Remo estava em cima da mesa, olhando os jardins pela janela com uma expressão preocupada, porque afinal, apesar da sala ter as paredes cobertas por espelhos, tinha uma janelona também. Gil foi até ele e ficou encarando a paisagem também.
            - Ta com saudade dos seus amigos, não é, minhoca? – ele perguntou.
            - É... – Remo respondeu.
            - Você tem sorte de ter alguém lá fora procurando por você. – disse Gil.
            - Eles não vão me procurar. Eles têm medo do Filch.
            - Estela, algum movimento? – Gil perguntou se virando para a garota, que espiava o corredor pela fresta da porta.
            - Tomou uns quatro cafezinhos, não deve demorar. – ela respondeu.
            - Continua de olho.
Remo parou de encarar os jardins e olhou pra Gil, com aquela cicatriz bizarra na cara. Gil se virou pra Remo pra ver o que ele estava olhando e Remo se virou pro outro lado na maior cara de pau.
            - Na minha primeira fuga, a gata ensebada pulou na minha cara. – ele explicou entendendo o que o outro estava olhando. – eu quase fui pra sala do diretor.
            - Pra sala do diretor?
            - A sala do diretor dá no outro corredor, Minhoca... – Gil explicou.
            - Nossa.
Os dois ficaram em silêncio vendo o movimento (ou a falta de movimento) no lago.
            - Quantas vezes você tentou fugir?  -Remo perguntou finamente.
            - Baah, eu perdi a conta. Acho que detenção não é lugar de aluno...faz mal pra cabeça. – ele disse olhando para Bolhas, que soltava mais bolhas de sabão com a varinha e saia estourando todas elas desesperadamente depois.
            - Ele terminou, ele terminou, temos quatro minutos e vinte segundos! – Estela disse de repente, Filch estava indo para o banheiro e era a chance deles de invadir a sua sala.
            - É a sua deixa, Minhoca! – disse Gil pegando Remo na mão e correndo até a porta.

            - Você consegue guri – encorajou Bolota.

Todos se esgueiraram pelos corredores até chegar na sala do Filch, cheia de correntes penduradas na parede e uma escrivaninha com gavetas. Eles foram até uma gaveta com tranca e levantaram Remo até uma frestinha.

            - Tem que ser depressa. Assim que você entrar, você vai até a tranca e eu guio você até o fim.

            - Ta bem. – concordou Remo.

            - Vai lá, vai ser moleza... – Gil disse. Remo pulou da mão de Gil para o puxador da gaveta, se apoiou na fresta e, com um só impulso entrou na gaveta.

            - Muito bem! Dá pra me ouvir? – disse Gil do lado de fora.

            - Dá! – respondeu Remo de dentro da gaveta.

            - Aí vai um grampo pra ajudar! – Gil disse pegando um grampo do bolso e enfiando pela mesma fresta que Remo usou. – agora...tá vendo aí uma fechadura?

            - Aham.

            - Com cuidado, você tenta destrancar isso aí com o grampo.

Remo tentou, mas o grampo ao se mexia, e acabou servindo de catapulta que lançou a criatura minúscula para o outro lado da gaveta.

            - Devagar, devagar! Cuidado, Minhoca! – disse Gil.

            - Não vou conseguir! – disse Remo.

            - Gil, não é uma boa idéia. – advertiu Estela.

            - Ele vai ficar bem...Minhoca, tenta outra vez!

Remo puxou o grampo com força e conseguiu tirar de lá. Depois tentou de novo, mais devagar, girou e abriu a gaveta.

            - Consegui!

Os outros do lado de fora suspiraram de alívio.

            - Tá legal, Guri, agora a gente vai abrir e tirar você daí... – Gil disse abrindo a gaveta.

Até parecia que ia dar certo...

            - O Filch ta vindo! – exclamou Bolhas apurando os ouvidos.

No susto, Gil acabou empurrando a gaveta com Remo saindo dela, que, coitado, no final ficou preso com a cabeça e o tronco pra fora e o resto do corpo pra dentro.

            - Gil!

            - Ai, não... - Bolota disse.

            - Tira ele de lá! Tira ele de lá! – falou Bolhas apressado.

Gil esticou o indicador para Remo segurar.

            - Não se apavora, Minhoca! Segura aí!

Remo abraçou o dedo de Gil, e Gil puxou o braço pra trás. Ele desentalou, mas Filch estava quase na porta de sua sala. Se não fosse por um aluno do primeiro ano berrando no corredor, o grupo estaria perdido.

Gil pegou Remo e os seis se esgueiraram pelo corredor, Filch, distraído de costas, nem notou, e eles voltaram correndo para a sala onde esperavam pela detenção.

            - Gil...não faz ele voltar pra lá... – disse Estela arfando.

            - Não... já era. – respondeu Gil triste.