Take My Heart -Em suas mãos tudo começou escrita por M Iashmine M


Capítulo 17
Capítulo 16 – Passado assombrado


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores!
Mais um capítulo novinho para vocês.
Como eu disse um tempo atrás, vou tentar postar uma vez por mês (o que pretendo fazer entre a segunda e a terceira semana para dar tempo de escrever e revisar), o que não significa que não poderei postar algum capítulo a mais eventualmente se meu trabalho render ;P hehehe
Espero que gostem :*



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Passado assombrado: “O buraco que nunca se fecha”

Luxemburgo capital, maio de 1928...

— Aqui está um arquivo com toda coleção de informações e documentos reunidos sobre a vida e os negócios sórdidos do marquês Aury Marchand. O sujeito é abominável de caráter e não mede esforços para conseguir o que quer. O cliente quer que Marchand seja exposto e capturado – explicou Linus.

— Trabalho limpo e diplomático? – perguntou Henry, analisando os documentos em suas mãos.

— Não exatamente. Há um grande obstáculo que pode exigir força bruta.

Henry deteve-se em uma página e leu-a por completo. Em seguida sua expressão ficou sombria.

— Além de um lixo humano, fez contrato com um demônio, é isso?

— Quase. Não é certo que gênero de contrato ele tenha feito nem com que tipo de criatura, mas dá para dizer simplesmente que ele vendeu a alma.

— É assustador quando a expressão se torna literal – comentou Selene, escorada na parede entre as janelas do escritório de Linus.

Quieta até então, seu comentário chamou a atenção de ambos cavalheiros no ambiente. A jovem encarava o jardim dos fundos do prédio da guilda. Algo parecia melancólico demais naquele dia, e Selene sentia-se tragada pela sensação. Aparentemente ela se sentia cada vez mais afetada pelo emocional de Henry, o qual oscilava periodicamente conforme seus trabalhos eram recebidos e entregues. Agora que ele ficara sombrio com as informações que lera no arquivo, Selene sentia seu interior mudar, ficando em sincronia com o rapaz. Isso a estava incomodando; conversaria com o senhor Linus quando Henry não estivesse presente para verificar se o mentor do rapaz conhecia algo a respeito daquela sincronia peculiar.

— Há um pequeno detalhe... – prosseguiu Linus.

— Sim – concordou o rapaz. – A sujeira não acaba nunca.

— O que? – perguntou Selene.

— Ele tem um gosto particularmente perigoso para pessoas com dons sobrenaturais. Ele “suga”, de certa forma, todos os benefícios que essas pessoas possam gerar. É difícil explicar, mas ninguém com habilidade especiais fica a salvo se cair em suas mãos.

Todos os três se encararam por alguns instantes, ponderando as informações e o que elas basicamente gritavam em alerta. Todos na guilda eram especiais e isso os tornava mais qualificados para lidar com o caso, mas também os colocava como alvos em potencial em circunstância de falha. Henry não quis verbalizar seus pensamentos, mas estava começando a achar que seria um caso de matar ou ser morto.

Quando finalmente armou seu raciocínio, percebeu a gravidade da situação e como ela poderia acabar. Selene podia aparentar ser uma mulher normal e chamar menos atenção com sua armadura do que o rapaz em sua aparência bestial, mas isso estava fora de cogitação; Selene não iria com ele de forma alguma.

— Vou me preparar para partir em breve. Levarei o arquivo comigo; caso eu consiga tratar tudo da maneira mais discreta e burocrática possível, precisarei de toda informação que tiver acesso para montar a acusação para condená-lo.

— Certamente. Antes de você ir, vou preparar todas as indicações que puderem ajuda-lo no caso e vou informar meus contatos em Paris para ficarem de prontidão. Quanto mais rápido isso terminar, mais rápido será seu retorno em segurança.

Henry acenou com a cabeça e largou o grosso arquivo sobre o sofá onde estivera sentado até então, Selene se despediu de Linus e retiraram-se do escritório. Quando estavam descendo o segundo lance de escadas, Henry comentou que se esquecera de verificar algumas informações com Linus e precisaria voltar, mas que ela deveria descer e esperar por ele no salão do térreo. Selene desconfiou que houvesse algo que ele não estava lhe revelando, mas optou por não questionar e desceu a escadaria. Ao perceber que sua parceira não retornaria aos andares superiores, Henry voltou ao escritório de Linus para finalizar os preparativos.

