Undead Revolution escrita por caarol


Capítulo 13
Confronto


Notas iniciais do capítulo

Ah, sim, tenham em mente que, apesar da mudança de 'cenário', os acontecimentos são simultâneos. Por exemplo, começaremos este capítulo com a visão de Hollywood no início da invasão do 7-Eleven pelos zumbis.
Bom, melhor verem por si mesmos, haha!
Boa leitura!



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Localização: Estrada nos subúrbios

4 dias após o Surto.


Hollywood continuava observando, calado e apreensivo, as dúzias de pernas que cruzavam tão próximas de onde estava. O homem de camisa vermelha que se deslocou do grupo já havia adentrado o 7-Eleven e isso o preocupou bastante. Se Molotov atirasse naquele zumbi, o barulho poderia atrair a todos os outros e isso seria realmente um problema. Lentamente, o loiro destravou o revólver, por garantia. Continuou com o queixo e o abdômen colados no asfalto quente, temendo que a oportunidade para sair dali nunca chegasse – mas, ao mesmo tempo, torcendo para que não precisasse realmente enfrentar a horda. Não sabia se conseguiria se esgueirar devidamente, e em segurança, para sair debaixo do Toyota com todos aqueles semi-humanos caminhando em conjunto pela estrada. Parecia que a passeata moribunda não acabaria nunca.

Então, um grito estridente, um grito de menina, o libertou de seus pensamentos e o arrepiou por inteiro, como se agulhas geladas fincassem em sua espinha. Hollywood desviou os olhos arregalados para o pouco do mercado que conseguia enxergar, e logo viu que muitos dos mortos-vivos que estavam à sua frente agora se dirigiam para lá, atraídos pelo chamado do zumbi mirim e provavelmente já avistando o banquete em potencial ali de dentro: uma franzina e amedrontada ruiva e um alto rapaz de cabelos castanhos.

Olhou para sua frente, focalizando debilmente a Ford Ranger em meio aos zumbis que continuavam a caminhada. Muitos passavam pela caminhonete, mas não pareciam reagir a ela – Road, Germany e Sam aparentemente ainda estavam a salvo. Com um breve suspiro, Hollywood arrastou-se lentamente para sua esquerda, esgueirando-se pelo asfalto para tentar sair dali de baixo. No fim das contas, ele realmente teria de dar um jeito nos mortos que estavam ali fora, para os dois jovens escondidos no 7-Eleven terem alguma esperança de fuga. Por mais ressabiado e amedrontado que estivesse, o loiro precisava se agarrar ao último fio de coragem que possuía para ajudar o restante do grupo a escapar com segurança.

Subitamente parou de se arrastar quando um novo par de pernas passou perigosamente perto de seu rosto. As sandálias baixas exibiam pés acinzentados com as unhas pintadas de vermelho, e a suposta mulher caminhava cambaleante, forçando o loiro a permanecer estático por alguns segundos. Assim que aqueles pés saíram de seu campo de visão e mais nenhum aparentava passar ao lado Toyota preto, Hollywood respirou fundo e pôs-se para fora da sombra formada pelo carro.

Com o machado empunhado em sua mão direita e o revólver engatilhado na outra, ele colou as costas na lataria escaldante do veículo e ali permaneceu, de cócoras, desviando os olhos para seus dois lados constantemente. Os zumbis que continuavam a vir da cidade se dirigiam todos para o 7-Eleven e os que já estavam pelos arredores anteriormente apenas continuavam sua sinistra e uníssona marcha em direção a sabia-se Deus onde, passando pela Ford Ranger e pelos outros carros do cemitério veicular.

Os grunhidos direcionados ao mercado se tornavam cada vez mais macabros, fazendo o rapaz franzir ainda mais o cenho. Estava pronto para se pôr em pé e abrir fogo quando um estouro característico o sobressaltou. Um som de disparo; um disparo sutil, mas que produziu um efeito silenciador nos mortos-vivos. Por meros segundos, Hollywood pensou ter ficado completamente surdo, já que todos os grunhidos dos arredores haviam simplesmente cessado – apenas para, instantes depois, voltarem mais altos e mais raivosos. O tiro havia sido desferido lá dentro e agora os zumbis estavam realmente cientes da existência de uma resistência contra eles. Uma resistência humana, fresca e pronta para ser devorada, pedacinho por pedacinho. “Merda.”

