Deus X Diabo escrita por AArK


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que não se sintam ofendidos e que "leiam as entrelinhas".



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Deus e o Diabo se encontram em um bar. Sim, num bar qualquer, numa esquina qualquer, numa noite qualquer. A temperatura está razoável e não há ninguém ao redor, pois, eles dois alugaram o bar para conversarem. Deus havia escolhido uma igreja, mas o Diabo disse que a igreja seria uma lugar muito pessoal à ele. E Deus lhe disse que o bar seria o mesmo, mas o Diabo discordou, dizendo que o bar era um lugar qualquer, onde eles poderiam sentar, beberem algo de sua preferência desde água ou suco até bebidas alcóolicas e poderiam conversar, enquanto escutassem uma boa música, seja um jazz cristão (???) até um rock n' roll pesado. E logo em seguida, lhe remeteu o pensamento de que os locais mais apropriados para seus "inferninhos" seriam prostíbulos ou casas de tráfico. O diabo não é o pai do sexo e das drogas, afinal? Deus teve de concordar, e enfim, resolveu que aceitaria o convite no bar. E então, os dois foram.

No bar, os dois sentaram-se em cadeiras, numa mesa. Deus era homem, tinha barbas e cabelos brancos e compridos (que antes, provavelmente, eram loiros) e olhos azuis, sua pele era branca e alva como a neve. Não era nem gordo e nem magro, mas tinha gestos finos de beleza pura e casta. Veio bem vestido com uma túnica branca de seda limpa e sandálias douradas. Não era um rico, mas também não parecia nada pobre. Escolheu uma cadeira confortável de madeira, onde houvessem recostos de costas. Era já adulto e precisava "repousar" para conversar corretamente com seu antagônico.

O diabo era bem diferente. Era uma mulher (ou talvez um ser andrógino, que representasse os dois sexos). Tinha cabelos que misturavam-se em ondulações e características lisas, eram escuros, porém, quando batia-se a luz neles, eles se tornavam arruivados. Sua pele era bronzeada, morena, nem branca e nem negra, devido a queimação do Sol (que era fogo). Usava roupas comuns, roupas normais. Uma blusa de alguma banda de rock antiga, calças jeans rotas (com os joelhos rasgados) e tênis All Star pretos e já surrados e sujos. Ele usava maquiagem, brincos e outros aparatos, apesar de toda a simplicidade. Sentou-se de pernas abertas numa cadeira de metal já meio enferrujada, cujo recosto já estava um pouco "capenga". Abriu um largo sorriso quando viu Deus, seu sorriso não era fingido, pois, parecia admirar-lhe cada centavo, mas por um momento pensou, que pensou, que pensou que talvez não precisaria tanto.

Deus ficou incomodado, diferente do Diabo. Deus ficou incomodado com a presença do "inimigo", pois a todos os seus seguidores, o Diabo incomodava. Então, Deus fechou o "tempo" quando o viu. Murmurou algumas palavras desconexas e muito baixas, talvez fossem "ofensas divinas" e continuou o encontro. O garçom interveio os acontecimentos, trazendo-lhes um menu, mas não fora necessário. Os dois já conheciam bem o bar. O Diabo porque muito lhe frequentava em noites de festas, com seus trabalhadores cansados de tanto "ralar" em suas empresas, que festejavam arduosamente no final do dia, com suas cervejas geladas. Ou seus jovens que se reuníam com amigos para dançar as músicas barulhentas e festivas dos momentos. E Deus, pois em todo lugar estava (???).

Portanto, Deus lhe fez o primeiro pedido. Pediu-lhe um copo de leite gelado, tirado da vaca, um de seus animais. O leite não era alcóolico e possuía muitos nutrientes.

- Mas este leite não foi modificado pelo homem? - O Diabo provocou-lhe, e Deus franziu o cenho.
Depois de muito pensar (e lembrar-se do cordeiro de ouro), resolveu que não poderia dar-se por vencido, afinal Deus era o único que estava sempre certo, e não deveria ser diferente naquela situação. Pensou mais um pouco e chegou a conclusão de que queria um copo de suco. O suco, vinha dos frutos, àqueles que havia criado. O suco não era alcóolico e também poderia ser muito nutritivo à vossa majestade (???).