— Esqueceu-se de levar o arquivo, garoto.

— Foi uma deixa para voltar aqui.

— O que faltou?

— Quero Selene fora desta missão.

Linus parou de assinar documentos em sua mesa e prestou atenção no garoto. Baixando os óculos de leitura, encarou-o por um minuto.

— Por quê?

— Você sabe o que tem naquele arquivo tanto quanto eu. Esse sujeito é doente, mas eu posso dar conta dele sozinho. Sou esquentado, mas posso ser diplomático.

— Isso eu gostaria de ver – riu Linus, mas, ao ver a expressão no rosto do garoto, ficou sério. – Quer mantê-la fora disso para que ela fique segura? Sabe que você é aquele que precisa de maior segurança.

— Sim, a aberração.

— Henry...

— Já estou resignado com minha condição, mas os familiares são uma existência completamente diferente. A vida deles é diferente da nossa e de humanos de forma geral. Não vou arriscar expor Selene a um maníaco que usa indivíduos com habilidades especiais para obter benefícios e depois os dá de alimento para seu maldito demônio.

— Posso pedir para Kassandra levar a garota para uma atividade externa, para despistar.

— Não me importa como fará isso, mas dê um jeito. Preciso que prepare as indicações agora e entre em contato com seus informantes. Pretendo partir amanhã durante a madrugada. Não posso deixar que Selene me impeça, porque ela vai achar que minha segurança depende dela.

— Sim, ela sempre cobre sua retaguarda. Pode deixar, vou dar um jeito de ocupa-la. Posso lhe fazer isso.

— Muito obrigado, Linus – agradeceu Henry, apertando a mão do homem. – Preciso protegê-la cada vez mais e melhor. Ela é tudo que tenho.

Linus ouviu aquelas palavras e não conseguiu contrariá-las, embora julgasse o jovem como parte da grande família que era a guilda.

Quando chegou a madrugada em que o rapaz partiria para sozinho para a missão, tudo já estava preparado. Henry juntara suas roupas, o arquivo que Linus lhe dera e até mesmo algumas armas e facas. Se precisasse se defender em algum eventual momento de perigo, tentaria esconder sua identidade ao máximo, evitando liberar seu lado selvagem. Preparou também uma carta para Selene, deixando-a sobre a cômoda do quarto da jovem.

A madrugada estava gelada, mas o garoto estava decidido quando colocou sua mala sobre o lombo do cavalo no celeiro, vestiu sua grossa capa de viagem e partiu para o abraço da noite.

As coisas demoraram mais que o esperado. Uma semana já havia se passado quando o Henry entrou em contato com Linus para informar sua situação. Estava fechando o cerco sobre Marchand e, felizmente, conseguira manter sua verdadeira natureza em segredo. Era tudo uma questão de mais alguns dias. Foi o que o garoto pensou. Na semana seguinte, conseguiu reunir todos os dados para condenar Marchand o suficiente para que nunca mais visse o Sol nascer de outra forma senão pelas grades altas de uma cela de prisão. Tudo parecia caminhar perfeitamente – até Linus elogiara a forma como seu pupilo procedera com o caso -, mas era previsível que o traste tentaria resistir à prisão.

Foi uma briga dolorosa e Henry rapidamente ficou desarmado. Parecia que a criatura com a qual Marchand fizera contrato o deixava imune a cortes superficiais, acelerava sua regeneração e concedia ao infeliz excelentes reflexos em briga corporal. Logo a batalha estava em outro nível – fera combatia fera – e o escritório de reuniões do homem estava destruído. Com uma adaga especial emprestada por Linus com instruções específicas de uso, Henry cravou a lâmina na base das costas do sujeito, onde a camisa rasgada revelava uma marca – o símbolo do contrato sobre-humano de Marchand. Ao atravessar a superfície do emblema, uma fumaça negra evadiu o corpo do homem com um silvo alto e tentou atacar o garoto, mas esse lhe aguardava com a bainha da adaga, na qual – segundo Linus – o sangue do contratante deveria ser colocado e a criatura deveria ser absorvida.

