The Only One escrita por GabanaF


Capítulo 5
Cap. V — Stay


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como estão? Então, vocês já devem ter reparado que eu sempre uso uma música no capítulo, mas eu uso isso é para me ajudar a por a fic num rumo mais correto, e realmente espero que não seja um problema para vocês. Se tiver, por favor, me avise.
Mas enfim... não quebrando a tradição, nesse capítulo nós temos uma nova música, uma canção de Miley Cyrus, Stay, e aqui está o link: http://www.youtube.com/watch?v=UqeEArdRKxk
Espero que curtam esse capítulo, tenho uma pequena surpresa para vocês no final dele! :D



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A cabeça de Rachel latejava quando ela acordou na manhã seguinte. Ao tentar se lembrar do que acontecera, a dor aumentou e ela foi forçada a parar. Ela abriu os olhos, sentindo agora dor em todo o corpo. O susto de perceber onde estava foi tão grande que Rachel se esticou totalmente, batendo a cabeça já sofrida em algo duro.

Ela não fazia idéia de como fora parar naquele carro. Seus olhos se estreitaram, tentando reconhecê-lo, porém nada lhe vinha à mente. A respiração ficou ofegante e Rachel se desesperou, sentando rapidamente no banco do carro, notando o objeto macio que apertava nas mãos.

Era uma touca feita de lã. Rachel a acariciou inconscientemente, tendo a vaga noção de que já vira Quinn a usando. Seu estômago deu uma volta completa, quase a fazendo vomitar com o cheiro forte de uísque e cigarro que o carro começava a exalar. Ela vasculhou com o olhar o interior do carro e encontrou um papel amarelado no banco da frente, parecendo um bilhete. Ignorando as dores no corpo, Rachel esticou o braço e o apanhou, forçando a vista para conseguir ler.


Rachel,

Eu realmente tentei te acordar, juro, mas seu sono é ferrado. Não levaria você para casa nesse estado, tampouco. Por isso, estacionei perto da escola e te deixei aí. Estava amanhecendo o dia de qualquer maneira... Enfim, se meus cálculos estiverem corretos, você só deverá acordar depois do meio-dia. Tomei liberdade e comprei uns analgésicos para você. Não se atrase para o Glee Club.

Se cuida,

Quinn


Rachel releu o bilhete de Quinn dez vezes até que parte do que fizera invadisse sua mente. Ela olhou novamente o banco da frente, encontrando os remédios que a Skank mencionara. Tomou um rapidamente, sentindo o rosto corar de vergonha. As memórias ainda não eram completas, porém Rachel queria que continuassem assim. Elas estavam horríveis, ela não queria saber o resto do que aprontara.

Num movimento rápido, pulou para o banco da frente e estacou, sem saber o que fazer. Olhou no relógio tosco do toca-fitas e percebeu que o recado de Quinn estava mais uma vez certo: faltava pouco para a uma hora da tarde.

Sua cabeça encostou-se no volante e ela suspirou, cansada. Quinn estava sendo fofa e protetora com ela, mesmo depois do que aprontara e da vergonha que a fizera passar na noite anterior no Hell House. Rachel não entendia. Por que Quinn simplesmente não a jogou no meio da estrada para ser estuprada por qualquer caminhoneiro? Tudo bem que ela não fora a pessoa mais responsável do mundo ao não levá-la para casa, e Rachel provavelmente ganharia um castigo de seis meses se encontrasse seus pais naquele estado, mas por que Quinn a deixara ali com analgésicos e um lembrete aconselhando-a a ir ao Glee Club?

Sua mão continuava apertando a touca de Quinn. Lágrimas caíam, mas Rachel não conseguia distingui-las entre dor e tristeza. Talvez fossem os dois, não tinha certeza. Ela levantou a cabeça, observando o estado deplorável em que estava pelo retrovisor.

