Era uma vez um sonho

 "Ninguém sabe quem o sonhou"

E era um sonho pequeno mesmo

 E isso fez o pequeno sonho pensar...

"Eu não quero desaparecer...

Como faço para as pessoas continuarem a me sonhar?"

 O pequeno sonho pensou e pensou...

E no fim teve uma ideia...

 "Eu farei as pessoas irem até mim,

E elas farão meu mundo..."

    Sua mãe lhe avisara para não sair do percurso. Entretanto, a menina, com seus cabelos loiros perfeitamente escorridos por seus ombros, com os olhos verdes cintilantes, esquecera os avisos maternos, no momento em que correu atrás de uma chamativa borboleta, de asas azuis anil. Quando a pequena menina, que utilizava sua costumeira capa vermelha, percebeu que adentrara demais a floresta, começou a entrar em pânico. Bella andava em círculos fazia horas, e nenhum sinal de escapatória ou ajuda lhe foi dado. Resolveu, por fim, descansar, sentando-se em uma grande e lisa pedra, perto de um riacho. Olhou para a cesta, cheia de waffles, que carregava e decidiu comer alguns.

- Ei, garota da capa vermelha. – chamou uma voz, provinda dos arbustos. Bella congelou, deixando o waffle cair de sua mão rosada:

- Quem está aí?! –gritou a garota, segurando um pedaço do doce, firmemente- Apareça! Eu... Estou armada!

- Armada? –riu a voz misteriosa, seguida pelo som de passos- Isso me parece um waffle.

- Se enfiar no lugar certo, garanto que irá doer! – retrucou a belga, sentindo as pernas tremerem. De repente, uma figura rompeu do seu esconderijo, deixando à vista um rapaz, de aparência decente, com os cabelos rebeldes e incomuns rabo e orelhas de lobo.

- Por que está de cosplay? – perguntou a loira, inocente. Ao ver que se tratava de um rapaz, a garota acalmou-se, já achando seguro aproximar-se.  Isso fez o holandês recuar um ou dois passos, incrédulo com a aproximação da garota, e ainda mais, com a pergunta:

- Um o quê?

- Ah! Em que ano você vive? Todo mundo faz cosplay hoje em dia! E essas coisas de lobo são estranhas... –indagou, apontando para as orelhas do mais alto, que as escondeu, com o auxílio das mãos:

- Isso é grosseiro, sabia?! Não devia acusar as pessoas de coisas sem sentido, menina boba! – a garota inflou as bochechas rosadas, dando as costas ao holandês:

- Eu não preciso ficar conversando com uma quimera esquisitona! Eu preciso ver a Nonna, que está doente! Tenho que entregar esses waffles a ela. Só que...

- “Só que”?... – o outro repetiu, fitando-a curiosamente.

- Eu acabei me perdendo. Não faço ideia de onde estou. – ela suspirou, girando, fazendo a saia vermelha rodopiar, suavemente, ao seu redor.

- Posso ajudá-la a encontrar sua Nonna... –ele murmurou, confuso.

- Não posso. Você é estranho. E mamãe me disse para não confiar em estranhos, ainda mais aqueles que fazem cosplays.

- Eu já disse, não faço cosplay. – ele bufou, impaciente. – Vai querer ou não a ajuda?

- Hm... – Bella analisou-o por alguns momentos, avaliando a situação. Se quisesse sair dali, precisaria da ajuda dele... - Tudo bem. Pode me ajudar. Falando nisso, eu sou Bella... E você?

- Não interessa meu nome ainda. Vamos. – murmurou o mais alto, puxando-a pelo braço, de um modo gentil, e abrindo caminho, na densa floresta.

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   Os dois caminharam em silêncio, este sendo interrompido apenas, pelo cantarolar baixinho da garota, que saltitava feliz, atrás do holandês. Aquilo o fez rir:

- O que está fazendo?

- Não te interessa. –ela disse, rispidamente.

- É do meu interesse. – o holandês empurrou a garota contra o grosso caule de uma árvore, segurando-lhe o queixo, de modo que a obrigasse a encará-lo, nos olhos. Isso tudo fez a garota corar, violentamente.

- Me solte, cosplayer.

- Você é realmente irritante. – continuou ele, encarando-a, cada vez mais próximo.

