Fiquei o resto do dia desconfiada, com a impressão de que alguém podia encravar uma faca nas minhas costas, sei que paresso neurótica falando isso, mas saber que um deus quer te sequestrar para depois te matar e jogar seu corpo, sei lá, no Tietê ou no Estige é apavorante o bastante sem a informação que ele está observando... Atrás de uma moita.O pior era que eu não conseguia vê-lo e me sentiria melhor se isso acontecesse, pois pelo menos daria pra perguntar “e aí, cara? É pra hoje ou vou ter que seguir com minha vida?”.

Mas imagine você descobrindo que sua mãe se envolveu com um deus, depois você e suas três melhores amigas vão para um acampamento estranho com pessoas estranhas que tem sérios probleminhas, você conhece um gótico/emo ridículo que encarava a janela do seu quarto e o mesmo é o filho do deus do mundo inferior mais irritante do mundo, esse cara perde pra você em um jogo baseado em lutas e roubar bandeiras porque você fez um tipo redemoinho ou descarga atômica, um mês depois está esperando ser levado para o quinto dos infernos onde provavelmente será torturado para dar uma informação que... VOCÊ NÃO TEM!

Colocando tudo em uma lista você consegue: Um monte de fatos estranhos.

Colocando em uma tabela você consegue: Descobrir que ainda podem acontecer coisas estranhas.

Colocando em uma estimativa você consegue: O circulo todo escrito ESTRANHO.

Colocando em uma calculadora você consegue: “Se mata, porque sua vida é horrível”.

Colocando em um livro você consegue: Uma biografia estranha com sucesso de vendas, pois ninguém gosta do normal.

Colocando em um filme você consegue: Não consegue nada, QUEM FARIA UM FILME ASSIM? O DIRETOR DE HARRY POTTER E O ENIGMA DO PRINCIPE QUE NÃO! (N/A: Se fosse o do filme o ladrão de raios eu o esganaria por ferrar com a história toda)

Se conseguir imaginar tudo isso, chegou perto do que sinto, mas só perto.

Agora eu estava em meu chalé, Percy dormia (babava feito cachorro) e sua irmã aqui não, então saí pra dar uma volta já que ficar lá dentro estava me deixando estressada, caminhei até os estábulos (nunca tinha ido lá) e ouvi uma voz dentro da minha cabeça.

“Pois não, madame? Como posso ajudar a maninha de meu chefinho?”

Percebi que um cavalo com asas falou comigo, ele era preto e bem grande, mas só depois de um tempo percebi que ele se referiu a Percy e se meu mano era chefe dele “Como esse panaca não me disse que tinha bichinho de estimação” pensei.

–Oi- foi tudo que pensei em dizer pra ele

“Meu nome é Blackjack, você tem torrões de açúcar?”

–Não, desculpa esqueci de comprar, mas se quiser eu tenho chocolate- eu falei e tirei do bolso a melhor substancia da terra

“Serve” coloquei um gomo em sua boca, ele parecia gostar de doces

–Você é legal- eu disse enquanto dava mais chocolate a ele e olha que não divido meu chocolate extra com ninguém

“Meu chefinho ta dormindo?”

–Está, por quê?- perguntei com desconfiança

“Porque ele não me deixaria voar com sua caçula”

Demorei de mais para entender, o que deu tempo de Blackjack me puxar com os dentes pra sua montaria depois abrir as asas e sair flutuando dos estábulos. Estávamos sobre o mar e o vento batia em meu rosto com uma brisa quente, o pégaso abaixou um pouco de forma que suas patas e meus pés batiam na água, me fazendo sentir os salpicos das gotas.

–Me jogue, Blackjack- eu pedi

“Tem certeza milady?”

Concordei e ele me jogou, mergulhei na imensidão azul como se fizesse parte dela, uma vez meu mano disse que nós não nos molhávamos e vi que era verdade, eu nadava e fazia acrobacias sem me preocupar com as criaturas marinhas que apareciam aqui e ali, palavras não descrevem a primeira vez de uma filha de Poseidon em alto mar, não mesmo.

Voltei à superfície e Blackjack me puxou, voamos até a praia onde ficamos por um tempo conversando, é gente eu estava conversando com um cavalo! Quando você acha que sua vida não podia ser mais estranha BUM, você começa a conversar com equinos, pelo menos ninguém viu essa cena bizarra, se alguma filha de Afrodite estivesse ali em cinco segundos até o mendigo do Central Park saberia, mesmo que o cara não tenha moral pra falar de mim já que conversa com o poste.

