Voleur Sinderella escrita por Pequena em Paranoia


Capítulo 1
Capítulo 1 - Behind Blue Eyes


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do primeiro capítulo. Ele é uma pequena introdução a história, juntamente com o segundo capítulo. Ainda sim espero que gostem.



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Auckland, Nova Zelândia. 12 de setembro.

Se o sol baixasse em seus olhos já abertos seria um milagre. Tinha dormido tão tarde que ele mesmo não se aguentava com os “bips” do celular. Por incrível que pareça, Charles continuava “dormindo”, bagunçando o cabelo louro, lavando o rosto na pia de seu banheiro e descendo as escadas do sótão, enquanto o sol subia no céu. Dias duros naqueles últimos oito anos, mas aquela era sua rotina.

Oito anos atrás, Lucio Gareth morreu num acidente de carro, provocado por um caminhão quase desgovernado, fazendo com que sua mulher, agora então viúva, criasse suas duas filhas e seu enteado, Charles Gareth, com a herança abastada que recebeu pela morte do marido. Desde então, o casarão da rua tornou-se sua casa, o maior daquele bairro chique, uma verdadeira mansão.

Charles era filho de Lucio, mas nenhum tostão do pai ele herdara com a morte. Sua verdadeira mãe não se casara com seu pai e morreu pouco depois de seu nascimento. Como seu pai não deixara testamento, acabou por se tornar servo de sua madrasta.

Uma história meio manjada, desgastada com o passar do tempo... Todos os dias acordando na madrugada, cortando a grama, passando roupa, fazendo café, cozinhando, limpado janelas e tapetes, dando banho no gato, costurando, consertando aparelhos quebrados e aturando uma vida com vozes insuportáveis berrando em seus ouvidos direto.

– Charlie?! – começava a gritaria logo após o silêncio do despertador – Onde está o café?!

Ele piscou lentamente os olhos mareados, terminando de colocar a geleia no pão e seguindo para o quarto de Maxine Oitava, senhora daquela casa.

– Posso entrar? – ele dizia lentamente, batendo na porta do quarto da madrasta.

A aprovação veio num tom seco, mas ele mesmo não ligou.

Maxine Oitava Gareth era o nome da mulher, tinha olhos grandes e um sorriso um pouco forçado, tons irônicos insuportáveis e um jeito tão estranho que chegava a ser estúpida. Ela era conhecida na sociedade por ter feito no mínimo dez plásticas nos últimos anos, por suas filhas superficiais, por falta de conteúdo cerebral e por tratar extremamente mal seu enteado, Charles.

– Vou deixar aqui em cima a bandeja. – disse Charles com os olhos por metade abertos, talvez pelo sono ou por ser extremamente deturpadora a visão de Maxine entre lençóis.

– Querido, você esqueceu que tinha que acordar mais cedo hoje? Meu remédio atrasou mais de meia hora, não acho isso muito justo. – ela falou com um sorriso entre os lábios carnudos. Então fechou o cenho e o mirou rigidamente - Vá logo terminar seus afazeres!

Ele revirou os olhos.

– Não vai acontecer outra vez, Maxine.

– Muito bom. – ela falou – Vá acordar as meninas e deixe-as no colégio mais cedo, não quero que aquelas duas repitam o erro de bater outro carro. Meninas tolas!

Charles assentiu com um movimento de cabeça, desejando que estivesse surdo e não tivesse que escutar o gralhar da madrasta. Ele estava tão cansado e sua ressaca era tão grande que saiu do quarto como um cachorrinho submisso. Talvez aquilo fosse o que ele realmente era.


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– Charlie, se eu te perguntar qual é o brinco mais bonito você responde com sinceridade? – sibilou a jovem ruivinha, colocando dois brincos enormes com mistura de penas e missangas nos olhos dele.

– ROSE, tá ficando louca?! – berrou Charles batendo na mão dela sem tirar os olhar do lugar que estavam. – Eu estou dirigindo!

Rose baixou os olhos verdes com raiva, exclamando:

– Cachorrinho burro, não deveria ser grosso comigo!

Rhonda riu-se como um porco chiando de fome, abraçando a irmã e dizendo:

– Deixe que o nosso vira-lata se divirta com seus momentos! – foi então que pegou um dos brincos das mãos de Rose e colocou em sua própria orelha – Você fica mais bonita com as continhas verdes, eu vou ficar com esse aqui.

