-Pela milionésima vez, presta atenção Carolina! – Baro gritava comigo, com um sorriso no rosto, que eu não sabia se estava bravo por causa de minha desatenção, ou se ria por eu estar sempre no mundo da lua.
-Mas eu já entendi! – eu respondia-o batendo em minha classe, segurando o riso, o fazendo rir.
-Então venha ate o quadro e responda corretamente essa equação... - ele colocou uma equação um tanto quanto ridícula no quadro. Soltei um riso fraco.
-Fácil! – levantei-me, arrumando minha saia do uniforme e fui ate o quadro. – (F=m.a) onde F é Força, que é igual à massa vezes a aceleração... – comecei a explicar conforme ia escrevendo. -... E a resposta é 34! – disse contente.
-Errado! – ele colocou as mãos sob sua cintura, numa pose um tanto quanto afemininada, me fazendo segurar o riso. Olhei de imediato para o quadro para não rir da situação, e tentar achar meu erro. – É por isso que esta quase bombando em Física, você anda muito desatenta! – ele disse se aproximando de mim.
Assim que chegou perto o suficiente segurou minha mão, fazendo meus cabelos da nuca se arrepiar. Seu toque me fez sentir segura. Com a mão direita, sobre a minha, segurando giz, começou a escrever por cima do meu calculo, corrigindo meus erros. Assim que o giz tocou o quadro negro pela primeira vez, pude sentir sua mão livre tocar em minha cintura, me virando de frente para o quadro e de costas para ele, que pousou sua mão ali, e fixou os olhos no quadro, esperando que fizesse o mesmo.
Minha cabeça estava virada para o quadro, para que ele não pudesse ver meu rosto, de olhos fechados, inalando o mais profundo que podia do seu perfume. Por um breve momento esqueci que estava numa sala de aula.
-TE ENCONTREI! – ouvi a porta da sala ser aberta com força, e no mesmo segundo pude ver Julia, minha melhor amiga, entrar sala adentro. Com o susto dei um pulo e me distanciei de Baro, torcendo para que não estivesse corada. – Ta estudando de novo sozinha numa sala?
-Não estou sozinha! Baro esta aqui! – e apontei para o lado. Baro era um amigo que me ajudava muito quando eu precisava estudar, que muitos diziam ser imaginário, ou coisa do tipo... Nunca entendi muito bem o que eles queriam dizer com isso. 
-Baro, Baro, Baro... É só desse seu amigo imaginário que escuto falar! – Ela revirou os olhos – Você deveria procurar um professor de verdade!
-Mas ele é de verdade... Ele esta bem a... Ele estava bem aqui... Onde ele foi parar dessa vez? – Procurei em volta, mas ele havia sumido como sempre fazia quando alguém se aproximava.
Baro era um garoto muito tímido, era a única conclusão que eu conseguia chegar.
-É, okay Carol, ele estava bem aqui, mas sumiu de novo, como SEMPRE! – Julia disse indo ate mim e segurando minha mão. – Vamos embora, acho que você já estudou demais por hoje e voltou a vê-lo de novo.
-Mas ele não terminou de me explicar essa questão! – Apontei pro quadro.
-Você é muito inteligente, não sei como consegue ser tão pateta de acreditar que seu amigo imaginário vai te ajudar!
-ELE NÃO É IMAGINARIO!!!
-Okay, ele não é... Mas já são 7h e eu não vou pra casa hoje, você vai ter que ir sozinha! – Julia comentou me fazendo olhá-la assustada. Ela me olhou de com cara de poucos amigos, me fazendo lembrar que hoje ela iria para a casa do pai!
Julia era minha vizinha e sempre íamos pra casa de metro juntas, mas quando ela ia visitar o pai, duas vezes por mês, tínhamos de pegar caminhos diferentes.
Saímos da sala meio cabisbaixas, não era a mesma coisa ir para casa sem Julia do meu lado... As pessoas do metro são muito estranhas... Seguimos ate o portão da frente do colégio, onde nos despedimos e cada uma foi para um lado.
Olhei a hora e tive que correr, estava quase na hora do metro passar! E eu não estava a fim de esperar o próximo, sabe-se lá que horas que passaria...
Assim que entrei correndo no metro, que estava lotado, diferente dos outros dias que pegamos mais cedo e podíamos nos sentar dessa vez tive que ficar de pé.
Assim que achei um lugar pra me segurar coloquei meus fones de ouvido, e ao sentir que os vagões começaram a se mexer olhei em volta, procurando por algum rosto familiar ou coisa assim.
Direita... Pessoas estranhas...
Esquerda... Mais pessoas estranhas...
Fechei meus olhos mais uma vez e me concentrei na minha musica, ate chegar a minha estação. Posso ate dizer que algumas pessoas pensariam que eu estava dormindo de pé, se não fosse por minha boca involuntariamente se mexer cantando alguns trechos de algumas das musicas que ouvi.
Sai rapidamente do metro, sem tirar os fones no ouvido. Tentando evitar qualquer pensamento negativo por estar escuro e eu não conseguir avistar ninguém na rua. Coloquei as mãos no bolso, respirei fundo e segui andando, cabisbaixa.
Aquela rua já tinha me dado más lembranças... Se não fosse pelo Baro, sabe-se lá o que teria acontecido...

