Capítulo 1: A Chegada

Lílian Evans chorava enquanto ultrapassava a plataforma nove e meia. Sua irmã a magoara profundamente chamando-a de “anormal” e as lágrimas transbordavam no dia em que os sorrisos deveriam brotar.

Rapidamente entrou no Expresso de Hogwarts e encontrou a esmo um vagão qualquer. Nele estavam quatro meninos alegres, conversando entre si. Sua chegada despertou-os e todos trocaram olhares entre si ao verem-na.

Lily sentou-se perto da janela e pôs-se a olhar para a paisagem que agora voava lá fora. Secou as lágrimas com as costas das mãos, mas sabia que os vestígios que elas deixaram demorariam alguns instantes para sumir. Encolheu-se mais e colou seu rosto contra a vidraça, tentando fazer as imagens de duas meninas unidas sumirem de sua cabeça. E foi nesse instante que a única pessoa que conhecia naquele mundo entrou, só não sabia se queria vê-lo, depois da reação de Petúnia.

- Não quero falar com você. - disse-lhe.

- Por que não? - Snape a perguntou, sentando-se defronte a ela.

- Túnia me odeia. Porque vimos aquela carta de Dumbledore.

- E daí? - Lílian lhe lançou um olhar indignado. “E daí?”

- E daí que ela é minha irmã! - exclamou e mentalmente virou os olhos.

Algumas lágrimas a mais escorreram, e a garota tentou secá-las discretamente, portanto não ouviu as primeiras palavras de Severo, pegando só a parte em que ele exclamava: - Mas nós vamos! Isso é o que conta, estamos viajando para Hogwarts.

Mesmo contra sua vontade, um meio sorriso espalhou-se pelo rosto de Lílian. Instantaneamente, Snape se animou por vê-la mais alegre.

- É melhor você entrar para a Sonserina. - ele falou.

- Sonserina? - um garoto de cabelos negros rebeldes e de olhos da mesma cor interrompeu a conversa dos dois. Lily o achou lindo e teve certeza que seu rosto corou, mas não teve tempo para lhe perguntar o espanto com o nome de umas das Casas.

- Quem quer ir para a Sonserina? Acho que desistiria da escola, você não? - o menino de onze anos se referiu a um que estava do seu lado, também muito bonito de cabelos pretos e ondulados, com olhos azuis acinzentados.

- Toda a minha família foi da Sonserina. - o garoto respondeu simplesmente e, como Lílian percebeu, tentando reprimir um suspiro.

- Caramba, e eu pensando que você era legal! - exclamou o de cabelos revoltos e sem dúvida alguma, o mais bonito do grupo. Seu colega riu.

- Talvez eu quebre a tradição. Para qual você iria se pudesse escolher? - perguntou-lhe o mesmo de família sonserina.

O menino fez gestos de quem portava uma espada.

- “Grifinória, a morada dos destemidos” como meu pai.

Snape que estivera até então em silêncio, murmurou alguma coisa inaudível, reprovando-os. O mesmo que fingiu brandir a espada virou-se para ele.

- Algum problema? - perguntou.

- Não. - Severo sorriu debochadamente. - Se você prefere ter mais músculo do que cérebro...

- E para onde está esperando ir, uma vez que não tem nenhum dos dois? - perguntou os de olhos acinzentados.

O garoto que havia falado primeiro riu; uma risada que encantou Lily. Sentia vontade de rir junto com ele e seu rosto ficou da cor de seus cabelos acaju. Remexeu-se desconfortavelmente e tentou expulsar aquilo de si, os meninos estavam implicando com seu único amigo, e a menina não podia deixá-los fazerem isso.

- Vamos, Severo, vamos para outro compartimento. - sua voz foi ouvida pela primeira vez pelos outros garotos, e os de olhos negros se encantou com o som, mas ele e outro zombaram de seu tom superior.

