águas que Inundam a Escuridão escrita por Akahime


Capítulo 1
Primeira Parte - Reflexões do Uchiha


Notas iniciais do capítulo

Quem acertar o Shipper desta fic ganha um ponto positivo e uma visita minha nas suas fics, com direito a um review caprichado e grande!



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Abriu os olhos. Os orbes escarlates encararam o teto da simples choupana tomada ainda pela escuridão da madrugada. Estava num lugar afastado de qualquer vila shinobi, no meio de uma densa e perigosa floresta, mas não era isso o que o fizera acordar com seu Sharingan ativo.

 

Ele era agora um nukenin, e mais ainda, um vingador, não tinha medo de feras do bosque ou de ninjas hostis, sentiria pena de quem invadisse seu esconderijo àquela hora, seria o mesmo que pedir para um shinigami devorar a alma do infeliz que o perturbasse. Não temia qualquer ameaça externa, por mais forte e poderosa que fosse, pois estaria preparado. Nada poderia atingí-lo, seu kekkei genkai visual estaria ali para alertá-lo de qualquer suspeita de perigo.

 

Não era isso que o fizera acordar antes que o sol raiasse, era algo interno, que o incomodava, parecia feri-lo por dentro, algo doloroso e estranho, parecia querer rasgar seu peito em mil pedaços, e ao mesmo tempo enchê-lo de uma sensação prazerosa e envolvente.

 

Nascia um sentimento forte dentro de Uchiha Sasuke, mas ele ainda não sabia, ou não admitia.

 

Desativando o Sharingan e sentando-se naquele misto de palha e tecido, correu os olhos pelo quarto, estranhando a quietude e a paz que ali reinavam, tão diferente das outras vezes em que dormira naquele mesmo lugar nas tantas vezes que passara pelo meio da mata, buscando descansar das missões que fizera junto com o time Taka e agora com a Akatsuki.

 

Na verdade, ele não entendia bem o que estava acontecendo consigo mesmo. Pela primeira vez em muitos anos, ele não tivera pesadelos com os pais, com o irmão ou com sangue e dor de inocentes sendo assassinados pelas suas mãos. Ele não tinha um sono tão tranqüilo e profundo desde... bem, desde a tragédia de seu clã, há muito tempo.

 

Além disso, até mesmo o cheiro do quarto não parecia ser o mesmo, não havia vestígio do ar pesado e poluído, natural daquele ambiente sempre fechado. Os odores de sangue, suor e mofo também haviam desaparecido, e em seu lugar havia um suave perfume adocicado, que estranhamente o agradava, embora ele costumasse odiar qualquer coisa doce. Era um aroma marcante, sem ser enjoativo, e que dava uma refrescada naquele quarto sempre solitário e abafado.

 

Levantou-se de um salto, colocando novamente sua capa negra e escarlate, antes pendurada numa cadeira próxima à janela, e fixou seu olhar na cama desarrumada a sua frente. Improvisara-a com um fardo de palha macia, mas algo lhe chamou a atenção, algo que antes não estava ali, não que se lembrasse.

 

Tomou aquele objeto nas mãos, sentindo aquele perfume adocicado ainda mais forte exalando dele, e pôs-se a observar mais atentamente aquela colcha macia e leve, feita de diversos retalhos coloridos, habilmente costurados por um par de mãos delicadas e caprichosas.

 

Aspirou o aroma ainda fresco, sentindo um calor de mulher ainda recente marcado no tecido. Concluiu que ela acabara de sair, provavelmente para se banhar no rio que corria ali ao lado. Com este pensamento as imagens da noite anterior vieram-lhe a mente, ouriçando seu corpo, mas o que o surpreendeu não foram as lembranças do corpo esperto e firme da kunoichi com quem dormira, e sim o modo com o qual ela olhara para ele.

