Invertido escrita por SleepySeven


Capítulo 1
Capítulo único




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Aquela, para o albino, foi a tarde mais agitada que teve em muitos anos.

Claro, desde sua "aposentadoria", as coisas deixaram de ser como antes: seus dias de guerreiro e de estrategista militar havia muito foram esquecidos, e agora vivia uma vida que poderia ser considerada "bem pacata".

Acordava cedo (coisa que já era hábito, mas, além do mais, não poderia acordar tarde nem que quisesse — seu irmão não deixaria), procurava por algo que o distraísse pelo resto do dia e voltava para casa ao final da tarde.

E foi exatamente o que fez naquela segunda-feira, não fosse um pequeno incidente que fez Prússia corar até o último fio de cabelo de sua cabeleira grisalha (mesmo sob a condição de albino).

Quando chegou em casa, deparou-se com Alemanha em uma posição muito propícia para uma de suas já famigeradas brincadeiras. Ele estava abaixado procurando alguma coisa e nem deu por sua presença. Era assim, em dias de faxina — estava tão ocupado arrumando a casa que não se preocupava com mais nada.

Gilbert, com muito custo, prendeu uma risada e se aproximou do irmão, de pontas de pé.

Espalmou uma das mãos, mirou bem e "plaft!".

A essas alturas, o mais velho já estava em posição de defesa, esperando que viessem os berros e sermões, mas, na verdade, o que ouviu foi um gritinho fino e aborrecido.

— Prússia! Quantas vezes já não disse para parar com esse tipo de brincadeira imbecil! — berrou, ficando de pé e mirando-o com olhos azuis cheios de reprovação.

Definitivamente, eram os olhos azuis de seu irmão, mas "aquele" não era seu irmão.

— De-desculpa, moça! — gaguejou Prússia. — Pensei que fosse outra pessoa, não imaginaria que encontraria uma visita aqui.

Estava nervoso demais para raciocinar com alguma lógica: não tinha o costume de conviver com mulheres. O mais próximo que chegara disso foi com a amizade de uma certa mulher-macho que ele conhecia, mas, essa, ele desconsiderava.

A loira parou de desferir lamúrias e encarou o albino com um olhar meio confuso, meio surpreso.

— Afinal... — ponderou Prússia, bastante vermelho e ainda sem saber como reagir. —... quem é você? É conhecida do meu irmão?

A garota então franziu as sobrancelhas, assumindo uma expressão que Prússia diria ser "muito engraçadinha", quem sabe até "meio fofa", em outra ocasião.

— Essa é outra de suas brincadeiras ou você andou bebendo hoje?

Ele pensou por um momento. Seria mais fácil se explicar se houvesse bebido, mas nem uma gota de álcool havia pousado em sua boca naquele dia ("Ainda", porque reconsiderou a possibilidade de sair pra beber, dependendo do resultado daquela conversa.)

— Na verdade, eu esperava encontrar o meu irmão aqui. Um cara alto, loiro, meio bombado. Viu ele por aí?

— Você está se sentindo bem? — A expressão dela se transformou em uma de preocupação. — Eu sou a sua única irmã, lembra?

O mais velho esbugalhou os olhos, começando a desesperar-se.

Westen! Já entendi: achou um pouco de senso de humor e resolveu me dar o troco. Você me pegou mesmo, agora saia de onde estiver, Westen!

"Mas, meu irmão, do que você está falando? Eu estou bem aqui..." tentou dizer a outra, que agora pensava seriamente em chamar um médico.

Enquanto tentava arrumar alguma maneira de parar o provável surto psicótico de seu irmão, ouviu um toc, toc, toc incessante de batidas na porta.

— Alemanha! Alemaaanhaaa! Abre pra mim, eu sei que você tá aí dentro! — Ouviu. — Eu trouxe um presente pra você, me deixa entrar!

"Itália". Que ótima hora pra chegar.

A loira pensou em não abrir a porta, mas, com o barulho que Prússia fazia lá dentro, não seria tão fácil assim, mesmo que Itália não fosse lá muito inteligente.

E provavelmente ela passaria o dia inteiro de pé do lado de fora, esperando, de uma forma ou de outra.

Mal havia terminado de girar a maçaneta, foi atingida com uma torrente de palavras que, junto com os berros de Prússia, tornavam-se incompreensíveis.

— Vocês dois! Parem já, ou juro que ponho os dois pra fora nesse exato momento! — gritou Alemanha.

Os dois pararam com a algazarra no mesmo instante, e pareciam até meio assustados.

— Melhor assim — suspirou Alemanha.

