Sem Saída - OneShot escrita por Paola_B_B


Capítulo 1
Capítulo Unico


Notas iniciais do capítulo

Está fic, possúi apenas 1 capítulo se caracterizando como One-Shot.
Espero que gostem , pois foi escrita comm muito carinho.



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Sem Saída – Capítulo único.

Encostei no banco, cruzando os braços no colo. A cidade familiar começava a disparar em volta de mim, mas não olhei pela janela. Esforcei-me para manter o controle. Estava decidida a não me perder a esta altura, agora que meu plano era concluído com sucesso. Não tinha sentido aceitar mais pavor, mais ansiedade. Meu caminho estava traçado. Agora só precisava segui-lo.

Assim, em vez de entrar em pânico, fechei os olhos e passei a viagem de vinte minutos com Edward.

Imaginei que eu estava no aeroporto para recebê-lo. Visualizei como eu ficaria na ponta dos pés, para ver seu rosto mais cedo. Com que rapidez, com que elegância ele se movimentaria pela multidão de pessoas que nos separava. E depois eu correria para estreitar estes últimos metros entre nós – desajeitada, como sempre – e estaria em seus braços de mármore, enfim segura.(Trecho retirado da obra de Stephenie Meyer – Crepúsculo, páginas 314 e 315)

            Pulei de susto quando fui tirada de repente de meus devaneios. O coração batendo forte em quanto eu olhava a tela de meu celular piscando ao avisar uma nova ligação de um número desconhecido.

            O aparelho ainda vibrava em minha mão ao ponto de não conseguir identificar com exatidão se era ele que fazia com que minha mão estremecesse ou se era ela que fazia com que o celular sacudisse. Minha respiração agitou-se com a indecisão de atendê-lo ou não.

            Poderia ser Edward desesperado pela minha decisão. Eu não poderia ceder aos seus argumentos, não agora quando a vida de minha mãe estava em jogo. Não poderia arriscá-la. Por outro lado não tenho certeza se ele já desembarcou do avião. Poderia ser Alice querendo avisar-me de alguma visão. Talvez dizer que já era tarde de mais e que James já havia feito o que eu tanto temia com minha amada mãe.

            Estremeci com o rumo de meus pensamentos, meus olhos correndo para a paisagem que passava rapidamente pela janela, depois para o espelho retrovisor encontrando o olhar curioso do motorista e, por fim, novamente, ao insistente celular. Senti meu coração parar por alguns milésimos de segundos quando eu tomei a decisão mais impulsiva – ou estúpida – de minha vida.

            Segurei a respiração em quanto apertava o botão send e levava o pequeno aparelho à orelha.

            - Bella?! Oh filha, graças a Deus você atendeu! O que aconteceu? Falei agora com seu pai ele disse que você saiu de casa alucinada depois de brigar com um garoto e... – tagarelava minha mãe.

            Minha boca estava aberta sem que eu conseguisse pronunciar quaisquer palavras. Ao perceber meu silêncio Renée começou a gritar desesperada por respostas.

            - Filha você está aí? Responda!

            - Mãe? – minha voz soou tremula, ainda surpresa, porém logo eu percebi a realidade dos fatos e hiperventilando despejei minhas perguntas como uma enxurrada. – Mãe onde você está? Você está bem? O Phil está bem?

            - Calma filha, você está nervosa de mais o que aconteceu com você?

            - Onde você está mãe?! – exigi impaciente com sua tagarelice.

            - Oh querida, seria uma surpresa. Eu e Phil estamos na Florida, ele conseguiu assinar com o Suns, dá para acreditar? Você vai adorar Jacksonville! Mas agora chega de papo e me diga o que aconteceu? Seu pai está desesperado.

            O entendimento então se passou por minha mente. O caçador havia me enganado. Ele nunca esteve com minha mãe, nunca a seqüestrou. Minha mãe estava a salvo e longe daqui. O alivio me atingiu como um calmante poderoso e eu me deixei afundar no banco do taxi.

            Logo desisti do meu descanso, ainda não havia acabado e estava na hora de ajeitar as minhas burradas. Não acredito que cairia tão facilmente na armadilha de James.

            - Mãe. Prometo ligar em breve e explicar tudo ok? Mas fique onde está e qualquer coisa me ligue. – qualquer coisa do tipo uma vampira de cabelos flamejantes entrar em sua casa, completei mentalmente. – Preciso resolver umas coisas. Eu te amo.

            Antes que ela me prendesse ainda mais ao telefone eu o desliguei e praticamente gritei para o motorista.