- Mas estes frutos não poderiam ser modificados pelos agrotóxicos humanos? - O Diabo retorquiu a situação novamente, deixando outra vez, um Deus um pouco constrangido.

Depois de mais refletir (e lembrar-se da maçã proibida), resolveu que deveria mudar novamente suas escolhas. Não poderia ser rebaixado de posto, o Diabo era apenas uma pessoa (???), e como pessoa, não poderia ganhar de vossa majestade. Colocou sua mente divina para funcionar e resolveu que pediria um copo de água. A água não vinha de nada, exceto da própria Terra, que havia criado toda. Ela não era alcóolica, mal tinha gosto, cor ou cheiro, e matava a sede.

- Mas essa água pode ter sido mexida pelos homens, que a "transportam", limpam e colocam nutrientes para sua distribuição, não? - E foi uma pergunta novamente. Outra questão a se pensar, Deus ficara furioso. Estava sendo questionado! Odiava ser questionado! Odiava quando as pessoas pensavam demais!

- Certo. Não beberei nada. - Declarou, demonstrando claramente sua indignação. Quem ele pensava que era!? Poderia a qualquer momento dar-lhe com um raio na cabeça, enterrar-lhe por terra ou algo bem perverso assim! Mas não o fazia, não! Deus nunca tinha matado de vez o Diabo, só não entendia bem ainda porquê! Talvez fossem seus belos olhos tentadores...

Então, o Garçom resolveu deixar Deus pra lá e fazer o pedido ao Diabo, que parecia mais certeiro do que queria. O Diabo é claro, pediu-lhe várias doses de várias coisas, tirando um sorriso feliz da boca do Garçom, que venderia bastante. O Diabo era adepto do lucro (assim como do não-lucro), portanto, pra ele não seria nenhum problema fazer aquela grande compra. Pediu-lhe um copo de whisky 40 anos, um copo de vodka importada, um copo de tequila com limão e sal, algumas garrafas de cerveja loira, um copo de refrigerante de cola, água com gás (para tirar a ressaca) e um copo de suco de limão com bastante açúcar. Tudo foi anotado. Ele pediu lingüiça e batata-frita também, só para petiscar. Seus pedidos de bebidas foram chegando a medida que ele tomava. Chegou a oferecer batatas à Deus, mas esse disse que odiava frituras. Enquanto comia e tomava suas bebidas, sem precisar dar explicações (afinal, o álcool e a humanidade eram seus maiores prazeres), começou a iniciar sua conversa (foi pra isso que encontraram-se, apesar de Deus estar por toda a parte).

- Vamos conversar... - Disse o Diabo, tomando um gole da vodka. Deus mostrou sua indignação ao ver semelhante ser repugnante, tomar semelhante bebida repugnante em sua frente.

- Antes de mais nada, gostaria de lhe dizer que não és ninguém para falar comigo.

- Certo... - O Diabo pareceu não dar a mínima pra tal afirmação divina, que mostrava apenas que Deus era onipotente e todos os 'oni's.

- Segundo, gostaria de lhe dizer que nada do que gostaria que fosse feito irei fazer.

- Mas irá permitir que eu mesmo, e os homens, façam! A intervenção divina não acontecerá, por causa do livre arbítrio! Sei muito bem disso... - E continuou a "golar" seu copo de bebida.

- O que é que quer, ser infernal!? - Deus proclamou, enquanto sentia a austeridade com que a conversa se mantinha. Sentia-se um bocado duvidoso de suas medidas que pareciam não surtir muito efeito (naquela conversa e na raça humana).

- Diga, Deus... Preciso de algumas respostas, afinal, diferente de você, não sei de tudo! - O Diabo disse, rindo-se. Gostava do riso, da risada e da graça, por algum motivo. Deus não gostava, era sério, o humor não era algo que trazia bons fluídos. - Primeiro responda, por que fez o mundo e a Terra, se você é perfeito e não precisa de nada!?

- Hm... - Deus pensou e pensou. Coçou a barba. Olhou para o teto do estabelecimento e achou que aquilo ali estava muito sujo. - Não podes questionar!

