A Face Oculta Da Lua escrita por Lady Salieri, Nami Otohime


Capítulo 16
Cap 10: O beijo do arlequim e a lua crescente (II)


Notas iniciais do capítulo

A vitrine do fliperama foi atravessada por um corpo seguido de um youma semelhante a um Arlequim*** que avançou-lhe em cima, segurando com a outra mão o pescoço de uma jovem..:
Mihara! Takeo gritou enquanto corria na direção do monstro, já com o chicote na mão.
Me... a-jude... Ela sussurrou.
O youma lançou-lhe um olhar mudo e saltou para fora do fliperama, seguido imediatamente por Takeo que esquecera-se de todo o entorno.



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Lyene ensaiou correr atrás de Takeo, mas não conseguiu dar mais de quatro passos. Seus ombros espernearam em dores e o que pôde fazer de mais sensato foi voltar a sentar-se, magoada, e tomar dois anti-infamatórios acompanhados por dois analgésicos. Deitou a cabeça na mesa para observar as pessoas se acotovelando em volta do homem que fora deixado no chão, cujo sangue saído do pescoço obscurecia o azulejo antes imaculado... Franziu o cenho. Que engraçado, o mesmo acontecia dentro de si. Ao mesmo tempo em que os lábios desenhavam um sorriso no seu rosto, sua garganta se expandia em abismo... Por que Takeo a deixara?

Em um ato mecânico, pegou o comunicador e contatou-se com Lita, passando a informação de que havia um youma na cidade, fechando-o na metade do comunicado. Não sabia de nada. E isso incomodava.

Ajeitou-se na cadeira quando os enfermeiros anunciaram o socorro, passando por ela, deixando à vista a figura de Darien que caminhava até si, as têmporas ligeiramente suadas, o único vestígio que denunciava um certo grau de preocupação.

Ele colocou-se de frente a ela, ajeitando os botões da manga da camisa rosada que portava naquele dia:

– Lita me avisou e vim o mais rápido que pude. O que houve?

– Um youma apareceu, deixando o homem aí, e... Takeo correu atrás dele...

Darien assentiu com a cabeça, fazendo um breve silêncio para observar os enfermeiros que passavam com o homem na maca devidamente imobilizado.

– Eu não falava disso, Lyene, me referia ao que houve contigo.




Serena consultava o relógio, sentada em uma cafeteria, cuja mesa fora reservada para si por ninguém menos que o grande músico Yusuke Amade. Uma assessora dele lhe ligou, não se sabe como conseguira seu telefone, na noite passada, dizendo a ela que Yusuke queria lhe agradecer as boas vindas na locadora e conversar com ela sobre o clipe, e para isso havia reservado uma mesa em uma das melhores cafeterias da cidade. Ela havia ido lá uma vez com Darien, e sabia das guloseimas que a esperavam. Não hesitou em aceitar o convite. Conseguiria de uma vez duas coisas com a quais esteve sonhando por estes dias. Assim que desligou o telefone, ligou para Darien dizendo que no dia seguinte, na parte da manhã, não poderia se encontrar com ele, porque sua mãe a queria em casa para qualquer coisa, mas que, assim que desocupasse, ligaria. Não quis lhe contar que estaria com Yusuke porque ainda poderia fazer-lhe a tão desejada surpresa. Dava gritinhos de felicidade enquanto rodopiava com o travesseiro, deixando Lua com uma gota na cabeça.

Uma menina da idade dela realmente precisava viver, conforme respondeu à gata na noite anterior, mas este raciocínio não era suficiente para apagar o que Lua disse logo em seguida, sobre ir ao tempo porque as meninas estavam estranhas, Ami principalmente... Isso lhe doía na parte mais sensível de sua alma. Não queria, com toda a força de seu querer, que nenhuma delas sofresse nunca por nada. As meninas eram demasiado qualquer coisa boa que não conseguia definir bem o que era, para sofrerem. Ninguém merecia nada disso. E não mereciam passar pelo que passaram, nem temer o que temeram... E foi tão díficil recuperar tudo o que perderam... Não poderiam perder de novo...

Sentia como se naquele momento houvesse chegado num impasse. Obviamente que não queria nada daquilo por que passara. As imagens eram assustadoras como um pesadelo, e podiam ser vividas com todos os seus sentidos, mesmo dentro de sua cabeça. Contudo, não poderia fugir disso a vida inteira, porque o inimigo estava lá. E, afinal de contas, havia derrotado o Negaverso sozinha, por que, então...? Ah, não, não queria perder ninguém de novo... Poderia ela morrer, mas não suportaria ver ninguém morrendo de novo...