            - De a volta! Volte para o aeroporto! – o homem me olhou com uma carranca e estava prestes a reclamar, mas eu o calei jogando mais quatro notas de vinte ao banco.

                                  

            - Me desculpe! Ele me enganou. Disse que estava com minha mãe, não podia deixar que ela... – minha voz era abafada contra seu peito em quanto grossas lágrimas de alívio escorriam pelo meu rosto.

            - Shii... Está tudo bem agora meu amor. – murmurou contra meu ouvido em quanto acariciava meus cabelos. Sua voz em perfeita calma confrontando com o firme abraço que me tirava do chão.

            Ainda estávamos no aeroporto. Assim que saí do taxi corri para dentro como uma louca alucinada preparada para me proteger junto de Alice e Jasper com medo de que James descobrindo minha fuga viesse atrás de mim. Mas para a minha imensa alegria avistei Edward saindo pelo portão de desembarque com sua feição completamente preocupada e completamente perfeita. Não enxerguei mais nada naquele momento e simplesmente me choquei contra ele ignorando a dor em meu corpo.

            Voltamos para Forks no mesmo dia. Minha exaustão fez com que eu dormisse durante toda a viagem.

            Foi difícil conversar com meu pai. Estava me odiando pelas palavras que proferi antes de sair de casa. Porém ele disse-me que não importava minhas palavras, mas que daquele dia em diante por eu ter fugido de casa eu estava de castigo e com visitas de Edward restritas.

            Charlie ficava feliz com a pontualidade de meu namorado que sempre ia para casa na hora estipulada. Com certeza ele não ficaria tão feliz se soubesse o motivo do sono vir justamente no momento que Edward atravessa a porta de entrada. Ainda bem que vampiros são a prova de balas, pois Charlie não ficaria nada contente com um garoto “dormindo” na mesma cama que sua filha.

            Mas as restrições de Charlie não eram minhas maiores preocupações. Victória e James simplesmente sumiram. Já faz quase duas semanas depois da tentativa quase bem sucedida do caçador, depois disso ele nunca mais apareceu e segundo Alice ele não planejava nada também. Disse-me para relaxar e seguir minha vida, pois não havia mais perigo.

            Eu poderia até acreditar nela se não fosse por alguns simples motivos. Apesar de se dizer despreocupado Edward não desgruda de mim, está sempre de olhos atentos ao nosso redor e seus abraços são mais apertados – como se ele tivesse medo que a qualquer momento eu fosse correr até o caçador para ser morta. Quando eu pergunto o que tanto o preocupa ele mente tão bem que quando estamos juntos eu acredito plenamente em suas afirmações, mas assim que ficamos alguns minutos longe minhas preocupações me atingem novamente.

            Meus sonhos também têm sido agitados. Em sua grande maioria eu sonho com James e Victória correndo atrás dos meus pais, depois eles vem atrás de mim e quando Edward tenta me proteger ele é dominado pelos dois vampiros de olhos rubis. Neste momento eu acordo gritando e logo sou abraçada pelos mais amorosos braços de mármore.

            Os Cullen acham que eu estou traumatizada com a perseguição, mas eu não temo por mim, temo por eles. Tenho medo de que eles acabem se machucando tentando me proteger e se caso isso acontecer eu nunca irei me perdoar.

            Eles parecem despreocupados com essa calmaria, mas já percebi em seus perfeitos rostos pequenas rugas de preocupação que desaparecem em uma fração de segundos – logo depois de perceberem que eu estava notando.

            Estamos exatamente na metade da semana em mais um dia chuvoso de Forks. Caminhei rapidamente tentando – inutilmente – não tropeçar em meus próprios pés em direção ao refeitório. Os Cullen já deveriam estar sentados em sua mesa e conversando alegremente como se fossem uma família perfeita de comercial de margarina. Tenho me sentados com eles ultimamente, parece que sou bem-vinda pela minha companhia e não pelo fato de eu dar umas mordidas nos lanches de todos para parecer que foram eles que se alimentaram. Rosálie ficou agradecida por eu estar sendo útil pelo menos uma vez na vida em vez de estar causando problemas para sua família e principalmente para ela.

            Edward me contou em uma das noites em que ficou comigo que Rosálie tinha inveja de mim. Inveja de minha vida. O que eu achei um completo absurdo. Quem diabos gostaria de trocar sua vida com a minha puramente sem graça?