- Me solte, seu pervertido! – Bella gritou, empurrando-o no chão, e correndo, o mais rápido que aquele vestido estúpido a deixava. Decidiu diminuir o passo, entretanto ouviu passos, próximos aos dela. Arriscou a olhar para trás, e ao ver o holandês, quase alcançando-a, obrigou suas pernas a correrem mais, de algum modo:

- Waa! Você é um doente! Vou ligar para alguma ONG especializada em animais, pra te prender, quimera! – ela gritava, tentando ameaçá-lo. Em vão:

- Estou avisando, pare de seguir a Bella! O que quer de mim?! Meu dinheiro? –ela gritou, jogando a carteira no rosto do perseguidor. Vendo o desinteresse estampado no rosto do maior, jogou três waffles:

- Tome! Coma os waffles, seu morto de fome! – Bella jogava no holandês tudo que pudesse valer alguma coisa, porém, o outro apenas desviava, continuando a correr atrás dela. Até o momento em que seu rosto empalidecera, e gritou, coisas sem muito nexo:

- Bella! Pare de correr! Você vai cair! –ele apertou o passo, erguendo a mão, e tentando puxar a belga pelo pulso:

- A Bella não vai parar, seu retardado mental! – ela gritou em resposta, forçando a suas pernas irem mais rápido. E o holandês continuava a gritar “Buraco! Buraco!”, mas Bella não entendia o que ele queria dizer. Até o momento em que sentiu o chão falhar sobre seus pés, e uma enorme escuridão a engolir. Caíra, no tal buraco. Sentiu braços fortes a envolverem, e quando olhou para cima, constatou que o holandês havia pulado para lhe salvar.

   O buraco possuía uma profundidade gigantesca, de modo que a queda demorou a cessar-se, e os dois permaneciam caindo, abraçados. Chegaram enfim, no final do interminável buraco, onde caíram em uma pequena sala mal iluminada. No cômodo não havia janelas, e apenas uma porta, incapaz de um ser humano atravessar, de tão pequena. No centro da sala, havia uma mesa, com um frasco, que continha um líquido branco. Na etiqueta lia-se “Beba-me.”

- Que lugar estranho. – murmurou o holandês, olhando ao redor.

- Pode ser estranho... Mas é curioso! – exclamou a menina, abrindo o frasquinho e bebendo metade do líquido. Foi até o garoto e ergueu o vidrinho:

- Beba.

- Não. Pode ser veneno. – indagou ele, de braços cruzados.

- Então a Bella não tem escolha, a não ser dar-lhe isso na boca. – suspirou vagarosamente a menina, colocando o resto do líquido na boca, e seguidamente puxando o holandês para um beijo repentino, fazendo-o beber o líquido e corar:

- Q-Quem é a p-pervertida a-agora... Hein? – ele murmurou, em um fio de voz.

- Cale-se, bichinha. – ela gritou, fazendo as maçãs do rosto avermelhar, e os olhos adquirirem um brilho infantil.

    Os dois sentiram uma leve tontura, e de repente, a sala começou a girar, e girar, até que ambos encontravam-se de frente para a pequena portinha, agora, tão grande ao ponto de poder atravessar. Eles haviam encolhido, afinal.

- Damas primeiro. – o loiro fez uma pequena reverência, incentivando Bella a ir à frente:

- Homens...! Só são cavalheiros na hora que convém! – bufou a garota, adentrando a portinha, sendo seguida, logo depois, pelo holandês.

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    Os raios ofuscantes do Sol refletiram nos rostos pálidos de ambos, e uma nova floresta, está muito mais colorida e anormal, projetou-se diante de seus olhos claros. Flores de diversas cores tomavam conta de todos os cantos, a relva, de variados tons verdes preenchia todas as planícies visíveis aos seus olhos. E o ar puro encheu os pulmões de Bella.

- D-Dobro pozhalovatʹ v Stranu Chudes...!  -murmurou um pequeno garoto que trajava orelhas de coelho, chamando a atenção da belga e do holandês.

“A primeira Alice era uma dama de espadas

Segurando uma espada na mão no País das Maravilhas

Cortando tudo em seu caminho

Ela era acompanhada por um rastro vermelho.

Essa nova Alice foi profundamente pelos bosques

Foi capturada como um fugitivo procurado

Se não fosse o rastro vermelho que ela fez

Ninguém pensaria que ela sequer existiu.”