Como uma tempestade de areia negra, a criatura rugiu sem forma e começou a ser sugada para dentro do recipiente. Quando o vórtice sombrio foi completamente absorvido, Henry lacrou a entrada com a lâmina, finalizando a captura. Linus lidaria com aquilo após seu retorno.

Aparentemente tudo estava acabado. Outro engano. O rapaz descobriu o filho bastardo do nobre, Dhanesh, e sua mãe Hiranya, raptada havia tantos anos pela ganância do homem. Outro processo foi aberto. Agora Henry não atuava mais como o membro da Guilda das Sombras, mas como Henry Dante di Castle, detetive particular. Ele lutaria pela liberdade de dos dois indianos, mesmo que isso exigisse mais do que ele conseguia assumir como autoridade.

Os dias correram e Henry já estava longe havia quase um mês. Sentia saudades de Selene, de sua comida, suas músicas ao violino, seus momentos na estufa, sua voz tranquilizante. Desejava escrever, mas temia receber respostas furiosas ou decepcionadas da jovem. Decidiu escrever apenas a Linus, informando a situação e pedindo para deixar Selene a par de tudo.

Henry lutou bravamente pelos direitos de Dhanesh e Hiranya, mas a saúde da mulher vinha decaíndo continuamente e os médicos não encontravam solução para o problema. O detetive conseguira colocar Dhanesh como herdeiro legal de Marchanrd e metade da fortuna do homem fora passada para seu nome; com o dinheiro, o filho pagava todos os especialistas que encontrava para tentar curar sua mãe. Nada adiantou. Henry vencera o tribunais pelos direitos do rapaz, mas não chegara a tempo.

Ao encontrar a antiga mansão de Marchand em luto pelo falecimento de Hiranya, o garoto não conseguiu fechar os olhos para a dor de Dhanesh. Tomou parte em seu sofrimento novamente e viu no rapaz meio indiano o reflexo de suas próprias perdas. Ambos órfãos de mãe, malfadados de pai, com heranças malditas.

— Venha comigo. Se não quiser viver neste lugar que vai te assombrar para o resto da vida, pode vir morar na minha casa. Alguém que perdeu sua pessoa mais querida na vida é como um irmão para mim. Pode vir comigo se quiser, meu amigo.

Clervaux, presente...

— Como já lhe contei antes, aceitei vir para cá com Henry depois de tudo que ele havia feito por mim. O que não lhe contei foi como eram as coisas por aqui. Quem mais morava com ele...

— Havia mais alguém vivendo na mansão? – perguntou Catherine.

— Sim. Eu não sabia disso, pois ele não mencionava nada. Eu apenas o via escrevendo cartas de vez em quando durante noite. Parecia ansioso para voltar, mas nunca enviava as cartas que escrevia. Parecia ter receio de algo. Fiquei tentado a perguntar-lhe do que se tratava, mas não quis me intrometer depois de ver sua insegurança.

— Para quem eram as cartas? Conseguiu descobrir?

Darell riu ao lembrar-se de algo e seu rosto ficou nostálgico.

— Descobri só depois de chegar aqui. Trouxemos nossas coisas em um veículo de aluguel. Depois de providenciar o enterro de minha saudosa mãe, viemos para cá, tudo no mesmo dia. Eu estava admirado com as dimensões da casa mesmo tendo vivido na mansão de Marchand durante toda minha vida, mas o que mais me impressionou foi o que aconteceu ao chegarmos ao fim do dia. Eu não imaginava que ele vivesse com alguém além de algum criado que provavelmente cuidasse da casa, mas quando a porta de entrada se abriu, uma pessoa apareceu.

— Quem era?

— Era uma mulher jovem. Parecia extremamente ansiosa quando nos viu chegando. Antes que eu pudesse ver, ela veio correndo em nossa direção e golpeou Henry direto no rosto.

— O quê? – arfou Cathie, cobrindo a boca.

— Calma, foi uma cena cômica, e bem emocionante por sinal – comentou Darell ao ver sua expressão. – Ela bateu e sacudiu Henry algumas vezes. Depois começou a chorar e o abraçou. Acusou-o por não lhe escrever por tanto tempo, por ter lhe deixado para trás, mas vi no rosto de Henry que ele recebia aquilo abertamente. Percebi que ele aceitaria cada golpe, cada lágrima e cada palavra que ela tivesse para dar. Ele apenas a abraçou e disse que estava morrendo de saudades.