Severo e Lílian se levantaram e saíram do compartimento, Severo quase caiu e a voz do mais metido elevou-se enquanto passavam pelos outros gabinetes já lotados:

- A gente se vê, Ranhoso.

Snape xingou-o e Lily fingiu não ouvir sua reclamação, ao invés disso, simplesmente falou:

- Vamos, não ligue. São apenas alguns idiotas, e daremos um jeito neles quando o ano letivo começar.

Ela sorriu e ele espelhou um sorriso amargo e condescendente. Pelo menos, tinha-a como amiga e não precisava daqueles garotos. Snape só esperava que Lílian fosse para a Sonserina com ele.

***

Os alunos do primeiro ano seguiram de barco até Hogwarts, sendo guiados por um homem alto, forte e simpático, que se apresentou como Rúbio Hagrid. Depois de alguns muitos minutos na água, avistaram o pomposo colégio, que agora era seu lar.

Lílian encantou-se vendo cada detalhe, desde os quadros que se moviam aos fantasmas, enquanto seguia em fila com a professora McGonagall para o refeitório. Quando entraram, os olhos de todos brilharam observando quatro mesas espalhadas, sem nenhuma comida em cima, a mesa longa dos professores e o esplendoroso céu azul desprovido de nuvens estendendo-se sobre eles.

Também notaram em um chapéu encardido em cima de um pequeno banquinho ao centro. Os alunos que já tinham suas Casas definidas sentaram-se em suas mesas e assistiram atentamente a canção do Chapéu Seletor.

Quando a música acabou, os alunos do primeiro ano foram sendo chamados para sentarem-se no banco e o colocarem na cabeça.

Alguns alunos desconhecidos foram chamados, até que Lílian viu o menino do vagão do trem - os de cabelos ondulados - avançando, a voz da professora.

- Black, Sirius.

O Chapéu levou poucos segundos antes de gritar um sonoro:

- GRIFINÓRIA!

E essa mesa comemorou, recebendo o mais novo integrante e o cumprimentando. Lily viu que o seu colega sorriu para Sirius, um sorriso de expectativa, já que esperava que fosse para a mesma Casa.

Mais alguns se passaram até que seu nome foi anunciado:

- Evans, Lílian.

Aos tropeços foi em direção ao Chapéu e o colocou na cabeça, que escorregou e quase lhe tapou totalmente o rosto.

- Hum... Bravura, inteligência e bondade são suas principais qualidades. - a voz ressoou em sua mente. - Sendo desse jeito, não há como colocá-la em outra Casa que não seja...

- GRIFINÓRIA!

A menina o tirou e ao passar para ir a sua mesa, deu um sorriso triste para Severo. Talvez ele fosse para a mesma Casa...

Sirius abriu espaço ao seu lado na mesa, ela sentou-se ali, mas o deu às costas, vendo mais alunos serem classificados.

- Potter, James.

O outro garoto que conhecera avançou e o Chapéu gritou Grifinória. A mesma coisa para os outros dois que estavam no compartimento, mas que não tinham falado nada: Pedro Pettigrew e Remo Lupin.

James fez questão de sentar-se ao lado de Lílian, esbarrando-se nela ao escorregar entre a mesma e Sirius. Os outros dois sentaram-se de frente à Potter e Black.

Estavam se aproximando agora...

- Snape, Severo.

Instantaneamente, o Chapéu gritou “Sonserina” e Potter fez alguma piada de mau gosto. A única palavra que Lily captou foi “Ranhoso”. A cada minuto, passava a desgostar ainda mais daquele garoto metido.

Snape também recebeu as boas vindas, e uma vez todos selecionados para suas devidas mesas, a comida apareceu magicamente. Todos começaram a comer.

- E aí, ruivinha? - perguntou Sirius.

Lílian o fuzilou com o olhar e não respondeu, fingindo estar concentrada em reconhecer alguns dos pratos.

- Ei, é Lílian, não? - perguntou James.

Ela assentiu e começou a se servir de carne e suco de abóbora gelado.