A irmã segurou a mão da outra e as duas começaram a se puxar de um lado para o outro no banco detrás do carro. Acabaram por deixar que o brinco caísse debaixo do banco, berrando escandalosamente o quanto tinham perdido com a indiferença de Charles. Culpa de Charles, sempre!

Rhonda fazia o tipo de garota magricela e alta, enquanto Rose era baixa e repleta de sardas abaixo dos olhos. As duas faziam contradições com suas aparências, mas ambas tinham cabelos ruivos estirados e pele alva.

– Boa aula... – disse Charles com desdém, enquanto as meninas saiam do carro, empinando o nariz e rebolando os quadris de um lado para o outro. – Não esqueçam de ligar se forem voltar com alguém!

As duas apenas andaram pelo pátio escolar arrebitando o bumbum, como se tudo estivesse aos seus pés, arrancando risadinhas do time de futebol e das líderes de torcida. Rhonda era alta e magricela, enquanto Rose era mais robusta, mas completamente desajeitada.

– Sorria e continue andando, Rose. – sibilou Rhonda com um sorriso tão amedrontador quanto o de sua mãe.

– Sim, querida irmã! – riu-se a pequena Rose tropeçando em seus próprios pés.

Charles abriu um sorriso vendo a situação. As duas irmãs não eram as pessoas mais simpáticas do mundo, mas o que ele poderia fazer se eram suas irmãs?

Ele olhou no retrovisor, vendo seu rosto de cansaço, em seguida dando a partida no carro da madrasta para sair do estacionamento do colégio das meninas.

– Rato! – ele berrou assim que viu passar na frente do carro um garoto magricela com várias mochilas nas costas.

O jovem olhou, piscou algumas vezes e berrou:

– Charlie! Não acredito que você veio dirigindo o carro da patroa hoje!

– As meninas bateram outro carro semana passada e agora eu sou motorista de aluguel dos dois monstrinhos. – dizia Charles, enquanto o outro dava a volta, indo ao seu encontro.

– Pelo menos você ganha hora extra, certo?

Charles riu sarcástico:

– Ganho tanto que você nem imagina, eu só continuo trabalhando porque eu amo minhas irmãs e minha madrasta simpaticíssima. – gargalhava revirando os olhos – Rato, você tem que aprender as horas que pode ficar em silencio.

Jack, o garoto franzino, deu um pequeno riso arqueando as sobrancelhas.

– Bem, pelo menos tem a loja do papai. Acho que você é o melhor empregado dos últimos anos haha.

– Se eu dependesse apenas da Maxine para pagar minha faculdade...

Os dois riram longamente.

O pai de Jack (ou Rato) tinha uma loja de CDs num shopping térreo e seus melhores empregados eram os próprios Jack e Charles que lá trabalhavam desde os 14 anos, descarregando caixas e arrumando a mercadoria. Não que sempre tivessem ganhado muito dinheiro com aquilo, mas foi o que fortaleceu a amizade dos dois.

– Mas hoje à noite? Acha que vai dar certo escapulir do dragão que te cria? – sibilou Rato, olhando a sua volta de maneira discreta.

Charles suspirou, dizendo:

– Eu disse que ia dar certo.

Os dois deram as mãos e Charles soltou um sorrisinho de lado.

– Fata pouco, Charlie...

– Rato, o que a gente faz tem que ser feito e não importa se eu gosto ou não. – dizia Charles levantando olhar. – Depois de amanhã a gente termina o serviço.

O sorriso de Rato brilhou.

– AH, CARA! Você é o melhor! Se você fosse mulher eu me casava contigo!

Charles fechou o sorriso de uma vez e pisou bruscamente na embreagem, dando um susto em Rato que pulou no mesmo lugar.

– Nunca mais fale assim! – berrou Charlie, dando a ré rapidamente – Eu te pego nove horas pra visitar o lugar!

E o pneu cantou no estacionamento com Gareth rindo da cara de assustado do outro, quase correndo como um idiota.

– Ta certo. – falou Rato acanhado entre os ombros. – Não brinco mais...

Foi então que três rapazes grandões com casacos do time de futebol cercaram Rato com risos maléficos. Cada um maior que o outro. 

