Hoje é um daqueles dias em que você levanta da cama xingando uns bons palavrões. Meu pai pediu que eu fosse fazer o trabalho dele hoje, porque ele iria ajudar a minha mãe a vender os vestidos na vizinhança nobre e como meu pai é pescador e todos os dias ele acorda cedo, eu tive de fazer a mesma coisa. Não que eu fosse pescar - é claro que não - mas eu iria pegar umas encomendas nossas que todo mês chega de barcos dos nossos familiares mais distantes. É como se os barcos fossem uma espécie de Correio Marítimo ou algo assim.

Levantei da cama, tomei um banho gelado, vesti um vestido de renda feito pela minha mãe até os joelhos e calcei a primeira rasteirinha que tinha visto na minha frente. Eu nunca fui o tipo de menina que tinha paciência pra passar horas e horas na frente do espelho se ajeitando, por isso eu costumava me arrumar em cerca de vinte minutos e me sentia perfeitamente bem.

Soltei meus cabelos da prisilha que o prendia, lavei uma maçã e comecei a comer olhando pela janela da minha casa. Eu já tinha me acostumado a viver com aquele cheiro de maresia invadindo a minha casa. Minha familia morava em uma daquelas casas próximas a praia, mas não era chique. É sempre o mesmo cheiro de peixe e frutos do mar e nem sempre esse cheiro era agradável para turistas, mas desde que nasci meus pais moram aqui. Minha familia não é rica mas também não passa fome, nós comemos peixe na maioria das vezes e nos finais de semana comemos algo diferente com o dinheiro que minha mãe ganha nos vestidos. Eu sempre quis ajudá-los de alguma forma, mas ainda sou uma adolescente de 17 anos onde meus pais me obrigam a estudar para que eu tenha um emprego digno quando crescer.

Acabei a maçã e joguei o resto no lixo, passei a mão nos cabelos e saí de casa deixando a porta encostada. O vento lá fora estava gelado, parecia que dali a poucos minutos iria chover bastante. O vento estava fazendo com que as árvores bambeassem de um lado para o outro fazendo as folhas se mecherem provocando um ruido assustador, como se ao invés de um vento, houvesse um furacão ou algo do tipo.

Caminhei até a encosta dos barcos reparando nas gaivotas pelo meio do caminho, elas não pareciam se importar comigo. Ao contrário, elas estavam observadoras para o oceano e nem se quer se mexeram quando eu passei. Lá no final do Pier - uma passarela de madeira que levava ao meio do oceano - estava Justin Bieber. Ele estava de costas para a direção que eu vinha, seus braços estavam para trás, ele olhava imóvel o oceano assim como as gaivotas pela qual eu passei. Ele era muito lindo, loiro dos cabelos castanhos e que voavam de forma sexy com o vento. Ele era o típico garoto que se achava o "pegador" na nossa região, além de ser filho do médico mais solicitado daqui. Ele sempre pegava qualquer menina que queria, acho que já tentou em todas da cidade mas nunca em mim, e de certo modo eu sentia raiva dele por isso.

Eu não era feia, pelo menos não tão feia ao ponto de ele nunca se interessar por mim. Não que eu ainda sinta raiva dele por causa disso, mas quando eu era menor e brincava com as minhas amigas, ele sempre chegava em todas elas e em mim ele nem reparava. Hoje eu nem me importo com isso e sinto nojo dele por se achar tanto e sinto ainda mais nojo das meninas de babar tanto por ele, ele nem é tão grande coisa assim.. tá, confesso, ele é sim. Justin estava sem camisa, via seus músculos das costas contraídos, sua cabeça erguida como se ele estivesse pensativo e que nada poderia tirar sua atenção.

Eu pensei em voltar pra casa, o que eu menos queria era me esbarrar com ele - tenho sérios problemas pessoais com ele - mas eu ainda teria que fazer o que meu pai pediu, e Justin estava justamente onde a embarcação com as encomendas chegavam.

Passei a mão sobre meu vestido querendo ajeitá-lo, ele era um típico vestido praiano, com aqueles buraquinhos mostrando meu biquíni por baixo. Passei minha mão pelos cabelos e depois me peguei pensando se estava "apresentável" pra ele e soltei um palavrão baixo, parei ao seu lado e ele nem se quer olhou pra mim..

– Bom dia pra você também - Eu disse de mal humor olhando pro mar. Justin não me respondeu, ele apenas me olhou de lado e continuou na mesma posição de antes.

– Aff, qual é a sua hein garoto?! - eu olhei pra ele irritada - seus pais não lhe deram educação não?

Mais uma vez ele não me respondeu, na verdade pareceu nem ligar para o que eu dizia, o que me deixou ainda mais irritada. Dei um longo suspiro e desisti de falar com ele. Me sentei no Pier ainda um pouco na frente dele e comecei a balançar meus pés no alto, tinha a sensação de que a qualquer momento meu chinelo fosse cair ali no mar, mas eu pouco estava me importando com isso.