Seus cabelos estavam terrivelmente bagunçados, o lápis borrado estava por todo o rosto e seus olhos pareciam inchados. Se não estivesse tão deprimida, teria rido da sua condição naquele momento. Parecia um palhaço horrivelmente macabro.

Rachel tentou limpar o rosto com alguns panos que encontrara no porta-luvas, preferindo ficar sem responder a pergunta em sua mente de como eles tinham sido usados ultimamente. Ela sorriu fracamente ao seu reflexo no retrovisor, imaginando a fúria que teria de enfrentar, agora não só de Finn, mas também de seus pais.

Só que, de alguma forma, não estava preocupada com isso. Sua cabeça estava em Quinn e no beijo que ela, Rachel, forçara. O sorriso se intensificou automaticamente. Tocara os lábios de Quinn mais uma vez, pensou soltando um suspiro. Com isso em mente, ela ligou o Chevrolet e arrancou com ele para a escola.


— Onde está Rachel? — perguntou Finn agressivamente, fechando a porta do armário de Quinn para que chamasse a atenção da garota.

— Não sei — respondeu ela, olhando irritada para o garoto. Suas mãos se fecharam sem que ela percebesse. Interagir com Finn Hudson definitivamente não estava na sua lista de prioridades.

É claro que sabia onde Rachel estava. Afinal fora ela que provocara a morena para que fossem ao Hell House juntas — um erro ao ver o quão descontrolada Rachel era para bebida. Fora Quinn que decidira deixá-la sozinha no carro de seu avô para que ela sofresse as conseqüências do que havia feito mais tarde. Tinha até lhe comprado analgésicos para sua futura dor de cabeça.

E onde Finn estava esse tempo todo? Esperando um telefonema de Rachel enquanto já deveria ter contatado inclusive a SWAT para descobrir o paradeiro da namorada.

— Rachel não dormiu em casa — continuou Finn. — Fui buscá-la hoje e só encontrei os pais dela, loucos de preocupação. Se eu souber de algo que você ou suas “amigas” vagabundas fizeram com a minha namorada...

A fúria invadiu o corpo de Quinn, passando como correntes elétricas por todo o corpo até as pontas dos dedos. Ela empurrou Finn contra os armários com toda a força de possuía, atraindo olhares dos outros alunos no corredor movimentado. O garoto a encarou assustado, mas Quinn não se importou.

— Escuta aqui, Finnstúpido — Quinn puxou Finn para perto dela, encarando-o com ódio —, você cala essa sua boca enorme, entendeu? Por que minha gangue não fez nada com sua namorada. Eu não deixo que elas machuquem ninguém do Glee, por que, mesmo depois da ida de Sam e de vocês não terem dado à mínima para isso, eu ainda me importo com vocês, ouviu?

Ela soltou o garoto, que estava apavorado, lançando um olhar de desprezo a ele.

— Na verdade, acho que posso direcionar o ataque delas para uma única pessoa.

Quinn deu um sorrisinho cínico e voltou a caminhar pelo corredor, pronta para extravasar sua raiva fumando um cigarro atrás das arquibancadas com as Skanks. No entanto, Finn se recuperou rapidamente e gritou para que todos pudessem ouvir:

— Sabe Fabray, aqui você pode ser de um lado, mas nós dois sabemos que este não é o verdadeiro, aquele lado que você mostra no Hell House!

A garota parou na metade do corredor. Alguns alunos lhe lançaram olhares de esguelha, controlando o riso. Finn sorriu triunfante. Quinn mordeu o lábio, indecisa entre se virar e quebrar o nariz do garoto com um soco ou ir direto para as arquibancadas. As duas opções lhe parecia muito tentadoras.

Finn deu as costas à garota, deixando-a sozinha com as risadas e os olhares malignos dos alunos. Foi a primeira vez que Quinn sentiu-se frágil sem estar perto de Rachel Berry. Sentia-se horrível. Ela não mais impunha medo nos garotos com aqueles coturnos velhos ou os olhares de superioridade. Quinn Fabray era mais uma louca na McKinley High School, e tudo isso era culpa do maldito Finn Hudson.