Antes que Itália pudesse abrir o berreiro com mil pedidos de desculpa, Prússia, que não acreditava em seus próprios olhos, tomou a frente:

— Itália. O que houve com você?! — falou ele. — Isso aí são... peitos?

—... São pequenos se comparar com os da Alemanha, mas são peitos, sim... — A italiana apertou mais os olhos, com um pouco de desagrado.

— Ei, vocês dois! Minha casa não é lugar pra esse tipo de conversa! — A loira corou um pouco, mas os outros dois não sabiam se era de embaraço ou de raiva.

Prússia, porém, ainda não estava conformado. Aquela também era bem parecida com o italiano que lhe era tão conhecido, até de rosto, contudo, seus cabelos castanhos eram maiores, presos num rabo-de-cavalo, e suas feições mais delicadas, além do corpo indiscutivelmente feminino.

— O que vocês duas fizeram com o verdadeiro Itália e o verdadeiro Alemanha?! Respondam. Vamos logo, digam! — Ele agora havia se munido com uma vassoura que Alemanha antes estava usando para a limpeza da casa, apontado-a para as duas em uma posição que poderia ser descrita como de ataque.

— Meu irmão, quantas vezes vou ter que dizer, eu...

Itália a cutucou com o cotovelo, antes que pudesse terminar a frase.

— O que é?

—... O que deu no Prússia? — cochichou ela. — Sempre soube que ele era meio piradinho, mas agora ele tá brincando, não tá?

A loira abriu a boca pra falar, mas não encontrou nada plausível para ser dito.

— É. Deve ser uma brincadeira — suspirou.

Itália coçou a cabeça, um pouco confusa. Soltou por fim um "Ah!", como quem se lembrava de algo.

— Eu vim trazer uma surpresa! Adivinha o que é.

A garota tinha uma bandeja de bolinhos, que até agora não tinha sido percebida, nas mãos.

— Ah... er... Acho que vocês já sabem o que é... Fiz com todo o amor.

A garota sorriu e estendeu a bandeja, oferecendo o doce.

Nessa hora, os olhos da loira chegaram a brilhar. Alemanha gostava bastante de doces, e sua amiga cozinhava realmente, realmente bem, mas não podia aceitar.

— Itália. É a última vez que vou falar a mesma coisa pra você — ralhou. — Eu. Estou. De. Dieta.

— Aaah, qual é? Só unzinho não vai fazer mal! — Ela sorriu, colocando a bandeja bem próxima ao rosto de Alemanha. — Eu fiz pensando em você...

—Não vou querer.

— Aposto que o Prússia vai comer pelo menos um. — Ela então se aproximou do albino, empurrando-lhe um dos bolinhos nas mãos. — Não é?

Ele, ainda meio temeroso, pegou um. Mulher ou não mulher, Itália tinha os olhos doces e bondosos de quem jamais faria mal a uma mosca.

Deu uma mordida e, não sentindo nenhum gosto estranho, empolgou-se.

— Efes esfão mesfo unfa delífia — disse Prússia, levando logo em seguida um cascudo de Alemanha por falar de boca cheia.

— Obrigada! Sabia que você ia gostar. Quer dizer... alguns caíram no chão no meio do caminho, mas...

Por impulso, Prússia cuspiu a porção de bolinho que tinha na boca.

— E você colocou de volta na bandeja?! — berraram os irmãos em uníssono.

— Desculpa, não achei que fosse fazer mal... — ela deu uma risadinha para disfarçar o embaraço.

A loira então começou a passar um sermão sobre o que a falta de cautela da menor poderia ter causado. A italiana baixou as vistas, murmurando palavras indiscerníveis.

Quando a alemã terminou, Itália, meio sem-graça, tinha os olhos cheios d'água.

— Alemanha, você continua gostando de mim, não continua?

— Ei, não precisa ficar assim. E de novo com isso? Tão de repente... — Alemanha franziu o cenho. — Aliás, quantas vezes eu já respondi a mesma pergunta?

— O quê que custa? Ou você não gosta mais de mim? — retrucou, com voz chorosa.

— Bem, eu... — Ela começou a corar um pouco. — Você sabe, eu...

— O que, capitã?

— Eu não tenho nada contra você, sabe... — Vendo a expressão frustrada da menina, suspirou e continuou: — Eu... gosto... de você. Satisfeita?

— Que bom! Já estava ficando preocupada, pensando que você parou de gostar de mim, afinal, você é minha melhor amiga! — E pendurou-se nos ombros da mais alta, num abraço.

Prússia, olhando de longe, pegou-se começando a apreciar a situação. Aquela Itália e aquela Alemanha eram realmente encantadoras, e a cena era deveras agradável.