— Eu... Eu não... – Catherine estava sem reação para o que ouvia, tentando imaginar alguém tão diferente da pessoa que atualmente conhecia.

— Não dá para acreditar que ele fosse tão afetuoso, não é? Eu mesmo fiquei encantado em testemunhar aquilo. E foi assim que conheci Selene.

— Selene – repetiu a garota, tentando absorver e assimilar as informações.

— Sim. Na época eu também não sabia o que era um familiar, então achei que eles realmente fossem algo como namorados ou tivessem algum tipo de laço sanguíneo.

— Selene era um familiar? – perguntou Catherine com assombro.

— Sim, uma jovem com aparência perfeitamente humana, esbanjando saúde e transbordando emoções. Ela tinha cabelos castanhos, pele clara e era mais baixa que eu. O que eu achei fantástico foram seus olhos prateados...

— Prateados? Isso é possível?

— Sim, ela era especial. Dava para ver de longe. Quando eu soube que ela era parceira de Henry nos trabalhos da guilda, fiquei curioso por ela não ter ido junto com ele para Paris para derrubar Marchand. Só então que deduzi por conta própria o motivo: Henry sabia de antemão sobre a reputação do canalha e manteve Selene a salvo, longe dos olhos famintos e cobiçosos do marquês desgraçado. Desculpe o palavreado.

— Tudo bem. Não o censuro por pensar assim.

— Obrigado. Enfim, eu consegui me relacionar perfeitamente bem com ela. Era jovial, tinha um excelente humor, era educada e sabia fazer as tarefas dentro de casa perfeitamente. Era quase impossível para eu imaginá-la lutando quando descobri que ela vestia armadura e tudo.

— Ela era uma amazona?

— Mais ou menos isso. Parecia frágil, mas testemunhei Henry treinando espada com ela algumas vezes e, no quesito de armas brancas, ela conseguia vencê-lo facilmente.

Darell fez uma pausa para observar a jovem à sua frente; Catherine parecia analisar cada novo detalhe com atenção, mas parecia um pouco desanimada de forma geral. Sem querer questioná-la, o rapaz prosseguiu.

— Passamos a viver como uma pequena família. Selene parecia quase uma mãe, de tão zelosa e carinhosa que era. Por ser mais velho que Henry, eu me sentia quase um adulto cuidando de um adolescente, porque ele agia de forma mais espontânea e tranquila em casa; era quase irresponsável em alguns momentos. Eram dias tão felizes aqueles...

A voz de Darell chamou a atenção Catherine, pois o tom nostálgico começava a oscilar entre a alegria e a tristeza. Sentindo algo frio tocar seus nervos, a jovem queria saber mais, mas temia perguntar. Não. O que temia era a resposta, pois se havia algo que aprendera sobre a vida de Henry era que estava carregada de momentos tristes. Criando coragem, perguntou:

— Onde... Onde está Selene? O que aconteceu com ela?

O rosto de Darell ficou sombrio e seus olhos mostraram uma profunda tristeza, o que fez a jovem desejar ter engolido aquelas palavras. Repentinamente, ambos foram interrompidos antes que o rapaz indiano pudesse responder qualquer coisa. Henry chegara ao jardim, o rosto sério e cansado.

— Sobre o que estão falando? – perguntou com firmeza, como se desafiasse os dois a falarem algo que não fosse o que quisesse ouvir.

Catherine se assustou e encarou Darell, sentindo-se encurralada em uma armadilha. Agora que ouvira mais sobre o senhor di Castle, temia cometer qualquer deslize em sua presença. O rapaz indiano percebeu a urgência no olhar da jovem e pensou rapidamente.

— Estava apenas explicando para Catherine o que aconteceu hoje de manhã.

— O que exatamente?

— Sobre contrato com familiares e a confusão das pessoas achando que ela era uma. Assim como Jullian, expliquei-lhe que alguns podem ter a aparência completamente humana.

— Só falou de Jullian? – perguntou o rapaz.