–Thau Blackjack, vou dormir- me despedi- Prometo que da próxima vez trago um torrão de açúcar.

Fui para o chalé de 3 e quando ia me deitar fui no banheiro, olhei no espelho me perguntando o que faria no dia seguinte, a festa até seria divertida, mas senti que Loki ficaria feliz e ele feliz não é legal pra ninguém, muito menos pra mim. Concentrei na imagem refletida, meus olhos castanhos (sou a única filha de Poseidon com olhos castanhos) mostravam uma expreção forte, meu cabelo estava bagunçado sem nenhum traço de produtos de beleza tóxicos nele, meus lábios com vestígios do gloss cor de boca (pra que fazem esse tipo de gloss, se você não quer mostrar a cor de um batom não ponha, mas eu só usava porque o meu era de chocolate), aproveitei em quanto podia desse rosto sem o efeito maquiagem da festa, pois sentiria falta dele nas mãos de Ane.

Desliguei a luz e andei até minha cama, aproveitando enquanto meus pés não tinham salto alto e bolhas, deitei e me cobri com um pouco de receio de que a noite passasse rápido e eu virasse um projeto de Poly. Adormeci calmamente e fiquei extremamente agradecida a Morfeu por não ter me levado ao mundo dos sonhos, com o qual já tenho até carteirinha, uma vez sonhei que roubaram meu chocolate, outra que eu batia em um sorvete gigante que pegou meu trabalho de História valendo 30% da nota, em uma outra estava sendo perseguida por bananas (esse foi o pior).

Acordei com alguma alma me sacudindo (N/A: Pobre alma):

–Liiiiiaaaa, é Halloween! - Disse Ane

–Não mãe, odeio a escola!- eu falei sonolenta e joguei um travesseiro em Ane

–Hahaha, até dormindo ela bate em pessoas- ouvi a voz de Nico

–Mas mesmo dormindo sua voz me irrita- eu disse

Me levantei, chutei Gaspar Zinho, fui pro banheiro lavar o rosto, me troquei e saí correndo para o pavilhão, pois estava com tanta fome que meu estomago podia sugar toda a energia da terra, sentei com Percy em nossa habitual mesa e comi ovos só pra jogar na cara de Laís. Depois fomos treinar a tarde toda, Clarisse me ensinou golpes tão bons que até cheguei perto de derrotar meu mano, mas o cara é o melhor espadachim do acampamento, tem que ser muito fera para derrotá-lo.

Estava escurecendo e Quíron mandou todos os meio sangues se reunirem em frente ao anfiteatro, lá ele nos disse:

–As 16:00 vocês vão pegar aqueles mapas e procurar seguindo as pistas uma cesta de doces, terão duas horas para achá-la e as 18:00 começa a festa.

Eram quinze pras 16:00, então ficamos na fila para pegar o mapa. Eu achei bem legal essa caçada, principalmente porque em todas as cestas de Halloween tem chocolate e eu teria que conseguir ele de qualquer jeito. Mas como é a data do medo e eu sou maligna, tinha que fazer algo para ferrar alguém.

–Pessoal, que tal uma aposta- eu comecei a dizer para meus amigos- Meninas de um lado meninos do outro, se nós ganharmos vocês pintam o cabelo de rosa.

–E se NÓS ganharmos?- perguntou Percy, como se tivesse certeza que a vitória era dele

–Escolhe- desafiou Julie

–Vocês desfilam pelo acampamento de biquíni amanhã e cantam na festa- disse Nico, sendo mal a primeira vez na vida

–Feito- concordei e tocamos a mão, depois cada time virou pra um lado

É claro que venceríamos, nem que eu trapaceasse na cara dura ou tivesse que roubar a formula da coca cola, mas minhas companheiras não pareciam ter tanta confiança.

–Por que disse aquilo? Não funciono sobre pressão- disse Laís

–Calma, temos duas filhas de Atena, o que poderia dar errado?

Essa pergunta é claramente assombrada, pois toda vez que uma pessoa diz isso uma coisa da errado, não percebi que tinha acabado de jogar uma maldição em nós, mas de qualquer jeito quem se ferraria era Julie.

