Era fim de tarde em Karakura, o vento soprava gelado anunciando a despedida do outono e a chegada do inverno, assim também com as ultimas folhas das arvores que caiam no chão, tipico para essa época do ano. Não tão tipico eram os barulhentos saltos altos, que davam passos rapidos por aquele enorme corredor, procurando a tal sala de exames indicada pela recepcionista. Mas antes que chegasse ao local, avistou um pequeno garotinho de cabelos negros escorridos, ventindo uniforme escolar, que saia de uma sala acompanhado por uma enfermeira. Assim que se aproximou o menino, soltou a mão da enfermeira e foi ao seu encontro.

Enfermeira: Ah! Então você é a Kuchiki Rukia?

Rukia: sim (disse afagando os cabelos do garotinho)

Enfermeira: É que a instrutora da escolinha disse que você viria, e você chegou realmente rápido .

Rukia: eu trabalho aqui perto. Mas me diga o que aconteceu? Ele está bem?? (perguntou com tom preocupado)

Enfermeira: Parece que caiu enquanto brincava na escola, mas ele está bem. Só vou leva-lo para fazer mais alguns exames. Então se a senhora quiser aguardar na sala de espera, eu aviso quando terminar.

Rukia: Ah sim. Muito obrigada. (disse se encaminhando para o local)

A morena se sentou por alguns instantes, mas já que estava ali, resolveu rever seus amigos. Se levantou e foi até o decimo andar, onde ficava a sala de Ishida. E para sua surpresa , assim que a porta se abriu, deu de cara com ele.

Rukia: Ishida!

Ishida: Kuchiki-san! Eu não sabia que era você que viria

Rukia: é vim para cá o mais rapido que pude.

Ishida: é chegou rápido, mas me diga, como ele está? (disse conduzindo a baixinha até sua sala)

Rukia: Está fazendo mais alguns exames agora, mas segundo a enfermeira ele está bem.

Ishida: que ótimo! Puxa que bom encontrar você de novo Kuchiki-san!

Rukia: é já faz um bom tempo. E a proposito Ishida, me desculpe mais uma vez por não ter vindo ao seu casamento, mas...(baixou o olhar com certa tristeza)

Ishida: Não se preocupe Kuchiki-san, eu e Inoue-san entendemos. Ainda estava muito recente para você (falou com um sorriso confortante nos labios)

Rukia: é já faz dois anos né Ishida? Como o tempo passou rápido..

Ishida: É passou muito rapido...

Continuaram ali conversando por mais um tempo, até Inoue invadir a sala com tudo e abraçar fortemente a amiga.

Inoue: Kuchiki-san, que saudade!! (ainda abraçada a amiga com os olhos lacrimejando)

Rukia: Eu também Inoue! E como você está? (se soltavam e se olhavam sorridentes)

Inoue: Estou ótima! Olha eu sou a chefe das enfermeira agora!! (mostrava toda empolgada a uniforme que a diferenciava das demais)

Rukia: é...puxa Inoue isso é ótimo! Parabéns!

O pequeno radio que a ruiva carregava toca e ela dá um pulo de susto, assustando também os outros.

Inoue: estão precisando de mim, depois conversamos mais Kuchiki-san (saia correndo pelo corredor aos berros)

Ishida: Ela sempre esquece que está em um hospital (arrumava os óculos e maneava a cabeça negativamente)

Rukia: Oe Ishida.... é seguro a Inoue chefe das enfermeira? (perguntou de lado um tanto desconfiada)

Ishida: Ela é avoada, mas é muito motivadora e está sempre animando todos aqui e isso em um hospital é muito importante. (respondeu sorrindo, enchendo-se de orgulho da esposa)

Se despediram e Rukia voltou a sala de espera, aguardando que os exames terminassem. Duas enfermeiras logo apareceram junto com o garotinho pedindo para que ela os acompanhasse. Seguiram para outro andar parando em frente a uma porta. Aparentemente as enfermeiras discutiam entre si para ver quem levaria o exame para um medico, e pelo jeito ambas resolveram ir juntas. Rukia se abaixou para ver melhor o corte na testa do pequeno garoto, que tinha levado dois pontos.

Enfermeira: Doutor será que o senhor pode dar uma olhadinha nesses exames? (perguntou uma delas com a porta semi-aberta)

Tendo uma resposta positiva, entregaram os exames para o médico que vinha de encontro a elas. Passou os olhos na primeira folha rapidamente, mas algo lhe chamou a atenção e seus olhos agora estavam fixados no nome do paciente: Kuchiki Kaito. Com um dos braços pediu licença as enfermeiras, se deparando com duas figuras a sua frente. Uma de um jovem garotinho de cabelos negros escorridos e a outra de uma jovem familiar tambem de cabelos negros que se levantava fixando seus olhos violetas nele.