 

Não era um olhar desesperado, carente ou de medo, normal em todas as mulheres com quem já estivera, era um olhar estranhamente acolhedor, algo que ele não recebia desde criança. O olhar dela não demonstrava raiva nem asco, como se poderia esperar de alguém de sua antiga vila.  Além disso, não era um olhar submisso, ele transmitia a vontade de fogo e a determinação inquebrável típica de Konoha, com um toque de teimosia e impulsividade que o tornava especial e único.

 

Um simples olhar, mas que transmitia tantos sentimentos juntos, era algo diferente e nunca experimentado pelo Uchiha mais novo. De algum modo que ele não conseguia explicar, aquele olhar parecia libertá-lo de suas dores e inquietudes acumuladas, desmanchando sua pose de frio e insensível, fazendo-o sentir o coração de pedra pulsar novamente no peito, num ritmo louco e alucinado.

 

Balançou a cabeça, incrédulo, tentando afastar tais desvarios da mente. Devo estar ficando louco, pensou, ou então caí em algum ninjutsu desconhecido durante a noite, só pode ser. O que tinha naquela mulher que quebrava toda aquela muralha de gelo e indiferença que ele construíra em volta de si para se afastar dos sentimentos e focar seus esforços apenas na sua busca de vingança e poder? Assentando-se numa tora de madeira que lhe servia como banco, o temido vingador analisava aquelas sensações tão novas para ele.

 

Afinal, ela não havia sido a primeira mulher de sua vida, isso era mais do que óbvio. Primeiro, porque ele já era um homem, já havia visto e vivido muito nos seus dezesseis anos de vida, tanto na categoria “guerra” quanto na de “amor”, não que ele já tivesse amado alguém, isso ele não conhecia e nem desejava conhecer.

 

Segundo, e mais importante, ele era um Uchiha, um ser orgulhoso e prepotente, consciente de seu charme e poder de sedução, marca registrada de seu clã. Mulher nenhuma resistia aos seus belos orbes negros e profundos, que pareciam tragar a todas que ousassem colocar os seus próprios, por um segundo que fosse, sobre os dele, era como um dom, e ele sabia como se aproveitar desta vantagem. O mistério que rondava a fama de seu clã era outro trunfo que ele tinha, que atraía morenas, loiras, ruivas e outras mais, fossem kunoichis ou não, como se fossem insetos admirando uma vela acesa, bela, porém muitas vezes mortal.

 

Não se prendia, não assumia compromissos, não repetia a dose com nenhuma daquelas com quem compartilhara uns poucos momentos de prazer carnal, embora houvesse quem tentasse insistir num “bis”, mas estas ele dispensava de modo frio, como tantas vezes ele fizera com Karin, sua companheira no time Taka e agora na Akatsuki.

 

Para ele, elas eram apenas objetos, instrumentos para um determinado fim, e nada mais, depois se tornavam inúteis e descartáveis. Afinal, era um shinobi, e assim agia na guerra ou no amor, sem formar laços. Tal pensamento era habitual, aliviar suas necessidades de homem com alguma de suas “fãs” e depois deixá-la, sem beijos ou promessas.

 

Mas mesmo não admitindo, ele sentia um vazio, bem lá no fundo, quando estava com uma dessas mulheres. Algo que a princípio não entendia, mas que aos poucos foi percebendo que era a falta de alguém que o quisesse de verdade, que o compreendesse, mas que não fosse alguém tão cega de amor que aceitasse ser humilhada, ele era homem, e como tal precisava de um desafio a altura. E além disso, ele necessitava de alguém com quem pudesse compartilhar sua tristeza e sofrimento, tão escondidos sob a máscara da vingança e o desejo de poder. Ele não se orgulhava do que já havia feito, interiormente sabia que teria que pagar por todos os pecados que já havia cometido, fosse nessa vida ou no além. Mas mesmo tentando abafar os sentimentos que havia dentro de si, mesmo lutando para continuar duro e frio como a rocha, ele ainda era humano, ainda tinha um vazio em seu peito, que rugia e ordenava para ser preenchido com compreensão e carinho.