- Somos... - já iam se apresentando.

- Sei quem são vocês. - ela se irritou. - Ouvi o Chapéu Seletor.

Lily sabia que estava sendo mal educada, mas não conseguia evitar, uma vez que eles destrataram Snape. Olhou para os outros dois que ainda estavam em silêncio e murmurou um pedido de desculpas para ambos, não incluindo nem Black e nem Potter.

- Ah, acho que ela está brava por causa do Ranhoso, James. - riu-se Sirius.

James bufou e tentou encarar a menina, que desviava o olhar para seu prato.

- Ei, não fica assim por ele. O Ranhoso foi para a Sonserina! Como se houvesse insulto pior! - ele falou para ela.

Lílian não queria conversar, mas tinha vontade de saber o porquê de a Sonserina ser considerada uma Casa não muito boa.

- Por que falam desse jeito com os alunos da Sonserina? - ela perguntou franzindo a tez.

- Oh, ela falou! - zombou Black.

- Falamos assim da Sonserina, porque é a Casa que tem o maior número de bruxos das Trevas, e também porque foi à Casa de Voldemort. - e acrescentou: - Desculpe, Sirius...

- Sem problemas. Não aprovo as escolhas que meus pais fizeram. Aposto que meu irmão também vai para aquela Casa e que vou ser retirado do testamento! - ele riu.

- De quem? - Lílian perguntou, ainda pensando no bruxo que James citara.

- Voldemort, ele está em ascensão agora... Aos poucos cresce mais. É um bruxo poderoso que pratica a Magia das Trevas, para matar pessoas e se prover do que deseja. - disse Sirius.

Os olhos verdes da garota correram o local, até encontrarem os de Snape, que olhava fixamente para ela. Lily tremeu só de imaginar Severo naquela Casa...

Potter seguiu seu olhar e deu um aperto na mão da menina, fazendo-a voltar-se para seus olhos negros e puxando a mão rapidamente. Seu rosto corou e ela desviou o olhar.

- Já dissemos para não ligar pro Ranhoso, ali. - disse o garoto também desconcertado.

- Olho para onde eu quiser, Potter. - ela replicou. - E não deviam julgá-lo prematuramente, não o conhecem...

- Mas o Chapéu leu a alma dele, e se o classificou na Sonserina... É porque boa coisa ele não deve ser. - falou Sirius.

- Vocês são uns idiotas! Nem todos naquela Casa devem ser do jeito que vocês estão falando. - ela revirou seus belos olhos claros e Potter se surpreendeu querendo encará-la só por causa daqueles olhos.

Mas não teve tempo, a menina se levantou e foi para o oposto da mesa, sentando-se ao lado de Alice Satarr, com quem começou a conversar alegremente, junto de Marlene McKinnon.

- É, a garota tende a acreditar no melhor das pessoas. - Sirius suspirou e se voltou para a própria comida.

 Mas James ainda a observava e um pequeno sorriso brotava em seu rosto.

- Gosto dela. - falou.

Sirius riu.

- Meu Deus, Potter. Ela não é a única menina daqui, olhe a sua volta.

- Não. - James também riu. - E anote o que digo: até o sétimo ano, ela será minha. A mulher de minha vida.

- Arrã. - Sirius debochou. - Acho que é mais fácil você namorar com aquela lula gigante daquele lago.

James o ignorou: - Você verá. - foi só o que repetiu e mexeu nos cabelos quando Lílian o olhou.

***

Mais tarde naquela noite, Lílian - em seu dormitório - já esquecia um pouco da irmã, que em outrora foi sua melhor amiga. Doía pensar nela como somente mais uma parenta sem afinidade, mas teria que se conformar. Eram diferentes agora, e Petúnia jamais aceitaria essa diferença.

E também pensava no garoto Potter. Em como ele era irritante e... Lindo, desarrumando aqueles cabelos negros e lisos já revoltos.

Adormeceu com essa imagem.