No momento em que Miuga disse isto, a atmosfera antes tão calma e alegre voltou àquela de exatos 15 anos atrás (só agora eles notaram isto), quando Agome abriu mão de sua alma por seu amor à Inuyasha. Era como se uma nuvem negra pairasse sobre eles ao mero pensamento de que Agome sofria. Inuyasha pensou que este era o momento de redenção, em que ele poderia salvá-la e talvez acalmar sua consciência tão abalada desde aquele dia terrível.

__E o que estamos esperando? Vamos agora!-chamou Inuyasha já se levantando.

__Está louco? Quer partir assim se nem ao menos sabemos por aonde ir?-contrariou Miroku.

__Se não sabemos, vamos descobrir! Não fazíamos assim quando íamos procurar os fragmentos da Jóia? -rebateu Inuyasha.

__Senhor Miuga, tem alguma hipótese de onde estas partes possam estar?-perguntou a exterminadora.

__Deve estar em algum objeto ligado a Agome. Mas não sei onde pode estar.

__Será que pode estar na era dela?-perguntou Shippou.

__Pode estar em qualquer lugar... --respondeu Miuga cabisbaixo por não poder oferecer mais nenhuma dica. Ninguém falou por um tempo.

De repente, um tapa quebrou o silêncio. Inuyasha e Shippou olharam diretamente para Miroku, sentado no outro extremo da fogueira.

__O que foi? – perguntou o monge, surpreso pelos olhares dirigidos á ele.

__De onde veio isso? – disse Shippou, olhando em volta.

__Acho que fui eu... – murmurou Megumi.

__Você!? – perguntaram todos ao mesmo tempo.

__É que... Tinha um mosquito enorme na minha perna e eu tentei matá-lo!- respondeu vermelha de vergonha!

Todos riram menos Inuyasha, que sem mais nem menos se levantou e saiu, desaparecendo em seguida. Megumi achou estranho, e decidiu segui-lo. Ninguém notou a sua saída, apenas Shippou, que murmurando uma desculpa esfarrapada, decidiu segui-la.

Megumi foi de encontro a Inuyasha, sem ter certeza de onde estava indo. Se sentia culpada, sem saber ao certo o por que. Continuou andando, sem medo da floresta, já que a lua, tão clara e cheia, iluminava seu caminho.

Chegou até uma árvore enorme, que logo reconheceu como a árvore sagrada que ficava no templo onde morava. Mas não prestou muita atenção á ela, vendo Inuyasha ali, á apenas alguns centímetros da árvore, tocando-a. Ele então se virou para ela, que engoliu em seco de medo do olhar hostil que ele lhe dirigiu. Isso a assustou, porque á poucos minutos o rosto dele parecia mergulhado em dor e pesar.

__ O que está fazendo aqui? – Perguntou Inuyasha, ríspido.

__Eu - eu - gaguejou a menina- não queria te deixar sozinho... Você parece muito triste. -completou docemente.

__Eu não estou triste! Porque não vai embora e me deixa em paz?-gritou o hanyou.
Megumi começou a chorar baixinho. Inuyasha viu. Deu um passo para ir consolá-la quando Shippou apareceu.

__Megumi! O que este idiota fez a você?-perguntou Shippou, logicamente se referindo a Inuyasha.

A menina não respondeu.

__Cale a boca Shippou. -disse Inuyasha - leve esta menina para lá, preciso ficar sozinho por um tempo.

__Você esteve sozinho por quinze anos. Porque não vem ficar com a gente? Vamos pensar onde começar a procurar pelas partes da alma de Agome. -sugeriu Megumi.

Inuyasha encarava a Árvore Sagrada e depois de um minuto de espera, Megumi perguntou:
__Está pensando ou me ignorando?

__Ignorando. - disse Inuyasha sucinto.

Shippou e Megumi suspiraram. Shippou acrescentou enquanto se virava para partir: Quando se cansar de ficar sozinho... Estaremos lá na vila te esperando.

Quando eles finalmente se foram, Inuyasha permitiu que as lágrimas escorressem covardemente por sua face. Por muito tempo, Inuyasha resistiu em passar em frente á Árvore Sagrada, mas agora lá estava ele. Olhando para ela, encarando-a. Ela trazia tantas lembranças! E muitas delas ele queria esquecer, pois estava sentindo na carne a verdade no clichê “Se arrependimento matasse!”. A frase era uma suposição, mas no caso de Inuyasha, verdadeira. Em todos seus sonhos, os olhos suplicantes de Agome perseguiam-no.  Ele se sentira incapaz de renegar Kikyou e com isto sacrificou o amor de sua vida e tudo o que restava para que ele pudesse, ao menos, se redimir era encontrar as partes da alma de Agome. E isto o matava aos poucos. Durante 15 anos ele esteve sozinho (como Megumi lembrou), pois pensava que se fugisse das lembranças, talvez elas não lhe fizessem mal. Que grande engano! Ele só se livraria das lembranças se pudesse apagar Agome de sua memória, algo impossível. Então, ele se entregava. Deixava que as lembranças fluíssem, deteriorando ainda mais seu coração. E olhando para o céu, fez uma promessa:

__Agome, onde quer que você esteja eu vou te salvar, algo que não fiz na última vez!