Annabeth...

Eu nunca esperava ver tantos Olimpianos, campistas, e mortais juntos em um mesmo lugar, e esperava ainda menos ver mortais no Olimpo. Mas algumas regras tem suas excessões, e nesse momento, devido aos fatos, ninguém se importava com nada, além dos seus sentimentos, do sofrimento, e com os outros.

O sentimento predominante no local era tristeza, sofrimento, arrependimento, pesar e amor... Muito amor.

O motivo? Perseu Jackson, estava morto. Sim, morto... Engoli em seco, enquanto encarava seu corpo sem vida, e pálido. As lágrimas desciam em torrente por meu rosto, e eu me tornei insensivel a elas, acabei me acostumando com o fluxo e a umidade... Olhei para os lados, finalmente prestando atenção em tudo.

- Meu filho! - gritava Sally. - Percy! Acorde! Por favor, meu filho... Abra seus olhos.

Todos a encaravam com piedade e compaixão. Perder um filho... Suas lágrimas ainda caiam assim como as minhas.

Os carros lá embaixo não faziam ruído. Nova Iorque estava silenciosa pela primeira vez desde a guerra. Os deuses não escondiam a tristeza. Poseidon era de longe o mais acabado, ao seu lado Tyson chorava incontrolável, e inconsolavelmente.

Thalia e Nico estavam conversando baixinho. Lágrimas escorriam pelo rosto, e pingavam do queixo da filha de Zeus. 

Zeus, e Hades tinham expressões solenes e sérias, que ainda assim demonstravam imensa sofreguidão.

- Annie... Tudo bem, vai passar... - murmurou Katie Gardner, filha de Deméter em meu ouvido.

- Nunca... Eu sempre terei o buraco em meu peito. - respondi, com um fio de voz.

Ela simplesmente me abraçou, senti suas lágrimas em meus ombros, minha roupa estava empapada de lágrimas.

Me aproximei lentamente do local onde seu corpo repousava. Ninguém tinha tido coragem de se aproximar ainda, acho que esperavam que eu desse o primeiro passo, mas não tinha certeza, e nem me importava o suficiente para perguntar. Meu mundo estava simplesmente ruindo.

Percy tinha um leve sorriso no rosto, os olhos verdes intensos e brilhantes estavam fechados, dessa vez para sempre, as mãos cruzadas sobre o peito, a camisa do acampamento, os cabelos negros jogados displicentemente, e desarrumados.

Era como se ele fosse se levantar a qualquer momento, dizendo alguma besteira, ou algo do tipo. E por mais que eu quisesse acreditar nisso, sabia que não era verdade, ele nunca mais se levantaria. Nunca mais me olharia daquele jeito, sussurraria que me ama, e eu jamais sentiria seus braços em volta de mim, me oferecendo apoio, sustento, compaixão, amor... Percy nunca mais sorriria, e eu nunca mais seria a mesma Annabeth. Teria sempre uma parte de mim, a maior, que estaria destinada a amar Perseu Jackson eternamente. E algum dia, quando eu morresse, o encontraria no mundo inferior, disso eu tenho certeza... Nem que precisasse revirar o mundo.

Passei meus dedos molhados com minhas próprias lágrimas lentamente por seu rosto, acompanhando as feições. As sobrancelhas, a covinha que normalmente apareceria se ele sorrisse, o nariz, os olhos, a pequena cicatriz que tinha na testa, as veias, quase isentas de sangue, criavam um padrão quase invisivel em sua bochecha pálida.

- Vou sentir sua falta... Pra sempre. - eu murmurei, mais lágrimas caindo de meu rosto. Podia quase ouví-lo falar, a voz doce e compreensiva. - Eu te amo Percy... E... Sempre... - engasguei, e tossi, e então cai aos prantos.

Poseidon se aproximou lentamente, luzes estavam acesas, luzes azuis, todas virando para o Olimpo, preto era a cor predominante, as estrelas brilhavam no céu. Ártemis tinha postado no céu uma constelação em homenagem ao "homem mais honesto e gentil que já conhecera". Todos em silêncio, em respeito a morte de um herói. E então... Mais dor.

- Essa noite, nos despedimos de um herói. Importante de todas as formas, para todos aqui. Sei que todos sentirão sua falta, e honrarão sua morte, sei que todos aqui lembrarão para sempre do Herói do Olimpo, o garoto da Profecia, ou Perseu Jackson. Sinto sua falta meu filho...

E então enrolaram-no na mortalha, ateando fogo. Observei as chamas subirem lentamente. Poseidon deu um gemido baixo e estrangulado, e depois caiu de joelhos. Minha mãe se aproximou dele, oferecendo-lhe apoio, e a voz que eu mais amava ecoou em minha mente...

- Eu te amo Annabeth Chase... Sabidinha! O que está fazendo? - várias cenas se passavam, e o fluxo de lágrimas aumentava. - Annabeth Chase, o que está aprontando ai? Vou sentir sua falta, volto o mais rápido que puder... - sua risada, e por fim... - Eu vou te esperar para sempre... Annabeth Chase.

Gritei, e todos finalmente brindaram. Pude ver seus olhos verdes me encarando uma última vez, e soube que nunca o esqueceria. E mais um minuto de silêncio em respeito a morte do herói.