Talvez não fosse tão ruim, no final das contas.

— Ah! Prússia! — chamou a menor, dando-se conta novamente da presença do alemão. — Desculpa pelos bolinhos, acho que tenho um jeito de recompensar pelo desastre que fiz.

—... Tem, é? O que seria?

Itália não pensou duas vezes, e pegou a mão de Prússia, sentando-o no sofá da sala.

— Você tá meio tenso. Me ensinaram a fazer uma massagem que vai dar jeito nisso rapidinho.

— Massa-...? — Ele foi interrompido pelas mãos italianas que pousaram como um encantamento em seus ombros. Ah! Que mãozinhas de fada! — Ei, você é mesmo muito boa nisso~!

— Tá vendo? Também sei fazer alguma coisa de útil, ehe.

— Mas está fazendo errado.

Os três pares de olhos presentes na sala viraram para o ponto de onde vinha a nova e reprovadora voz.

— Áustria, achei que você já tivesse ido pra casa — suspirou Alemanha, se referindo à garota que, trajada com um delicado vestido violeta, descia as escadas.

"Eu já devia estar esperando por isso..." — pensou o albino.

— Bem indelicado de sua parte esquecer-se de que tem visitas em casa.

— Que seja, que seja — murmurou a loira. — Agora que está tudo mais calmo, vou voltar a fazer o que tinha que fazer. Fique fazendo companhia a esses dois, que vou te dar uma carona daqui a pouco.

— Obrigada, finalmente um pouco de educação. — A austríaca não viu, mas Alemanha lhe lançava um olhar emburrado. — Como estava dizendo, essa é a forma errada de fazer. Se quiser fazer com que sua massagem tire a tensão com mais eficácia, você deveria usar música.

— Então nos mostre como fazer, senhorita Áustria — a italiana pediu.

Com um sorriso satisfeito e uma expressão de falso aborrecimento, ela sentou-se ao piano presente em um dos cantos da sala.

— Vou mostrar, mas não pense que vou fazer isso todas as vezes que você me pedir.

— Obrigada, senhorita Áustria!

E então a morena de cabelos longos começou uma melodia relaxante no piano, executando-a com perfeição, como sempre fazia. Era seu talento nato.

Com os olhos quase se fechando de sono (é claro, com aquela música e aquelas mãozinhas pequeninas afagando-lhe os ombros, não podia sentir nada além de um sono relaxante e uma imensa alegria), Prússia mirou as costas delgadas de Áustria. Com aquela carinha bonitinha que tinha a menina, podia aguentar o tanto de desaforos que tivesse de aguentar, mesmo que soubesse que, de uma forma ou de outra, era a alma do riquinho metido no corpo de uma mulher.

"Ah, isso que é vida... Posso me acostumar com isso." — refletiu ele, em pensamentos, agora olhando sua "nova irmãzinha" atravessando a sala com esfregões. Ela era até bem lindinha, para dizer a verdade.

Quando finalmente dormiu, a campainha da porta o acordou.

— Vou já! Um minuto! — berrou Alemanha, com um molho de chaves na mão. Nesse momento, pensou que as pessoas resolveram tirar o dia para perturbá-la.

Quem quer que fosse, Prússia já nem se incomodava mais. Até riu. Só faltava ser "a" Suíça ou algo parecido.

No entanto, as surpresas não haviam terminado ainda.

— Vejo que as moças estão te tratando muito bem, hein, garanhão.

Mais uma vez o albino arregalou os olhos.

Hungria. Hungria alto, forte e... mais do que nunca, macho.

Hungria, com seus olhos verdes, com seu cabelo castanho e com sua florzinha enfeitando a cabeça. E com um metro e oitenta e poucos de altura.

A italiana começou a dar risadinhas divertidas.

Viu-o cumprimentar Áustria com beijo delicado nas mãos. Ela enrubesceu e cumprimentou-lhe de volta, se afastando logo em seguida.

— Acho que está na hora de deixar os pombinhos a sós! — exclamou Itália.

Prússia engoliu em seco. "Pombinhos"? O que queria dizer com aquilo?

Itália arrastou Alemanha, que parecia um pouco relutante, pela mão. O que, por Deus, estavam planejando?

— Vamos logo, lembrei que tem um restaurante muito bom perto da minha casa. Áustria, vamos lá também. — Prússia teve tempo de vê-la dar uma piscada para as duas.

— Está bem... — murmurou a austríaca.

— Tenham juízo e não façam nada que eu não faria. Comportem-se. — alertou Alemanha, em dúvida sobre deixar os dois sozinhos ou não.