– Red, corre! – Disse uma voz vinda do 7-Eleven, uma trêmula voz masculina que foi logo seguida por mais estouros; desferidos, desta vez, por alguma arma maior, provavelmente uma espingarda.

Pondo-se em pé num salto, Hollywood girou o corpo e pôde ver aquele mar moribundo adentrando o mercado pelo buraco que antes fora a grande janela dali. Muitos sumiam rapidamente de vista, caindo inertes no chão; mortos de uma vez por todas por Molotov que continuava atirando contra eles, mas não parecia ganhar alguma vantagem – eles eram muitos. O loiro vasculhou o lugar rapidamente com os olhos e então viu Red Rock ali dentro. Mesmo relativamente longe, conseguiu identificar as rugas de preocupação e medo no rosto da garota. Ela, então, o fitou de volta, e por poucos segundos pôde ver o quanto a ruiva transbordava súplica e desespero pelos olhos esverdeados.

Ela logo cortou o contato visual, como se aguma coisa na direção da entrada do mercado chamasse sua atenção. Hollywood seguiu o olhar e também viu que alguns zumbis entravam pela porta principal. No segundo seguinte, estouros mais agudos foram adicionados à sinfonia de disparos, denunciando que Red também enfrentava os mortos com sua arma de fogo.

Um grunhido ao lado do loiro o sobressaltou. Ele girou rapidamente a cabeça para sua direita e viu que dois homens se arrastavam em direção a ele, com as bocas escancaradas e os olhos esbranquiçados num arregalar enlouquecido.

O mais baixo aparentava ter sua idade. Tinha cabelos mais longos e escuros, os braços mais graúdos expondo feridas purulentas e a região torácica, repleta de respingos de sangue e hematomas, estava exposta pela camisa completamente retalhada e exibia o resultado de árduas semanas de musculação de quando o rapaz ainda vivia. Aquele o traria problemas, concluiu o loiro. O outro homem, mais magro e mais velho, babava sangue em grandes quantidades e estava coberto de terra na região do pescoço e do peito. Havia perdido o braço esquerdo na altura do cotovelo, e o que restara do membro aparentava infeccionado e ainda sangrava.

Os dois gritaram em uníssono na direção do loiro e este apenas ergueu o revólver na direção do mais novo, apertando o gatilho com força e o acertando na altura da testa. O morto-vivo foi jogado para trás pelo impacto, e Hollywood também sentiu ligeiramente o recuo da arma em sua mão. O outro homem não se abalou com o disparo em seu companheiro e apenas avançou mais rápido. Mais um tiro, desta vez acertando o peito do mais alto, que grunhiu enfurecido, respingando o sangue de sua boca pela camisa do rapaz vivo.

Porém, o segundo zumbi não caiu. E o outro subitamente se levantou do chão, exibindo um buraco aberto na carne de seu cenho. Hollywood os encarou por alguns instantes, com os olhos arregalados. Uma bala não foi o suficiente para pará-los – isso era, de fato, preocupante. Largou rapidamente o revólver no capô do Toyota e empunhou o machado com ambas as mãos. O mais alto urrou novamente, novas gotas grossas de sangue voando alguns centímetros à sua frente, e logo recebeu um golpe violento de machado na altura do ombro direito. O loiro retirou sofregamente a lâmina que fincara na carne decomposta do zumbi e o acertou novamente, desta vez cortando sua cabeça por completo.

