O ruivo entrou no hospital e, sem olhar para ninguém, foi até a sala de Shion.

Bateu na porta e assim que recebeu a permissão para entrar, abri-a.

– Ora, chegou rápido, Kamus – O mais velho disse sorrindo, apontando uma cadeira – Sente-se.

O aquariano obedeceu, se sentando

– Bem, antes de qualquer coisa, quero lhe dar isso – O ariano lhe entregou um cartão.

– O que é isso, Shion? – Kamus perguntou confuso

– A única coisa que encontramos no local onde deveria estar o corpo do garoto.

– Doutor Percy Costa. – O médico leu o que estava no cartão – Quem é esse?

– Segundo nossas pesquisas, ele era o diretor de um antigo manicômio que ficava nos arredores da cidade, em uma parte mais afastada. Ninguém soube o que aconteceu ao certo com ele, mas parece que ele ficou louco e achava que era um médico em um hospital, então fazia operações nos pacientes e acabava por matá-los.

– Ele ainda está vivo?

– Creio que sim, mas ninguém jamais o achou. A mulher dele o deixou quando o filho nasceu. Ele viveu isolado por muitos anos.

Kamus pensou por alguns segundos.

– Onde está a mulher dele?

Shion pegou um papel e escreveu algo nele.

– Está nesse endereço. Você irá vê-la?

– Sim. Não deixarei um paciente meu desaparecer assim, sem mais nem menos.

O mais velho soltou uma leve risada.

– Esse é o Kamus que conheço. Mas me diga o que vai fazer quando a encontrar?

– Iremos conversar um pouco. Irei perguntar sobre o marido dela, quem sabe ela saberá onde ele está.

– Vai sozinho?

– Sim. Não quero que outro vá comigo.

– Não acha que está se relacionando demais com esse caso? Afinal, você nem conhecia o garoto.

Kamus ponderou para responder aquilo. Era verdade, jamais pensou que iria se relacionar tanto assim com o pequeno fantasma...

– De qualquer forma, qual o recado que Saga mandou?

– Ora, já estava estranhando você não perguntar dele – Shion sorriu, apoiando a cabeça em uma das mãos – Ele mandou falar que irá voltar logo da viajem, e que quando chegar quer sair em um encontro com você. Só vocês dois.

O ruivo não conseguiu conter um sorriso pequeno e discreto.

– Sério? – A alegria era visível em sua voz – Isso é ótimo... Vai fazer quase três semanas que não o vejo...

– Ah, sim, e ele me pediu para te dar algumas semanas de férias – Shion continuou, gostando de vê-lo daquele jeito, mais relaxado. Se perguntava o que aconteceu para o ruivo estar daquele jeito

– Férias? Shion, eu não...

– Sim, você pode. Já faz seis anos que não tira férias, Kamus. Te darei um mês, ok? – Antes que ele pudesse reclamar, levantou uma mão em sinal para ele ficar quieto – E essa é uma ordem do seu chefe.

O aquariano suspirou, se levantando.

– Se é o que quer.

– Bem, é só isso. Pode se retirar, obrigada.

Kamus obedeceu e foi embora, deixando Shion trabalhar em paz.

OoOoOoOoO

Alguns corredores depois, no mesmo hospital, um homem com grandes cabelos loiros trabalhava calmamente preenchendo alguns relatórios quando se sentiu ser abraçado por trás. Deu um pequeno sorriso, pois já sabia quem era.

– E então, falou com ele? – Indagou com a voz calma, se virando no abraço para encarar as belas orbes verdes

– Sim. O pequeno era uma gracinha, porém estava muito confuso. Não se lembrava de nada – Fez um biquinho pequeno e fofo – E Kamus não estava ajudando muito, também.

– Não o julgue assim, Mu. Kamus é um pouco frio e não sabe expressar bem os seus desejos ou sentimentos, mas ele é uma pessoa muito boa e gentil.

