Quando acordei dei de cara com Brian, o que, sinceramente, me assustou um pouco. 

Pisquei algumas vezes e ri, sacudindo a cabeça ao lembrar dos acontecimentos. 

Era bem tarde da noite, o que não era bom para mim, minha mãe já deve ter vindo aqui. 

Me vesti e saí do quarto, a casa estava escura e silenciosa, desci as escadas e fui a cozinha, peguei um copo d’água e voltei para o quarto, percebi uma luz insistente ao lado da cama, fui até lá e vi que era meu celular. 

Minha mente simplesmente me dizia para não atender, mas era impossível para mim rejeitar a chamada. 

Saí do quarto e desci de novo, atendendo ao celular com as mãos tremendo. 

- Alô? 

- Mel? - A voz dele parecia aliviada - Te liguei o dia inteiro. 

- Eu não queria te atender. - Não era mentira, pelo menos isso. 

- Sei disso, sinto muito. Mas olha, eu sei que você está me odiando agora, mas eu… Conversa comigo ok? Escuta o que eu tenho para te dizer, depois você pode me bater, quebrar coisas, jogar pedras em mim. Fazer o que quiser. Eu fico parado só esperando. - Ele disse rápido e atropelando as palavras, sempre fazia isso quando estava nervoso. 

Me peguei rindo e me condenei por isso - Tudo bem Matt, mas… Depois. 

- Está ocupada? Você ainda está mal por causa do acidente? 

- Estou bem, mas estou cansada. 

- Tudo bem. Nos falamos amanhã? 

- Pode ser. 

- Boa noite Mel. 

- Boa noite. 

Ainda fiquei um tempo encarando o celular antes de subir, encontrei Brian acordado. 

- Tudo bem? - Perguntou sorrindo de canto 

- Tudo. 

- Certeza? Porque em geral quando eu acordo e tem uma garota comigo, ela não está com essa cara de enterro. 

Ri e me sentei ao seu lado na cama - Matt me ligou. 

- Ah é… Eu ainda não sei porque vocês brigaram. Enfim, não é da minha conta. - Ele disse se sentando e olhando para mim - Mas se quiser falar, sei lá. 

- Tudo bem Bri. 

Ele deu de ombros e esfregou o rosto. - Que horas são? 

- Meia noite e meia. 

- Ah. Merda. 

- Que foi? 

- Eu tinha… Umas coisas para fazer. 

Franzi a testa - Coisas? 

- É. Mas deixa pra lá. 

Dei de ombros também - Ok. 

- Acho que sua mãe não ia gostar de me ver aqui pela manhã. 

- Ela já deve ter visto mesmo. 

Ele riu e se levantou, pegando as roupas e se vestindo. 

- Mas eu não estava acordado para apanhar. 

- Ela não vai te bater, nem se ela quisesse poderia. 

- Se quiser eu fico. - Ele disse vestindo a calça. Pensei por muito tempo, tempo o suficiente para ele sorrir e colocar a camisa - Vou encarar isso como um não. 

- Não. Não é isso, eu só… 

- Só não sabe como dizer. - Disse sorrindo - Te vejo depois ta? Tenta não ser atropelada de novo. 

- Eu não faço só coisas estúpidas. 

- Você é atropelada, sai na rua de pijama… Parecem coisas estúpidas para mim. 

- Cala a boca. 

- Ah, e eu preciso dizer isso, não me bata. 

- O que? - Perguntei apreensiva 

- Você é a garota que deu pra mim sem ser minha namorada. - Disse piscando um olho. 

Fechei a cara e joguei um travesseiro nele - Eles não sabem disso. 

Ele gargalhou e jogou o travesseiro na cama. - E não vão saber. Boa noite Mel. 

Sacudi a cabeça em negativa e ele beijou minha bochecha antes de ir. 

Deitei na cama me sentindo realmente uma puta e dormi em cinco segundos. 

Acordei com as batidas na porta, levantei cambaleante e fui até a porta. 

- Seu namorado já foi? - Minha mãe perguntou sorrindo 

- Foi. O que você quer? 

- Quando isso começou Mellanie? 

- Anh? 

- Você e o Matthew… 

- Não! Nem venha fingir que é uma boa moça, não para cima de mim. 

- Não vou fingir que sou boa moça, mas você é. 

- Com o pouco respeito que me sobrou por você, estou falando sério. 

- Mellanie. 

- Saia, eu vou tomar banho e trocar de roupa. 

- Vai sair? 

- Vou. 

- Com quem? 

- Matthew. 

- Mel… 

- Nós brigamos ok? Tenho que resolver isso com ele. 

- Por favor Mellanie… Não estrague seu namoro por… 

- Não comece! Eu vou ter que te explicar quantas vezes que entre ele e você eu o escolho todas as vezes! - Disse irritada sem pensar, então me dei conta que mesmo com raiva dele, Matt é minha primeira e única opção nas perguntas de brincadeiras idiotas de “quem você salvaria”. E ele sempre foi. 

Ela fez cara feia e eu entrei no banheiro, batendo a porta e a trancando. 