Quinn saiu correndo pelo corredor desesperadamente, com um lastro de lágrima descendo pelo seu rosto, agora não tão impenetrável.


— Carro maldito! — exclamou Rachel ao finalmente conseguir chegar ao estacionamento da McKinley High.

O Chevrolet Nova engasgou algumas vezes até parar completamente numa das poucas vagas livres. Rachel não fazia idéia de como Quinn conseguia dirigi-lo. Precisava de muita força nos braços para girar o volante duro e sem direção hidráulica. Seu carro não poderia ser um dos mais caros de Lima, mas pelo menos ele tinha tais luxos, não mencionando o fato de ser dessa década.

Ela o trancou e lançou um último olhar de raiva a ele, guardando as chaves no bolso. Caminhou apressada, procurando entrar pelos fundos do colégio, preocupada sem alguém a visse como estava. Rachel tentara, um pouco antes de chegar à escola, arrumar mais uma vez seus cabelos e a maquiagem borrada, porém tudo ainda a fazia parecer um mendigo viciado em Broadway.

A garota, no entanto, hesitou antes de entrar no colégio, seus olhos vidrados no campo de futebol onde as Cheerios treinavam. Ela teria de ver Quinn alguma hora para lhe devolver as chaves do Chevrolet, por que não agora? Quinn provavelmente estaria atrás das arquibancadas, fumando com as Skanks naquela pose tentadora e com um sorriso indecifrável no rosto.

Um arrepio involuntário percorreu o corpo de Rachel, fazendo a garota se esquecer que tinha uma aula com Finn no próximo tempo e rumar para o campo de futebol, se aproximando temerosa dos gritos de Sue Sylvester.

Ela não sabia exatamente por que queria ver Quinn novamente. Claro, para entregar-lhe as chaves de sua lata velha, mas havia algo mais, alguma coisa que Rachel não conseguia decifrar. De repente, sentia a necessidade de ver Quinn Fabray, de saber se ela estava bem ou não. Era um sentimento que ultrapassava a promessa que fizera a Sam antes das férias.

Rachel esgueirou-se pela parte da frente das arquibancadas quando ouviu um choro contido. Ela engoliu em seco, se perguntando qual das Skanks teria sensibilidade suficiente para demonstrar sentimentos, ainda mais dentro do McKinley High. Pelo que se lembrava da noite anterior, nenhuma delas parecia realmente sentir alguma coisa.

O som de nariz sendo assoado grotescamente fez Rachel acordar de seu devaneio. Deveria ou não interferir no momento particular de qualquer um que estivesse atrás das arquibancadas? Ela mordeu o lábio inferior, indecisa. Era Rachel Berry, concluiu, avançando em passos demorados. Iria descobrir de qualquer maneira quem estava ali.

Ela invadiu a parte de trás das arquibancadas e seu coração deu um salto enorme.

Quinn estava sentada no chão, pouco importando se sujaria ou não sua calça remendada ou sua camisa xadrez vermelha e preta. Ela chorava como um bebê que não recebera sua mamadeira. A cabeça estava encostada nos joelhos e apenas o som do soluçar dela fez Rachel dar um passo minúsculo para trás, pronta para voltar à escola e assistir aula com seu namorado.

Nunca havia visto Quinn tão destruída, e era isso que mais assombrava Rachel. Por detrás daquela máscara de garota fumante e durona, ela estava realmente machucada. A morena sentiu os olhos arderem de lágrimas e o impulso de abraçar Quinn foi tão grande que ela tropeçou na tentativa de acalmar suas pernas, chamando a atenção da outra pela primeira vez.

