Hoje era um dia escuro, mais do que o normal. Era 31 de outubro, Dia das Bruxas e as folhas de outono caiam por todos os lados com a ajuda de uma forte rajada de vento.

Todos os dias, torcíamos para estar em segurança, mas graças a Dumbledore encontramos um meio de nos esconder e proteger nosso filho, Harry.

Lilian estava ao seu lado lançando lhe um sorriso doce, enquanto eu fazia com que minha varinha lançasse vários freixos de luz para manter nosso filho distraído, ele acordou no meio da noite.

Quando eu olhei para cima percebi que Lilian me fitava, estávamos muito assustados ultimamente. O bruxo das trevas mais temido da história estava nos caçando, e ainda não sabíamos o por quê. Era evidente que nunca nos uniríamos a ele, e já tivemos a sorte de enfrenta-lo três vezes, e sair vivos de todas, mas uma parte minha dizia que nunca mais teríamos essa sorte.

Na última semana mal conseguíamos pregar os olhos, com medo de um ataque iminente. Eu sabia que era ridículo, afinal, estávamos protegidos pelo feitiço Fidelis, e Voldemort só nos acharia se o nosso fiel do segredo contar-lhe onde estamos. Até hoje eu acho que teria sido melhor se Sirius tivesse sido o fiel, mas a logica dele era indiscutível, ninguém suspeitaria de Pedro Pettigrew, mas meu coração ainda estava inquieto.

Uma onda de ar gélido percorreu minha espinha e foi seguido de um barulho de trovão e de passos lentos e pesado no asfalto que havia em frente a nossa casa. Ele estava aqui.

Quando ouvi o ranger das dobradiças da portinha do jardim não pensei duas vezes.

- Lilian. – eu disse olhando para uma das pessoas que eu mais amava no mundo. – Leve Harry para cima e fuja. Rápido! – agora eu estava olhando para a outra pessoa que eu mais amava.

Meu filho se parecia comigo em tudo, menos nos olhos verdes que ele herdou de sua linda mãe. Mas agora esses olhos me fitavam com uma expressão apavorada, parecia que ele tinha noção do perigo, mas a sua inocência sem fim não permitia que ele compreendesse o que estava por vir.

- Não Tiago. – disse Lilian, com os olhos prestes a transbordar em lágrimas. – Não faça isso, por favor. Vamos embora juntos.

Os passos que eu ouvia agora pararam bem em frente á porta. Não havia mais tempo.

Lilian se comprimiu em meu peito, as lágrimas escorriam pelas suas bochechas, a única coisa entre nós era o pequeno Harry, que olhava para mim da forma mais pura que se podia imaginar.

Um segundo antes da porta ser explodida por um feitiço que poderia ser considerado fraco, considerando quem o lançou, eu beijei Lilian nos lábios. Transmiti todo o meu amor por ela e todo o carinho que eu tinha nesse simples gesto, para que não restassem dúvidas do quanto eu a amava.

Novas lágrimas surgiram em seu rosto. Olhamos nos olhos um do outro e transmitimos tudo o que não podia ser expresso por palavras naquele momento.

Eu me virei para o homem que estava parado em nossa porta, sabendo o que me aconteceria quando eu posse minha decisão em prática.

- Lilian. – eu repeti. – Fuja com o Harry. Eu o manterei ocupado.

Demorou um bom segundo para ela me obedecer, mas antes que ela saísse de perto de mim eu ouvi o que deveriam, provavelmente, ser as últimas coisas que eu ouviria.

- Eu te amo Tiago. – disse Lilian, de forma rouca e entre leves soluços, mas ainda eram bem significativas.

- Eu também te amo. – eu não poderia ser mais sincero. Após eu pronunciar essas palavras ouvi o som de seus passos escada acima.

Eu encarei o homem que estava atrás de nós durante tanto tempo, ele finalmente nos achou. Isso só significava uma coisa: Pedro revelou-lhe o nosso segredo. Eu não o culpava. Todos sabiam como Voldemort era cruel e desumano, eu só poderia imaginar o tipo de tortura que ele usou para conseguir o que queria.

Era incrível que há duas semanas eu, por um segundo, achei que tudo poderia melhor com a noticia que Lilian me dera: ela estava grávida novamente e eu esperava que dessa vez fosse uma menina.

Entramos no acorde de quem deveria ser o padrinho quando o bebê nascesse, Severo Snape. Provavelmente iria demorar muito para ele concordar com isso, considerando que ele ainda devia me odiar. E eu não o culpo.

Durante todo o tempo que eu estudei em Hogwarts, não passei de um exibido e metido. Mas eu só fazia tudo isso para impressionar Lilian Evans e quando eu implicava com Snape, era só porque eu ficava com ciúmes quando via a grande amizade que Lilian e ele tinham, só que quando eles brigaram no quinto ano eu me senti culpado, foi por minha causa que ele a chamou de Sangue-ruim, e eu esperava que o convidado para ser o padrinho do nosso próximo filho ele conseguisse me perdoar.

Se eu não sobreviver, espero que Lilian e Harry consigam fugir e torço para que alguém tome conta deles por mim. Torço para que Snape cuide deles por mim. Eu sabia do amor que Snape tinha por Lilian e isso seria o suficiente para saber que ele a manteria em segurança.

Voldemort apontou sua varinha para mim e numa tentativa inútil, tentei ser mais rápido do que ele. Quando terminei de erguer minha varinha ele já estava pronunciando o feitiço.

- Avada Kedavra.

Um jato de luz verde correu em minha direção. A última coisa que eu pensei foi: “Lilian, por favor, fique a salvo”.

E eu não sentia mais nada.