            Ângela passou por mim dando um leve sorriso ao lado de Ben. Retribui acenando levemente. Ela estava muito feliz por esses dias e era a única que continuava falando comigo normalmente depois que eu comecei a namorar Edward e sair com os Cullen. Jessica ultimamente estava grudada com Lauren Mallory, elas não se importavam deixar que seus venenos escorressem em relação a mim. Mike continuava a minha volta como um cachorrinho abanando o rabo, creio que esse seja o motivo da raiva de Jessica, mesmo que eu já tenha deixado bem claro que nada quero com ele.

            Já estava me aproximando do refeitório, vários alunos passavam por mim de maneira apressada. Seus passos espirrando água para todos os lados ao pisarem nas poças. Todos pareciam mais impacientes hoje, até eu sentia meus passos mais acelerados. Escutei de repente um grito vindo de dentro do refeitório.

            - Não! – eu reconhecia aquela voz, uma voz linda e totalmente apavorada a voz de minha amiga Alice.

            Não houve tempo suficiente para que eu reagisse. Em menos de um piscar de olhos a minha boca estava sendo tapada rudemente por algo frio em quanto um braço de mármore segurava-me braços e cintura me tirando do chão. Senti uma dor perfurante na base de minha nuca. Gritei de dor e medo, mas o som foi abafado pela mão do vampiro.

            Fechei meus olhos com toda a força que possuía, algo estava queimando o meu pescoço. Colocaram fogo em meu pescoço! Alguém apague o fogo! Tentei gritar, mas não conseguia ouvir minha voz. Sacudi minhas pernas tentando de alguma forma fugir daquele dor infernal, mas meus pés apenas deslocavam o ar. Meu desespero crescia na mesma proporção que o ardor em minha pele.

            - Porque não abre os olhos Bella querida? Mostre para seu amado Edward o quanto ele foi tolo em lhe deixar neste corpo tão frágil. – a voz parecia vir de longe, porém sentia o toque frio de seus lábios em minha orelha.

            Ele murmurava de maneira gentil e divertida, mas aquela situação não tinha nada de legal. A não ser para ele, é claro. A menção de Edward fez com que eu abrisse meus olhos automaticamente. Minha visão estava embasada, pisquei várias vezes até que tudo clareasse, só então percebi que eram lágrimas que jorravam de meus olhos parando na mão do caçador.

            O fogo ainda me torturava pouco a pouco, minha consciência me puxava para a escuridão. Mas assim que eu consegui visualizar as criaturas a minha frente eu lutei contra meu próprio extinto de preservação. Briguei com meu próprio corpo o mandando não desistir, fazendo-o se esforçar para sair daquele aperto. Tudo ficava ainda mais desesperador, pois a parte em mim que ainda raciocinava dizia vencida “Esqueça, você não é forte o suficiente para vencer um vampiro. É apenas uma frágil humana.”.

            A voz de minha consciência ficava baixíssima perto dos gritos desesperados que eu dava dentro de minha mente. Pare com isso! Ele está sofrendo! Pare de torturá-lo! Mate-me de uma vez! Suplicava, mas James não me escutava, ninguém me escutava. E a dor que agora eu sentia superava a dor de minha nuca. Sua expressão estava completamente torturada e desesperada, um anjo tão belo não deveria ter esse sentimento. Não era justo! Suas mãos inertes tentando pegar algo fora de seu alcance. O medo estampado em seus olhos. Não era justo! Não era!

            O riso divertido do caçador soou perante o silêncio do refeitório. Todo o medo, desespero e dor que eu estava sentindo viraram subitamente raiva. Grunhi balançando com mais força minhas pernas, lutando contra o aperto de aço. Como ele ousava fazer aquele que amo sofrer desta maneira? Eu sabia que eu há muito tempo estava condenada, que minha vida vinha sendo prorrogada além da conta. Minha hora havia chego no momento em que aquela Van escorregou pela pista em minha direção. Edward desafiava o destino todos os dias tentando me manter viva, mas não era justo que ele sofresse por me salvar. Ele não merecia isso!

            Grunhi novamente sentindo o desespero voltar. Não importava o quanto eu tentasse me soltar, meu corpo não saía do lugar sequer um centímetro. Mas meus movimentos pararam quando o aperto em minha cintura aumentou. O som de algo se partindo ecoou. Olhos esbugalharam horrorizados. E eu me encolhi espremendo meus olhos, sentindo-os derramarem lágrimas de dor. Meus ouvidos apitaram e manchas negras apareceram através de minhas pálpebras. James acabara de quebrar minhas costelas.

            - Por favor, pare! Vai matá-la! – suplicou o anjo com a voz completamente horrorizada me trazendo novamente a consciência.