O corpo acinzentado despencou em cima do carro, escorregando lentamente até o chão e manchando a lataria de um sangue escuro com um acre odor ferroso. A cabeça apenas rolou alguns metros para longe da estrada. Hollywood encarou desconcertado a cena, sentindo seu almoço lutando para ser expulso de seu estômago. Acabara de decepar um homem e não se sentia nada bem quanto a isso, mas o outro zumbi, o atarracado e musculoso, o impediu de concluir qualquer outra coisa sobre o feito. Mãos grossas se lançaram em direção ao loiro, que se esquivou para trás num cambaleio, quase perdendo o equilíbrio. O machado foi lançado em direção ao morto-vivo, que gritou em fúria após receber o golpe, e caiu ao lado do corpo sem cabeça, ambos agora sem chances de voltar à vida novamente - pelo menos era o que Hollywood procurava se convencer fervorosamente.

Viu que não teria tempo para se recuperar de seu primeiro ataque com um machado, já que algumas pessoas moribundas próximas dali já o haviam avistado e caminhavam lentamente para o Toyota. Com um ranger de dentes e uma maldição rogada mentalmente, o rapaz subiu no capô do carro e instalou-se em pé em cima do veículo, atirando contra os que se aproximavam e desferindo algumas machadadas em suas cabeças.

Desviou o olhar para o 7-Eleven, vendo que alguns zumbis continuavam a entrar ali e os que já se encontravam lá dentro se dirigiam para um dos cantos da loja. Não conseguiu avistar Red ou Molotov. Mordendo o lábio inferior e franzindo o nariz, o rapaz voltou sua atenção novamente para aqueles que os circundavam ali embaixo e tentavam pegá-lo com as mãos mortas.





Localização: Mercado 7-Eleven

4 dias após o Surto.


Ainda dentro do banheiro do mercado, Molotov entregou o problemático walkie-talkie amarelo para Red com um movimento brusco. A garota se levantou sofregamente, agarrando o dispositivo com as mãos trêmulas, e desviou os olhos confusos e chorosos para o rapaz, sem antes dar mais uma espiadela na porta atrás de si, devido a mais barulhos dos invasores do mercado. O moreno empunhou a espingarda novamente e se dirigiu à parede contrária, se aproximando da pequena janela de vidro. A princípio tentou abri-la com as mãos, mas ela parecia emperrada.

– Molotov?! O que está fazendo? – O clamar desesperado de Red mesclou-se com os altos grunhidos dos mortos-vivos, mas ela não recebeu nenhuma resposta.

Com a coronha da arma, o rapaz começou a atingir com força o vidro da janelinha. Após a quarta tentativa, este finalmente cedeu e saiu por inteiro, caindo lá embaixo com um tilintar quebradiço e exibindo uma passagem livre de obstáculos para a estrada afora. Molotov ergueu-se ligeiramente na ponta dos pés para vasculhar o cenário exterior e viu que aquela porção estava livre de zumbis – deviam estar todos divididos entre o 7-Eleven e os outros jovens sobreviventes. Engoliu em seco com o pensamento, concluindo que seus amigos deviam estar enfrentando o mesmo problema que ele e Red. Voltou rapidamente à porta, apoiando-se novamente nesta. Percebeu que agora os empurrões haviam se intensificado, já que o pequeno corpo da ruiva estava sendo constantemente jogado para frente.

– Red, presta atenção. – Proferiu o rapaz, escorando-se ao lado da maçaneta. Novos arranhões e gemidos roucos fizeram seu estômago gelar. – Você vai sair daqui, está bem?

– Como assim? – A garota olhou assustada para ele, agarrando o walkie-talkie com força em uma das mãos.

– Você precisa sair e ajudar os outros! – Molotov praticamente gritava, tanto de nervosismo, quanto para sobressair-se aos murmúrios macabros do outro lado do banheiro.

– Mas e você? Não vou te largar aqui, seu idiota, eles estão quase entrando!

Red soltou um arfar agudo ao ver o corpo do moreno sendo lançado alguns centímetros para frente junto da madeira. Com um ranger de dentes, ele avançou o corpo com violência contra esta, apoiando-se de lado na porta e sustentando com força os pés no chão. A espingarda caiu com um baque surdo no piso frio.

– Molotov, a gente...