Ele podia aparentar cansaço, mas sua mente estava alerta. Teria ele ouvido a conversa dos dois e agora testava a verdade? Catherine não ousava se virar; não sabia exatamente a razão, mas temia encarar seu protetor, como se tivesse cometido um terrível erro e agora não tivesse coragem de ser descoberta. Darell suspirou ao observar a tensão crescente no rosto da jovem e abraçou a questão.

— Falei de Selene também – falou simplesmente.

Darell ficou agradecido que Cathie estivesse de costas, pois seu amigo ficou vermelho de fúria ao ouvir aquelas palavras.

— Por quê? – perguntou Henry controlando a respiração para a voz sair comedida, embora sua expressão mostrasse que estava prestes a explodir. O que não tardou. – Por que raios você tocou nesse assunto? – gritou por fim.

Cathie se encolheu e começou a tremer. Estava muito assustada e tentava segurar as lágrimas que ameaçavam brotar nos olhos. O indiano enfureceu-se ao ver o medo estampado no rosto da jovem e tomou posição, levantando-se de seu assento.

— E por que não deveria falar sobre isso? – bradou em tom mais baixo que o primeiro, tentando não piorar a situação. – Ela também foi especial para mim! Não tem nada de errado em querer me lembrar dela!

— Como “não tem nada de errado”? Fala com tranquilidade como se fosse fácil! – retrucou Henry. – Sabe que detesto que toquem neste assunto!

— Ninguém o chamou aqui! Se acabou ouvindo lá de dentro, o problema é seu! Falar sobre minha amiga não deve ser um tabu na minha vida, seu maldito egoísta!

A raiva do rapaz oscilou, mas ele fechou os punhos e manteve-se firme.

— Eu, egoísta? Eu sou o egoísta? Como acha que me sinto só de me lembrar do nome dela? De pensar no seu quarto vazio, nas roupas que nunca mais vestirá, no violino que nunca mais tocará? – Henry não conseguiu controlar as lágrimas que surgiram enquanto falava, mas pareceu não se importar. Parecia repentinamente sem fôlego.

Darell ficou surpreso com a reação do amigo e acalmou-se. Olhou para Catherine e viu que ela segurava a mão sobre a boca para não soluçar, mas já estava em prantos. Contornando a mesa, o rapaz retirou um lenço do bolso e o estendeu para a jovem, depois se abaixou ao seu lado e acariciou os cabelos loiros presos em trança.

— O problema é você achar que ela era importante apenas para você, que apenas você sofreu uma perda. Se quiser pensar dessa forma, também tem a obrigação de lembrar-se dela com mais carinho que qualquer outro. Deve mantê-la viva em sua memória e não afastá-la de sua mente. Catherine restaurou a estufa com minha ajuda. Por que acha que fiz isso? Não foi apenas o lugar de sua mãe, mas também foi o de Selene. Eu só fiz o mesmo que ela. Por que não posso preservar suas lembranças, seu lugar, seu presença?

Um lampejo de informação chamou a atenção de Catherine: a estufa pertencera à mãe de Henry sim, mas depois estivera aos cuidados de Selene. Fora por isso que ele se enfurecera tanto quando descobriu que ela mexera no lugar? O lugar das mulheres especiais de sua vida... Catherine arriscou olhar para trás. O rapaz que via parado a alguns metros tremia, chorava, soluçava. Estava completamente vulnerável. O que quer que tenha acontecido para Selene, fora demais para ele suportar. Mais uma perda irreparável, mais uma presença insubstituível tirada de sua vida. Sem parar para pensar em qualquer consequência de suas ações, Catherine levantou-se da sua cadeira e foi até Henry, que já se virava para ir embora dali. Com passos rápidos, chegou ao rapaz e atirou os braços ao seu redor, apertando com força o corpo dele contra o seu.

O jardim ficou em tal silêncio que apenas os pássaros ousavam quebra-lo. Talvez fosse pela surpresa ou simplesmente não se importasse, mas Henry não afastou a garota, apenas ficou imóvel. Cathie temia represália, mas não retrocederia nem um milímetro, nem por um segundo sequer.

— É tão ruim fazer coisas que lhe lembrem dela? – perguntou a jovem depois de alguns instantes, sentindo o corpo de Henry ficar mais tenso. – Se isso é tão horrível e insuportável para o senhor, prometo que tentarei evitar qualquer ato que remeta a ela. É só me dar uma chance. Buscarei dar meu melhor.

