Capítulo 10 - O Último Saque

 A situação era estranha e ao mesmo tempo desesperadora. Álvaro alterou as regras para um jogo com bolas que simplesmente explodiam farinha (?) caso fossem atingidas com uma força limite. Incapaz de controlar sua força, Lien deixa a dupla em desvantagem, mas André resolve assumir os saques a partir de agora.

- Será que André pode fazer isso? - comentou Alex, o amigo do casal, enquanto fotografava a expressão tensa de André - Tá na cara que ele tá nervoso...

- Hmm...não sei - murmurou mestre Wong, coçando o queixo em questionamento - Mas é possível lançar a bola com uma força que não a faça explodir, caso contrário Álvaro não poderia fazê-lo. Se André descobrir qual é essa força...

- Vai, amor. Você consegue - disse Lien, tentando animar o garoto.

- Vamos lá! - disse André, ainda meio nervoso. "Sinto essa raquete bem mais leve do que no treino", pensou ele. "Acho que consigo controlar de um jeito bem mais fácil...se eu conseguir medir a força corretamente.."

 Concentrando-se o máximo que podia, ele lança a bola para o alto e tenta atingi-la nem tão forte para que não explodisse e nem tão fraco para que não conseguisse chegar do outro lado. Por mais milagroso que possa parecer, ele consegue lançar a bola sem que ela explodisse, mas ela não chega muito longe do outro lado do quadro. Por outro lado, Álvaro não esperava isso e a bola explode do seu lado da quadra. Ponto para os meninos.

- O quê?! - exclama Álvaro.

- Isso! Você conseguiu! - comemorou Lien.

- Consegui? Consegui mesmo? - disse André, desacreditado no que vira - Ponto para a gente!

- Tsc! Parece que você consegue lançar sem fazê-la explodir...mas será que pode impedir que ela atinja o seu lado? - falou Álvaro, certo de que eles precisavam mais do que isso para vencer. O garoto lança a bola mais uma vez e mais uma vez Lien e André não conseguem pegá-la.

- Ah, não! - reclamou Lien.

- Droga..mais dois pontos e ele vence a partida - percebeu André.

- Por sorte, é a nossa vez agora - falou Lien - Você saca de novo, André?

- É claro - disse ele, meio nervoso. Dessa vez não podia falhar. Dois pontos separavam Álvaro da vitória e André ainda precisava de mais cinco pontos. Dois para fechar aquele game e empatar...e mais três para fazer o outro game. Vencer naquelas condições parecia impossível. E com André nervoso, tudo só tendia a piorar.

- Lá vai! - gritou André, mas parece que a sorte não estava do seu lado. Ele consegue lançar a bola, mas ela foi fraca demais e atinge a rede. Ponto para Álvaro...e agora ele só precisava de mais um ponto para fechar a partida. Match Point.

- Ah, não! - gritou Alex - André! Você tinha conseguido aquela vez!

- Eu sei, mas... - disse André - Acho que só tive sorte aquela vez...

- Agora é Match Point para o Álvaro - reclamou mestre Wong - Bem, eles fizeram o possível. Infelizmente, a Lien vai ter que sair uma tarde com um cara desses..tsc.

- Já entregou os pontos? - perguntou Alex.

- Você acha que eles tem alguma chance agora? - falou mestre Wong - Um bom guerreiro precisa reconhecer quando sua luta está perdida!

- Heh...agora querida Lien - falou Álvaro - Só mais um ponto nos separa de nosso primeiro encontro. Mal posso esperar.

- Fala sério - disse Lien arrepiada.

- Droga! - reclamou André - Perder para um babaca desses..

- Err...Álvaro - disse o gandula, ao entregar a próxima bola para Álvaro - Temos um problema...

- Problema? Que problema poderia ser? - perguntou o tenista.

- As bolas com farinha...acabaram.

 Ele congela, sentindo uma gota escorrendo pelo seu rosto.

- O que disse? - perguntou ele.

- É. Acabaram. Não tinhamos muitas e eles ainda conseguiram sacar uma vez. Já acabou.

  Um raio de esperança atingiu nossos herois. Lien volta a ter seu sorriso confiante.

- Haha. Então agora podemos voltar a jogar honestamente! - falou a chinesinha - Isso que dá cantar vitória antes da hora.

- Tudo bem..tudo bem - falou Álvaro - Eu só preciso marcar mais um ponto. Não é isso que vai me atrapalhar.

- Você é mesmo confiante - disse Lien - Acha mesmo que vou deixar você marcar esse ponto tão facilmente agora que sei que as bolas não explodem mais? Vai ter que suar para conseguir isso!

- Lien...querendo me testar até o último instante. Ela realmente me ama - suspirou Álvaro.

- Grrrr! Eu vou mesmo atirar essa raquete na sua cara! - ameaçou a garota.