– RED! – Bradou o rapaz, ao ver que uma pequena fresta já se formava novamente, exibindo alguns rostos macabros. O trinco já pendia quebrado pouco acima da maçaneta. – Você precisa ir! Consegue sair sozinha?

– Mas...

– Consegue ou não?!

A garota encarou-o por alguns instantes, ligeiramente desnorteada. Desviou os olhos para a janela e viu que poderia passar por ela, apesar de ser um pouco apertada. O problema maior era a altura – a ruiva não tinha certeza quanto a obter sucesso escalando a parede, mesmo com o vaso sanitário repousando abaixo da abertura.

– Consigo. – Respondeu ela, enfim.

– Esquece, é muito alta. – Proferiu Molotov, lançando um olhar de esguelha para a janela. Alguns milímetros de seu corpo foram afastados da porta. – Escuta, precisamos fazer tudo muito rápido!

– Tudo o quê? – A garota voltou a fitá-lo, colocando o walkie-talkie no bolso e o revólver no cós do shorts, na parte das costas.

– Vou te ajudar a subir.

– Mas e a porta? E você?!

– Não se... preocupe com... a porta! – Enquanto falava o rapaz lançava-se mais algumas vezes contra a madeira, agora a fechando por completo novamente. – Veja se dá certo de você subir primeiro, rápido! Se precisar eu te ajudo... mas, por favor, consiga subir sozinha, Red.

A ruiva abafou uma lamúria, engolindo em seco. Anuiu sutilmente, correu à outra parede e subiu rapidamente no vaso sanitário, agarrando o parapeito da pequena abertura e lançando-se para cima. Bufava constantemente, respirando a cada movimento como se tentasse se impulsionar para cima com o ar de seus pulmões. Ao ver que, com mais uma investida à janela ela conseguiria se apoiar devidamente para sair dali, lançou um último olhar para Molotov.

– Eu consigo sair! – Disse ela, sustentando o corpo na abertura com os antebraços.

– Então vai, Red! – O rapaz trincou os dentes, sem desviar os olhos da porta.

Respirando fundo e se empertigando, a garota escalou o pouco de parede que separava o piso frio da janela quebrada, fincando os tênis no gesso para encontrar apoio. Conseguiu passar sofregamente seus ombros pela abertura, e logo se viu com metade do corpo para fora do prédio do mercado e com suas pernas penduradas dentro do banheiro. Seus quadris, apesar de estreitos, roçavam nas laterais da janela e ela balançava as pernas, tentando passar totalmente pela fissura. Empurrou-se para frente, as mãos cravadas no fino parapeito, e desviou os olhos para baixo. Não seria uma queda exatamente grande, mas ela temeu torcer ou até quebrar alguma coisa caso caísse de mau jeito – além do que, o vidro que desprendera dali estava bem próximo de onde provavelmente pousaria, e ela franziu o nariz em descontento.

No instante seguinte, se viu caindo na terra batida, pouco mais de dois metros abaixo de onde acabara de sair. Como caiu de costas, o revólver enganchado em seu shorts pressionou-se violentamente contra a pele de sua lombar, fazendo a garota grunhir de dor. Permaneceu deitada por alguns segundos, de cenho franzido e rogando pragas aos ventos, enquanto puxava a arma de seu jeans. Já podia sentir um hematoma se formando na base de suas costas enquanto se punha em pé com esforço.

Subitamente percebeu que havia conseguido sair do infernal banheiro do 7-Eleven, tendo se livrado da horda que invadia o mercado; o maior problema era que Molotov continuava lá dentro e seria devorado pelos mortos ululantes se também não saísse rapidamente dali.

– Molotov! – Ela se apoiou na ponta dos pés e ergueu a cabeça para a janela, tentando comunicar-se com o rapaz. – Molotov, aguente aí, vou buscar ajuda!

Destravando o revólver e empunhando-o com uma fraca confiança, Red se encostou ao gesso e esgueirou-se pela parede até seu final, espiando pela aresta a estrada à frente do mercado. O cemitério de carros permanecia ali, intacto, inclusive o Toyota-esconderijo de Hollywood – o loiro, porém, estava em cima do carro, atirando e desferindo golpes violentos de machado em meia dúzia de zumbis que circundavam o veículo. A garota arregalou os olhos.