Abri a torneira e me despi, quando a água estava em uma temperatura agradável eu entrei, fechando os olhos e deixando a água escorrer pelo meu rosto junto as lágrimas que se formaram. 

Lágrimas de arrependimento, de dor, de raiva… 

Agarrei meu cabelo e reprimi o grito, eu me odiava, sinceramente eu odiava. 

Me sentia mentirosa e suja, me sentia a pior pessoa do mundo. Queria odiar Matthew, queria culpá-lo por tudo, mas ele não tinha culpa, aliás, tinha, mas não era nem de longe a culpa que eu carregava. 

Mentir, forçar… 

Quando eu me tornei isso mesmo? 

Respirei fundo e terminei meu banho, saindo do box e me apoiando na pia, vendo meus olhos vermelhos e secando-os com as costas das mãos. 

Saí do banheiro e me vesti lentamente, depois fiz uma maquiagem para tampar minha cara amassada pelo choro, liguei para Matt e sai de casa indo para o final da rua, onde ele me buscou. 

Ficamos em silêncio enquanto ele dirigia, já era próximo da hora do almoço, então fomos a lanchonete de sempre, pedimos o de sempre e por sinal, sentamos na mesa de sempre.

Encarei os olhos verdes que agora pareciam mais me julgar do que esperar pelo julgamento, claro que isso era só na minha cabeça. 

- Quer comer antes de conversar? 

- Não. E, por mais que você tenha feito uma coisa odiosa Matt, eu não consigo odiar você. 

- Sinto muito, do fundo da minha alma Mel, eu… Eu voltei com a Val porque você me rejeitou aquele dia. 

- Não me culpe. 

- Não estou te culpando. Mas você sinceramente não sabia Mellanie? Você estava lá aquela manhã. 

Pisquei algumas vezes e me lembrei de Valary o acordando - Eu não achei que você fosse capaz de fazer algo assim com ninguém. 

- E nem eu. 

Sacudi a cabeça e franzi a testa - O que eu fiz? 

- Mel… Olha, ou você é realmente a garota mais burra da face da terra… - Começou e abri a boca indignada - Me escuta. - Disse antes que eu o interrompesse - Ou você é a garota mais burra do mundo, ou você é realmente muito má. 

- Como? O que eu fiz Matthew? Porque dos dois jeitos eu estou com raiva do que você disse. 

- Mel, eu fiz tudo o que você queria que eu fizesse minha vida inteira… Quando nós éramos crianças era por amizade, mas eu… Eu comecei a gostar de você, e então você começou a namorar e sair com outros caras, eu achei que você simplesmente não percebia, você me tratava como irmão. Eu desisti, eu arrumei namoradas eu tentei parar de pensar em você… 

- Aonde você quer chegar Matt? 

- Eu não podia dizer não para você. Me entende? Pode ter sido a atitude mais egoísta de toda a minha vida. Mas eu… Você estava lá, me pedindo para realizar o meu maldito desejo, sonho, ou sei lá do que você quiser. 

- Matt… Eu… 

Ele sacudiu a cabeça - Você sabe que eu tentei. Eu disse que não era uma boa ideia… 

Sem perceber meus olhos estavam cheios de lágrimas. - Eu não… 

- Você pode até me odiar para sempre a partir de agora, mas eu sei que pelo menos você teve sua primeira vez com alguém que realmente te ama. 

Levantei de onde eu estava e o abracei, ele sorriu triste e correspondeu ao meu abraço. 

- Eu não sabia. Juro Matt, eu não tinha ideia. 

- Então você é mesmo muito burra Mel. 

Sorri e acariciei seu rosto. - Desculpa? 

Ele sacudiu a cabeça rindo - Você não tem que me pedir desculpas. 

- Eu sou tão idiota, tão maldita… Por que você nunca me disse? 

- Porque eu não queria que você olhasse para mim como “o cara que é apaixonado por você”. 

- Eu não… 

- Ia sim Mel. 

A garçonete chegou com nossos pedidos e depositou-os em cima da mesa, voltei ao meu lugar e vi Matt começar a comer, fiquei paralisada por um tempo enquanto ele comia suas batatas. 

- Não vai comer? 

- Vou. 

Comecei a comer olhando para baixo, não queria encará-lo… Ele tinha razão, ele agora não era mais Matt meu amigo Matt, ele era Matt, meu amigo que era apaixonado por mim Matt. 

Quando terminamos, ele pagou e nós voltamos para o carro, sentei e encarei minhas mãos. 

- Quer ir para casa? 

- Não. Eu na verdade quero conversar com você. 

- Aqui? 

- Algum lugar tranquilo, e de preferência perto da minha casa. 

- Acha que eu vou ficar puto e te largar? Nem se você tiver matado meus pais… Aliás, se você tiver feito isso talvez. 

- Não matei ninguém. 

Ele arrancou com o carro e não disse nada, me levou para a praia mais perto da minha casa, não tinham muitas pessoas já que estávamos no inverno. 

Caminhamos até uma pedra e eu sentei lá, Matt sentou a minha frente na areia e ficou me encarando. 

- Escuta, esquece o que eu te falei, converse comigo como sempre conversou. 