*flashback*

-Hey garotas... – Uma voz masculina se propagou do canto mais sombrio da rua, onde a luz do poste estava queimada.
Eu e Julia nos olhamos rapidamente, segurei sua mão e pude ver em seus olhos a mesma idéia que a minha: Correr. Mas quando notamos já era tarde demais... Da mesma direção que a vós veio segundos atrás, um cara alto saiu das sombras. Apertei um pouco meus olhos para tentar identificá-lo, sem muito sucesso.
-O que duas belas garotas fazem sozinhas... A essa hora da noite, na rua? – ele perguntou, com um ar tentando se passar por um nobre.
-V-voltando da escola – Julia disse meio gaga, me fazendo apertar sua mão.
-Só estamos... Estamos de passagem! – disse puxando Julia.
-Tsc Tsc Tsc... Não tão rápido! – ele pôs o braço em minha frente, bloqueando-me.
-Algum problema? – Pude ouvir uma voz família vindo da esquina!
-BARO!!! – Gritei comigo mesma assim que ele entrou no meu campo de visão.
-Do que você esta falando garota? - o estranho homem me olhou assustado. Julia havia perdido a fala, e eu estendi a mão, apertando a mão de Baro, que olhou com cara de poucos amigos para aquele homem. 
-Vamos logo! – Disse Baro me puxando, o homem me olhou assustado, e olhou para Julia, que estava mais assustado que ele... 
Assim que nos distanciamos daquele homem estranho, Julia que não parava de me encarar, cada vez mais assustada, por ver um sorriso em meu rosto enquanto balançava minha mão, de mãos dadas a Baro.
-O que você bebeu? – Julia se manifestou.
-Nada! – olhei assustada – Baro esta aqui pra nos proteger, né?! – Então escorei minha cabeça em seu ombro, e continuamos andando ate em casa.
Passamos pela casa de Julia primeiro, que fazia questão de que eu ligasse para que meu pai fosse me buscar, mas eu neguei. Baro não deixaria nenhum homem estranho me tocar.
Segui ate em casa, onde me despedi de Baro, que seguiu caminhando, com aquele sorriso que fazia meu coração derreter.
-Te vejo amanha! – Acenei ao vê-lo partir, e entrei em casa.

*end flashback*

Comecei a andar, mas assim que avistei uma parte mais escura, com o mesmo poste de luz queimado mais a frente, parei. Respirei fundo e desejei que Baro aparecesse, como sempre fazia quando eu estava sozinha. Era incrível como sempre nos esbarrávamos. Olhei para os lados, nada dele... Segui em frente. Cabeça baixa e volume no máximo.
Assim que cheguei em casa, olhei em volta, fiz uma careta. Ele não apareceu.