A Face Oculta Da Lua escrita por Lady Salieri, Nami Otohime


Capítulo 20
Capítulo 12: Castelos de cartas (parte II)


Notas iniciais do capítulo

Lyene ergueu a sobrancelha direita, em desdém. Fez uma reverência à outra, curvando-se e jogando a mão em movimentos circulares, fazendo com que as pessoas que passavam pela rua naquele momento estranhassem e comentassem umas com as outras.



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Quando Takeo chegou ao quarto onde estava Mihara, encontrou-a conversando com o médico que lhe entregou uns papeis. Ela imediatamente notou a presença dele contornando os lábios em um largo sorriso, os olhos verde-agua refletindo uma luz que não vinha de lugar nenhum daquele quarto. Ele viu-a instintivamente caminhar até si, os passos um pouco descompassados desenhando a silhueta em um abraço, porém parou no meio do ato, corando-se súbito. Takeo sorriu-lhe divertido e estendeu-lhe as flores:

– Bom, minha querida, não sei quais flores são adequadas para um momento como este, por isso mesmo quase comprei uma de cada.Lyene que é boa com esses assuntos, ela sabe tudo de plantas.

Mihara cheirou as flores, sorrindo algo decepcionada. Havia rosas de todos os tons, mas não havia rosas vermelhas:

– Lyene... Sua namorada? - Os olhos bem vivos evidenciavam seu interesse.

Takeo assustou-se ligeiramente com a pergunta, sorrindo logo em seguida, sem graça por algo que não conseguia identificar:

– Não, não, minha linda, somos não somos namorados.

– Ah, bom... Assim que você estaria livre para tomar um café comigo - ela disse assinando os papeis da alta.

– Sim, claro! Afinal, como iríamos comemorar sua liberdade? Vamos, milady? - Disse dando-lhe o braço.

Ela terminou de assinar os papéis, entregou-os ao médico que os cumprimentou e saiu.

– Pois, claro, milord, será um prazer - ela aceitou-o sorrindo.

Takeo estranhou o conforto com que respirou ali, enquanto a acompanhava para fora do hospital.




– Olá, sejam-bem vindos! – Amano* disse, bandeja na mão, caneta detrás da orelha, quando se deu conta da chegada dos dois.

Darien retribuiu-lhe o cumprimento enquanto Lyene olhava-o de sobrancelhas erguidas, como se ele se tratasse de um intruso suspeito.

–Onde está o Andrew? - Disse com um tom de mau-humor não despercebido pelos dois.

Amano apertou a bandeja que tinha nas mãos contra o peito, intimidado:

– O Andrew me pediu para abrir o game center hoje. Mas ele deve estar para chegar.

– Tomamos um café enquanto você espera? - Convidou Darien de maneira a tentar mudar-lhe o humor e a estranha nuance de uma situação banal.

– Fazer o que, não é? - Ela se virou para o atendente - Eu vou querer um capuccino grande de caramelo, por favor. Andrew coloca uma medida e um quinto menos de meia de açúcar pra mim, é desse jeito que eu gosto. E não adianta trazer o açúcar pra mim, porque eu gosto dele bem diluído no leite.

– Certo - Amano anotava tudo, sorrindo.

– E o leite deve ser bem batido, ou seja, você bate o copo na beirada da máquina para o leite descer, bate de novo e repete o processo.

– Ok - O tom solícito de Amano já dava indícios de estranheza.

– E a canela só na borda até a metade, por favor, não espalha no meio, não. Em cima da canela um poquinho de cacau, mas só uma pitada mesmo.

Amano escrevia tudo o que ela dizia, desorientado com as especificações.

– É isso... - Ela disse, por fim.

– E você, Darien?

Darien tinha uma gota na cabeça:

– Para mim um espresso, simples - pediu, sem graça.

Amano assentiu, retirando-se, enquanto os dois caminhavam para a mesa. Sentaram-se:

– O que será que aconteceu com o Andrew, ele não é de se atrasar... - Ela disse, olhando para os lados.

– Eu tampouco sei, na verdade. Realmente, nunca tive notícia de que ele tenha faltado em algum momento. Mas é para conversar sobre algo particular que você veio se encontrar com ele?