O loiro tinha respingos de sangue por todo seu corpo, inclusive em seu rosto contorcido de fúria. Aparentava vacilante, já que muitas machadadas não acertavam seus alvos, mas logo braços acinzentados, mãos e até cabeças rolavam no asfalto abaixo de si. Red desviou os olhos da cena, encostando a cabeça na parede e sentindo uma reviravolta incômoda no estômago. Não sabia como Hollywood estava conseguindo manter-se em pé sem desmaiar de náuseas e desespero. Espiou novamente o rapaz – ele parecia fora de si. Provavelmente encontrou frieza e forças suficientes por ser um momento decisivo, mas sabia que, quando tudo aquilo acabasse – se aquilo acabasse - ele desacreditaria que tinha agido de tal maneira.

Ela se inclinou um pouco para frente, tentando localizar a Ford Ranger de seu irmão, mas as dezenas de mortos que ainda perambulavam na frente do 7-Eleven dificultaram bastante sua visão. Por fim, respirou fundo e decidiu que ajudaria primeiramente Hollywood, assim chegariam mais rápido a Molotov. Levantou o revólver na altura de seus olhos e mirou por alguns instantes um corpulento homem sem camisa, com as costas todas retalhadas, que se dirigia ao Toyota preto. Puxando o gatilho com força, a bala que zuniu da arma atingiu o morto-vivo na altura da omoplata. Pôde ouvir a queixa gutural do homem, que se virou desajeitadamente procurando quem desferira o tiro, mas sendo logo surpreendido por mais uma bala da ruiva, bem abaixo de um de seus olhos.

Caiu no meio dos outros zumbis, atrapalhando a passagens destes. Red limpou o suor da testa com as costas da mão e desviou os olhos para Hollywood. O loiro a encarava com o mesmo olhar ensandecido e determinado de segundos atrás, mas agora abria um sutil sorriso para a garota. A conversa silenciosa bastou para entrarem em um consenso: trabalhariam juntos contra os mortos daquela porção da estrada.



Ainda com as costas na porta do banheiro, Molotov matutava continuamente sobre como sair dali com segurança. Mesmo que Red tenha conseguido escapar, provavelmente demoraria para ela e os outros limparem a área lá fora e virem a seu encontro dentro do 7-Eleven – então ele precisava agir mesmo sozinho. Praguejou a si mesmo ao lembrar-se que o facão encapado no coldre e alguns cartuchos de munição permaneceram ao lado das sacolas de mantimentos, aos pés da porta do estabelecimento. Se quisesse acesso a alguma dessas coisas, deveria passar por alguns zumbis bem famintos por seu cérebro. “Mas que merda”, pensou ele, soltando um pesaroso suspiro. Alguns socos e arranhões às suas costas o sobressaltaram e ele voltou a fincar com força os pés no chão para impedir qualquer outra abertura da porta.

Será que se ficasse quieto os mortos-vivos não desistiriam e iriam embora? Talvez pensariam que a comida já tivesse escapado e não estava mais lá. Eles pareciam acéfalos o suficiente para deduzir algo do gênero, mas o rapaz logo descartou a opção. Eles sabiam que ele estava lá e, movidos pelos instintos deturpados, só pensavam em cravar seus dentes uma-vez-humanos em outro humano. Então ele permaneceria ali, escorado à porta o quanto conseguisse, esperançoso que seus amigos viessem ajudá-lo ou que os zumbis realmente desistissem da refeição. Até os mortos deviam se cansar ou se darem por vencidos, não é?

Ele suspirou mais uma vez. Se suas teorias não fossem satisfatórias, teria de enfrentá-los frente a frente – e essa ideia o aterrorizou completamente.





Localização: Ford Ranger - Estrada nos subúrbios

4 dias após o Surto.


– - German-!... G... ...tá m-... -vindo? Caralh-... ...p-pode... m-...