Saiu desse turbilhão guiada pelo som do seu comunicador tocando. Era Lita que comunicava sobre o ataque e o local, de acordo com o reastreamento de Ami. Suspirou, fechando o punho... Escreveu um bilhete a Yusuke Amade e saiu da cafeteria, vendo-o entrar, escondendo o rosto para que ele não a visse. Ligou para Darien, avisando do ataque e da localização do monstro, dizendo que ia direto para lá.




Lyene ergueu as sobrancelhas. Na sua voz, as palavras de Darien soavam-lhe demasiado encantadoras e demasiado difíceis. Ela fez um gesto com o dedo indicador, circulando sua cabeça, sorrindo:

– E todo esse seu desalinho é por preocupação comigo?

Darien arqueou as sobrancelhas, passando as mãos pelos cabelos, na tentativa de se recompor do mínimo:

– É assim tão visível?

– Eu não sou a Serena, Endymion... Pra nenhuma das duas coisas, na verdade.

– Geralmente o mais silencioso é sempre o mais preocupante. Mas, vamos?

– Vamos aonde?

– Para onde estão atacando!

Lyene engoliu o ar bruscamente. Assim que fez menção de se levantar, Andrew aproximou-se, o avental sujo de sangue, o cabelo desarrumado, um pano de prato nas mãos. Desabou no banco ao lado dela que emergiu para a realidade outra vez:

– Eu precisarei fazer um reporte desta situação e definitivamente não sei como contar isso... Sinto-me sob o efeito de algum entorpecente.

Lyene voltou a se sentar, olhando preocupada para Darien, que também sentou-se.

– Nosso modo de ver as situações, Andrew, às vezes nos trai. - Disse ela - Você está muito nervoso, meu querido. Eu te digo o que colocar no reporte, porque sou testemunha: um assaltante, disfarçado de arlequim, entrou no recinto depois de haver tentado assassinar uma vítima, e tomou outro refém. Provavelmente estava em plena fuga. Não sabemos.

Andrew se remexia insistentemente, Lyene quase o acompanhava na ânsia de sair dali o mais rápido possível.

– Mas suas feições... - Ele parou de falar, vendo os presentes se retirarem do local - Lyene, elas eram monstruosas! - Cochichou como que quase escondendo de si próprio.

– Lyene tem razão, Andrew. Ademais, não creio que seria muito adequado colocar em um reporte ao chefe que se foi visto um monstro no estabelecimento.

Andrew respirou fundo, notando, surpreso, o avental manchado. Levantou-se de uma vez:

– Perdão, meus amigos, pela maneira como me apresento. Mas de todo jeito é hora de fechar o expediente por hoje.

– Quer que te acompanhemos a algum lugar? - Perguntou Lyene com medo de ele aceitasse a companhia dos dois.

– Não, obrigado. Tenho que ficar e esperar o vidraceiro, não posso abandonar o fliperama neste estado.

Lyene e Darien aproveitaram a “deixa” e se levantaram:

– Certo. Então acho que vamos embora para te deixar resolver tudo, meu amigo. - Disse Darien

– Ok. E... Me desculpem por tudo. Cuidem-se.

Andrew acompanhou-os até à porta, colocando uma placa de “fechado” na frente, se preparando para limpar a bagunça enquanto esperava o vidraceiro para consertar a vitrine quebrada. Sentia, finalmente, que começava a respirar melhor e a entender o que havia se passado.

Darien e Lyene correram em direção ao carro e rapidamente tomaram o rumo do centro. Os ombros dela doeram pelo esforço, mas sentia que podia suportar a dor a partir dali. Era bom notar que os remédios começavam a fazer efeito, poderia ser necessária na luta iminente.

– E as meninas? - Perguntou ela por perguntar.

– Já estão lá - ele disse sem tirar os olhos da direção.

Lyene girou no assento, virando o corpo para o lado dele:

– Como assim?! Como você deixa elas irem sozinhas lutar?!

Darien apenas moveu as sobrancelhas:

– Lyene, você precisa confiar mais nelas. As meninas podem não parecer, mas elas são muito corajosas.

– Não entendo como você pode falar isso sem duvidar.

– Eu convivi com elas o suficiente para ter várias provas. Acredite no que eu te digo.