Ichigo: Rukia! (com os olhos arregalados, não conseguiu esconder o susto por vê-la)

Rukia: A quanto tempo Ichigo, ou devo dizer Doutor Kurosaki. (disse em tom de chacota com um sorriso nos labios)

Ichigo: Corta essa nanica. O que você está fazendo aqui?

Rukia: Está nas suas mãos (apontou para os exames nas mãos do rapaz)

Ichigo: Ah... Claro. Pode deixar meninas, eu cuido do resto aqui. (disse dispensando as enfermeiras que estavam ali paradas sem entender nada)

Ichigo: me diz Rukia, o que houve? (fechava a porta atras de si, olhando os exames que tinha em mãos)

Rukia: Esse menininho arteiro aqui, com certeza foi aprontar na escolinha e caiu. (passava as mãos na cabeça do menino bagunçando seus cabelos)

Ichigo: Sei...bom vamos ver então.

O ruivo examinava o menino que ria de todas as gracinhas que ele fazia e ria também das ainda costumeiras provocações entre ele e Rukia. Ichigo voltou para os exames enquanto os dois, Kaito e Rukia sentanvam-se a sua frente.

Rukia: Kaito, eu não quero nem ver quando o seu pai ver isso. (passava a mão no cabelo do menino expondo o pequeno corte)

"Pai"? Ichigo que lia os exames, estranhamente paralisou ao ouvir essa palavra. Seus olhos mais uma vez correram pela folha em suas mãos, mas o campo onde deveria haver os nomes dos pais estava em branco.

Ichigo: Rukia, aparentemente está tudo normal e foi só a pancada mesmo e esse corte. Quero que você agende uma consulta com o pediatra daqui uma semana. E receitei esse remédio, caso ele sinta dor. (falou sério passando o receituario medico para as mãos da baixinha)

Rukia: Certo, obrigada Ichigo.

Ichigo: Rukia, é ...quando voltou? (perguntou com certo receio)

Rukia: faz duas semanas (respondeu encarando o ruivo)

E continuaram a se olhar em silencio, parecia que ambos esperavam que um deles falasse alguma coisa, mas palavra nenhuma foi dita. Quando se deram conta de tal cena, se despediram rapidamente de longe. Ichigo fechou a porta e encostou suas costas nela e seu coração quase lhe saia pela garganta. Sua mente estava confusa pelo inesperado reencontro e pelas inumeras duvidas que tinha e que não teve coragem de perguntar. Rukia por sua vez sentou-se no banco de seu carro e ficou olhando para o nada, sem reação. Parecia que um misto de sentimentos resurgiam dela sem que pudesse explicar. Achou aquele reencontro estranho e a sensação que sentia tambem era estranha, realmente não sabia explicar. Só foi despertar pelo som do radio de seu carro, que o pequeno Kaito acabava de ligar. Olhou mais uma vez para o menino com um sorriso nos labios, deu partida no carro e seguiu para casa.

Na manhã seguinte, Ichigo caminhava em direção a sua sala com uma das mãos no bolso do jaleco branco e rodando uma chave no dedo indicador da outra mão.

Ishida: Bom dia Kurosaki! (cumprimentava o ruivo com um envelope nas mãos)

Ichigo: Yo, Ishida!

Ishida: Toma...(jogou o envelope na mão do rapaz)

Ichigo: o que é isso? (olhava para o envelope em suas mãos sem entender)

Ishida: é a tal revista...Dr."bonitão" (falava em tom de chacota com um sorrisinho sinico nos labios)

Ichigo: Não enche Ishida... (retrucou já um tanto irritado pela piadinha do amigo)

Ishida: É, eu tratei logo de trazer, senão aquelas enfermeiras vão ficar babando o dia inteiro e não vão trabalhar, né Dr. "bonitão"?(continuava agora com uma das mãos nos labios segurando o riso)

Ichigo: Você é irritante Ishida....(cerrou os olhos sobre o rapaz e virou-se abrindo a porta de sua sala)

Ishida: A propósito Kurosaki, você a viu ontem?(perguntava agora já se recompondo)

Ichigo: Quem?

Ishida: A Kuchiki-san, claro!

Ichigo: Ah...a Rukia, é eu a vi sim (falava parecendo dar de ombros para o assunto)

Ishida: E?

Ichigo: E?...e sei lá ela me pareceu estar muito bem. Parece que formou uma uma ótima familia também. (falava com o mesmo tom de antes)

Ishida: do que você está falando Kurosaki?