– O walkie-talkie deles deve estar com problema! – Bufou Sam, enquanto dava tapinhas de leve no aparelho em suas mãos. – Molotov, é o Sam! Tá me ouvindo?

– - Algué-...

– Molotov. – Chamou o menino novamente, aos cochichos.

– - Ge-...

– Eles estão com problemas. – Sussurrou Germany. A morena fitava o porta-luvas, com os olhos arregalados, mas sem realmente enxergá-lo. – Red e... Molotov estão com problemas. – Repetiu ela.

Sam engoliu em seco e voltou a fitar o walkie-talkie. Este continuava com a luz acesa, mostrando que estava ligado, mas a voz de Molotov havia sumido. Apenas um sutil chiado e alguns estalos vinham dali. Desligou o aparelho e o colocou no bolso da calça jeans, voltando a se encolher no banco onde estava deitado.

Os dois passageiros continuavam escondidos, apenas observando a grande quantidade de zumbis que passavam muito próximos, janela afora. Nenhum destes sequer desviava o olhar para dentro da caminhonete, para o alívio dos sobreviventes; porém, a cada novo morto que entrava no campo de visão deles, a tensão parecia inflar-se ainda mais. Sam soltava baixos grunhidos agoniados vez e outra, e até sentiu algumas lágrimas rolarem por seu rosto. Era absurdamente assustador ver todas aquelas pessoas ensanguentadas e num terrível transe cadavérico circundarem aos montes a Ford Ranger. Se algum deles resolvesse desviar os olhos para baixo, veria os dois encolhidos ali dentro e os resultados disto não seriam nada agradáveis.

Germany mal se movera desde o momento em que Road Runner saiu do banco do motorista. A espingarda ainda repousava em seu colo e estava agarrada com suas duas mãos finas, já que o walkie-talkie fora passado para o menino no banco traseiro alguns minutos antes. Com receio de ser vista pelos mortos-vivos ao lado de fora, tanto Germany quanto Sam permaneceram abaixados e o ruivo continuou na caçamba, aparentemente também escondido e imóvel, já que não houve nenhuma movimentação lá trás. Nenhum deles, porém, tinha visão do que acontecia no 7-Eleven; mas, como a morena já deduzira, algo realmente estava se passando lá, já que Molotov os chamou desesperadamente pelo walkie-talkie.

Também não conseguiam exatamente distinguir os ruídos lá de fora, graças às janelas fechadas da caminhonete que abafavam bem a sinfonia de grunhidos. Alguns sons discrepantes dos murmúrios roucos dos zumbis se destoavam vez e outra, e Germany associou-os instantaneamente a tiros. Red, Molotov e Hollywood já enfrentavam os zumbis. Isso provocou uma sensação aguda de pavor na garota.

Um estalo mais alto, vindo de trás da caminhonete, chamou sua atenção e a de Sam. Movendo-se lentamente no banco, conseguiu virar sua cabeça para trás o suficiente para ver Road em pé na caçamba, mirando em alguns zumbis que circundavam ali perto. Mais disparos, sincronizados com os estouros escutados ali dentro da Ford Ranger.

– O Road... – Começou Sam, arregalando os olhos para Germany e engolindo em seco, sem terminar a frase.

– Seu idiota. – Disse ela, rangendo os dentes, sem desviar os olhos do ruivo.

A cada novo disparo, tanto ela quanto o garoto se sobressaltavam. A morena se endireitou no banco do carona e sentou-se corretamente, levantando os olhos para a estrada. Em meio aos mortos-vivos que cambaleavam em direção a eles, ela viu Hollywood em cima do carro, atirando contra os zumbis que queriam pegá-lo. Pôde ouvir Sam se remexendo no banco traseiro enquanto fitava o rapaz loiro.

– Ger! Olha lá! – Exclamou o menino, apontando para o 7-Eleven.