Lyene tinha as sobrancelhas contraídas:

– Não, não... Na verdade não tenho aquelas conversas cotidianas com o Andrew desde que me lembrei de tudo. Ele mesmo me cobrou este encontro anteontem, no dia em que Mihara foi encontrada... Mas me preocupa muito que ele ainda não tenha chegado - disse debruçando-se sobre a mesa.

– Esperamos um pouco... Você e Takeo descobriu mais alguma coisa sobre o Negaverso?

– Não, mas agora que nos reunimos, se é os colares que eles querem, os ataques serão mais direcionados. Estou atenta a ver se mais algum dos quatro generais aparecerá...

Darien entrelaçou os dedos frente ao rosto:

– Os outros generais foram devidamente eliminados, Lyene. Jedyte era o único que havia desaparecido depois de uma batalha de muito tempo. Como ele ficou muito ferido, pensamos que ele não havia resistido. Mas os outros morreram diante de nós.

– Entendo... Eles não se revelaram ainda porque estão defasados... Faz sentido. Mas no próximo ataque eu descobrirei tudo.

Ela jogou o corpo para trás, esfregando a agonia dos olhos:

– Eu só não posso sentar e esperá-los. A minha luta com Jedyte foi um fracasso. Preciso voltar à antiga forma...

Bateu o punho fechado na mesa:

– E eu odeio esse planeta, tudo é muito grande e muito difícil. Se eu contasse com pelo menos metade do meu serviço de inteligência...

– Serviço de inteligência?

– Vossa alteza por acaso crê que minha única incumbência no Milênio era manter-me de olho em ti e em Serena?

– Eu sei que não, Lyene, mas digamos que suas atividades eram obscuras demais até mesmo para a rainha...

Lyene deixou escapar um sorriso vaidoso:

– Sim, basicamente minhas incumbências se dividiam em três eixos. Proteger a rainha, garantir a ascensão da princesa ao trono e procurar uma maneira de tornar o milênio auto-suficiente. E todas elas iam muito bem, obrigada, até você aparecer. Sem ofensas.

– Tudo bem, Lyene, tudo bem... - disse sorrindo, já não sabia muito bem o que pensar das palavras dela.

Nesse momento Amano veio com o café. Lyene endireitou a postura. Recebeu o café servido pela mãos ligeiramente trêmulas do atendente e sorveu um pequeno gole. Pensou-o e repensou-o diante de um Amano hesitante, até que acenou positivamente:

– Está bom, obrigada.

Amano relaxou os ombros, sendo capaz de servir o espresso de Darien. Ao fazê-lo, retirou-se rapidamente, mesmo que não tivesse nada mais a fazer.




– E como está se sentindo? -Takeo disse pegando um sorvete de um carrinho no parque e entregando a ela.

Seguiram caminhando pelo parque:

– Me recuperando. Pesadelos essa última noite, mas a situação já está mais suportável. Pelo menos aqui, agora, me sinto bem, me sinto segura.

Takeo acariciou-lhe o ombro em solidariedade:

– Bom, vai ficar tudo bem. Além do mais, não pretendo sair do lado da senhorita tao cedo.

Sentaram-se em um dos banquinhos.

– E isso é uma coisa que me agrada muito, milord! - Mihara sorria largamente.

O olhar de ambos se encontrou, Takeo sentindo-se atropelado por uma torrente de lembranças e sentimentos e... lacunas...

Ela automaticamente levantou a mão e limpou-lhe um pouco de sorvete dos cantos dos lábios, chupando os dedos em seguida. A cena para ele acontecia de maneira afogada, fazendo com que as lacunas fossem se suavizando aos poucos, bem aos poucos, até se... Sacudiu a cabeça e passou a manga do casaco nos lábios limpando tudo aquilo da boca. Inventou um sorriso:

– Sou bem desleixado com essas coisas, desculpa.

– Não, eu que peço desculpas, fui invasiva... Mas eu realmente tenho considerado essas lembranças de que você fala. Quando eu estou perto, eu... Parece que éramos muito próximos...

– É bom que você considere mesmo essas lembranças, meu anjo. Elas são muito valiosas...

– Não deixa de ser estranho, claro, não pense que eu aceito tão fácil, mas é confortável... Como nos conhecemos, Takeo?