Pelo visto cada mapa era diferente se não todos começariam do lago como nós, Annabeth segurava o papel lendo e sussurrando coisas, mas não contava o que dizia até que me irritei e peguei-o das mãos de minha cunhada. Palavras escritas em uma linha apontando para as plantações de morango mostravam uma seta nelas, nem li qual eram as tais palavras só corri pra onde indicava.

Chegando lá vi a tal seta que dava para um arbusto azul, o usei como referencia e li o que estava do lado: “Irás para onde se joga o esporte favorito dos filhos de Hermes”. É claro que era a quadra de vôlei, pois os filhos de Hermes não saem de lá. Depois que corremos muito e todas já soavam encontramos o lugar, Julie roubou o papel de minha mão e leu:

–O lugar com estrume e penas- ele nos olhou com confusão- Que Hades é isso?

–Não coloca meu pai no meio- avisou Laís

–Os estábulos- eu e Annie gritamos

Fomos pra lá enquanto todas perguntavam porque cavalos tinham penas, se calaram quando viram os pegásos descansando, dei um alô a Blackjack e li a outra. Contei todos os lugares por que passamos e minha conclusão é que havíamos pegado o mapa mais difícil, mas finalmente chegamos até a última parada, a clareira que fiquei no caça a bandeira. Vi que em cima da árvore mais alta tinha a cesta e comemorei por não haver nenhum obstáculo, mas Di Ângelo apareceu correndo e fez um esqueleto escalar por ele, que em poucos segundos desceu e entregou a seu mestre.

–VENCEMOS! UHUUU! EU CONSEGUI!- gritou Nico, sendo acompanhado pelos outros- TOMA LIAAAAA!

–Nico posso te contar uma história?- perguntei

–Faça o que quiser, ainda vou ter vencido- disse

–“Um homem foi se hospedar em um hotel, a recepcionista lhe deu a chave do quarto 12 depois disse para não olhar no quarto sem número ao lado”- comecei e todos já prestavam atenção (N/A: Prestem também, da muito medo)- “Ele entrou no 12 e quando se deitou para dormir, mas ficou tão curioso que resolveu só olhar pela fechadura do 13, lá viu uma mulher pálida olhando pra janela, voltou e foi dormir. De manhã olhou de novo, mas dessa vez viu tudo vermelho como sangue, ficou com medo e foi falar com a recepcionista:

–Você olhou, não é?- ela perguntou e o homem concordou- Então vou contar a história, há muito tempo um cara matou sua esposa naquele quarto, pobre mulher “- falou com pena- “Ela não tinha nada de especial sabe? Menos seus olhos, eles eram vermelhos”

–Ele olhou nos olhos dela?- perguntou Nico sussurrando como uma criança

–Sim- respondi

–Por que contou isso?

–Pra você parar de se achar e ficar com medo- eu falei e virei as costas, mas resolvi acabar com a infância dele- A propósito, golfinhos são pedófilos e você só ouve o eco de suas artérias quando põe uma concha no ouvido.

–QUE?

Fui embora para meu chalé satisfeita, pois dali a alguns minutos saberia as fantasias de minhas amigas e estava me consumindo viva de tanta curiosidade, então pra relaxar fiz que nem ontem e caminhei na praia, só teria 7 minutos pra isso e poderia ser minha última vez queria aproveitar, coloquei a música Dumb Love, mas Drácula apareceu pra estragar tudo.

–Oi, não estou com medo de sua história- disse ele

–Está.

–Não.

–Está

–Não.

–Não.

–Está.

–Peguei- comecei a rir de sua incrível cara de pamonha

–Te odeio.

Empurrei meu primo pra água e o mesmo me puxou, os dois estavam com roupa que acabaram molhadas e sabíamos que iríamos arrancar perguntas de todos, por isso as sequei (eu fiquei molhada porque queria) e bati em Nico, ele deu um peteleco em mim, torci seu dedo e ele apertou meu nariz, dei um soco em seu braço e saí correndo com Gaspar Zinho em meus calcanhares.

Tirei o fone e dexei uma música tocando no viva voz pra me incentivar, joguei areia pra trás para tentar atrasá-lo, mas Nico desviou e agarrou minhas pernas fazendo-me cair por cima dele, rolamos até a beira do mar e acabei com o rosto no seu. Encarei seus lindos olhos negros e senti seu perfume de colônia maravilhoso, Drácula parecia perdido em mim e foi chegando cada vez mais perto, mais perto e encostou os narizes, depois os lábios.