Ichigo: Ué? só do que eu vi. Aquele garotinho...agora não me lembro o nome dele...e ela disse alguma coisa sobre o pai dele quando visse o machucado...sei lá Ishida..(respondia já irritadissimo)

Ishida: Você quer dizer o Kaito-kun?

Ichigo: é...é isso aí. Agora Ishida eu tenho mais o que fazer tá. (disse entrando em sua sala)

Ishida: e você acha que o Kaito-kun é....

Ichigo: É filho....isso! Só pode ser, é a cara daquela nanica.

Ishida: Não perguntou isso a ela?

Ichigo: Pra que? me fala pra que, o moleque é a cara dela...

Ishida: Kurosaki, cada dia que passa você me decepciona mais com esses seus "achismos" (maneava a cabeça negativamente arrumando os óculos com uma das mãos)

O ruivo apenas revirou os olhos e quando estava quase para fechar a porta escuta algo do rapaz do lado de fora que lhe chama a atenção.

Ichigo: o que você disse? (perguntou abrindo a porta de sua sala novamente)

Ishida: eu disse sobrinho, Kurosaki. Kaito-kun é sobrinho da Kuchiki-san.

Ichigo:So...sobrinho...(gaguejou espantando)

Ishida: Não achou ele parecido com o Byakuya?

Ichigo: é pensando bem, ele é a cara daquele metido. Pelo menos parece que o gênio deles é diferente, porque pelo menos o moleque sorria. Mas coitado, só de pensar em ter um pai como o Byakuya, é assustador. (falava para si com uma das mãos apoiadas ao queixo)

Ishida: Agora chega de viajar Kurosaki, você tem muito trabalho a fazer. E leia a revista também (saia caminhando pelo corredor acenando de costas para o ruivo)

Ichigo: Ele que fica aqui me enchendo, e agora fica aí me mandando ir trabalhar...(resmungava enquanto entrava e fechava a porta de sua sala)

O rapaz se sentou a sua mesa abrindo e retirando uma revista do envelope, e logo em seguida o jogando sobre a mesa, espalhando alguns encartes que estavam dentro dele. Olhou para a capa da famosa revistas de variedades (como se fosse uma Veja/Exame) a qual estampava. Abriu e a folheou rapidamente passandos os olhos sobre a reportagem da qual tinha sido o entrevistado. Quando foi guardar a revista novamente no envelope notou outra revista que lhe chamara a atenção, e para sua surpresa ao retirá-la do envelope era uma revista especializada em economia e negocios e quem estampava a capa era nada mais nada menos que ela: Kuchiki Rukia. Seus olhos vidraram na foto dela de braços cruzados e com um clássico terninho preto, tendo atrás de si fotos de varias construções e arranha-ceus.

Claro, folheou rapidamente a revista até encontrar a reportagem e essa sim lia atentamente, mesmo sem entender muito quando falavam de ações e investimentos no mercado terceirizado. A matéria parecia toda voltada aos investimentos da Empresa Shiba nesses ultimos anos mas principalmente ao crescimento do capital e da lucratividade, que havia aumentado em torno de 50% nos últimos tres anos. Primeiramente se espantou quando a revista se referiu a ela como sendo a presidente do grupo, mas seus olhos, seu corpo e sua mente ficaram inertes a ultima pergunta da pagina a qual fazia menção dela e Kaien:

"Reporter: Então você disse ter aprendido muito com Kaien desde que começou a trabalhar na empresa, então pode-se afirmar que depois do casamento de vocês essa parceria aumentou ainda mais?"

Rukia: Com certeza sim, ele sempre foi uma pessoa muito paciente e tinha uma visão de negocios muito apurada. Quando se tratava de arriscar em novos investimentos ele era muito ousado e acho que aprendi muito com ele."

Ichigo soltou a revista na mesa e jogou as costas contra o encosto da cadeira descrente do que acabara de ler. Realmente aquele filho da mãe do Kaien havia conseguido o que queria, como tinha prometido daquela ultima vez que se encontraram. Já sem tanto entusiasmo, voltou a pegou novamente a revista e virou a pagina para terninar de ler, agora que já havia começado mesmo iria até o fim. Porem mais uma pergunta lhe causou um espanto ainda maior, que fez sua mente voltar de novo a aquele dia no escritorio de Kaien, mais precisamente quando ele falou sobre o "destino". Divagou por um momento e voltou relendo a pergunta:

"Reporter: E como foi para você Rukia, continuar a vida tanto pessoal quanto profissional depois da morte de Kaien naquele fatidico acidente de carro a mais de dois anos?

