Por Que Você Sorri? escrita por Heiko


Capítulo 1
Me abrace, menina


Notas iniciais do capítulo

Esta é uma poesia bem pessoal, portanto temo que ela não faça tanto sentido para quem a ler. E eu nem consigo entender o formato que ela adquiriu à medida em que fui escrevendo.
Eu gosto dela, foi importante e positivo para mim tê-la escrito.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/169256/chapter/1

Me abrace, menina


(Você.

Não come, não dorme,

não lê, não ama,

não vive.)


Ela repele e atrai,

sorri,

e anda em círculos.

Perdida ela segue.

Sem pedir ajuda,

como quem conhece de cor o caminho.


Por que você sorri?


Não há resposta,

mas o silêncio dilacera algo dentro de si.

E dentro de mim.


Algo morreu e permaneceu dentro de mim.


Seu andar voluptuoso, de artifícios,

começa então a se deformar.

Sua postura se contorce teatralmente,

seus ossos se salientam,

sua carne, antes lasciva, evapora.

O que resta?

Triste figura disforme,

que também aos poucos vai se esvaindo


O sorriso já não consegue se manter intacto:

amarela, entorta.


Fecho os olhos.

Fecho os olhos com força,

sem desejar reabri-los.


Se morrer, não será de magra,

será de vazia.

Ou, quem sabe,

de tentar preencher-se de algo que nunca permaneceria em si,

e que lhe rasgaria as entranhas,

confirmando seu excruciante oco.


Uma garrafa que ficou vazia, esquecida,

e a carcaça sem vida

de onde antes nascia alegria e vigor.

Hoje o morto e putrefato olor,

me alcança macabro,

e me recorda daquele,

será que ela se lembra?

Perfume que só criança e flor pode ter,


o cigarro queimou.


Menina, você seguiu

apenas o que lhe foi dado.

Algumas palavras de rancor,

máscaras,

e uma beirada de sonhos

de quando o tímido amor lhe cumprimentou.

E foi rejeitado.

“Não fale com estranhos”

a mulher dizia.

Mas ela dizia tantas coisas, não é mesmo?

Palavras que você fingia não ouvir,

mas que lentamente enforcavam-lhe a alegria.


Uma alma ferida que nunca cicatrizou,

e a minha própria em pequenos pedaços

espalhados sobre o corpo de alguém que amei,

de alguém que não pude salvar.

Afinal, de onde tiraria eu o poder

para salvar-lhe de sua auto-destruição?


Seus cabelos antes Sol, pálidos e escassos,

caídos, quebrados. 

Arrancados.



O amor que tu me destes,

era vidro e se quebrou.


Amor disforme.


Não era pouco,

nem se acabou.


Era mutilado, um ferido que feria,

cegamente.


Proporcional àquilo que lhe deram,

mas incompatível ao que eu sou,

pois destruía aos poucos cada parte de mim

com sádica lentidão.

Levava consigo tudo que tinha

e me deixava sem nada e sozinha.


E até hoje estes cacos

ardem em profundo

em um canto abandonado dentro de mim.


Dentro de mim onde sua alma ficou quando você se foi.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Relendo vejo coisas que desejo mudar mas não sei como, acho que deixarei como está por enquanto. Obrigada por ler, espero que tenha gostado! :)