Ela inicialmente levantou a cabeça, assustada com a possibilidade de alguém tê-la pego naquele estado. Quando notou que era Rachel, contudo, sua expressão mudou diversas vezes. Um sorriso começou a se formar em seus lábios, mas logo o rosto de Quinn se fechou e ela levantou, parecendo pronta para avançar em Rachel e jogá-la do outro lado do campo de futebol, até parar um metro de distância dela, tentando controlar todos seus instintos assassinos.

Rachel, por outro lado, permaneceu impassível diante todas essas transformações nas expressões de Quinn. Ela ainda estava um pouco amedrontada de ter encontrado a garota tão deprimente. Não sabia por que, mas queria que Quinn apenas risse sarcasticamente, dissesse que estava tudo bem — mesmo ela não sabendo que não estava — e puxasse um cigarro, lançando aquele olhar de superioridade que ela sabia dar tão bem.

— O que está fazendo aqui, Rachel? — perguntou Quinn, pela primeira vez não tentando seduzir a morena com seu sotaque rouco e sexy. Agora, seu tom era apenas triste.

— Achei melhor devolver as chaves do seu carro logo. — Rachel tirou as chaves do maldito Chevrolet do bolso e as entregou a Quinn.

A punk agradeceu com a cabeça e virou para o outro lado, crispando os lábios de raiva. Rachel franziu a testa, se perguntando o que fizera Quinn se entregar às emoções depois de tanto tempo.

— Obrigada pelos analgésicos e por não ter me levado para casa — continuou a morena, dando dois passos na direção de Quinn, acanhada.

Quinn, no entanto, permaneceu de costas para Rachel, ignorando-a completamente.

— Quinn, o que aconteceu...? — tentou perguntar Rachel, porém Quinn já estava prestes a explodir.

— Você contou a Finn, não contou? — indagou Quinn suavemente, embora Rachel percebesse que suas mãos tremiam de fúria.

— Contei sobre o quê?

Quinn virou-se para Rachel novamente. Seu rosto estava manchado de lágrimas. A morena desviou o olhar, percebendo que ver Quinn daquela forma era como tortura. Parecia doer nela toda a agonia que acontecia com a garota punk.

— Sobre o Hell House, sobre a música, sobre Sam, sobre tudo! — Quinn gritou, apontando o dedo para Rachel, seus olhos alcançando um ódio jamais conhecido pela morena.

A boca de Rachel se abriu de espanto. Ela não se lembrava de ter dito a Finn nada sobre como sabia onde Quinn estava durante as férias ou o que ela tinha feito na noite em que fora pela primeira vez no Hell House. Se Finn soubesse de alguma coisa, ele tinha descoberto por conta própria ou por outras fontes.

— Quinn, eu... — tentou argumentar Rachel, porém as palavras simplesmente não saíam da sua boca como sempre. Algo a prendia de dizer algo para a outra e ela não sabia o que era. Ela gritou de frustração, sem ter idéia de por que todas aquelas coisas estavam lhe acontecendo. — Quinn, não fui eu, juro! Finn deve ter...

— Rachel, Sam me confiou você! — exclamou Quinn com a voz embargada. — Ele sabia que você me fazia bem antes mesmo de eu perceber. Ele tinha certeza de que você não me abandonaria por alguém extremamente idiota como o Finn! Sam sabia que você queria uma amiga tanto quanto eu e tentou nos juntar, mas você foi correndo para outros braços assim que ele foi embora!

A mente de Rachel se iluminou. Então era isso... Quinn não queria nenhuma aproximação por que ela ainda estava com raiva do dia em que Sam fora embora e ela saíra com Finn e não com ela! As coisas estavam ficando claras para a garota, porém ela ainda não entendia por que Quinn havia lhe beijado e o pior, por que ela havia correspondido e dado o passo para o segundo beijo.

— Mas agora... — Quinn continuou; suas as mãos tremiam — Finn gritou no meio do corredor principal para quem quisesse ouvir o que eu era e o que eu ando fazendo. Ele me humilhou, e só por que ele não conseguiu te achar durante a noite enquanto você estava com quem? Comigo, se divertindo muito mais do que se estivesse em seu jantar romântico idiota!