            - Ora Edward, você é tão hipócrita. – disse James de maneira chateada. – Tornarei o jogo mais divertido então. – sua voz ficou risonha. – Digam onde está Victória então eu deixo seu brinquedinho viver por mais algumas semanas antes de voltar a caçá-la.

            Victória? Do que diabos ele estava falando? Como saberíamos onde ela estaria? Fazia semanas que nenhum sinal da vampira surgia. Oh não! Os Cullen andavam muito tranqüilos ultimamente... Eles viraram o jogo, caçaram Victória e a mataram, agora James virava novamente o jogo para mim.

            Abri meus olhos imaginando feições astutas confirmando a pergunta subliminar na proposta de James. Mas tudo o que vi foi confusão passar pelos cinco pares de olhos cor de ouro derretido.

            - Não sabemos onde ela está. – respondeu Emmett, em sua linda voz existia uma raiva contida.

            Então os Cullen não mataram Victória. Mas onde ela estava afinal? O que planejava? Será que se cansou dos jogos de James assim como Laurent?

            Emmett queria lutar, ele estava se segurando para não pular sobre James. Não só ele, mas Rosálie também. Confesso que me surpreendeu sua feição raivosa. Talvez ela estivesse com raiva por estarem expondo sua família. Jasper tinha uma expressão calculista e apertava seus punhos. Alice tinha seus ombros encolhidos e a expressão desesperada enquanto seus olhos se mexiam rapidamente de um lado para o outro, mas sem estar realmente enxergando alguma coisa. Ela procurava alguma saída em suas visões.

            Os alunos não passaram despercebidos pela minha visão. Olhos de diferentes cores, porém demonstravam os mesmos sentimentos: medo, pavor. Ângela, minha única verdadeira amiga do ensino médio, tinha lágrimas nos olhos. Mike estava tão pálido de medo que sua cor chegava a se comparar com a dos Cullen. Jessica tinha suas unhas cravadas em seus próprios braços, mas parecia não ligar para a dor, sua feição era paralisada. Eric olhava para todos os lados nervosamente em quanto apertava firme o celular em suas mãos.

            - Vocês não. Mas a vidente sabe. – a voz de James soava como a de um pai que repreende seus filhos por não terem prestado atenção em suas palavras.

            Meus olhos rapidamente correram em direção as cinco perfeitas criaturas a minha frente. Seus olhos estavam ainda mais arregalados de surpresa pelo caçador saber do dom de Alice.

            Senti James sorrir ao descansar seu queixo em meu ombro esquerdo.

            - Tenho que dizer que pegar a frágil Bella aqui foi mais fácil do que eu esperava. Quer dizer, com toda a proteção que vocês fazem sobre ela. Mas por alguns momentos tive medo de que ela me escapasse, assim como a baixinha me escapou. A única vez que uma presa escapou de mim. – seu tom era nostálgico. – Veja você Bella, o velho tomou a decisão que o seu Edward foi fraco para tomar. Nunca vou entender essa obsessão de alguns por vocês humanos. O velho soube que eu estava atrás de sua amiguinha, roubou-a do sanatório em que ela estava e, assim que a libertou, ele a deixou segura. Ela não pareceu perceber a dor, pobre criaturinha. Ficou presa naquele buraco escuro da cela por um bom tempo. Alguns anos antes teria sido queimada por suas visões. Mas nessa época eram os sanatórios e os tratamentos de choque.

            Por isso Alice não se lembrava de como as coisas eram em sua época humana. Ela ficou no escuro. James suspirou como se sentisse muito pesar pela situação.

            - Humanos... Não conseguem valorizar um dom que seria tão útil para eles. Quando ela abriu os olhos, foi como se nunca tivesse visto o sol. O velho a transformou em uma criatura forte, não havia motivos para que eu tocasse nela. Então eu destruí o velho por vingança. Eu fiquei realmente surpreso em vê-la com seu bando e como eles deviam extrair algum conforto desta experiência eu peguei você. E ela tinha um cheiro muito delicioso. Ainda me arrependo de nunca ter sentido o sabor... Ela cheirava ainda melhor do que você. Desculpe, não quero ofendê-la. Você tem um cheiro muito bom. Floral, meio... (Trecho retirado e levemente adaptado da obra de Stephenie Meyer – Crepúsculo, páginas 319 e 320)

            O vampiro virou o rosto raspando seu nariz em minha bochecha e então descendo pela minha pele até o meu pescoço, para finalmente, aspirar com força e então suspirar. Meus olhos fecharam instintivamente com medo de que outra mordida estivesse por vir. Mas ele não o fez, pois Alice chamou sua atenção.

