“Melody... Perdoe-me, mas eu não tenho outra escolha a não ser isso... Sei o que te prometi, mas devido às circunstâncias... Eu não quero arriscar perder você... Mesmo que eu morra aqui, meu coração ficará aqui, com você.

...

...

Perdoe-me.”

Melody acordou num pulo. Seu coração estava disparado. Saiu de sua cama e foi até o banheiro.

De frente para o espelho, pode ver algumas gotas de suor em seu rosto e depois tirou o cabelo de seu pescoço e olhou as marcas... As marcas que provavam que era uma Vampira.

- ... Como consegui sonhar com aquilo?! Eu não posso ficar pensando nisso... Não posso ficar me martirizando pelo o que aconteceu naquela noite... Não foi... Não foi... Não foi minha culpa!! – ela exclamou.

Melody’s P.O.V.

#Flash Back ON#

Ainda me lembro como se fosse ontem... O dia em que o conheci. O dia que mudou minha vida completamente...

Nada além de um encontro casual, que muitos chamariam de “destino”. Mas não foi nada disso. Só mais tarde (quando já era muito tarde para nós dois), foi quando descobri que tudo não passava de uma mentira, e que nós dois fomos usados como peões, para esconder as verdadeiras intenções de um sínico... Um verdadeiro filho da puta.

- Melody! Melody!! – chamava meu irmão Mello.

Eu resolvi acordar mais cedo e dar uma volta pelos jardins. E também fiz isso para não ter que ir às aulas de etiqueta que a babá dizia serem “de extrema importância para a minha formação como uma dama”. E quem disse que eu queria ser uma dama?!

Na sociedade onde vivo as mulheres não fazem nada além de empinar o nariz por ai e ficar fofocando com as amigas. Eu nem tenho amigas, se quer saber. Não é porque eu não saio muito, ou porque sou muito tímida; claro que não. É porque eu sei que todas elas são um bando de sínicas e hipócritas que fingem serem amigas umas das outras, quando na verdade o que mais gostam é de ver as outras pelas costas.

- MELODY!!!! MELODY!!! – agora a babá também me chamava.

- Humpf. É agora que eu não volto... De jeito nenhum – apressei meu passo em meio aos montes de folhas secas que tinham caído dos enormes plátanos no jardim.

Depois de alguns minutos, encontrei meu lugar favorito em toda a casa: uma arvore gigantesca, com galhos não muito altos, mas bem grossos e rígidos. O lugar perfeito para alguém que quer sossego para ler e pensar.

Sentei-me em um dos galhos mais baixos. Vestia um vestido preto que tinha ganhado de aniversário do Matt (melhor amigo do Mello). Nem sei se ele estava tentando me cortejar, ou não... Mas eu só gosto dele como amigo, nunca o vi com outros olhos... Meus cabelos estavam presos com um rabo de cavalo não muito alto, e usava sapatos de boneca da mesma cor de meu vestido.

Respirei fundo por causa da subida (nem era tão grande, mas era bem cansativa, devido ao tronco da árvore ser bem liso), e abri meu livro onde tinha parado. Não faço ideia de quanto tempo se passou. Não podia nem ouvir mais os gritos de Mello e da babá atrás de mim. Mesmo tendo apenas meus dez anos, eu sabia me virar sozinha. Meus pensamentos só foram interrompidos, quando ouvi uma voz vinda de debaixo do galho.

- Ora! Não esperava encontrar alguém aqui... – um garoto moreno falou.

Eu não me assustei... Mas me desequilibrei e caí do galho. Bem em cima do garoto (bom pelo menos não senti muita dor... Não sei quanto a ele).

- Aiiiiii... Também não esperava que uma dama caísse em cima de mim... Literalmente. – falou ele com uma voz meio debochada. Pelo jeito não se machucou.

- Ahh!! Me desculpe! Me desculpe! E-Eu não tinha a intenção de machucá-lo!! – corei de vergonha.

Ele soltou uma risadinha enquanto massageava suas costas, o que só fez minha cara de vergonha aumentar.

- Não se preocupe! Fui eu que te assustei! Não imaginava que a pessoa que eu vi estava lendo... – falou ele.

Eu acabei dando uma risadinha também. Ficamos de pé, já que o chão tinha muitas folhas e se eu chegasse em casa com o vestido todo sujo, teria que dar explicações... Eu odeio dar explicações.