Quinn riu maldosamente, voltando a sentar-se no chão. O tom perverso e psicótico voltara a aparecer na sua voz, mas Rachel não tinha certeza se tudo estava de volta ao normal. Ainda desciam lágrimas por suas bochechas e o olhar triste também continuava. Rachel queria muito se aproximar e tentar acalmá-la, entretanto, o medo a impediu.

— Eu não quero ver você mais, Rachel — anunciou Quinn após longos minutos em silêncio. — E dessa vez eu falo sério. Depois do que o Finn me acusou, acho melhor eu ficar longe. Sumir por uns tempos. Vou conseguir fazer isso facilmente, não se preocupe.

Ela se levantou, dando um sorriso bondoso a Rachel, passando a mão em seus cabelos negros. Quinn beijou a testa da morena, apertando-a forte contra seu peito. Rachel, que permanecia em choque com as palavras da ex-Cheerio, nada fez. Apenas a encarou com uma expressão perdida no rosto.

— Se cuida, Rachel.

E dizendo isso, Quinn saiu detrás das arquibancadas do campo de futebol, deixando Rachel completamente sozinha.


O resto do dia de Rachel não fez tanto sentido. Ela não tinha idéia de como conseguiu sair de trás das arquibancadas para voltar ao colégio e assistir as últimas aulas com Finn. O garoto parecia aliviado em vê-la, mas Rachel não demonstrou nenhum sentimento ao encontrá-lo.

Ela sentia-se vazia. Não conseguia pensar muito, porém concluiu que para estar daquela forma, Quinn Fabray significava demais para ela, mesmo não sabendo disso conscientemente. Uma parte de Rachel pertencia à garota punk, agora via isso.

Finn tentou convencê-la a levá-la para casa, no entanto a única coisa que Rachel queria dele era distância. Seu corpo tremia de raiva só de pensar em entrar na camionete antiga do namorado. De repente, o Chevrolet de Quinn parecia ser muito mais acolhedor. Pensando nisso, Rachel saiu do colégio às três horas com Blaine e Kurt, que magicamente sabia o quão mal a garota estava e foi junto com ela no banco de trás do carro, adulando-a.

Rachel sequer se importou com a bronca de Hiram e Leroy por ter sumido sem explicação. Tudo o que ela queria era subir para o seu quarto, deitar e chorar ouvindo músicas dos musicais mais tristes da Broadway.


E assim os dias passaram. Lentamente, mas eles foram embora. Aos poucos, Quinn aprendeu a não querer a companhia de Rachel ou das Skanks. Quando dissera que iria embora, ela não quis dizer literalmente. Até tentou, chegando a enfiar algumas peças de roupa numa mala velha que encontrara no sótão de casa, mas acabou tendo um acesso de raiva e jogou tudo para os ares.

Ficou em casa, então. Ela não tinha idéia de como agüentava ficar o dia inteiro deitada, acordada e pensando. Mesmo que quisesse, não saía da cama para nada.

Nos primeiros dias, é claro, Judy estranhou a presença contínua da filha em casa, e arriscou um diálogo para esclarecer a situação, mas não foi muito bem sucedida. Depois, passou a ignorá-la como sempre fazia. Para Judy, Quinn pensou amargurada após um tempo, ela não era nada além de mobília.

Somente no início de outubro que Quinn finalmente saiu de casa. Ela não sabia por que ou como, mas pegou o Chevrolet de seu avô numa manhã e rumou para a escola. Não importava se ouviria rumores de que estaria grávida novamente ou que teria morrido num trágico acidente bêbada, Quinn apenas se entregou ao seu desejo insano de ver Rachel novamente. Passara tempo demais ignorando o que sentia para ter que deixá-la ir. Tinha que ser honesta com seus sentimentos em relação àquela baixinha judia irritante.