            - Direi onde Victória está. Largue Bella primeiro.

            James sorriu assentindo. Mexi-me esperançosa de escapar das garras do vampiro, mas ele aumentou seu aperto em torno de minhas costelas já quebradas. Choraminguei contra sua mão que ainda tapava a minha boca. Meus olhos lacrimejavam ainda mais, tanto que eu não consegui enxergar a mudança de expressão de Alice. Uma expressão que combinasse com a frieza de sua linda voz.

            - Não pode me enganar. Edward não vai se segurar por mais tempo. Se soltar Bella agora, você ainda terá uma chance de escapar ileso.

            James riu em meu ouvido e abriu a boca para responder, mas tudo estava longe de terminar quando os policiais de Forks adentraram o refeitório.

            Meu choro se tornou ainda mais desesperado. Porque James não me matava de uma vez e deixava todas essas pessoas em paz? Lembrei-me então de quando Edward contou-me de que aquele vampiro era um caçador, que possuía essa habilidade assim como Alice previa o futuro. Para ele era divertido caçar suas vítimas.

            - Papai Swan! Prazer em conhecê-lo. – o vampiro dizia aquelas palavras como se estivéssemos em um evento social.

            Seu sadismo embrulhou ainda mais meu estomago. Meus olhos correram em direção a meu pai. Pisquei várias vezes tentando inutilmente limpar minha visão. Quando finalmente consegui não pude manter por muito tempo, pois a expressão de Charlie estava tão apavorada que eu me senti a pior criatura do mundo por tê-lo colocado nesta situação. Era espantoso ver tão claramente em sua expressão esse sentimento.

            - Tenho que confessar a ti Bella, nunca tive uma caçada tão divertida. Até parece uma novela! – disse James num tom alto para que até mesmo meu pai escutasse. – Falando em novela eu não acredito que não te parabenizei pela sua atuação nas semanas passadas! Perdoe-me.

            - Chega! Largue-a! – rosnou meu namorado seu rosto em uma determinação sombria.

            Senti James sorrindo contra a minha bochecha.

            - Não quer que eu revele como você meteu seu amado bichinho de estimação nesta situação? – a resposta foram rosnados que pareciam cada vez mais altos.

            Os Cullen estavam prestes a jogar para o alto tudo o que construíram nessa cidade. Iriam se expor. E eu me apavorei com esta possibilidade.

            - Sabe chefe Swan não se sinta culpado pelas palavras que Bella te disse antes de sair de casa. Ela foi uma ótima atriz, me surpreendeu realmente. Mas sua filha só queria lhe proteger de mim. – o caçador suspirou com pesar. – Aquela história de briga de namorados não foi verdadeira. Foi apenas uma desculpa para que ela fugisse sem ser seguida. Mas ela também não teve culpa sabe? Bella só estava no lugar errado, na hora errada, com a turma errada.

            Fechei meus olhos com força, uma nova onda de dor percorria meu corpo. Não que eu não estivesse sentindo antes, mas essa era muito maior. Minha respiração acelerou. A confusão a minha volta tornou-se apenas algo muito distante e as vozes se tornavam apenas murmúrios desconexos. Mas uma voz soou baixa e tentadora.

            - Porque não conta a seu pai o que é o seu namorado.

            A pressão gelada em minha boca sumiu e antes mesmo que eu pudesse perceber minha voz soava alta e apavorada.

            - APAGUEM O FOGO! – a única frase que consegui dizer, pois minha boca foi tapada rudemente por mais uma vez.

            Meu corpo estava em chamas. Será que ninguém via o fogo? Por que não apagam o fogo? Abri meus olhos novamente em busca de respostas e mais uma vez eu via expressões horrorizadas.

            - Você a envenenou! – acusou Rosálie com um misto de choque e... Raiva?

            - Victória está te traindo nesse exato momento seu idiota! Ela se cansou de seus jogos doentios! – disse Alice sombriamente.

            Tudo aconteceu rápido demais para que eu pudesse acompanhar. James rosnou enraivecido e num ato impensado cravou seus dentes em meu pescoço. Meus olhos se arregalaram com a dor e lágrimas jorraram pela minha face turvando minha visão. Então meu corpo foi solto e eu tombei para frente.

            Estranhamente eu não caí diretamente no chão. O chão não moldaria a minha volta. Mas eu sabia o que era aquela frieza de mármore em torno de minha cintura. Um chiar alto apitava em meus ouvidos.