Rukia: Com certeza foi muito dificil, porque ele era um ótimo marido e um companheiro para todos os momentos, principalmente porque ele sempre esteve ao meu lado quando eu mais precisei. Profissionalmente foi ainda pior, já que fiquei com toda a responsabilidade da empresa, pois seus irmãos largaram a administração toda para mim alegando não ter mais motivação para continuar. Bom mas agora acho melhor voltarmos a falar de negocios."

Não muito longe dali, Rukia entrava em sua sala com alguns papeis nas mãos e uma xicara de café para começar mais um dia de trabalho. Sentou-se a sua mesa e começou logo a ler seus e-mails. Concentrada, apenas respondeu automaticamente permitindo a entrada de alguem a sua sala. Escutou a porta se fechar, alguns passos e só. O silencio lhe chamou a atenção e foi quando ela desviou seu olhar da tela do computador, encontrando uma figura feminina estatica parada a sua frente com algumas pastas e correspondencias nas mãos. Elas se encararam por alguns instantes, porém com feições diferentes. Rukia mantinha o semblante sério e as sombrancelhas praticamente unidas, enquanto a outra tinha os olhos arregalados, num misto de surpresa e desespero, que chegavam a parecer lacrimejar.

Rukia: e você....o que faz aqui?

Senna: Eu....eu...trabalho aqui....sou nova aqui na empresa(respondeu com as palavras relutantes)

Rukia: Nova é? Achei que tivesse deixado um pessoal competente no RH, mas estou vendo que eles andam contratando qualquer pessoa por aí. (disse ainda seria cruzando os braços e encarando a garota)

Senna: Me...desculpe Kuchiki-san, mas eu não sou qualquer uma...e eu apresentei minhas qualificações...e (falava praticamente gaguejando aquelas palavras sob o olhar intimidador da morena)

Rukia: Qualificações? Como a de enganar as pessoas? Ou brincar com a vida delas? (falava em tom gélido, agora lembrando bem o seu irmão mais velho)

Senna: Kuchiki-san...olha eu sei que está se referindo a aquele dia no hospital. E eu gostaria muito de me desculpar por isso. Sei que magoei muito você e o Ichigo. Eu era imatura e não tinha noção nenhuma das coisas que fazia. Eu apenas agia por impulso. (ela fitava o chão enquanto os olhos despejavam lagrimas que escorriam pelo seu rosto)

Rukia: Isso não vai mudar nada agora, essas suas palavras não irão mudar nada agora. E outra não assuma tudo sozinha agora garota, você não fez aquilo sozinha e...(conteve as palavras que foram interrompidas pela chorosa figura a sua frente)

Senna: Fiz sim, eu fiz tudo sozinha... E sabe o que eu ganhei? Nada, absolutamente nada! O Ichigo me odeia e sequer olha na minha cara. E agora o unico emprego que consegui arrumar para sustenta meu filho, foi na empresa em que você é a presidente...(afundou o rosto nas mãos tentando esconder o choro)

Rukia: Filho?? Você tem um filho garota?

Senna: é eu tenho sim. Mas o pai sequer o visita e até os meus pais viraram as costas pra mim depois disso. Costumo achar que estou sendo castigada por tudo que fiz para as pessoas...

Rukia: Qual o seu nome garota?

Senna: é Senna. E eu já estou de saída, vou arrumar minhas coisas..(virou-se e caminhou até a porta)

Rukia: Senna, pode me fazer um favor. Leve essas pastas até a sala dos engenheiros. (disse estendo as pastas em direção a garota)

Senna: Não vai me demitir? (disse ela pegando as pastas e segurando junto ao corpo)

Rukia: Não, não vou. Acredito que nem todos nessa vida tenham a sorte de ter uma segunda chance e os agraciados com isso devem saber reconhece-la e agarra-la. Mas principalmente saber aproveita-la.

A morena se levantou e foi em direção a Senna que estava parada em frente a porta estática pelas palavras ditas por ela.

Rukia: Bom, então Senna, eu Kuchiki Rukia como presidente da construtura Shiba, lhe dou as boas vindas em nome da empresa. (estendeu a mão para cumprimentar a garota que retribuiu o gesto e logo saiu da sala)

A baixinha foi até a sua mesa e sentou-se virando-se para a enorme janela de vidro que dava visão para praticamente toda a cidade. "Segunda chance", pensava ela, já tinha ouvido isso de outra pessoa, que disse também não iria disperdiça-la e realmente não o fez, aproveitando até o fim de sua vida ao lado dela, mesmo que por um curto tempo. Pensava se também um dia seria agraciada com tal oportunidade, mas pricipalmente se saberia reconhcer quando ela chegasse.