Os olhares pareciam aumentar quanto mais perto da escola chegava, mas Quinn não se importou. Ela entrou rapidamente na McKinley, e mesmo todos os boatos sobre ela, os alunos abriram caminho para a garota. Quinn não conseguiu evitar o olhar de superioridade ao passar por eles. O orgulho Fabray a permitia a fazer muitas coisas, e se sobrepor aos outros era uma delas.

Quinn finalmente entrou no corredor da sala do Glee, derrapando com seus tênis All Star. Ela não parou nenhum segundo até estar à porta da sala, e então suas entranhas deram um giro completo ao observar o que acontecia lá dentro.

Rachel conversava (para variar) sobre o musical do colégio, com os braços de Finn em torno dela. Ninguém aparentou notar a garota punk à porta com uma expressão perdida. Quinn permaneceu quieta por alguns segundos, deixando a voz irritantemente doce de Rachel invadir seus ouvidos. Ao término da fala da morena, então, Finn sorriu orgulhosamente e deu um selinho nos lábios da garota.

Quinn sentiu vontade de vomitar. Sua visão ficou turva e ela teve de se encostar à parede para que não caísse. Ela queria sair dali, mas suas pernas não se moviam. As mãos de Quinn suavam, a fazendo escorregar pela parede com um barulho mínimo, que fez os membros do Glee pararem de conversar e ficarem atentos.

O sentido alerta de Quinn ativou. Ela ouviu passos vindos em direção à porta e rapidamente se levantou. Não queria que ninguém a visse por ali. Duvidava que Finn se lembrasse do que tinha dito para ele no dia em que ele a humilhara no meio do corredor, mas sua postura indicava que ela não estava dando à mínima para o New Directions. Ainda meio lenta, deixou que suas pernas lhe guiassem para fora do corredor, sem ter um destino certo.


Foi parar no auditório.

O silêncio que se fazia ouvir não incomodava Quinn. Depois de mais de um mês presa em seu quarto, o silêncio acabou se tornando um grande amigo. Ela desceu as escadas calmamente, notando o piano no mesmo local onde beijara Rachel pela primeira vez.

Ela sorriu, sentindo o gosto dos lábios da morena. Poderia ter passado pouco mais de um mês, mas Quinn ainda achava o beijo de Rachel o melhor que ela já tinha provado em sua vida. O modo em que suas bocas se encaixavam, como havia tanta conexão entre elas, tudo a deixava louca. Nunca tinha amado alguém como amava Rachel Berry.

Quinn passou a mão pelas teclas do piano, olhando-o com admiração. Seus anos como garotinha perfeita Fabray tinham lhe custado alguns benefícios, como as aulas de piano. Ela sentou no banquinho em frente a ele e dedilhou algumas notas, começando uma música que ouvia constantemente nos últimos dias.


Well it's good to hear your voice

I hope you're doing fine

And if you ever wonder

I'm lonely here tonight


Era estranho. Parecia que Miley Cyrus havia previsto o que ela sentiria um ano antes e escrito a música. Quinn sorriu com o pensamento, dedilhando o piano com mais intensidade.


I'm lost here in this moment

And time keeps slipping by

And if I could have just one wish

I'd have you by my side

Oh, oh I miss you

Oh, oh I need you


E como Quinn sentia falta e precisava de Rachel. Mais do que imaginava. Mais do que jamais precisou de alguém em sua vida. Mais que ela jamais precisaria.


And I love you more

Than I did before

And if today I don't see your face

Nothing's changed no one can take your place

It gets harder everyday


Ela queria continuar vendo Rachel, queria que ela terminasse com o inútil do Finn, queria começar um namoro, queria que ela e Rachel fossem felizes em Nova York. Quinn queria muitas coisas, mas ela principalmente queria que Rachel estivesse com ela para conquistá-las.


