Trauma escrita por Chibi Midori


Capítulo 1
A Pessoa Mais Importante


Notas iniciais do capítulo

Por favor, não peguem diabetes ao ler essa fic... Eu escrevi com carinho;^;



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Matei meu melhor amigo. Com estas mãos, sem a menor hesitação, eu matei uma pessoa extremamente importante para mim pela segunda vez. Na minha cabeça, a cena se repetia de novo e de novo e a culpa havia me paralizado. Tudo o que eu fazia era continuar ali sentado encarando a parede com um olhar vazio enquanto me sentia o pior amigo do mundo. Lembrava de Lelouch e me sentia pior. Lembrava de Nunnally e me perguntava se eu não devia me atirar da janela de uma vez por todas.

- Suzaku... Não se martirize. O Lelouch pediu por isso. - Rivalz falou.

- Eu matei o Lelouch... Matei. A Nunnaly vai me odiar.

- Ah, vamos, Suzaku... Um monte de gente quer matar o Lelouch. Você apenas se adiantou e matou primeiro. Grande coisa.

- Presidente! - ralhou Shirley.

- Eu sou um péssimo amigo... Sou um amigo assassino.

- Suzaku, aguente firme!

Shirley me abraçou como se quisesse me consolar, embora eu não merecesse. A presidente e Rivalz nos observavam a uma certa distancia quando Kallen, que até então mantivera-se em silêncio, aproximou-se e falou:

- Ei... O Lelouch não morreu ainda.

- Isso é verdade. - Rivalz deu de ombros - Ele ainda deve estar agonizando de dor. 

- Ei, vocês dois. - dessa vez, a presidente foi quem ralhou - Vão fazer o Suzaku chorar. E Suzaku, o que há com esse drama todo? O Lelouch vai ficar bem.

Havia sido sempre do mesmo jeito, desde que éramos apenas crianças: Lelouch sempre ganhava em tudo. Ele sempre foi muito bonito, bem mais que eu, como esperado de um membro da família real britanniana. Mesmo sendo um cara, eu tinha que admitir que ele era muito atraente e sua beleza apenas aumentou com o passar dos anos. Como se não bastasse a aparência, ele ainda era inteligente e educado. Vivia matando aulas e ainda assim tirava notas boas, quebrava muitas regras, mas era tão carismático que nunca se metia em problemas e era querido por todos, apesar de ter uma personalidade horrível. Eu achava que Lelouch era perfeito.

Então, nos tornamos amigos e eu descobri que Lelouch era um molenga. Ele nunca teve muita coordenação motora ou resistência física. Unicamente nesse aspecto eu era capaz de ganhar dele, o que não o deixou muito feliz. Tentei dizer-lhe que eu havia sido educado em artes marciais japonesas, enquanto ele havia crescido como um príncipe sem muitos esforços físicos. Isso o deixou ainda mais ofendido, afinal Lelouch sempre foi orgulhoso e odiava perder. Mesmo depois que crescemos, isso não mudou.

Eu era uma pessoa paciente, não me incomodava com a sua personalidade arrogante, porque sabia que ele era uma boa pessoa. A falta de habilidades físicas dele não tinha sido um problema. Não, pelo menos, até nos vermos de lados opostos de uma quadra de vôlei. Por algum motivo insondável, a sensei achou divertido nos nomear ambos os capitães dos times, para que jogássemos um contra o outro.

A partir daí, foi 100% culpa minha. Eu adorava praticar esportes e fui tomado pelo meu lado competitivo. Comecei a provocar Lelouch. É claro que ele provocou de volta. E uma coisa eu preciso dizer: Se ele tivesse no vôlei metade do talento que tinha para dar respostas rápidas e ferinas... Ele teria acabado com meu time inteiro sozinho e sem suar. Mas ele não tinha e, mesmo sabendo disso, mesmo eu estando na frente, eu continuei a provocá-lo. Não tinham passado nem cinco minutos de jogo e a vitória do meu time já era certa. Lelouch sorriu com uma confiança que certamente não tinha e falou "Mande sua melhor bola". Eu mandei. Mandei bem na testa do Lelouch. 

E foi desse jeito que eu e o resto do conselho estudantil acabamos na sala de espera da enfermaria, todos nervosos e assustados, depois que Rivalz e eu tivemos que trazer o corpo inconsciente do nosso amigo para a enfermeira.

