– Acho que é oficial, cara. Estou apaixonado pela Melanie. – disse para Nick provavelmente com cara de idiota.

Os últimos dias foram difíceis. Parece que meus sentimentos tão bem guardados, tão bem escondidos por ela quiseram simplesmente arrombar a porta do meu coração e vir à tona. Agi tão estranho que até ela mesmo percebeu.

Eu não aguentava mais ficar quieto sobre isso. Não aguentava mais segurar minha paixão pelas suas risadas lindas, as cantorias desengonçadas, os jantares desastrosos... Tudo nela era imperfeitamente perfeito e eu não queria guardar só para mim.

– Isso não é bom. – pude ouvi-lo murmurar enquanto encomendava um café.

Porque não era bom? Melanie e eu fomos criados como irmãos, ou seja, somos melhores amigos, condenados a nunca passar disso. Razão bônus? Ela acabou de arrumar um namorado.

Um pé-rapado-idiota-metido-a-besta-duas-caras-que-acha-que-pode-tudo-só-porque-tem-uma-Ferrari. Nunca fui com a cara dele e quando começou a namorar Melanie, menos ainda. Não passava de uma porta musculosa. Foi muito difícil no começo, mas depois que você se acostuma com a dor ela vai se camuflando aos poucos.

– Hã, Derek? – Nick chamou mexendo em seu Blackberry – A notícia não é tão boa.

– Qualquer coisa é lucro, manda ai. – respondi desanimado. Peguei meu copo de café e nos dirigimos para uma mesa.

– Recebi um e-mail do Johnson, - enrijeci meus músculos, era o namorado da Mel – ela vai dar uma “festa de confirmação de namoro” no Uncle’s Joe Karaoke Place.

Bem típico desse idiota. Não tinha onde gastar o dinheiro então fazia essas bobeiras.

– Beleza, já estou na fossa por ouvir falar neles, agora vou ter que assisti-los trocando saliva com um belo sorriso de apoio do rosto. – debrucei na mesa sem me importar com o resto da loja lotada.

– Hey, Derek, não precisa ir se não quiser. – disse ele voltando a atenção ao Blackberry.

– Claro que preciso! A Mel vai implorar para eu ir.

– Você não sab...

Neste momento meu celular tocou e o nome de Mel reluzia na tela. Peguei e mostrei ao Nick, que me olhou com cara de “Cara, isso é sinistro”.

– Não vai atender? – perguntou apontando para o objeto piscante.

– Não tenho uma resposta agora. Esqueci o celular em casa. – declarei batendo levemente na mesa.

O celular tocou mais três vezes. E eu fiquei com uma vontade insana de atender nas três vezes. Mas eu precisava de tempo. Por mais que eu soubesse que minha resposta seria eventualmente “sim”, eu precisava de um tempo para esse “sim”. Confuso mas necessário.

Me despedi de Nick e fui para casa. Ele fez questão de me acompanhar na festa, Nick era um bom amigo.

Cheguei e fui direto para meu quarto. Me estirei na cama e fiquei olhando o teto, com o celular apitando no bolso. Por mais que eu quisesse não conseguia atender. Por mais rude que fosse, Melanie teria que esperar um pouco. E então o telefone do meu quarto tocou. Deixei cair na caixa eletrônica, a preguiça já havia se instalado no meu corpo:

– Hã... Derek? Oi, é a Mel. Não sei se já ficou sabendo da festa que o Johnson organizou, mas eu queria muito que você fosse... Liguei quatro vezes no seu celular, onde você está? Que seja, esteja lá no Uncle’s Joe ás 21:00, tudo bem? Por favor, apareça. Beep!– o sinal tocou, confirmando o fim da chamada.

Não dava para dizer não. Ela estava implorando. Do jeito mais covarde possível, aquela voz estúpida de bebê. Liguei para Nick para combinar o horário.

– Ligou para ela?– a voz dele estava estranha, devia estar comendo alguma coisa.

– Não, ela ligou aqui em casa.

– Cara, agora que eu vou mesmo. É OPEN BAR!– tive que afastar o telefone do ouvido, que bichinha.

– E daí?

– E daí?!– ele repetiu chocado –Tem coisa melhor que afogar todas as mágoas num copo de tequila? Fala sério cara, vou te dar um soco se você não for...– que porcaria era aquela?

– Nick! Não viaja, velho! – gritei repreendendo-o – Tudo bem que não é uma má ideia... – ele riu.

– A festa é 21:00... Eu passo ai umas 21:30, ok?

– Beleza. Tchau. – desliguei.

Resolvi tomar um banho. Tirei a roupa e liguei o chuveiro, nem me importei com a água gelada no começo. Fiquei lá vegetando, preparando meu psicológico para a noite que teria pela frente. Não ia ser fácil, mas tinha certeza que Nick estaria do meu lado enfiando tequila na minha boca até eu desmaiar. Nick era um bom amigo.

Coloquei apenas uma cueca boxer e uma bermuda. Como ainda era cedo, preparei um lanche e fui assistir TV. Neste meio tempo meu celular tocou. Atendi involuntariamente sem nem checar o identificador de chamadas.

– E aí, Nick?

– É a Mel.– a voz baixa do outro lado me corrigiu. Senti meu sangue gelar.