– Bom dia, maricas! – gargalhou o mais alto, enquanto outro deles acabou pegando os óculos de Rato, bagunçando com seu cabelo rapidamente.

Um gordo careca pegou uma das sacolas e bagunçou tudo o que tinha dentro.

– Bom dia, gente... - falou Rato calmamente.

– O guarda-costas te deixou hoje, foi?

– Na-não – gaguejou puxando a sacola para si – o Charles já está voltando. Então é melhor não mexerem m-m-muito comigo!

Os três riram, entorpecidos. Rato começou a se encolher agoniado, sempre apertando uma das mochilas contra o peito e evitando olhar direto para os três.

– E aí, cadê os CDs que você prometeu?

Ele arrumou os óculos em dois segundos.

– Eu não prometi coisa alguma, Bruce! Deveria parar de ME ATORMENTAR!

Caíram na gargalhada, literalmente. O careca se segurou em seus próprios joelhos, desvencilhando entre os risos. Rato, incrivelmente sem jeito e envergonhado, perdeu toda a coragem, quando, de repente, um dedo começou a cutucar os ombros do mais alto e quando ele se virou, deu de cara com um rosto de anjo.

Atrás dele estava uma moça de longos cabelos castanhos e olhos verdes como um chapéu de duende irlandês que olhava furiosa para os três que acabaram tomando um susto com a aparição repentina. Rato também ficou assustado com ela, era incrivelmente bela e o mirou, desta vez com um sorriso nos lábios rosados, reluzindo com purpurina em volta de seu corpo.

– Bruce, Lewis e Chase... – ela cantarolou – Meus queridos, larguem do pé desse garoto antes que eu seja obrigada a esmagar suas bolas com o taco de basebol.

Os três olharam para baixo vendo que ela carregava um bastão de alumínio e deram um leve risinho.

– Salvo pela rainha, perdedor... – falando isso, os três empurraram Rato como numa filinha.

E quando os três se viraram, Rato suspirou, arrumando os óculos e o cabelo lambusado de gel barato de supermercado. Virou novamente para a moça e assustou-se, tremendo as juntas.

– Não se preocupe, eu tenho pena do meu taco o suficiente para não manchá-lo de sangue das partes intimas de bastardos inescrupulosos. – ela sibilou, abrindo um sorriso de lado.

– Eu realmente sinto medo de garotas com bastões de alumínio. – engasgou Rato.

Ela apenas sorriu, esticando a mão para ele.

– Sou Claire Perrault, muito prazer, perdedor amedrontado.

– Eu sou Rato... Quer dizer, meu nome é Jack, mas as pessoas me chamam de Rato por uma inconveniência do destino. Pode me chamar de Rato se quis- – de repente ele parou e engoliu a seco – Calma, você é uma Perrault? Digo, filha de Devoir Perrault, o dono da cadeia de hotéis?

A garota assentiu com um balançar de cabeça e uma revirada insatisfeita de olhares. Rato não conseguiu deixar de perceber a beleza que clareava nos olhos dela. Acabou se confundindo meio desnorteado.

– Enfim, minha aula já vai começar, se algum dos grandões vier novamente, me avise. Eu sou do tipo que não tolera estupidez assim. – disse Claire, mandando um pequeno tchauzinho e andando com o cabelo balançando de um lado para o outro.

Rato a olhou entrar no colégio, se apressando em arrumar as mochilas de suas próprias costas e seguir o caminho que ela fizera no segundo que o sinal tocou.


.


Auckland, Nova Zelândia. 15 de setembro.

– Então, oficial Campbell, o que pode dizer sobre o ocorrido? – a mulher de cabelos curtos avançou o microfone para a boca do homem de sobretudo cinza.

Ele mal deu atenção à mulher, apenas com uma virada rápida de cabeça. Campbell era um homem de no máximo 35 anos, incrivelmente jovem, mas com uma ficha na polícia invejável.

– Oficial, poderia nos dar alguma palavra?

O cenário era uma joalheria renomada com vidros retirados dos lugares e apenas algumas peças em falta. Os jornalistas se espalhavam pelo corredor entre os mil flashs e os policiais tentavam conter os funcionários e bisbilhoteiros de fora.

