Anne Bergerac: As Portas Da Contradição escrita por Ana Barbieri


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

OBRIGADA PELAS REVIEWS starpower Ander e Babi1998... e aos leitores fantasmas! Autora de volta... Escola realmente acaba com a gente...



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Capítulo 5

 O sentimento de horror continua a pairar sobre meu peito. Apesar de o meu amigo estar deleitado, concordamos que ele se sente assim em qualquer situação que envolva perigo. Eu mesma me sinto assim, contudo, nunca havia me deparado com tamanha quantidade de sangue. O rosto de Watson ainda mostra marcas de certa repulsa e pena, mesmo tendo mais anos de convívio com Holmes do que eu.

      _ Onde se encontra o corpo da senhorita Gautier? – até agora eu não havia notado, mas, há um pequeno relevo abaixo das tantas colchas postas na cama. Caminhei até elas e respirando fundo, retirei-as. Algumas manchas de sangue ficaram marcadas no meu vestido.

      Lá estava Roxanne de Gautier, com uma expressão de surpresa no rosto. Surpresa por morrer? Não sei. Mas tinha cortes no rosto e outro corte mais profundo abaixo do peito, mas, parecia não conter digitais. Tive vontade de cair, mas fui segurada por Holmes, que parecia já estar ao meu lado assim que cheguei até o corpo. Começou a fazer suas análises de praxe e Watson veio ajudá-lo.

      _ Quando foi à última vez que viu a senhorita Gautier? – perguntei ao me aproximar daquela senhorita, com o intuito de deixar Holmes trabalhar um pouco em paz. Falando nele, agora está sentindo o cheiro da boca do cadáver... Estranho? Imagina para mim que estou vendo.

      _ Bem, ontem à noite. Primeiro quando os cavalheiros começaram a chegar. Roxanne e eu estávamos recebendo alguns, quando ela disse que precisava subir para esperar certo cavalheiro. Não me disse quem. – analisei bem esta mulher, enquanto falava. Não sou preconceituosa ou cheia de mim, mas, me perguntei enquanto a analisava, o que levaria um homem a trair sua esposa com uma mulher dessas. Quero dizer, ela não é tão bonita quanto Gautier e não parece ser tão inteligente também. Talvez, seja esse tipo de mulher que agrade os homens... Subservientes e fúteis.

      _ Não a viu mais?

      _ Não.

      _ Durante a noite, ouviu algum barulho vindo desse quarto madame? – pelo visto Holmes acabara sua inspeção e tinha um sorriso escondido no canto dos lábios.

      _ Acho... Não, tenho certeza de que ouvi um grito ou um gemido, não sei ao certo, vindo deste corredor. Se foi neste quarto, não sei dizer.

      _ Alguém procurou saber? A senhorita não procurou saber?

      _ Não sei, pois, quando os cavalheiros chegam e a noite cai, todas ficamos ocupadas...

      _ Entendemos! – eu não precisava saber nada sobre a vida dessa mulher neste lugar.

      _ Bem, minha cara, se é tudo que tem a dizer, tomaremos conta do caso. Contudo, peço que não saia da cidade por enquanto, podemos precisar de mais informações.

      _ Compreendo completamente. Fico grata que tomara conta do caso senhor Holmes. Charlotte Craiven, a seu dispor... – a vulgaridade com a qual pronunciou estas últimas palavras foi tamanha que segurei Holmes e Watson pelos braços e sai arrastando-os dali. Imprudência minha não perceber que assim que deixamos o lugar, eu soltara Watson, mas, ainda segurava Sherlock. Como se ele fosse uma criança que poderia se perder.

     Continuamos de braços dados até o cabriolé. Eu extremamente corada, é claro. E quanto ao meu companheiro, parecia estar se divertindo com o meu constrangimento. Ajudou-me a entrar e se sentou de frente para mim, como sempre. Um silencio fúnebre se manteve entre nós por longos minutos, porém, a morta de fome aqui tinha que quebrá-lo, suspirando por causa do cheiro dos pães fresquinhos da padaria. Holmes sorriu. Claro, é ótimo ver a Anne sofrendo pela barriga... Crápula.

      _ Antes que eu me esqueça, minha querida Anne, - quando menos se espera, lá vem ele – não se esqueça de que eu também sei me cuidar muito bem. – pronto. Corei. Vermelhinha como um morango. Ele poderia dizer “Obrigado Anne”, não, ele prefere me desconcertar ali na frente do Watson.

      _Ah... Eu... Não duvido Holmes. Não precisa agradecer, mesmo assim. – não nos falamos mais depois disso. Chegamos a Baker Street com uma grande nuvem de silêncio pairando sobre nós. Subi direto para o meu quarto e me fechei lá dentro. Deitada na cama, pensando porque quis pular no pescoço daquela mulher. “Holmes é seu amigo, por isso.” Certo, meus pensamentos estão parecendo os de uma garotinha carente que não sabe nada da vida.

      Mesmo que Sherlock Holmes me deixe maluca, depois desses dois anos convivendo, não consigo mais imaginar como seria ficar longe dele. Watson também se tornou um ouvinte tão indispensável que minhas piadas não têm graça se não ouço a risada dele em resposta. Até mesmo a Sra.Hudson faria falta... A minha quase mãe.

      _ Anne abra a porta, por favor. – e sou expulsa de meus pensamentos porque Sherlock quer entrar no meu quarto, nada mais justo. Abri a porta para ele, que entrou sem fazer cerimônia.