- Calma, amor - falou André - Podemos vencer...é só jogar como antes.

 E é o que Lien faz. Com toda a concentração possível, ela se preparava para receber o lance de Álvaro. Nessa hora, André percebe uma coisa interessante.

- Lien...corra para a direita.

- Como?

- Quando ele lançar, corra para a direita.

 É o que a menina faz. E a bola foi realmente lançada para a direita. André havia percebido o movimento. Ponto para a dupla.

- Isso! - Alex e mestre Wong comemoraram.

- Eu estava certo - falou André -  Tenho reparado nisso há algumas rodadas. Ele sempre olha na direção que vai lançar a bola de um jeito fixo, um olhar meio forçado. É um vício de jogo dele.

- É mesmo - falou Lien - Agora que você falou...

 Álvaro fica nervoso com isso e tenta consertar, mas era difícil corrigir alguns vícios. Lien saca com toda a força na próxima rodada, mas na direção de Álvaro. Ele rebate com força, mas Lien estava preparada. Ela conseguia perceber o olhar de Álvaro também quando ele rebatia.

- Perfeito! - disse ela, rebatendo com força e mandando mais um ponto, fechando um game para a dupla - Ele também olha muito fixo para a direção que rebate. Parece que certos vícios são difíceis de largar...

- É isso aí! - comemorou Mestre Wong - O problema de jogar com outro artista marcial é que ele também pode tirar conclusões só pelo seu olhar. Eles percebem intenções de ataque e podem prever que tipo de ataque será o próximo. Acho que Álvaro nunca havia jogado com uma artista marcial experiente antes!

- Então...eles podem vencer?

- Certamente!

 E a dupla consegue empatar a partida. Não só empatar, como também conseguir vantagem e ficar com o Match Point a seu favor. A mesa havia virado.

- Oh...não esperava um resultado desses - reclamou Álvaro - Ela é mesmo forte, não há dúvida que é a mulher da minha vida, mas...ainda não me darei por vencido. Sou um jogador honrado.

- Álvaro! Álvaro! - o gandula chega correndo - Achei! Achei uma última bola explosiva!

- Sério? Então não havia acabado? - falou ele.

- É a última - disse o gandula - Não tinha visto na primeira vez.

- Hehe. É ela mesma que eu quero. Vejam aqui...ainda sobrou uma explosiva!

- Muito honrado... - ironizou André.

- Ora, seria desonroso se eu não contasse para vocês! Agora preparem-se!

 Lançar uma bola explosiva seria um problema, afinal o casal não sabia como rebatê-la. Tudo parecia perdido, se a bola, ao ser lançada para cima, não atingisse sem querer um pássaro, que cai na quadra do outro lado todo sujo de farinha. Ele se levanta, sacode as penas e sai voando novamente. Como Álvaro lançou a bola fora, isso foi considerado ponto do casal.

- Ponto para a dupla André e Lien. Bola fora. Partida deles - gritou o árbitro - Ótimo. Agora já posso ir para casa!

- Isso! - os dois comemoram com um beijo apaixonado. Todos da plateia batem palmas. Álvaro estava pasmo.

- D-Derrotado - gaguejou ele, de joelhos no chão - Nem mesmo minhas artes marciais aplicada ao tênis foram páreo para ela...

- Bem...na verdade eles tiveram sorte do pássaro estar passando naquela hora, não? - comentou o gandula.

- Cale-se! Eu, como um jogador honrado, sei reconhecer minha derrota! - falou o tenista.

- Ora, pelo menos ele é um bom perdedor - falou Lien.

- E reconhecendo essa derrota, reconheço o quanto Lien é forte. Agora não resta mais nenhuma dúvida de que ela é a mulher da minha vida! Treinarei duro para conquistar seu coração e..

 A fala dele é interrompida por uma raquete jogada bem na sua cara.

- Esse cara não sabe a hora de parar - disse Lien, a lançadora da raquete.

- Muito forte, muito forte mesmo - disse Álvaro, recompondo-se imediatamente - E também reconheço André Cairo como rival. Alguém capaz de perceber meu único ponto fraco de jogo é alguém com um grande futuro...iremos nos enfrentar novamente, André.

- Um rival? E-Espera aí...

- Isso é bom - falou o mestre Wong - Também fiquei orgulhoso em ver que conseguiu ver um ponto fraco do adversário. Sabe, André, sua disposição e força de vontade me deixaram mais animado para treiná-lo. Amanhã mesmo começaremos seu treinamento no estilo shaolin do clã Wong.

- Sério?! Isso! - comemorou ele, batendo com a raquete na cara de seu pobre amigo Alex.

- Ai!

- Ops, foi mal..

- Acho que também preciso de um treino para me desviar dessas coisas... - murmurou Alex.

 É. Um desafio bizarro superado. Mas o que não faltará na vida desse casal serão desafios bizarros...