- Juro que você vai gostar muito de Brasília querida - Minha mãe disse animadíssima e não se alterou nem um pouco quando viu o meu olhar de desprezo.

Estávamos em um avião eu e meus pais a caminho de Brasília.Meu pai da aeronáutica e fora transferido de São Paulo para a Capital.Eu é que não estava gostando nada disso.Chegamos no aeroporto e logo tomamos o um táxi até a Asa Sul.Era um dia bonito.Fim do Verão e no outro dia seria o começo do ano letivo.E para mim uma nova vida.Abracei as minhas pernas para meus pais não vissem que eu tremia sem parar.

- Chegamos família - Anunciou me pai.Ele era sempre o metido a engraçado da família.Tinha olhos verdes e cabelos bem pretos com fios grisalhos.Tinha cara de sério e você até poderia achar ele um conservador rígido até que o visse tomando cerveja e fazendo churrasco sem camisa no Domingo de manhã.

Levantei meus olhos para a casa.Era gigante,amarelo clarinho em um estilo muito sofisticado.Nem um pouco a minha cara.

Cheguei no meu novo quarto chutando caixas de roupas e objetos chatos até abrir as duas caixas que me interessavam:A dos meu livro(que eram muitos) e a dos meus zilhões de CDs, principalmente os da Legião Urbana.Era a única coisa sobre o que eu pensava e um dos únicos assuntos que eu falava com os olhos brilhando:Legião Urbana.Peguei o primeiro cd que encontrei deles,coloquei e afundei a cara o travesseiro.

"Quero me encontrar mas não sei aonde estou, vem comigo procurar um lugar mais calmo,longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita, tenho quase certeza que eu não sou daqui".

Mas eu não tenho quase certeza não.Tenho toda certeza.

***

Era uma tarde bonita de fim-de-domingo e eu estava com meu amigo João Roberto(Ou Johnny já que detestava seu nome normal) e seu irmão mais novo Eduardo.No dia seguinte iria ser o começo das aulas no Colégio Marechal Deodoro da Fonseca e estávamos conversando sobre o retorno das aulas.Quer dizer, eu falava sobre as aulas,Eduardo não falava e Johnny falava sobre seus assuntos preferidos:Música americana e garotas.

- Sério mano não dava pra continuar com a Mônica.Ele é suuuper gata e tudo mas pegava muito no meu pé com esse negocio de cultura brasileira,música brasileira.Argh!Mas que chatice.Só música americana é que presta.

- Também não é assim né Johnny - disse eu.

- Ah,Maurício é assim sim - retrucou Johnny - Imagine, comparar a Janis, o Led Zeppelin os Beatles e os Rolling Stones com esse lixo de rock que temos aqui com Capital Inicial,Barão Vermelho e Legião Urbana - Enfatizando com raiva na última banda.

- Eu gosto de Legião Urbana - Disse o irmão mais novo se quase mudo de Johnny, Eduardo.

- É porque você é novo ainda Eduardo.Ainda não ouviu o que é realmente boa música.

- A Mônica tá solteira? - perguntou Eduardo.Duas frase em uma só conversa que milagre.

- A Mônica acho que sim...Tadinha ainda não se recuperou do fora que eu dei dela - Johnny falou aquilo como se fosse legal iludir as meninas.

Johnny era o garoto mais cobiçado do colégio ou talvez de toda a Asa Sul.Ou de toda Brasília.Era alto,forte tinha cabelos cor de mel e olhos que as vezes eram meio verdes e meio azuis.Quando caminhava na escola estáva sempre cercado de um grupo de umas 10 ou 15 garotas, que se mostravam para ele na tentativa que ele a escolhe-se para dar uma carona em seu Opala metálico azul.Eu era seu melhor amigo,o estéreotipo de todo melhor amigo do cara mais popular do colégio :Moreno,magro, totalmente esquecível e ofuscado pela glória de seu melhor amigo.Somos amigos desde sempre e em amizade de maternal não se brinca.Sempre quiría ter a vida dele,mas de uns tempos pra cá mudei de idéia já que acabava tomando as dores de suas "namoradas" de quem ele traía,mentia e depois jogava fora.Elas na maioria das vezes eram garota lindas e super legais.Não mereciam aquilo.

Distraido com isso ouvi um som de um carro que passava pela rua cheio de adolescentes da nossa idade.Deduzi que era Legião Urbana já que Johnny começou a xingar o pessoal.

"Acho que eu te amava;agora acho que te odeio;são tudo pequenas coisa;e tudo deve passar"

É.Acho que tudo vai passar.