            - Bella calma, vai ficar tudo bem. Shii. Calma. – murmurava uma voz perfeita, só então percebi que o chiar era meu grito de dor misturado com soluços.

            - APAGUEM! ESTÁ QUEIMANDO! POR FAVOR, APAGUEM O FOGO! – implorava, mas ninguém fazia o que eu pedia.

            - Edward pare! Bella precisa de você! – gritou a voz que antes me pedia calma.

            Ao fundo eu escutava o som de trovões e rosnados de animais, imediatamente a cena de dois leões brigando me veio à cabeça. Mas meu raciocínio não durou muito tempo, a dor parecia correr pelas minhas veias e artérias. E eu sentia cada vez que meu sangue corria por algum canal. Estava doloroso, sufocante.

            Dedos gélidos correram pelo meu pescoço até que entraram em contato com a outra mordida de James, aquela antes de entrarmos no refeitório.

            - Ele já havia a mordido. – outra voz soou horrorizada.

            - Edward! – não foi uma voz de anjo que o chamou.

            - Bella! – reconheci a voz de Charlie embargada em desespero. – Carlisle o que está acontecendo com ela?!

            - Sinto muito pai. – conseguir dizer antes que uma nova onda de dor me tomasse.

            Apertei meus dentes tentando segurar mais um urro de dor. Charlie não respondeu, mas eu tive a sensação de escutar um choro abafado a minha esquerda.

            - Bella foi envenenada chefe. Se for o veneno que estou pensando ela... Não tem muitas chances. – a perfeita voz de Carlisle soava derrotada e eu entendi naquele momento que aquela seria a ultima vez que falaria com meu pai.

            Abri meus olhos o procurando através do véu de lágrimas que cobriam a minha visão. Achei-o a minha esquerda. Grossas lágrimas escorriam por seu rosto. Em seus olhos existia tanta dor que meu choro se intensificou.

            - Sinto muito pai. – murei repetidas vezes.

            - Shii... Você não tem culpa Bella. Ficará tudo bem. – cantarolava ele como se fosse um mantra, mas não era a mim que ele tentava convencer e sim a si mesmo.

            - Eu amo o senhor.

            - Eu também te amo filha.

            - Diz para a mamãe que eu a amo também e pede para o Phil cuidar bem dela. – tentei ao máximo não gritar minhas palavras, a dor parecia mais intensa agora.

            Vi meu pai assentir entre suas lágrimas. Eu sabia o que estava acontecendo comigo, Alice me contara como acontecia a transformação. Era inevitável, uma hora aconteceria. Fico feliz em poder me despedir de Charlie, mas também gostaria de fazê-lo com Renée.

            O som de vidro se quebrando chamou minha atenção.

            - Onde está Edward? – perguntei entre dentes.

            - Ele já vem Bella. Ele já vem. – reconheci a voz de Alice, seus pequenos e firmes dedos ao redor de meus braços fazendo uma grande pressão.

            Suas palavras não me tranqüilizaram. James poderia estar o machucando. Edward!

            - Edward! – chamei me debatendo, mas percebi que eu já o estava fazendo mesmo que não percebesse.

            A pressão dos dedos de Alice era a tentativa de me manter parada.

            - Calma Bella, calma! – pediu Carlisle e mais um par de mãos me seguravam.

            - Bella! – a voz do anjo soou perto e completamente horrorizada.

            - Edward. – grunhi entre dentes.

            - Estou bem aqui. – suas mãos seguraram as minhas e eu as soltei me agarrando nas mangas de sua camisa. – Carlisle, você precisa tentar! Por favor! – implorou a linda voz.

            Carlisle deve ter respondido por pensamento, pois Edward deixou que um soluço seco escapasse de sua boca enquanto me puxava para seus braços. Enterrei meu rosto em seu peito de mármore e me deixei abafar meu grito. Estava doendo. Estava doendo muito. Agora entendo o que Edward quis dizer quando comentou que nenhum vampiro esquece a sua transformação. Além de suas memórias impecáveis eu compreendo perfeitamente que essa dor não é algo que se possa esquecer.

            - Pode gritar Bella. Não se segure. Estou aqui com você. A dor vai passar, eu prometo.  – dizia o anjo com seus lábios gélidos encostados em minha orelha. – Eu sinto tanto Bella. – não era justo ouvir tanta dor em sua voz. – Perdoe-me, por favor.

