Desde pequeno, Tom tinha grandes problemas quando se tratava de confiar nos outros. Sua desconfiança chegava a ser exagerada... Ainda mais quando teve a infelicidade de se mudar para os dormitórios de Eton, onde as amizades falsas predominavam acima de tudo e onde os sorrisos educados eram sempre belas máscaras feitas para esconder os comentários maldosos. Cair no meio de pessoas como aquelas fez com que sua incapacidade de confiar nos outros aumentasse ainda mais ao ponto em que, durante quase cinco anos que passara naquele colégio, só conseguira abrir espaço para uma única amizade.

Quando viu seu melhor amigo agindo de maneira, no mínimo, engraçada quando conheceu a garota pela qual se apaixonou, Tom não podia deixar de rir e fazer piadas com o outro. Eram bons tempos aqueles... O tal amigo lhe avisara que, um dia, seria ele quem estaria naquela situação. Ele apenas riu, mas não se permitiu dizer que, sim, ele esperava que um dia pudesse ser a pessoa que sorria para o nada por causa de um amor, que via beleza em tudo por causa de uma emoção.

Então veio Cecília. A moça de cabelos loiros e olhos azuis cujo sorriso conseguia ser uma perfeita mistura de doçura e frieza e cujas palavras podiam ser românticas em um momento e, no outro, sarcásticas e afiadas o suficiente para cortar qualquer orgulho. A garota de Great Hangleton que, apesar de morar naquela região, não tinha o mesmo sotaque engraçado que ele, mas que também não fazia piada com aquilo. A mulher com personalidade forte que conseguia confundir tudo e todos.

E, apesar de todos os contrastes e contradições guardados dentro dela, fora à Cecília que ele confiara tudo. Seu sorriso, suas emoções, seu coração, sua felicidade... Tudo nas mãos delicadas daquela moça. Tudo o que lhe era mais importante presos entre aqueles dedos que, a qualquer momento, poderiam quebrá-las sem muita dificuldade. Talvez, quem sabe, um dia aquilo acontecesse... Talvez as mãos, um dia, se cansassem de segurar tudo aquilo e deixassem tudo cair e quebrar-se.

Bom... Não importava, pelo menos não para ele e sua mente apaixonada. Que Cecília segurasse a sua vida por quanto tempo quisesse. Não importava se um dia ela se cansasse dele, pois, até lá, ele sabia que tudo o que era seu estava bem guardado naquelas mãos.