- Hahaha! - O Diabo soltou uma grande gargalhada, rindo-se. Usava dos artifícios dos homens, só os homens lhe entendiam. A filosofia e a psicologia eram artifícios seus. Afinal, o homem da ciência não era o homem da teologia. As duas coisas eram completamente antagônicas, assim como Deus e o Diabo, Anjos e Demônios, Arroz e Feijão... - Ok! Vamos pra segunda questão... Se "és" onisciente, e tudo "sabes", sabia que eu ia fazer "maldades" pelo mundo! Mas mesmo assim, me criou, como o anjo límpido, puro e o mais próximo do Senhor, por que!? Para testar os homens não seria possível, pois, como já foi dito, o Senhor sabe de tudo! Logo, não precisaria testar as pessoas, já que sabe o que elas farão! Não faria o menor sentido!

- És surdo!? Deves ser! Pois, não ouviu o que eu lhe disse antes!? Que não deves NUNCA questionar o Senhor! Pois sou superior a tudo e a todos, e ninguém nunca irá compreender os modos como "opero"! - Deus quase bateu na mesa com força. Era seu argumento, sempre esse, de que nunca falaria, pois ninguém o entenderia.

- Argumento humano, o seu. Humanos vivem dizendo que não podem ser compreendidos e que não devem ser questionados, quando não querem se explicar... Isso geralmente, chama-se "problema de dedo sujo"! - Deus parou suas palavras com uma pancada na mesa e o Diabo deu mais umas risadinhas perdidas. E logo, remeteu-se a usar as palavras do criador, como era dito que o fazia. - "És surdo", você questiona! Mas tenho certeza que poderia curar minha "surdez", se o quisesse! Afinal, é onipotente!

Deus segurou para não soltar-lhe uma risada. Sarcasmo não era algo divino, ou ao menos, não deveria sê-lo.

- Pra que o faria? - Deus argumentou, e o Diabo riu. - Se não o quero.

- Por que não quer? - O Diabo disse, com os olhos arregalados, descobrindo um novo doce sabor.

- Porque você é o mal do mundo. - Deus disse, e o Diabo riu-se da ingenuidade do Senhor (não foi ele que disse que as coisas puras e ingênuas eram dele?).

- Pense bem. Se você tivesse "querer", poderia interferir no mundo! Mas como já foi dito antes, não pode! Deus não interfere no mundo! Mas, vejamos, se eu recorresse aos homens para curar minha surdez, e eles conseguissem! Você não impediria, porque não o pode! Então, afinal, o que pode fazer!? - O Diabo questionou novamente, e Deus ficou muito irritado e furioso, levantou-se da cadeira com raiva, já pensando em ir embora, mas o Diabo segurou-lhe pelo braço.

- Não me toques! Estás fazendo piada comigo, como se o pudesses! Maldito sejas você! Eu posso sim, transformar-lhe em estátua de sal, jogar-lhe 10 (5, 15, 20) pragas ou afogar-lhe com um dilúvio! - O Diabo riu-se, mas por algum motivo, ficou com pena de Deus. Não era a toa que deixava os humanos vivos, apesar de parecer ter poder o bastante pra fazer muitas maldades. Era mais ou menos a relação dos traficantes e policiais no RJ. Se cada um dos dois tinha poder para destruir totalmente o outro (a polícia tinha o exército, e os traficantes, o armamento), por que continuavam com uma rixa (ou simples convivência) eterna?

- Imploro carecidamente para que fique, sim? Será ruim terminar assim. Está perdendo. - O Diabo tocou no orgulho de Deus. Deus não era orgulhoso, mas odiava perder uma disputa (???). - Me diga, se "és" tão poderoso assim, digo, onipotente (tudo pode), poderia criar uma pedra que não pudesse levantar?

- Mais uma de suas filosofias! Veja bem, se queres tanto me destruir, dizendo que não tenho poder para nada fazer, porque já não o fiz e porque tenho ainda o livre-arbítrio... Por que não o faz logo!? - Deus disse, parecia enfim ter entregue todas as armas. O Diabo tinha terminado suas batatas e estava agora tomando a água tônica.

- Porque eu sou parte de você. E nós dois, somos parte das mentes dos homens. - O Diabo disse, sorrindo um sorriso muito bonito e branco (pois ele usava pasta-de-dentes criada pelos homens), e enfim, deu uma gorjeta ao Garçom, encerrando suas conversas por ali mesmo.

 

FIM


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Notas finais do capítulo

"É muito fácil dizer que algo é impossível de ser feito, enquanto ainda não se tentou fazer" (A.C.)