Campbell voltou-se para a mulher, dizendo com a voz rouca:

– Bem, não temos muito a esclarecer. Se vocês pudessem tirar as outras corjas para que pudéssemos fazer nosso trabalho, facilitaria bastante.

Não se importando, ela o seguiu como um animal seguindo um pedaço de carne.

– Oficial, não é a primeira vez que um roubo como este acontece, a população está começando a se amedrontar. Não faz mal esclarecer um pouco o que está acontecendo! Estamos lidando com Sinderella outra vez?!

Continuou com o olhar tão fixo nele que o oficial desejou ceder. Os argumentos dela nem eram tão convincentes assim, sequer sua beleza de mulher o faria falar, ainda sim ele se colocava na dúvida. Como dissera, não era a primeira vez que uma ação desse gênero acontecia, a polícia era pouco competente, apenas ele como federal se mantinha na posição de importância com a situação.

Campbell acabou por franzir a testa, suspirando.

– Eu prometo, - ele começou a dizer, enquanto levantou a orelha e o microfone juntos – saia agora do lugar e leve todos eles com você e terá o que deseja. Agora, a única coisa que vai conseguir é que eu fique com mais raiva e quebre a câmera do seu amigo...

Os dois jornalistas fecharam o cenho e deram de costas para o policial. Não só eles, mas com muito esforço, todos os outros no lugar. E com as câmeras já cessadas e a multidão contida os peritos se colocavam nos lugares devidos.

Um jovem vestido com farda cutucou o ombro de Campbell, que se virou como se fosse berrar , esperando que fosse a jornalista inconveniente novamente, mas que fitou o jovem de cabelos curtos e ruivos que tinha um olhar desamparado.

– Diga, Ray. – disse o oficial.

– Damon, eu estou confuso. – começou o rapaz, se encolhendo entre seus ombros – Digo, você já sabe que o que aconteceu é igual ao roubo na St. Swanson, mas não disse nada sobre isso ao Comissário Johnson! O que aconteceu exatamente dessa vez?

Damon Campbell sorriu para o garoto, apontando para as telas de vidro retiradas dos balcões que continham as joias roubadas e dizendo:

– Está vendo ali que foram retirados sem serem quebrados, sequer terem disparado o alarme? Bem, assim como em St. Swanson, eles desfiaram os fios de alguma maneira, desligando o sistema de alarme, não quebraram para não fazerem barulho, retirando todas os pregos que prendiam o vidro. – Acabou chegando perto de um dos vidros com cautela, enquanto o outro o seguia – Seria preciso mais de sete homens realmente fortes e cuidadosos, mas como vimos na última vez... – ele, usando o pé, empurrou um lado do vidro que o separou dos outro, e assim foi andando e repetindo a mesma ação. O vidro grande se separou em quatro – Para fazer isso, cortar o vrido, os ladrões ou usaram querosene e um fio especializado ou um diamante de mais de dois centímetros.

Assim, Campbell arrancou da boca do policial ao seu lado o cigarro aceso e atirou no vidro. Não demorou nem três segundos para que o fogo começasse a surgir e se espalhasse. Ray encarou o olhar de Campbell.

– Usaram querosene.

– Eles são espertos, isso ajuda com a história das digitais, haha. – riu-se sádico. – Não acredito que tenham mais que quatro pessoas envolvidas nisso, talvez umas duas ou três. E olhe, retiraram cerca de cinco a dez peças da vitrine, eles vieram aqui com um objetivo, senão teriam levado tudo. Peça para o chefe de segurança entregar as fitas de vigilância pela manhã no meu escritório.

– É, Sinderella sempre foi um enigma... São três pontos para O Ladrão Sinderella, zero para a polícia.

Assim, Damon Campbell deu de costas e a madrugada em Auckland se prolongou com um brilho insensível de Sky Tower e de dois ladrões sem um brilho nos olhares, mas em suas bolsas com oito peças reluzentes a ouro e diamante.



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Notas finais do capítulo

Chegou até aqui passando a página ou lendo? AHSUHAUYSH brincadeira. ENFIM, se tiverem gostado deixem reviews! Se não, comentem o que foi ruim (: tentarei melhorar o possível! Beijão e até o próximo capítulo!!!
TÍTULO - Behind Blue Eyes (The Who)



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