- Só que essa não é uma conversa que você vai gostar de ter, e eu vou odiar falar isso, principalmente agora. 

Ele franziu a testa e virou um pouco a cabeça - Como assim? 

Respirei fundo - Eu estava com raiva, ou triste, eu não sei. 

- O que você fez? 

- Não, essa não é minha desculpa. Eu não tenho desculpa. 

- Mellanie? 

- Eu… Não me odeia. - Pedi mordendo o lábio 

- Não vou te odiar Mel. - Ele disse sorrindo, mas seus olhos estavam estranhos. 

Olhei para baixo, encarando minhas unhas - Eu… Não consigo fazer isso. 

- Mellanie? Pode me dizer. 

- Eu não quero. 

Ele riu e se levantou, segurou minhas mãos - Sou o mesmo Matt. 

- Matt que gosta de mim ou não, não ia querer dizer isso. 

- O que você fez? 

Respirei fundo cem vezes - Eu e o Brian… - Comecei, mas não consegui continuar. 

- Você ficou com ele de novo? 

Sacudi a cabeça em negativa, sentindo as lágrimas brotarem nos meus olhos. - Não… 

- Vocês… Picharam minha casa? 

- Matt! - Disse irritada - Não seja ridículo. - Disse limpando meus olhos. 

- Eu não faço ideia do que poderia te deixar tão… - Começou, mas então algo iluminou seus olhos, o que durou poucos segundos, ele fechou a cara e os olhos ficaram escuros de raiva. - Você e ele… 

Sacudi a cabeça afirmativamente, depois baixei a cabeça, senti ele apertar minhas mãos com força, provavelmente não tinha a consciência disso. 

- Desculpa Matt… 

- Não tem que se desculpar comigo. Você faz o que quiser. - Disse, mas seu tom era totalmente contraditório, era raivoso, era quase um silvo. 

- Eu… 

- Só… Pelo menos você queria? Ou ele… 

- Ele não me obrigou a nada Matt. 

Ele sacudiu a cabeça e sentou na areia de novo - Ótimo. 

Desviei meus olhos de Matt e acabei vendo Brian com uma garota loira a alguns passos de distância. 

“Eu tinha… Umas coisas para fazer.” A voz dele veio a minha cabeça e de repente eu soube a coisa que ele tinha que fazer. 

Matthew acompanhou meu olhar e fechou a cara, ele parecia muito, muito irritado quando se levantou. 

- Matt? - Chamei, mas era tarde de mais, ele já estava perto. 

Brian sorriu para ele, mas recebeu um murro em resposta - MATTHEW! - Berrei correndo atrás dele. 

A loira começou a soltar gritinhos agudos e desesperados, Brian o olhava confuso então olho para mim e rolou os olhos. 

- MAS QUE MERDA! DE NOVO POR CAUSA DELA? SE DECIDE CARALHO! 

- VOCÊ É O CARA MAIS NOJENTO QUE EU CONHEÇO! - Matthew gritou para ele. 

- É mesmo? E quanto a comer sua melhor amiga enquanto namora a Val? Isso é definitivamente… - Ele estava falando com um ar superior, isso até Matt socá-lo de novo. 

Como ele podia saber disso? Como raios ele podia saber disso? 

A loira começou a gritar pedindo por ajuda enquanto os dois rolavam pela areia se batendo. 

- PARA! - Eu gritei puxando Matt, mas logo eles rolaram e eu tentei puxar Brian. - PAREM VOCÊS DOIS! 

Enquanto eu tentava pará-los, a loira saiu correndo e arrumou uma tropa de gente para separá-los, foi realmente difícil, mas eles conseguiram. 

Os danos eram ruins para os dois lados, mas Brian estava pior, provavelmente porque Matt teve dois socos de vantagem e quem atacou foi ele. Ambos com as bocas sangrando, Matt cortara perto da sobrancelha e Brian tinha o nariz sangrando. 

Depois de separados fisicamente, eles começaram a gritar, mas não era possível entender o que falavam. 

- CALEM A PORRA DA BOCA OS DOIS! - Berrei entrando no meio deles. - MATTHEW! PARE DE AGIR COMO UM BRUTAMONTES MALUCO! - Gritei e ouvi a risadinha de Brian atrás de mim - E VOCÊ PARE PROVOCÁ-LO, SEU IMBECIL! ANTES QUE OS DOIS SE MATEM! 

Matthew se soltou dos caras e agarrou meu braço. - Depois eu termino minha conversa com você Haner. 

- Matthew! - Repreendi-o irritada, enquanto ele me puxava de volta para o carro. 

- Hey! Matt! - Brian chamou atrás de nós e Matt se virou com cara de assassino - Sem porrada agora, sério. Por que eu apanhei? 

Agarrei o braço de Matt, tentando impedí-lo de ir para cima de Brian. Não que eu realmente conseguisse se ele quisesse, mas aparentemente, tinha descontado um pouco da sua raiva. 

Agora era enfrentar a maldita conversa bomba que seria, e eu ali no meio de vadia dos dois. É, não é uma posição legal, mas é a minha atualmente.