- Se permite, qual é o seu nome, senhorita? – me perguntou.

- Melody. Melody Keehl.

- Nome imponente o seu! Eu sou Matthew Edwards. Prazer em conhecê-la.

Estendi-lhe a mão (sempre via meu pai fazendo isso com as pessoas que conhecia), mas ao invés de segurá-la, ele a pegou e beijou. Corei instantaneamente.

- Eeer... – não sabia muito que dizer – Então... O que faz aqui, Matthew?

- Eu? Oh, bem... Eu estava dando uma volta pela floresta perto da minha casa e... Bem, acabei parando aqui no jardim da sua casa...

Olhei-o um pouco curiosa. Nunca imaginei que o jardim da minha casa fosse mais longe até virar uma floresta... Estranho.

- Ah tá... Mas por que você estava andando no meio da floresta, sozinho?

- Hm... Eu queria pensar um pouco, espairecer as ideias e também queria um pouco de silêncio... Minha casa tem estado uma confusão ultimamente – ele suspirou.

- A minha também. Eu sempre venho aqui para ler e também para ter um tempo só meu. Aqui eu consigo respirar com mais calma – sorri timidamente.

Ele pareceu sorrir também. Matthew tinha cabelos castanhos um tanto curtos, olhos de um azul quase roxo e não era muito alto. Sua pele era estranhamente pálida. O sorriso que ele deu me deixou um pouco sem graça.

- Tem um sorriso muito bonito – falou.

- Hm...? Ah... V-Você também... – falei ainda mais sem graça.

Ele soltou uma risada um pouco mais alta do que antes e me encarou em seguida.

- Seus olhos me lembram de um amigo meu. Eles são tão verdes quanto os seus...

- Verdade? Minha mãe me disse que é muito difícil alguém dessa região ter olhos verdes... Mas como eu não saio muito, nunca pude comprovar por mim mesma...

- Não, não! Sua mãe está certa! Este meu amigo mora na Inglaterra e de vez em quando nos encontramos em festas dos nossos pais.

- Entendi.

Um vento frio cortou a floresta e fez a copa das árvores balançarem, fazendo algumas folhas secas caírem.

- Acho melhor eu voltar. Está ficando tarde... – falei.

Na verdade, eu não queria ir embora. Matthew era tão misterioso que eu passaria horas e horas tentando descobrir o que se esconde por trás daqueles olhos.

- É mesmo! Quando aproveitamos as coisas, o tempo passa muito rápido... Então, acho que eu também vou indo – virou-se e começou a andar de volta.

- E-Espera! – chamei-o de volta.

- Hm?

- Você... Vai vir aqui amanhã?

- Posso vir sim. A que horas?

- Neste mesmo horário está bom.

- Ótimo! Então até amanhã, Melody – ele continuou seu caminho.

- Até amanhã... Matthew...

Meu coração bateu mais rápido. Eu estava chateada pela despedida, mas eu sabia que iria vê-lo amanhã, o que me enchia de uma alegria imensa e confortadora...

Queria que aquele dia tivesse se repetido em todos os outros... Mas não podia, não é? A vida não pode ser tão cor-de-rosa, a vida é dura e nos tira as coisas mais importantes das mais diversas maneiras.

Aquele dia marcou o início da história que mudou a minha vida, a de Matthew e de muitos outros que estavam ao nosso redor... Esta é uma lembrança que eu preso muito, mas também, que já amaldiçoei inúmeras vezes. Quem sabe se eu não tivesse me assustado e caído, ou melhor, se eu nem tivesse ido até a árvore naquele dia... Quem sabe... Matthew ainda estivesse vivo hoje.

Fim do Melody’s P.O.V.

#Flash Back OFF#

Não dava mais. Aquela lembrança era demais para ela.

Melody começou a chorar, mas em silêncio. Ela não queria que os outros percebessem isso; ela já tinha causado tantos problemas às pessoas que amava... Ela não poderia aguentar ver tudo aquilo se repetindo mais uma vez... Era muito doloroso.

Era muito doloroso se lembrar de épocas felizes, sabendo que elas nunca mais iriam voltar... Mesmo que ela se lembrasse de tempos de paz, esses tempos e aquela paz... Nunca mais voltariam.