— Não se preocupe, seremos bons garotos. Bem, divirtam-se, meninas! — despediu-se Hungria, vendo as três saírem. Minha nossa, até voz grossa ele tinha.

— Ei, o que diabos está...?

Hungria o calou com um beijo rápido nos lábios.

— Como é que...?

— Ah~! Já estava sentindo falta do meu namoradinho! Faz tanto tempo que não te vejo. — O húngaro pulou sobre o corpo de Prússia, deitando-se com ele no sofá. — Hoje a gente vai poder ficar juntinho.

— Juntinhos? Tá pensando o quê, hein?! Não tem conversa nenhuma dessa de ficar "juntinhos"!

O moreno arqueou as sobrancelhas, ficando sério por um momento.

— Se ficar se comportando mal, vai ser da pior forma. — Prússia sentiu a mão do maior passar por debaixo de sua camisa.

— Ah! Já chega dessa palhaçada! — gritou ele, furioso.

E então fechou o notebook que tinha em suas mãos.

— Qual é, mon petit? Agora que estava ficando interessante...

— Interessante uma ova! Quem em sã consciência escreveria um troço desses?! Essa gente tá ficando cada vez mais demente. E esse aí nem se parece comigo.

— Eu achei bem parecido — riu o francês.

— Ha, ha, ha. Muito engraçado. E, além de tudo, o Incrível Eu jamais seria o passivo da situação!

— Mas seria tão adorável. Eu mesmo iria querer que você...

— Ah, calado, França! — berrou o albino.

França era um cara legal. Prússia gostava de ter sua amizade porque ele sabia como se divertir (apesar de ser obrigado a fugir dos assédios do amigo sempre que estava em sua companhia).

Naquele dia, ele chegou sorridente em sua casa, dizendo que achara "uma coisa bem divertida". Quando foi indagado sobre o que era, não quis responder, disse que logo veria.

Tirou o notebook de uma bolsa e ligou-o. Parece que tinha uns conteúdos bem curiosos ali, pelo que entendeu.

Abriu os arquivos e mostrou-lhe algo que era moda entre alguns usuários da Internet: as fanfics.

Era, de certa forma, bem engraçado, mas extremamente doentio em alguns casos.

— Só me diga uma coisa: onde foi que você arranjou isso aí, hein?

O francês se calou por um momento.

— Bem... Digamos que... você vai descobrir.

Nesse momento, como que as deixas tivessem sido previamente combinadas, a campainha começou a tocar, e tocar, e tocar. Logo, a pessoa que estava do lado de fora começou a bater com fúria na porta. Prússia teve medo de que ela não fosse resistir.

"França! Prússia! Sei que vocês estão aí dentro! Abram logo, ou as consequências serão piores para os dois!"

Prússia encarou França com uma expressão que era mista de "Filhadamãe, você fez mesmo o que eu tô pensando que fez?" e de "Nos ferramos".

O albino levantou, temeroso, e abriu a porta, dando de cara com olhos verdes enfurecidos e uma frigideira de metal pronta para acertá-lo.

— Eu sei o que vocês fizeram e não adianta negar! Foram vocês que roubaram meu notebook, não foram?! Devolvam-no. Imediatamente.

França deu um sorrisinho maroto para Prússia.

—... É todo seu. — disse ele.

Hungria, impetuosa, recolheu o aparelho, ainda apontando a frigideira para um e para outro.

— Não vou perdoar da próxima vez. Nenhum dos dois — ameaçou. — Aliás, vocês não viram o que tinha dentro, viram?

Os dois abanaram a cabeça, em negação.

A morena refletiu um pouco antes de virar as costas, mas terminou soltando um "Está bem" e deixando o acontecido pra lá.

— Não vimos nada de saudável, isso sim. Quem diria a valentona gostava de umas coisas tão pervertidas, hein? Kesesese~!

— Mas eu até que entendo. Esse tipo de coisa é bem saudável para uma moça jovem.

Desavisados da espetacular audição da húngara, nenhum dos dois teve tempo de desviar dos golpes iminentes da panela de metal.

E foi dessa forma que terminou a segunda-feira de um certo alemão e de um certo francês. Eles aprenderam as valiosas lições de que não se mexe nos objetos de uso pessoal de uma moça e de que não se pode debochar de amantes de Boy's Love sem esperar por represálias.


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Notas finais do capítulo

- Olá, olá o/
- Minha nossa, faz mais de um mês que não posto nada aqui, nem tinha percebido.
- Gosto de alguns animes harém de comédia, daí, quando soube de Nyotalia, pensei em unir o útil ao agradável, e deu no que deu. Espero que tenham gostado o/
- E, com toda certeza, com fujoshi não se mexe! -n
- Reviews?



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