 

Por momentos lembrava-se de sua okaasan, Mikoto, tão submissa e compreensiva, e ao mesmo tempo forte e decidida em certas horas, embora Fugaku, seu otousan, fosse um tanto bruto e insensível para com ela. O costume era esse, que a mulher fosse uma espécie de serva do marido, cumprindo seus deveres de esposa e mãe sem questionar.

 

Mas esse não era seu desejo, não se importava com regras da sociedade e tradições, não queria alguém totalmente entregue em suas mãos, como um cordeiro prestes a ser imolado, não precisava disso. Não lhe seria útil nem mesmo para reerguer seu clã, como era sua vontade, pois os filhos que nascessem de tal união não teriam um espírito forte e determinado. Não lhe agradava seres totalmente submissos e manipuláveis, sem opinião ou orgulho próprio, que se arrastariam pelo chão e beijariam seus pés se ordenasse. Tinha uma legião de mulheres assim em seu encalço, prontas para se rebaixar em meio ao esgoto só para sentir um carinho seu ou mesmo um simples olhar.

 

Ele, se se permitisse sonhar, desejaria uma mulher forte, determinada, até mesmo um pouco teimosa, que conseguisse aliviá-lo de seu passado tenebroso. Alguém que não necessitasse de muitas palavras para entendê-lo, apenas com o olhar esta descobriria todos os seus segredos e mistérios. Alguém que percebesse e entendesse sua dor, que não o condenasse, mas tampouco apoiasse as coisas horríveis que fizera e que talvez ainda faria. Alguém independente, forte e esperta, mas que conseguisse ser, ao mesmo tempo compreensiva, carinhosa e doce. Alguém que visse através de toda aquela máscara de sangue e ódio que ele confeccionara para si mesmo e que conseguisse tocar e curar os cantos mais sombrios e escondidos de sua alma.

 

Alguém como ela, talvez.

 

Lembrar dela lhe causava estranhos sentimentos pelo corpo. E ele percebia que não era apenas um simples sentimento de desejo e luxúria, havia algo mais que ele não conseguia reconhcer ou definir. Aquele sorriso malicioso e desafiador estampado no rosto delicado, o olhar estranhamente acolhedor e compreensivo, o som macio e aveludado de sua voz, seu riso cristalino e sincero, o jeito que ela o tocava, não mais de modo possessivo, mas saudoso e cheio de promessas... Ele não sabia ao certo, mas alguma coisa o puxava em sua direção. E isto era ao mesmo tempo assombroso e libertador.

 

Suspirou fundo, tentando deixar tais pensamentos romantizados e voltar à razão, ao mundo e à vida a que pertencia. Sentimentos são para fracos, era o que ele se repetia continuamente, mas aquelas sensações estranhas não passavam, não havia como ignorá-las, vinham de dentro de sua alma. Ele, entretanto, tentava se convencer do contrário, e acabava travando uma batalha inglória contra si mesmo, sem previsão de vitória para nenhum dos lados.

 

Qual deles venceria? O menino que ainda existia em seu peito OU o monstro corroído pelo ódio?

 

Era o que ele se perguntava ao abrir a janela e sentir o sol a lhe queimar as faces. Vai ser um longo dia, pensou, fechando os olhos, imaginando o que ela estaria fazendo naquele momento.

Continua...


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Notas finais do capítulo

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Então, o que acharam? Alguém descobriu quem é a kunoichi misteriosa? Hehehe... não é tão difícil assim!
Bom, espero que tenham gostado!
O próximo vem... hum... quando eu resolver, hehe...
Say, espero que esteja curtindo... Deixei um certo mistério no ar, e bastante drama, do jeito que (acho!) que voc~e gosta...
Kissus para quem ler!
Ja ne!



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