– Sei disso Shaka, mas se não ajudarmos Milo logo... Tenho medo do que pode acontecer com ele. Ele ainda é uma criança e já está morto, e para piorar as coisas não se lembra de nada. Almas não duram muito tempo na Terra, mesmo aquelas que vieram completar algum desejo.

Shaka suspirou, apoiando a cabeça no ombro do outro.

– Quanto tempo ele tem aqui, sendo tão novinho assim?

– Milo tem um coração muito gentil e uma alma muito pura, mas não daria para ele mais que um mês.

– Contou isso para Kamus?

– Não quero alarmá-lo. – Mu o apertou mais em seus braços – Mas Shaka, eu tenho um mau pressentimento sobre isso...

– Por quê?

– Porque não dá para se amar aquilo que já não faz parte desse mundo. O destino é cruel às vezes, mesmo quando apenas quer reatar cabos.

– Como assim? Sabe de algo sobre o Milo?

– Sei mais do que gostaria de saber... Eu não sei se agradeço aos deuses por ele não lembrar quem é...

Shaka ficou levemente irritado

– E não me contou quem ele é?

– Eu não posso lhe contar, Shaka... Prometi a um espírito que era muito próximo de Milo que não iria contar para ninguém. Que deixaria as coisas se resolverem sozinhas, dando somente pequenas interferências...

O loiro suspirou.

– Bem, acho que já devia esperar isso no instante em que me apaixonei por um médium, não? – Após dizer isso, roubou um breve beijo de Mu – Deve estar cansado, meu amor. Por que não vai para casa? Nos vemos de noite.

O outro sorriu, concordando. Também roubou um breve beijo do amado e se foi, deixando o médico trabalhar.

OoOoOoOoO

Milo não conseguia ficar parado. Andava de um lado para o outro na casa do médico. Não sabia se devia esperar Kamus voltar ou ir até ele para avisá-lo sobre a noticia e aquilo que ele achava que era uma de suas memórias.

Ficou incontáveis minutos assim, andando ou flutuando pela casa do aquariano, quando ouviu a porta ser aberta. Correu na direção do som, achando que era Kamus.

– Kamus, preciso lhe falar... – Logo parou de falar, quando se aproximou da porta. Não era Kamus.

Um homem que aparentava ter pelo menos uns 29 anos entrou pela porta carregando incontáveis malas. Os cabelos dele eram um pouco maiores do que os de Milo e o tom dourado deles eram mais escuro que os do escorpiano. Os olhos azuis mostravam um ar de superioridade, o homem exalava luxúria a cada passo que dava. Milo teve de admitir, ele era muito belo.

Não tanto quanto o médico, mas muito belo mesmo assim.

Mas... Quem era ele?O que estava fazendo ali?

Seja lá quem fosse, deu um sonoro suspiro e largou as malas no chão, jogando-se no sofá logo em seguida, como se a casa fosse sua.

Milo, sabendo que ele não podia lhe ver, se aproximou dele, no momento em que este se levantava. O fantasminha deu um pequeno pulinho para o lado, por instinto, e viu o homem se dirigir ao banheiro. Alguns minutos depois ouviu o som do chuveiro.

Curioso, Milo se dirigiu a bagagem que o homem trazia e começou a mexer nela. Encontrou muitos – Muitos! – livros, cadernos e, quando abriu um dos livros, caiu uma foto.

O loiro a pegou e passou a fita-la, sentindo um aperto estranho no peito.

Na imagem estava o homem estranho que estava tomando banho no banheiro de Kamus e o médico. Eles estavam em um parque, tomando sorvete. O homem havia colocado um pouco de sorvete no nariz do médico e este lhe fitava parecendo irritado, mas com os olhos brilhando e um sorriso discreto nos lábios.

Assim que entendeu quem era aquele homem, Milo sentiu uma súbita onda de ciúmes que nem sequer ele entendeu. Pegou a foto e a guardou, resolvendo pregar uma pequena peça no loiro que estava no banheiro.

Com um sorriso sapeca nos lábios, o fantasminha começou a trabalhar. Quando o homem sair do banheiro, iria ter ume bela surpresa