanto de filhos e com os empregos que eles tinham ficava difícil manter a casa sem apelar para a ilegalidade.

Santana foi até a cozinha, e assustou-se ao ver um vulto através da porta que dava acesso aos fundos de sua casa. Andou lentamente até a porta, e apesar da situação ser perigosa, ela se garantia, já tinha feito aulas de Kung Fu e defesa pessoal, além de ter a força suficiente para arrebentar a cabeça de qualquer um, mas o que ela encontrou logo que abriu a porta não foi exatamente o esperado.

“Brittany?!” Santana vociferou, assim que encontrou a loira carregando aquele gato gordo em seu quintal.

“É... Eu já estou indo” Brittany falou, sem tirar os olhos do bastão nas mãos de Santana.

“Não tão depressa mocinha, antes você vai me dizer o que está fazendo na minha casa.” Santana falou, gostando daquela situação de ter a loira vulnerável e com certo medo diante dela.

“Lord Tubbington veio aqui, ele gosta das flores do seu jardim.” Brittany argumentou, desejando que Santana a deixasse ir embora “Por favor, Santana.”

“Você sabe que o meu pa... Nós odiamos esse seu gato obeso e todo aquele bando de animais, e queremos que você e o resto da sua trupe mantenham eles longe das nossas flores!” Brittany sorriu, deixando a latina um pouco confusa. “Qual é a graça?”

“Você é tão bonita, se não fosse por essa briga entre as nossas famílias eu já teria te beijado” Santana ficou alguns instantes assimilando o que ela acabara de ouvir. “Eu já beijei todo mundo naquela escola, meninos, meninas, Sr. Kidney o zelador”.

“Você me ouviu, né?” Santana perguntou, fingindo ignorar o que a loira tinha lhe dito “Eu não quero mais ver esse bicho aqui, principalmente depois do que aquela criatura monstruosa fez!” A latina referiu-se a um incidente onde o bode (sim, um bode) da família Pierce, invadiu o quintal dos Lopez e comeu todos os lírios de Simon, e causou uma grande confusão, deixando o latino a beira de um ataque de nervos.

“O Ernesto não é uma criatura monstruosa, ele é um ótimo guardador de segredos” Brittany defendeu o pobre animal, que não fez aquilo por maldade, somente porque as flores deveriam ter um gosto agradável. Ele estava  muito longe de ser uma criatura monstruosa. “Eu sempre conto meus segredos para ele, e ele nunca espalhou para ninguém.”

“Vai embora daqui!” Santana ordenou, aquelas conversas estranhas  eram demais para ela.

“Tchau Santana, Lord Tubbington, dá tchau para Santana” A loira pegou a pata do gato e mexeu como se estivesse se despedindo, antes de voltar correndo para a sua casa.

Santana foi para o quarto, pensativa, as palavras de Brittany não saiam de sua cabeça. Ela com muita dificuldade havia aceitado aquela “coisa” que sentia por meninas, e que Brittany era realmente atraente, várias vezes ela se pegou olhando para a outra durante as rotinas das Cheerios,  ou mesmo quando ela dançava naquelas rodinhas bregas de violão que aqueles hipongos faziam durante as noites, mas isso não significava nada. Ela conhecia o estilo de vida que Brittany levava, ela provavelmente deveria ser a única pessoa na escola que a loira ainda não havia beijado, ela já devia ter tirado uma casquinha até mesmo daquela perdedora da Tina Cohen-Chang, que era meio esquisita também, mas ela, Brittany não iria conseguir. Não seria um troféu para aquela hiponga cérebro de minhoca, ela nunca se rebaixaria a isso.

“Nunca.” Repetiu para si mesma, com uma única coisa em seus pensamentos, esse ano ela daria o seu máximo para que sua família vencesse aquela Olímpiada que iria começar logo.