Takeo sorriu, ao ser levado pela mão para aquele tempo e aquele espaço:

– Nós te encontramos por acaso... Lyene quase te golpeou, mas eu gritei e... Vi você totalmente desprotegida, encolhida ali... Abaixei-me pra te ajudar e nossos lábios... - sentia o sabor melancólico daquelas lembranças misturado ao sorvete- Deixa pra lá, eu acho melhor não ficar forçando sua mente.

Mihara fez um biquinho forçado:

– Ah, que pena. Eu queria tanto saber mais...

Takeo não resistiu: Passou o braço por sobre os ombros dela, apertando-a contra si:

– Ah, mocinha curiosa...

Soltou-a levemente em meio a um sorriso terno:

– Mas posso adiantar com toda segurança que você é uma pessoa muito importante, meu anjo... Muito importante pra gente.

Ela abriu um sorriso vivo, clareando todo semblante:

– Tudo bem, eu espero que eu possa lembrar o mais rapidamente possível, quero saber de verdade sobre tudo isso que me parece tão estranho, mas tão interessante.

Takeo relaxou a postura no banco, olhando pra cima:

– Também esperamos que você se lembre de tudo muito rapidamente. Sério.




Lyene continuou:

– Não sei se você sabia, alteza, mas o milênio vivia sob uma maldição. Um ser bizarro de nome Neherenia invadiu as festividades do anúncio da Serena ao mundo e pronunciou que a princesa nunca ascenderia ao trono. Serenity, então, selou-a em um espelho no salão principal, depois, claro, levou-o para um compartimento isolado do palácio. Entretanto, quando o negaverso conseguiu tomar o coração dos terráqueos, o selo foi enfraquecido e Neherenia, mesmo trancada em um espelho, conseguiu sumir. Serenity nunca deixou ninguém saber disso. Eu ainda penso que foi um circo idiota que apareceu lá, certa feita... E corria fortes boatos que ela buscava o espírito do sacerdote do cristal dourado.

– E você tinha alguma pista para onde ele teria fugido.

– Apesar de o sistema solar ser muito grande, eu tinha certeza de que ele tinha ido para a Terra.

– E por que não para o milênio?

– Porque o seu sacerdote de Elysia protegia os sonhos, alteza, e sonhar é característica de gente infeliz, Endymion, coisa de terráqueo, povo impregado de carências. Nós não sonhávamos no milênio... A única pessoa do milênio que sonhava era Serena, e isso depois de ter te conhecido.

– Mas como você sabia disso?! Elysia era um reino impossível de se rastrear.

– Entre aspas, meu querido. Eu estive no seu encalço muito tempo, muito tempo... E quando não eu, pessoalmente, as outer senshi, reportando-me tudo.

Darien sorriu, um tanto incrédulo:

– Agora entendo o seu serviço de inteligência...

– Bom, mas estou falando disso por um motivo muito simples: Eu estava no encalço do sacerdote para me apropriar do cristal dourado.

– Não entendo...

– Eu queria fundir o cristal dourado ao cristal de prata. Eu sabia que o cristal dourado precisava de um poder para ser ativado, e tinha certeza de que bastava a princesa da lua se unir ao sacerdote...

– E por princesa da Lua você se refere à Serena, não a...

Lyene abaixou a cabeça, profundamente consternada.Apoiou o cotovelo na mesa apertando os olhos com os dedos e sorriu, nervosa:

– Oh, por favor, Endymion, não faça isso...

– Eu só estou tentando entender...

Ela tornou a apoiar os braços sobre a mesa, com a cabeça virada para o lado e os lábios torcidos em lua minguante. Quando voltou a cabeça na direção dele, depois de respirar fundo, Darien notou seus olhos se esvaziando em profundidade assustadora. Arrependeu-se, imediatamente. Deu-se conta do que lhe havia questionado:

– Deixa pra lá. Esquece... Eu já entendi.

Lyene coçou a testa:

– O café já está frio, e o Andrew ainda não chegou... Eu vou à casa dele - disse levantando-se e pondo-se a caminhar para a saída sozinha.

– Espera! Eu te acompanho!

Darien sacudiu o bolso esquerdo nervosamente tirando o dinheiro dos cafés e deixou-o sobre a mesa, pondo-se a correr atrás dela:

– Lyene, me...

Quando o cenário da rua abriu-se para as vistas de Darien, ele viu-se frente a frente com as meninas. Serena respirou fundo, ligeiramente furiosa por dar-se conta do motivo da falta de contato com Darien. Pôs-se vermelha, contorcendo o rosto emburrada e cruzando os braços. Darien corou completamente.