Say you love me more

Than you did before

And I'm sorry it's this way

But I'm coming home

I'll be coming home

And if you ask me I will stay

I will stay


Quinn ficaria. Por Rachel, apenas por ela. Sam importava, é claro, mas Rachel era... Quinn suspirou. Rachel era seu amor, seu verdadeiro amor, ela tinha que ficar por ela. Jamais poderia ter ido embora de Lima sem saber o que poderia ter acontecido entre as duas, se não tivesse um maldito Finn Hudson no meio.


Well I tried to live without you

The tears fall from my eyes

I'm alone and I feel empty

God I'm torn apart inside


A música atingiu um ritmo mais violento, que Quinn facilmente conseguiu dominar. Ela lembrou-se de novo do dia em que encontrara Rachel ali, da dificuldade que ela tinha para alcançar a velocidade de Fix You. Rachel estava cantando aquela música para ela, Quinn pensou sorrindo. Rachel estava ultrapassando seus limites por ela.


I look up at the stars

Hoping you're doing the same

Somehow I feel closer

And I can hear you say:

Oh, Oh, I miss you

Oh, Oh, I need you.


A imagem de Finn dando um selinho em Rachel invadiu a mente de Quinn. Rachel sentia falta dela? Rachel pensava nela quando estava desacompanhada do Godzilla do Finn? Quinn mordeu o lábio inferior, pensando nessas perguntas. Ela não poderia deixar sua raiva assumir o comando, e logo ela respirou fundo e continuou a cantar, lembrando-se da Rachel feliz e viva daquela noite parecendo há muito tempo no Hell House.


I love you more

Than I did before

And if today I don't see your face.

Nothings' change, no one can take your place

It gets harder everyday


A voz de Quinn cresceu proporcionalmente. Num minuto estava apenas sussurrando a canção, mas no outro praticamente gritava, tentando extravasar a raiva que ela, segundos antes, prometera não ter. Ela só queria ter uma razão para poder esbravejar o quanto quisesse, e a música estava bem ali.


Say you love me more

Than you did before

And I'm sorry it's this way

But I'm comin' home.

I'll be coming home

And if you ask me I will stay

I will... stay...

Always stay.


Quinn reparou que sua visão estava ficando embaçada de novo, e dessa não era em razão de um beijo. Lágrimas caíam, lágrimas que ela tentava controlar havia mais de um mês desciam por suas bochechas e caíam nas teclas do piano, tornando a tarefa de continuar a música de Miley um tanto mais difícil. Mas Quinn permaneceu impassível diante daquilo. Era por Rachel, uma voz em sua cabeça dizia. Por Rachel...


I never wanna lose you

And if I had to I would chose you

So stay, please always stay

You're the one that I hold on to

Cause my heart would stop without... you...


O verso poderia ser um exagero da parte de Miley, mas Quinn entendeu o que ela queria dizer com ele. Sentia a mesma coisa com Rachel. Inclusive com Sam. Ela sabia que não era muita coisa sem as duas principais pessoas que ajudaram a formar que era por esses dias. Poderia estar destruída, sim, mas jamais esqueceria nenhum dos dois.


I love you more

Than I did before

And I'm sorry that it's this way

But I'm comin' home.

I'll be coming home

And if you ask I will stay

I will stay

I will stay...


Quinn terminou a canção com uma nota prolongada no piano. Achara divertido mudar a música a seu favor, fazer dela algo único, só para ela. E bem, pensou com um sorrisinho tímido, Rachel.

Ela levantou-se, pronta para sair dali e possivelmente encontrar Rachel no refeitório ou em qualquer sala de aula, de preferência desacompanhada de seu namorado idiota. Estava preparada para explicar-lhe o que havia acontecido durante todo esse mês.

— Você é realmente muito dramática.

Quinn se virou velozmente, procurando quem dissera aquilo. Imaginara esperançosamente que fosse Rachel, mas a garota não tinha aquela voz rouca e grossa. Ao invés da morena, entretanto, encontrou um garoto loiro muito conhecido dela com um sorriso bobo no rosto.



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