- Não está demorando demais? 

- Vai ver ele morreu lá dentro e a enfermeira está pensando em como contar. 

- Kallen... Rivalz... Vocês estão deixando o Suzaku catatônico.

Depois de reclamar, a presidente apontou para mim. Eu parecia mesmo catatônico, encolhido na cadeira e sendo consolado por Shirley. Enquanto eu tentava ver minha reação sob a ótica de outra pessoa, eu não podia deixar de pensar que era um absurdo. Contudo, as outras pessoas não sabiam do meu passado... Não sabiam o que eu já tinha feito... E nem como eu me sentia por, numa situação estúpida durante a aula, quase ter feito outra vez.

- Suzaku... Vai ficar tudo bem. Você está mais calmo? - perguntou Shirley pela vigésima vez.

Shirley havia ficado extremamente preocupada com o jeito que eu havia empalidecido e em seguida esverdeado ao ver Lelouch desmaiar. Ela estava preocupada comigo, me achava esquisito. Ela também não podia imaginar o porquê de eu estar naquele estado. 

E então a porta da enfermaria abriu-se com um clique sonoro. Levantei de um salto esperando que fosse a enfermeira dizendo que Lelouch ficaria bem e, com isso, quase derrubei Shirley... Mas a pessoa que saiu da enfermaria não foi a enfermeira. Foi Lelouch. Com uma mancha vermelha na testa e uma expressão de sono, mas parecendo completamente bem. E surpreso por nos ver. 

- Eh? O que vocês estão fazendo aqui?

- Lelouch! - exclamei ligeiramente sem fôlego - Você está bem? Está doendo?

- Huh? Claro que não está... Por que vocês...

- Porque estávamos preocupados, Lamperouge. - a presidente respondeu. - O que a enfermeira falou? 

- Nada. Eu só vim aqui para dormir e perder a educação física. 

- Hã? E a bolada que o Suzaku te deu? Não machucou de verdade? 

- Não. - Lelouch ergueu as sobrancelhas - Eu estava fingindo pra poder matar aula.

- Merda, Lelouch!

Todos começaram a gritar ao mesmo tempo, furiosos por terem sidos enganados. Eu só pude suspirar fundo e me deixar cair outra vez na cadeira agradecendo repetidamente dentro da minha cabeça por Lelouch estar bem. Vê-lo ali com aquela adorável expressão de tédio em seus olhos me fez um bem indizível. Eu estava sorrindo outra vez enquanto acalmava a todos e os convencia a não matar Lelouch de verdade. Sorri enquanto me despedia das garotas e de Rivalz. E ainda estava sorrindo quando Lelouch e eu nos dirigimos ao vestiário para tomar um banho e trocar o uniforme da educação física por roupas comuns.

Estava distraído, de modo que respondi com monossílabos as tentativas de Lelouch de manter uma conversa. Tomamos banho em silêncio e eu fui o primeiro a sair do chuveiro. A maioria dos alunos já tinha ido para casa, mas eu fiquei ali vestindo-me o mais lentamente possível, esperando por Lelouch. Eu sabia que ele demoraria no banho, pois um dos motivos que levava o príncipe a odiar educação física, era que ele detestava ficar sujo e suado. Eu estava só de calça sentado num dos muitos bancos em frente aos armários enxugando os cabelos quando ele finalmente apareceu com uma toalha na cintura. 

- Suzaku. Está muito quieto. Você está bravo?

- Não.

- Ei... Você realmente acreditou que tinha me derrubado com aquilo?

- Acreditei. - respondi. - Você sempre foi desajeitado, eu fiquei com medo. 

Enquanto enfiava a camisa pela cabeça, fiquei observando cada movimento de Lelouch, esperando alguma denúncia de que ele estava apenas fingindo estar bem para não admitir que eu o tinha machucado. Apesar de tudo, ele parecia realmente bem, eu devia estar sendo paranóico. Limitei-me a observar Lelouch em si e apreciar o fato de que ele não estava machucado. Eu gostava de olhar para ele. Não apenas por ele ser fofo. Apenas... Ficava feliz em vê-lo, não sei ao certo o motivo.

Imaginei que fosse natural. Ele era meu melhor amigo desde que éramos crianças e também era o mais próximo que eu tinha de uma família. Era normal que eu o quisesse bem e gostasse tanto dele. 