Lyene ergueu a sobrancelha direita, em desdém. Fez uma reverência à outra, curvando-se e jogando a mão em movimentos circulares, fazendo com que as pessoas que passavam pela rua naquele momento estranhassem e comentassem umas com as outras:

– Alteza... Corte.

Serena olhou-a preocupada, uma feição estranha para Lyene. Correu em direção a esta, tomando-lhe a mão esquerda:

– Lyene, seus dedos...

Lyene puxou a mão bruscamente, fazendo com que Serena se desequilibrasse, mas não sem antes dar-se com a expressão de profundo horror da outra. Um raio de segundo talvez, uma quase impressão, pois após piscar os olhos Lyene já possuía seu ar original e olhava-a com asco:

– Poupe-me, Serena, do seu sentimentalismo idiota...

Virou-se sem se despedir dos demais e saiu.

Assim que virou a quadra se pôs a correr das próprias conclusões e só parou quando chegou a casa:

– Inferno! Era pra eu ir à casa do Andrew...




Quando Takeo chegou a casa, no final do dia, deu-se com uma pilha de papéis e plantas perto da chabuddai. Foi até à cozinha, voltou:

– Lyene?

Lyene assomou a cabeça detrás das pilhas:

– Como foi lá?

Ele foi até ela, sentando-se de frente para onde ela supostamente estaria, já que ele apenas via aquela fortaleza de folhas e folhas:

– Tudo bem. Ela mora em Minato, é modelo.

A cabeça de Lyene voltou a assomar:

– Modelo? Como assim, modelo? Como ela é modelo e nunca a vimos em lugar nenhum?

– Ela disse que está começando agora, que ia fazer testes para uma grande campanha anteontem, mas perdeu por... Você já sabe.

Lyene voltou a esconder-se em seu forte outra vez.

– Que diabos você está fazendo, Lyene?

Ela mandou o braço em uma das pilhas, jogando tudo ao chão e assustando Takeo. Estendeu um grande mapa na chhabuddai.

– Esses círculos amarelos são os pontos onde o negaverso nos atacou. Os circulos azuis são trechos onde o ambiente é propício para treinarmos.

– Como o tempo Hikawa.
Lyene pigarreou, olhando-o duramente. Ignorou-o:

– Os pontos em vermelho são as possíveis bases do Negaverso, baseando-se nesses pontos em amarelo e também nos meus documentos do Milênio, dos que eu ainda me lembro, porque não é fácil.

– Pólo Norte?

Lyene assentiu:

– Um deles. Bem irônico, não?

Takeo soltou uma gargalhada:

– Bastante.

Ele avançou sobre a chabuddai, derrubando outras duas pilhas de livros e ficando bem próximo a ela. Com um lápis verde fez mais um circulos, fechando uma grande em seguida:

– Se marcamos os lugares onde todos moramos, juntos com os lugares onde o Negaverso já atacou, temos um perímetro fechado de possíveis ataques e poderemos ficar de olho em movimentos estranhos.

Os dois levantaram os olhos ao mesmo tempo. Lyene sorria e Takeo sabia que com um pequeno impulso poderia alcançar-lhe os lábios... Mas perderia o instante e o que mais queria era ter capacidade de colá-lo na parede de si e não permitir nunca que ele enrolasse em si mesmo, perdendo-se nas lembranças. Tocou-lhe o nariz com o dedo indicador, ajeitando a postura, ajoelhado no chão:

– Eu queria muito que você tivesse passado o dia com a gente hoje... Sério.

Lyene encolheu-se, corada. Notou-o da mesma maneira. Ela, então, começou a ajeitar os papéis, sumindo outra vez da sua perspectiva.

Takeo respirou fundo... Levantou-se e foi para o quarto, fechando-se lá.

Lyene desfez o rabo de cavalo e passou mão pelos cabelos. Quando voltou a olhar os papéis, nada mais fazia sentido.


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Notas finais do capítulo

*Amano > Na verdade, trata-se de um atendente que aparece no inicio da série, uma vez que Serena vai ao Crown conversar com o Andrew e não o encontra. Eu não me lembro absolutamente do nome dele, mas farei a devida alteração assim que encontrar.