Frostbite Por Dimitri Belikov escrita por shadowangel


Capítulo 8
Capítulo 8




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Janine olhou impressionada para Rose. Eu não sabia dizer que ela estava surpresa por Rose estar ali, ou por encontrar a filha depois de taanto tempo. Sinceramente, eu não podia acreditar que ela só estava notando a própria filha naquela hora. Se não fosse como mãe, pelo menos sendo uma guardiã tão experiente como ela, tinha obrigação de ter visto que Rose estava ali esse tempo todo. Certamente, ela estava bem diferente desde a última vez que tinham se encontrado, de acordo com os registros da Academia, há mais de cinco anos que Janine não visitava Rose e ela ainda devia ter a sua imagem ainda como uma criança, mas uma mãe nunca se esquece de como sua filha é. Bem, pelo menos teoricamente. Eu tinha que dar um ponto a Rose. Ela tinha alguma razão para ter tanta mágoa.

“Então, Guardiã Hathaway.” Rose começou falando firmemente. Toda a classe se virou para olhar para ela. Eu podia sentir a expectativa de todos, inclusive dos guardiões que estavam ao meu lado, todos conheciam bem a fama de ambas. “Porque vocês não deram segurança ao lugar?”

“O quê você quer dizer?” Janine perguntou, franzindo as sobrancelhas.

“Eu não sei. Mas me parece que vocês fizeram besteira.” Rose respondeu, se inclinando casualmente para trás. Eu resisti ao impulso de levar a mão ao rosto, em exaspero. Tá certo que Janine é sua ausente mãe, mas também é uma guardiã excepcionalmente boa e respeitadíssima, tanto por seus feitos, como por suas técnicas, questionar seus métodos em público assim, podia ser até considerado uma grande afronta. E eu acho que era isso mesmo que Rose queria, então continuou. “Porque vocês não averiguaram o local e se certificaram que não tinha nenhum Strigoi no lugar, para começo de conversa?”

Eu sabia que Rose estava sendo impertinente, que só queria provocar sua mãe, mas eu tinha que admitir que aquela era uma pergunta bem inteligente. Todos que estavam ali ficaram tão entretidos com o final feliz da história contada por ela, que não se deram conta desse lapso.

“Se nós não tivéssemos passado por todos estes problemas, tinham sete Strigois andando pelo mundo e aqueles outros Morois estariam mortos ou transformados agora.” Janine estreitou os olhos e suas palavras saíram fortes, mas devo reconhecer que não responderam a pergunta feita por Rose.

“É, é, eu entendi que vocês salvaram o dia e tudo mais, eu quero dizer, isso é uma aula de teoria, certo?” Rose a olhou para Stan que a encarava com o rosto totalmente fechado. “Então, eu só quero entender o quê deu errado, para começo de conversa.” A voz dela ela quase que inocente, mas eu a conhecia bem. Rose sabia das respostas e estava querendo constranger a sua mãe.

Janine estava perfeitamente controlada, a não ser por um leve franzido em seus lábios, que indicava que ela estava se irritando. Se fosse minha mãe, provavelmente teria ignorado o fato de eu ser um guardião formado e teria corrido atrás de mim para me dar umas boas palmadas. Mas a mãe da Rose estava longe de se parecer com a minha. Então, ela se limitou a responder.

“Não era tão simples. O local tinha uma planta extremamente complexa. Nós a percorremos e, inicialmente, não encontramos nada. Acreditamos que os Strigois chegaram depois que a festa tinha começado -  ou que talvez tivesse passagens e cômodos escondidos, que não sabíamos.”

A turma soltou um ‘oh!’ quando ela mencionou ‘quartos escondidos’. Rose não se intimidou e ainda não se dando por satisfeita, continuou.

“Então, o que você está dizendo é que vocês ou falharam em os detectar em sua primeira varredura, ou eles atravessaram a ‘segurança’ que vocês montaram para a festa. Parece que alguém fez besteira de qualquer forma.” Mas uma vez eu tinha que admitir que Rose estava certa e era uma análise que podia ser considerada brilhante do caso contado por Janine. Mas o contexto não era propício. Todos só estavam olhando para uma adolescente rancorosa descontando seus traumas na sua mãe, em público. A desaprovação era clara no rosto de todos.

“Nós fizemos o melhor que podíamos em uma situação incomum. Eu compreendo que alguns de vocês não são capazes de entender os problemas que eu descrevi. Mas quando vocês aprenderem o suficiente além da teoria, vocês verão como é diferente quando estão lá e vidas dependem de você.” O rosto de Janine ainda era controlado e sua voz saiu extremamente fria.

“Sem dúvida. Quem sou eu para questionar seus métodos? Eu quero dizer, faça o que for necessário para conseguir mais tatuagens molnija, certo?”