            A queimação deu uma trégua e eu tirei meu rosto de seu peito puxando todo o ar que conseguia como se a muito não estivesse respirando. Ofeguei cansada e abri meus olhos. Edward estava com o rosto esculpido em tristeza, desespero e resignação. Com a respiração pesada levei uma de minhas mãos ao seu rosto perfeito.

            - Não chore. Não é como se eu não fosse ficar ao seu lado. – sussurrei e mais dor apareceu em seus olhos, mas nada mais pude fazer quando a onde de fogo arremeteu com mais força.

            Minha mão simplesmente agarrou-se na gola de sua blusa, tentando inutilmente se agarrar a qualquer coisa que evitasse a dor. Não foi o suficiente e eu gritei e chorei como nunca antes em minha vida.

            Olhei-me com uma careta. Eu estava coberta de terra, o cabelo embaraçado, o vestido sujo de sangue e em farrapos. Edward não chegava das caçadas daquele jeito.

- Você se saiu perfeitamente bem. – garantiu-me ele. (Trecho retirado da obra de Stephenie Meyer – Amanhecer, página 325)

            - Agora que minha cede foi sanada, poderia me contar o que aconteceu em quanto eu estive “desacordada”? Eu realmente escutei o meu enterro?

            Sua expressão relaxada mudou para uma mais séria então ele me estendeu a mão. Seu toque não mais frio para mim fez com que um turbilhão de sentimentos se apoderasse do meu corpo. Nunca imaginei que seria assim. Sempre pensei que demoraria mais para sentir o que estou sentindo agora. Mas eu ainda o queria, de um jeito ainda mais forte do que quando era humana. Deixaria para perguntar sobre isso mais tarde. Agora eu queria entender tudo àquilo que escutei quando o bater de meu coração parou.

            Quando a dor finalmente parou e eu abri meus olhos para uma nova vida tudo mudou. Meus sentidos estavam muito mais intensos. Minhas primeiras ações me surpreenderam. Por exemplo, assim que senti um toque quente em minha mão eu praticamente voei em direção a parede me colocando em posição de defesa e um zunido parecido com milhares de abelhas saiu de meu peito. O que fiz foi puramente extintivo e completamente impensado. Só quando foquei meus olhos nos seres perfeitos em minha frente foi que entendi o que realmente acontecera. O toque quente fora de Edward, agora nós tínhamos a mesma temperatura. Ele sorria amistoso para mim e eu tive vontade de chorar quando me choquei contra seu peito abraçando-o. Então ele gemeu de dor e meus olhos arregalaram.

            Minha primeira hora passou-se com minha nova família explicando-me as coisas novas das quais estava sentindo. Era muita informação nova já que nunca soube que um recém-nascido era muito mais forte que um vampiro “adulto”. Toda a hesitação de Jasper me deixou nervosa, ele me analisava com cuidado como se a qualquer momento eu fosse atacá-lo. Foi um alívio quando Alice interferiu falando para Edward me levar para caçar. Só então eu reparei na queimação em minha garganta.

            Mas eu não queria ter ido naquela hora. A dor era incomoda, porém suportável. Eu agüentava mais um pouco. Pelo menos agüentaria tempo suficiente para que eles me explicassem o que fora tudo aquilo que escutei enquanto não tinha coragem para abrir os olhos.

            - Você esteve gritando por três dias sem parar. – começou Edward quando nos sentamos à beira do rio, seu tom era baixo e havia dor em sua face perfeita. – A cidade ficou completamente apavorada com o que aconteceu. James quase expos a todos nós. Carlisle teve que inventar uma história sobre um Serial Killer que esteve atrás de Alice antes de ela ser adotada por ele e acabou desistindo dela quando entrou para uma família grande. Por algum motivo misterioso esse assassino ficou obcecado por você e então te envenenou com um veneno ainda desconhecido pela medicina. Então você morreu.

            Revirei meus olhos em uma tentativa de achar graça daquela história. Porém nem eu nem ele realmente achávamos graça. Edward ficou com a expressão ainda mais torturada enquanto fitava o rio correr, então finalmente me fitou nos olhos.

            - Me perdoe Bella, eu não queria que isso acontecesse. Você tinha toda uma vida pela frente e eu a tirei de você.

            - Não fale absurdos. Realmente acha que imaginei uma vida que não fosse ao seu lado? Agora pare de se torturar e continue.

            Edward suspirou e voltou seu olhar para o rio. Foquei-me em seu rosto, definitivamente minha visão humana não fazia jus a sua beleza.