      _ Gostaria de entrar? – perguntei fazendo ironia.

      _ Sem gracinhas Bergerac. – educado como ninguém. – Quero você lá em baixo, em cinco segundos...

      _ Isso é fisicamente impo...

      _ Em cinco segundos Anne. – e saiu do meu quarto. Deve ser importante ou ele não teria invadido de forma tão abrupta assim. Ao chegar até a sala, a mesa estava posta para o almoço. Watson e Holmes estavam sentados, me esperando eu suponho, pois não tinham sequer tocado na comida. A Sra.Hudson fez sinal para que eu me sentasse logo e assim eu fiz.

      _ Finalmente! Será que eu vou ter que lembrá-la de todas as refeições desta casa?!

      _ Então você invadiu meu quarto apenas para me avisar que era hora do almoço? Holmes... Esqueça. – eu ia dizer que ele estava louco, mas, acho que ele já sabe.

      _ Apenas por não querer discutir em plena mesa Anne, eu vou esquecer. – sorri indiferente e comecei a me servir. Ai... O frango da Sra.Hudson sempre cheirou tão bem, mas hoje ela se superou. Opa... Certo, isso foi engraçado. Sherlock e eu estamos prestes a disputar o mesmo pedaço de carne. A asa. – Pode pegar.

      _ Não, eu insisto que fique com você. Quem sabe não esteja contaminada com o seu olho gordo.

      _ Pegue logo a maldita asa Bergerac.

      _ A maldita asa. Hum, agora não pegarei mesmo... .

      _ EU vou comer a asa. E com isso, selarei a paz. – eu ri alto. Depois que nós dois nos servimos com pedaços do peito, para não disputarmos a outra asa, começamos a falar sobre as possibilidades para aquele caso. Me mantive em silêncio, bem, até a hora de falar sobre quem seria o assassino e Holmes supor que talvez fosse uma mulher. Deixei meus talheres caírem abruptamente sobre o prato, o que foi muito indelicado, mas eu fiquei perplexa.

      _ Como disse? Uma mulher. Uma mulher, ter feito um quarto inteiro ficar molhado de sangue. Uma mulher, ter esfaqueado Roxanne Gautier com aquela brutalidade. Uma MULHER Holmes? – discretamente Watson acaba de remover a minha faca do meu campo de visão. Pelo menos ele pensa que eu não vi.

       _ Não sei se já percebeu Anne, mas, se prestou tanta atenção assim nos meus casos, mesmo antes de vir morar aqui, deve ter notificado que mulheres podem ser tão ardilosas quanto os homens.

       _ Se você estiver se referindo a Irene Adler, saiba que nem todas as mulheres são como ela. Violet Hunter não era como ela, minha mãe não era como ela, eu não sou como ela. E me recuso a pensar que uma mulher tenha assassinado Gautier. Me recuso ainda mais a ficar na mesma mesa que alguém com as suas opiniões sobre mulheres. – me levantei e ele também. Eu começara outra discussão. Deveria existir um premio para isso.

       _ Não estaria certa ao dizer que a maioria das integrantes do seu sexo são totalmente verdadeiras. São excelentes mentirosas, capazes de mentir mil vezes melhor do que qualquer homem. Mesmo você Bergerac, chegou a mentir para mim, ao alegar que não sabia nada sobre meus casos, – essa história outra vez? – mentiu descaradamente e ainda meteu o pobre Watson nisso.

       _ Não me metam nessa história, isso é assunto de vocês.

       _ Ótimo. Eu menti. Mas, pelo menos não sou um machista, arrogante, cheio de si, que se julga mais inteligente do que todo mundo!

       _ Aha! – riso irritante e sarcástico de Sherlock Holmes. – E você se julga a pessoa mais perfeita e agradável do mundo!

       _ Eu nunca disse que era!

       _ Porque sabe que não é! Irritante, irônica ao extremo, petulante e tão arrogante quanto eu minha cara Anne Bergerac. – eu estava prestes a sacar uma faca, mas fui impedida pela voz de Watson.

       _ Meus caros amigos, estávamos discutindo um caso e agora vocês dois estão no meio do que poderia ser uma briga de casal.

       _ Só se eu estivesse bêbada. – disse tentando me acalmar.

       _ Só se eu estivesse tentando me castigar. – retrucou Holmes também se acalmando. Tornamos a nos sentar. Ainda me fuzilando com o olhar, ele terminava sua refeição e eu fazia o mesmo. – Bem, eu acho que estamos todos ansiosos para que este caso se resolva e ao mesmo tempo muito tensos com a inquietante situação. Proponho que distraiamos a cabeça esta noite, uma ida até o teatro. O que acham?

       _ Prefiro jogá-lo dentro de um rio Holmes.

       _ Isso no momento está fora de questão minha cara. – ele me respondeu tentando sorrir. Eu ri do fato de que ele não conseguia ficar muito tempo zangado comigo.

       _ Que pena. Neste caso, eu aceito o convite do teatro. Contanto que seja uma ópera de Wagner. Em que as Valkirias se sobreponham aos homens. – pisquei para o pomposo detetive que riu sarcasticamente em troca. Nunca tivemos uma discussão como aquela. Foi ótimo. Poder gritar com alguém e receber respostas a altura. Por mais que não deva brincar com a paciência dele, espero poder ter outra oportunidade de discutir de forma ruidosa com Sherlock Holmes em breve.


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