Não,para mim, agora Rose tinha perdido a razão. Será que tudo que eu lhe ensinava esse tempo todo não adiantou nada? Várias e várias vezes eu lhe disse que nenhum guardião tem em mente a luta só para sua própria vanglória. Strigois representavam vidas destruídas. Pessoas que se transformaram em monstros. Monstros cruéis, capazes de coisas terríveis para seu próprio prazer. E era o que nos diferenciava deles. Não buscávamos a morte por prazer e sim por dever.

“Srta. Hathaway!” Stan bradou soando altamente irritado. “Por favor, pegue suas coisas e vá esperar lá fora, até o final da aula.”

“Você está falando sério? Desde quando há algo errado em fazer perguntas?”

“Sua atitude é que está errada.” Ele apontou para a porta. “Vá!”

Um silêncio sepulcral tomou conta da sala. E sabia que tinha que me sentir indignado com Rose, mas não conseguia, ela não estava, de todo, errada. Ela só não tinha maturidade para lidar com a situação, só isso. Mas parecia que todos só esperavam por algo assim para poder expô-la.

Rose não se intimidou com a expulsão. Ela se colocou em pé, endireitou sua postura. Pegou sua mochila e saiu olhando diretamente para a porta, sem encarar ninguém. Eu resisti a vontade de ir atrás dela. Janine a observou, seu rosto sem demonstrar nada. A turma permaneceu em silêncio por mais uns segundos. Stan olhou em volta e forçou um sorriso.

“Bem, alguém tem mais perguntas pertinentes?” imediatamente, vários braços se ergueiram e a aula continuou como se nada tivesse acontecido. Cerca de cinco minutos antes do fim da aula, Janine cochichou algo com Stan e saiu. Eu permaneci ali, junto com os demais guardiões, imaginando o que estava se passando lá fora.

Quando sai, Stan já estava lá fora falando com Rose e não tinha mais sinais de Janine. Resolvi que não iria intervir. Conversaria com ela em outro momento. Quando estava a caminho do ginásio uma voz familiar, mas que eu não ouvia há muito tempo me chamou. Senti uma enorme alegria tomar conta de mim.

“Dimka!”

Olhei para o lado e vi Tasha que se aproximava sorrindo. Esse era o apelido russo para o meu nome. Poucas pessoas me chamavam assim, inclusive ela. Fazia tempo que eu não a via, mas ela ainda parecia a mesma. Seus olhos extremamente azuis, pareciam duas pedras de tão brilhantes. Seus cabelos negros estavam presos com um rabo de cavalo, deixando a terrível cicatriz do seu rosto ainda mais evidente.

Ela deu uma leve corrida e praticamente se atirou nos meus braços. Confesso que fiquei meio desconcertado com aquilo. Nós éramos amigos há muito tempo, mas eu não era acostumado a cumprimentos tão informais.

“Tasha, olha para você, não mudou nada.” Falei quando nos afastamos.

“Você também, Dimka. Continua o mesmo.” Ela falou sorrindo abertamente. Era outra coisa que eu nunca me acostumava. A maior parte dos Morois costumava rir de um jeito que escondia as suas presas. Tasha não. Ela sorria mostrando todos os dentes. Particularmente, não era uma visão que eu gostava muito de ter, por mais perfeito que fosse seu sorriso, as grande e afiadas presas deixavam tudo estranho.

“Eu acabei de chegar, ainda nem me instalei, vim logo lhe ver. Me disseram que você estaria aqui no ginásio.”

“É eu tenho uma aula daqui há pouco. Eu dou aulas extras particulares a uma aluna. Rose Hathaway.”

“É eu também ouvi falar sobre isso.” Os olhos dela me avaliaram por alguns momentos e eu me perguntava o que ela tinha ouvido falar. Eu a conhecia há muito tempo, mas de alguma forma, não me senti à vontade para falar sobre Rose com ela.

“Eu encontro você depois da aula,” eu disse, apontando para o ginásio “lhe procurarei na ala dos hóspedes.”

“Não, eu nunca me hospedo lá. Prefiro ficar em uma das antigas cabanas de observação. Você sabe, os Ozera não são muito bem vistos e, além do mais, eu sempre fico mais à vontade lá.” Um leve traço de tristeza passou pelos seus olhos, mas durou poucos segundos. “Você poderia passar lá, a gente pode colocar a conversa em dia, temos muito o que atualizar.”

“Não sei se seria bom, Tasha. Você acabou de chegar, ainda vai estar se instalando, porque não deixamos para outro dia?” A ideia de ficar sozinho com ela não me agradou muito. Mas tentei não demonstrar isso.

“Imagina Dimka! Christian trará Lissa para me apresentar. Bem, eu já a conheço, mas agora eles são namorados... Seria legal que você também viesse.”

“Tudo bem, tentarei estar lá.” Falei com um pequeno sorriso, sentindo que não conseguiria escapar daquilo tão fácil. “Em qual cabana você está?”

“Aquela perto do lago. Pretendemos patinar um pouco nele, inclusive, o quê você acha?”

“Bem, parece divertido para vocês... eu não prometo nada, se der, eu irei.”


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Notas finais do capítulo

ai, céus, tasha chegou... arrgghh