- Tsc... Não me subestime tanto, boboca. - ele começou a vestir-se. - Você não pode me machucar.

Ei, Lelouch... Você sabe o quanto é precioso para mim? Sabe que eu provavelmente daria tudo por você? Sabe o quanto é adorável aos meus olhos e o quanto eu preciso de você?

- Eu fiquei com medo. - repeti baixinho. - Não queria te acertar, mas então você desmaiou e...

- Suzaku?

Você sabia,  Lelouch? Meu maior desejo é te tomar nos braços e não deixar que nada te machuque. Você já passou por coisas demais. Eu devia ser capaz de te proteger por você ser tão importante... Mas eu tenho medo. Eu já feri pessoas que eu amava e eu não suporto a ideia de fazer algo assim de novo.

- Suzaku, você está bem? Foi só uma bolada, certo? Acontece. Eu poderia ter levado uma bolada da Shirley, do Rivalz... Ou até de mim mesmo, do jeito que eu sou. Não foi nada. 

Olhei-o, desamparado. Os olhos de Lelouch, sempre tão aborrecidos e desinteressado, estavam cheios de preocupação. Preocupação por mim. Ele sabia. Sabia que eu estava lembrando do meu pai, como eu num momento de raiva havia feito algo terrível. Lelouch compreendia porque eu desprezava a teoria de que os fins justificam os meios. Ele compreendia o meu trauma de ferir pessoas queridas sem que essa fosse minha intenção inicial. Ele me conhecia bem demais.

- Você foi para a enfermaria dormir. - observei. - Está com sono?

- Não. - ele veio sentar-se ao meu lado. - E sono só é perigoso em caso de pancadas na nuca. Você não presta atenção às aulas de biologia? A bola me acertou na testa. Eu disse que estava só fingindo para poder sair daquela quadra.

- Mas foi assustador... Você até parecia...

Minha voz ficou presa na garganta. Apenas alguém que havia passado por um trauma grande como o meu poderia me entender naquele momento, então nem mesmo ele... Lelouch de repente passou os braços ao meu redor. Era como se ele estivesse fazendo o que eu queria fazer por ele, me tomando nos braços e me protegendo dos meus próprios medos. 

- Desculpe, Suzaku. - sussurrou. - Eu não pensei que fosse te afetar se fingisse algo assim. Desculpe.

- Nunca mais... faça alguma coisa desse tipo. - Ouvi minha voz estranhamente embargada falando. Apertei Lelouch contra o peito para ter certeza de que ele estava ali. - Eu não sei o que faria se algo acontecesse com você... Se eu fizesse algo com você...

- Prometo que não faço mais. - ele garantiu. - Não fique desse jeito. Somos amigos, certo?

- Os melhores. - respondi. - Lelouch... Só mais um pouco...

Ele não precisou que eu dissesse o que eu queria. Apenas continuou a me abraçar com força até que eu parasse de tremer. Por alguns minutos, continuei ali sentindo a maciez e o cheiro de sabonete que vinham da pele dele. Fiquei hiperconsciente das mãos de Lelouch nas minhas costas, da textura de seus cabelos molhados entre os meus dedos. Isso bastou para me acalmar e varrer as lembranças dolorosas da minha mente. Apenas depois de ter certeza de que eu estava completamente sano outra vez, ele afastou-se e afagou minha cabeça, bagunçando meus cabelos mais ainda.

- Ei... Por que você não vem para a minha casa? Nunnally está com saudades. - ele sorriu.

O sorriso de Lelouch me deu a sensação cálida de ele compreendia minha superproteção com relação a ele, pois se sentia da mesma forma com relação a mim. Era uma sensação muito boa que me fez sorrir de volta e aceitar o convite. Eu gostava daquele sorriso. E enquanto eu pudesse sorrir junto com aquela pessoa, estava tudo bem.


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Notas finais do capítulo

Eu me pergunto porque essa história ficou melosa assim... Eu estava meio necessitada de escrever algo SuzaLelou, então isso saiu. Eu escrevi durante a aula ao mesmo tempo em que copiava a explicação de química orgânica, então desculpem qualquer coisa. Opiniões, críticas e elogios são bem vindos, mas por favor, não joguem pedras em mim, eu sou uma pessoa legal apesar de tudo.



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