            - Acho que toda Forks estava em seu enterro. Tivemos que chumbar seu caixão para que você não sentisse o cheiro de sangue humano e abrisse os olhos antes da hora.

            - Um verdadeiro Thriller. – murmurei e o rosto de Edward suavizou quando ele sorriu levemente.

            Mas logo sua expressão voltou a ficar séria quando ele continuou.

            - Foi muito difícil te ver sendo enterrada.

            - Eu fui enterrada? – perguntei chocada.

            - Foi preciso para manter as aparências. Mas mesmo que fosse apenas uma farsa, mesmo que eu soubesse que você não precisava mais respirar eu... Eu me senti em pânico quando começaram a descer seu caixão. – seus olhos correram de um lado para o outro perturbados com a lembrança.

            Sua angustia me deixou angustiada e rapidamente enganchei meu braço ao seu repousando minha testa em seu ombro.

            - Eu meio que fiz um escândalo. – disse ele risonho.

            - Não consigo te imaginar fazendo um escândalo. – franzi a testa.

            - Não foi bem um escândalo, mas Emmett teve que me segurar para eu não destruir seu caixão e levá-la dali. Jasper e Carlisle tiveram que ajudá-lo para me levar para casa. Fiquei meio fora de mim. Mas acabou que foi bom para o teatro. Tornou a peça mais real. Na mesma noite invadimos o cemitério de Forks e a tiramos de lá. Mudamos-nos na manhã seguinte. A história era que o pobre Edward ficara muito abalado com a morte de sua namorada e a família resolveu ir para outra cidade para o garoto recomeçar a sua vida. – ele sorriu torto voltando seu olhar para mim. – O que é uma grande mentira, já que se algo tivesse acontecido com você eu teria ido logo atrás.

            Meus olhos arregalaram e então percebendo que ele falava sério eu rosnei furiosa.

            - Nunca mais diga isso!

            - É a verdade Bella. – murmurou encolhendo seus ombros.

            Levantei-me bufando e pulei sobre o riu voltando para casa. Meu peito doía com espasmos involuntários e meu rosto entortava em desespero. Só então eu percebi que estava chorando.

            No meio do caminho senti um par de braços me puxar para trás de encontro ao seu peito de mármore. O calor de seu corpo reconfortando minha angustia.

            - Como pode me dizer isso? Se fosse o contrário como se sentiria se eu dissesse que iria me matar? – perguntei soluçando e instantaneamente seus braços me apertaram com mais força. – Agora você entende o que eu estou sentindo?

            - Sim. – sussurrou ele me virando de frente para ele e afagando meu rosto. Sua expressão estava mais leve e eu via em seus olhos que ele se sentia mal por ter entrado naquele assunto e não me surpreendi quando sorriu levemente e disse. – Mas não precisamos nos preocupar mais com isso Bella. Serei seu até quando você me quiser ao seu lado.

            Sorri com uma careta de choro sem lágrimas.

            - E eu continuarei ao seu lado pelo mesmo motivo.

            - Então ficará comigo enquanto ambos estivermos vivos. – sorriu torto e beijou meus lábios.

            O beijo era algo que mudou completamente. Pois agora, Edward me beijava como devia. Ele não tinha mais medo de me quebrar.

            - Ai! – Opa! Agora eu tinha que ter cuidado para não quebrá-lo.  

            Afastei-me com medo e ele riu me abraçando.

            - Ah! Minha Bella! Eu sou realmente um monstro. Sou o principal responsável por você perder sua alma e mesmo assim me sinto o homem mais feliz do mundo! – seus sorriso era divertido e eu revirei meus olhos.

            - Não estou afim de começar a discutir com você sobre isso. Até por que sei que é inútil. Carlisle passou quantas décadas tentando te convencer do contrário? Seis? Sete? Você é um velho teimoso. Não adianta. – tagarelei com falso pesar.

            Edward estreitou seus olhos para mim, então eu sorri largamente e disse.

            - Pare de se torturar e venha começar nossa eternidade da maneira certa.

            - E essa maneira seria...?

            - Me beijando, é claro. – disse em tom óbvio.

            - É claro... – concordou divertido e vindo ao meu encontro.

            Eu nunca me cansaria de seus lábios, de seus toques, das suas doces palavras. Nem mesmo do seu gênio alto-depreciativo. A verdade é que eu nasci para ser o encaixe perfeito para Edward. Nasci para me tornar vampira com a missão de trazer alegria à vida tão solitária deste homem que, mesmo não acreditando, o merecia.

FIM.


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Notas finais do capítulo

Então? Gostaram? Comentem para eu saber ;)