Ela não disse nada em retorno, simplesmente cruzou os braços afundando-se no banco e permaneceram em silêncio até chegarem ao local indicado.




Takeo não podia acreditar no que seus olhos lhe gritavam, ali, no fliperama. Mihara permaneceu no seu campo de visão não mais que por um segundo, e quando o youma partiu com ela para fora do Crown, não podia deixá-la escapar. Quando pensou em Lyene já estava em plena tensão de luta com o youma, em alguma parte do parque, raciocinando uma maneira de prender Mihara com o seu chicote, sem que ela tivesse o pescoço triturado pelo monstro. O youma provocava-lhe, apertando-o e soltando-o, fazendo vários finos filetes de sangue escorrer-lhe e manchar as flores azul-celeste da blusa que levava.

Takeo rangia os dentes, controlando-se para não ceder às provocações do arlequim cujo aspecto sorridente lhe entrava mórbido ao olhos, quando, de repente, sentiu algo frio entrando-lhe pela narinas e embaçando o ambiente, seguido da invocação de Ami do “borbulhas de mercúrio”. Ele permaneceu imóvel, tentando sentir a presença do inimigo, mas escutou a invocação de Lita e o monstro gritar em choque, seguido por Serena que lhe lançava a Tiara Lunar. No dissipar da névoa, o monstro havia desaparecido e Mihara se encontrava deitada em um amontoado de folhas, amparada por Rei e Lita.

Ele ergueu as sobrancelhas, um tanto divertidamente surpreendido.

– Definitivamente, não é todo dia que eu sou salvo por uma roda de princesas.

Curvou-se diante das meninas:

– Obrigado.

E correu para onde Mihara estava, tomando-a delicadamente nos braços.


Lyene e Darien entraram sem fazer ruido. Serena saltitou para seu lado, agarrando seu braço e esfregando-se em seu toráx. Lyene nem sequer mudava a expressão, olhando da relativa distância Mihara remexer-se, abrindo os olhos, assustada.

– Tranquila, querida, já passou, já passou...

Seu semblante pálido denunciava uma grande fraqueza, ainda que não tivesse perdido muito sangue. Olhou Takeo profundamente agradecida, acariciando seu rosto, e desmaiou de novo. O sangue fino que lhe escorria de várias partes do pescoço manchava a calça jeans de Takeo.

– Melhor a levamos para o hospital – disse Darien.

– Sim, vamos ao hospital da minha mãe, que lá ninguem fará perguntas – sugeriu Ami.

Takeo assentiu e carregou-a no colo. Passou por Lyene que manteve-se parada, prendendo a respiração ao deparar-se com o rosto da amiga. Vendo que Lyene não o acompanhava, girou o corpo, acenando com a cabeça, os olhos interrogativos, semblante respondido por ela imediatamente com uma negativa. Voltou a seguir seu caminho enquanto ela permanecia no mesmo lugar.

Lita e Mina, que ficaram para trás, se aproximaram dela. Lita parecia mais à vontade, mas Mina permanecia receosa.

– Ei, Lyene?

Lyene levantou o olhar ausente para ela.

– Você gosta de torta de chocolate com recheio de café?

Lyene ergueu a sobrancelha e esboçou um sorriso, acenando positivimente com a cabeça.

– Você gostaria de ir lá em casa experimentar uma que eu fiz hoje de manhã? Estamos nos devendo um combate de karatê, mas acho que isso pode compensar um pouco essa dívida, não é? – Lita tinha um aspecto sorridente.

Lyene abaixou a cabeça. Sentiu-se extremamente constrangida, para não dizer humilhada. Não era justo que ela recebesse amabilidades em troca do modo como as tratava, ainda que por Lita alimentasse certa empatia desde o início. Coçou a testa:

– Ah, Lita, agradeço o convite e a consideração, mas não creio ser devido...

– Ah, por favor. Queria te mostrar minhas medalhas, pra ver se te intimido um pouco de alguma maneira.

– Ah, isso seria im... – ia dizer "impossível", o que, de fato, era – imensamente interessante. Então, sim, vamos.

Mina ainda olhava-a de esguelha. Não gostava daquela menina, e não sabia o que Lita via nela para convidar-lhe, imagina!, à própria casa!

(FIM DO CAPITULO X)



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Notas finais do capítulo

Queria agradecer imensamente a leitura da minha amiga querida Rumpelstiltskin. Esse capítulo vai pra você, viu? Obrigada por me abrir o olhos *_*