O rapaz ergueu a cabeça e olhou para o céu. Ele começava a ser tingido por tons de laranja e rosa pelo por do sol, mas ainda estava tão claro que fez os olhos úmidos de Henry arderem. Fechando-os com força, cerrou os punhos por um instante e depois soltou as mãos ao lado do corpo.

Darell, que observava tudo sem querer interferir, perdia-se em pensamentos com a cena. Ele só é rude e age friamente com todos porque tem medo de criar laços. Ele teme que alguém se torne especial em sua vida mais uma vez e depois desapareça, e ele já perdeu tantas pessoas que lhe eram especiais... Isso o torna uma pessoa solitária, mas ele prefere que seja assim. Como sempre, Catherine superava suas expectativas, tomando atitudes impressionantes, arriscando-se para ultrapassar essas barreiras que surgiam entre ela e as pessoas. Nesse momento, o indiano desejou profundamente que a jovem fosse a luz de esperança na vida do amigo, mas que fosse um brilho forte e duradouro.

— Não precisa me prometer isso – respondeu Henry rouco.

— Deixe-me ajuda-lo, senhor Henry – pediu a moça, o rosto colado às costas dele.

O rapaz respirou fundo e pressionou os braços dela contra si com sua própria mão. Mais um instante de silêncio.

— Quero que seja você mesma e ninguém mais. Ninguém pode ser substituído porque cada um é especial à sua própria maneira. Você não é ela. Ela se foi e nada vai trazê-la de volta.

Esse comentário fez Cathie encolher-se um pouco, embora ela não soubesse exatamente o motivo. Talvez desejasse ouvir uma aceitação aberta por parte do seu protetor e nesse momento estivesse longe de consegui-la.

— Você não é ela... – repetiu o rapaz – Não quero que me prometa nada. Quero que seja você mesma, sempre. Eu também preciso seguir com minha vida sem me prender a esse passado condenado.

Isso chamou a atenção de Catherine e Darell. Ele finalmente parecia aceitar a situação atual, a realidade como ela é: cheia de defeitos, cheia de despedidas, cheia de perdas. Isso deixou a jovem sentindo-se levemente eufórica por dentro, mas Darell ficou um pouco preocupado com a duplicidade daquelas palavras. Poderia ser que ele realmente estivesse decido a seguir em frente ou significava que ele jogaria a toalha, abandonando o sentido de tudo que vivera no passado?

— Não vou mais interferir no curso das coisas. Darell pode lhe contar o que julgar adequado, não ficarei mais furioso com isso.

Dito isso, puxou os braços de Catherine apenas com força suficiente para fazê-los ceder e soltar-se. Partindo a passos lentos em direção à mansão, deixou a jovem e o amigo observando-o até desaparecer. No instante seguinte, a moça olhou para trás para fazer uma pergunta silenciosa com os olhos para o indiano. Agora que as coisas pareciam estar em seus respectivos lugares, ainda precisava saber: o que houve com Selene?

Darell ainda parecia impressionado com o que vira, então achou melhor ponderar suas palavras diante da questão que ainda pairava no ar, a pergunta não respondida. Baixando a cabeça, deu um suspiro longo e voltou a sentar-se em sua cadeira de ferro forjado, apoiando os cotovelos sobre a mesa e segurando o rosto entre as mãos.

— Ela se foi, como já deve imaginar.

Não restava dúvidas sobre o falecimento de Selene, considerando o rumo dos acontecimentos que vinha associando até ali, mas Catherine queria saber o que exatamente havia acontecido com a jovem. Mais uma pessoa tão especial na vida do senhor Henry...

— Como? – perguntou, mas decidindo que aceitaria o silêncio caso o rapaz se recusasse a responder.

Mais um longo suspiro. Estaria ele também segurando as lágrimas?

— Foi em uma missão – respondeu com a voz firme. – Ela deu sua vida para proteger Henry. Isso ele nunca vai esquecer.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Espero que sim. =]
Aliás, gostaria que vocês escrevessem nos comentários o que acharam e que dia da semana e horário costumam acessar o Nyah para ler. Pretendo postar de acordo com a demanda.
Pode ser?
Adoro vocês.
Beijão e até o próximo capítulo!



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