Segurei seu rosto e ele meu cabelo, agíamos como em uma linda poesia romântica em um comparsa para tudo dar certo, naquele momento eu encarei o mundo de outro jeito como a coisa mais fantástica que poderia existir, até a música que percebi que nunca me esqueceria falava de amor como se soubesse que devia estar tocando nessa hora, nesse minuto, nesse segundo.

Paramos para pegar ar e olhei para as ondas, vi rostos de Náiades serventes da corte de Poseidon nelas e percebi que logo, logo papai piraria na batatinha, mas não sou conhecida por me preocupar com esse tipo de coisa muito menos depois meu primeiro beijo, com meu pior inimigo. “Xi, papai vai pirar” pensei.

Nico me olhava com tanto gosto que queria beijá-lo de novo, mas mulheres precisam ter força de vontade. Ele pegou meu mp200 e colocou em uma música que nós dois começamos a cantar.

Lucky (Colbie Caillat ft. Jason Mraz)

Do you hear me talking to you

Across the water across the deep blue ocean

Under the open sky oh my, baby I'm trying

_

Boy I hear you in my dreams

I feel you whisper across the sea

I keep you with me in my heart

You make it easier when life gets hard

_

I'm lucky I'm in love with my best friend

Lucky to have been where I have been

Lucky to be coming home again

Oooohhhhoohhhhohhooohhooohhooohoooh

_

They don't know how long it takes

Waiting for a love like this

Every time we say goodbye

I wish we had one more kiss

I wait for you I promise you, I will

_

I'm lucky I'm in love with my best friend

Lucky to have been where I have been

Lucky to be coming home again

I'm lucky we're in love every way

Lucky to have stayed where we have stayed

Lucky to be coming home someday

_

And so I'm sailing through the sea

To an island where we'll meet

You'll hear the music, fill the air

I put a flower in your hair

_

And though the breeze is through the trees

Move so pretty you're all I see

As the world keeps spinning round

You hold me right here right now

_

I'm lucky I'm in love with my best friend

Lucky to have been where I have been

Lucky to be coming home again

I'm lucky we're in love every way

Lucky to have stayed where we have stayed

Lucky to be coming home someday

Ooohh ooooh oooh oooh ooh ooh ooh ooh

Ooooh ooooh oooh oooh ooh ooh ooh ooh

Terminamos de cantar e ele pegou meu rosto, me olhou nos olhos e sorriu:

–Tudo é possível mesmo, né?

–Não, já tentou grampear gelatina em uma árvore?- perguntei, pois isso é cientificamente impossível

Ele riu e me beijou, mas eu estava preocupada. Uma das melhores coisas do acampamento era brigar com Nico e perder esse direito acabaria comigo, mas por outro lado que queria ficar com ele mais do que tudo no mundo.

–Tive uma ideia- eu disse

–Odeio suas ideias- ele fechou os olhos

–Vamos namorar escondido- eu falei

–Ta bom- fiquei confusa de ele aceitar tão rápido- Todos ficariam enchendo meu saco e dizendo como devo agir para não ser controlado, alem do mais meu pai vai enlouquecer, não preciso de semideuses chatos também.

–Espere até encontrar com Poseidon de novo- eu falei e apontei para o mar, agora agitado e meio negro.

–Só me ferro nessa vida miserável.

Eu ri e o beijei na bochecha, depois fui para meu chalé sabendo que as meninas me esperavam por lá, finalmente saberíamos as fantasias. Entrei e as vi roendo a unha de tão nervosas.

–ELIZA LETTER CRAZIER ONDE VOCÊ ESTAVA?- beijando Nico Di Ângelo

–Na praia, desculpa vamos nos trocar.

Era pra cada uma vestir sua roupa sem olhar para a das outras, depois colocar a capa e fazer um circulo para só então revelar. Formamos o tal circulo e todas menos eu retiraram as capas: Julie era uma diabinha, Ane era uma fada de All Star, Laís uma princesa Zumbi, Pâni um anjo, Annie uma maga, Meg uma gênia e Clarisse uma bruxa.

Ane viu que eu não tirei a minha, então começou a gritar pra eu tira-la e eu o fiz:

–Meus deuses, você está linda- disseram todas em unissoto