Ambos agora encaravam o mercado, metros distante deles, onde uma enorme comoção de mortos-vivos havia se formado ali, com vários adentrando o lugar em conjunto. Germany arregalou os olhos. Red e Molotov estavam lá, encurralados, e estariam perdidos em poucos minutos se nada fosse feito. Hollywood não estava em situação melhor, lidando sozinho com quase uma dúzia de zumbis que circundavam o Toyota e mais alguns que se dirigiam para ele. E Road precisava de ajuda ali atrás, já que chamara atenção de muitos dos que passavam ao lado da Ford Ranger. Agarrando a espingarda com mais força, a morena respirou bem fundo.

– Sam. – Chamou ela, sem desviar os olhos do mercado. – Não faça nada, está bem? Apenas continue escondido e bem quieto. E lembre-se do que eu falei: em último caso, corra bastante.

– Germany, o quê...

Ela o interrompeu, virando-se para ele e fazendo um sinal de silêncio, com o dedo indicador repousando à frente dos lábios. O menino anuiu brevemente, mesmo contrariado, e voltou a se deitar no banco traseiro, observando com olhos arregalados as pessoas que passavam pela janela.

Germany empunhou a espingarda, certificou-se de que ela estava carregada e respirou profundamente pela segunda vez, como se tentasse sorver forças do oxigênio a sua volta. Encarou dois zumbis que passavam ao seu lado e abriu uma pequena fresta na janela, apertando o botão do vidro automático.

– Ger. – Sussurrou Sam, assustado, mas recebendo apenas o silêncio em resposta.

A garota ajeitou-se no banco para ficar de frente para a porta, com sua perna direita dobrada debaixo da esquerda. Conseguiu empunhar a arma de modo que o final do cano se prostrasse um pouco para fora, pela abertura que deixara no vidro. Ela mirou por alguns instantes e finalmente atirou contra uma mulher de meia-idade que não possuía mais mandíbula. O tiro acertou a morta-viva na altura da têmpora, e seu corpo caiu com um baque alguns segundos depois. Os zumbis que estavam próximos pararam a caminhada e se voltaram para dentro da caminhonete, finalmente percebendo a presença de humanos ali. Sam soltou um murmúrio agoniado.



Road se sobressaltou com o estouro próximo de si, e logo percebeu que os mortos que circundavam a caminhonete tiveram a atenção atraída para o que estava dentro dela. “Germany”, pensou ele. Atirou em um homem baixinho que estava mais próximo da porta traseira direita antes que este conseguisse entrar na Ranger e logo ouviu mais dois tiros desferidos e mais dois zumbis caindo inertes próximos dali. Prostrou-se à esquerda da caçamba, no intuito de cuidar daquela porção da área já que Germany atirava nos que estavam do outro lado.

Uma mulher descabelada e com vários rasgos nas maçãs do rosto agarrou a beirada da caçamba e impulsionou-se para cima, tentando subir ali enquanto grunhia entre dentes. Road arregalou os olhos assim que viu a morta-viva estrebuchando para agarrá-lo – aparentemente eles também conseguiam escalar, e aquela em particular estava tendo sucesso nisso. Pouco antes de cair ao lado do ruivo, ela foi empurrada para baixo por um dos pés dele, recebendo também uma salva de maldições do rapaz e uma bala na altura do tórax. Um sutil sorriso de vitória se esboçou no rosto de Road.

Antes de continuar seus disparos contra os outros mortos-vivos dali, ele desviou os olhos rapidamente para sua direita e pôde ver que grande parte da horda havia se direcionando para o 7-Eleven. Também viu que Hollywood estava em cima do Toyota preto, atirando e desferindo machadadas nos que tentavam se aproximar dele.

Então, a terrível verdade o atingiu em cheio, como se ele próprio tivesse recebido uma bala no estômago – eles nunca dariam conta. Eram dezenas deles. Dezenas que fervilhavam naquela estrada, apesar da quantidade de corpos caídos que já decoravam o asfalto. Não tinham munição o suficiente para acabar com todos, e depender apenas do machado de Hollywood quando estas acabassem seria loucura. O rapaz, então, soltou um pesaroso suspiro e decidiu que já era hora deles saírem dali.


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