Abriu os olhos e não conseguia entender o que estava acontecendo. Tudo fora tão rápido. Em um instante ele estava ali, ao seu lado, com o sorriso doce e sutil que tanto dava brilho a sua face, e os olhos claros que ela tanto amava. Ele a fitava com uma intensidade inexplicável. Os olhos que lhe diziam coisas que palavra alguma poderia expressar. 


Lembrava-se de passar os dedos vagarosos pelos fios de cabelo, enquanto seus lábios apenas roçavam-se. Um gesto doce. Inocente. Seus corações pareciam manter o mesmo ritmo, e criavam uma canção suave, que conseguia atingir os céus e juntar-se ao canto sublime dos pássaros que voavam a sua volta. Estava tudo tão perfeito, e acabou em uma fração de segundos. Como poderá a vida ser tão surpreendentemente cruel?


Sentia uma dor quase surreal em cada músculo de seu corpo, e a cada vez que respirava, seus pulmões pareciam apertar-se um contra o outro. Kate apenas virou a cabeça para o lado, tendo a visão que lhe despedaçou por dentro. Lá estava ele, estirado ao chão, ensangüentado e sem vida. As pessoas rapidamente aproximavam-se de seu corpo e gritavam por ajuda. Mas nada poderia ajudá-los agora.


Ouviu o carro que os havia atropelado fugir em disparada, e sentiu uma raiva sombria pelo assassino de seu amor. Como alguém poderia tirar a vida de outro ser humano tão brutalmente e fugir como um covarde? Não se sabia explicar. As sirenes anunciavam a chegada da ambulância, e ela queria poder dizer-lhe que estava tudo bem. Que estavam juntos como sempre. Mas sabia que a realidade era cruel, e esta mesma pouco a pouco se abatia sobre ela. 


Com o que restava de suas forças, vagarosamente ergueu o braço na direção de Rick. Ela queria tanto tocá-lo apenas mais uma vez. Queria poder sentir o coração dele bater sobre sua palma, ou a respiração suave em seu pescoço. Mas com a certeza de que jamais isso aconteceria novamente, Kate deixou seu braço cair ao asfalto, e virou a cabeça para cima, fitando o céu que aos poucos ficava negro. Tão negro quanto sua alma naquele momento.

Apenas uma lágrima escorreu pelo canto de seu olho, seguindo um percurso pelas bochechas agora tão pálidas. E então a mulher sentiu o último fio de vida escapar-lhe pelas mãos, e seus olhos se fecharam, para nunca mais se abrir. 

Aquela noite, mais duas estrelas brilhariam juntas no extremo céu.

Fim.