Sasuke.

Não consegui dormir a noite passada. Já não estava ninguém para apagar a luz e me desejar as boas noites. Tenho medo do escuro.

Estou vestido com umas roupas muito escuras, sinto a minha pele manchada de lágrimas, e sei que á volta dos meus olhos tem marcas profundas. A mamãe teria certamente gostado que tivesse-se me vestido de branco, porque era a sua cor preferida, em vez desta que me dá arrepios. Estava a tentar não chorar agora, afinal, já sou um menino crescido e tinha de ser forte. Estou de mão dada com o meu nii-san e tento manter o compasso dos seus passos. Algumas das pessoas que nos acompanham não as conheço, mas penso que certamente amam a mamãe como eu.

Não há como não gostar da mamãe.

Ao olhar para frente vejo um caixão, disse o meu nii-san que assim se chamava, com uma grande coroa de flores, todas as preferidas da mamãe, levado por quatro homens. Olhei para o chão depois porque, olhar para aquela imagem fazia o meu coração doer e recordar-me do dia anterior.

*

- Não, não a levem! – supliquei àqueles homens com uma cara estranha e triste.

- Sasuke…

- Nii-san, n-não deixes. – disse baixinho, olhando para ele enquanto soluçava, ele era crescido, certamente que o ouviriam.

- Ela parece que teve um ataque cardíaco que lhe foi fatal… lamento imenso. – percebi que aquele homem era médico por causa da bata branca.

Os homens taparam-na com um pano branco e saíram do quarto com a mamãe. Parecia que tudo aquilo não era real, passava-se tudo devagar aos meus olhos. Fiquei uns minutos a olhar para a porta, mas depois, corri até ela até o meu nii-san pousar-me uma mão no meu ombro, onde depois chorei no seu peito, até conseguir que a dor saísse.

*

Aqueles estranhos pousaram o caixão com cuidado, para depois, começarem a fazer um buraco fundo na terra. Estava um senhor com um livro e uma cruz na mão, só que, eu não entendia. A mamãe não era nada daquilo que ele estava a dizer.

Olhei arregalado quando os homens baixaram o caixão para o buraco na terra, e depois, começaram a deita-la por cima. Agarrei com força a mão do meu nii-san, e vi como tinha uma expressão séria no rosto.

- Nii-san, porquê?! Porque é que estes senhores estão a enterrar a mamãe? – puxei as calças do meu nii-san, pois, ele parecia não me ouvir. – Porquê?! Eu não quero! – olhei com medo para aqueles estranhos que enterravam a minha querida mamãe.

- Diz-lhes que ela só está a dormir, eu sei… ela, ela vai acordar! Não vai? – já estava desesperado, e deixei sem querer, que lágrimas descessem dos meus olhos.

- Sasuke… - ele colocou-se da minha altura e abraçou-me. O meu nii-san era forte por isso não estava a chorar.

- Por favor, tens de os parar, não os deixes que a levem! – soltei-me do seu abraço. - Mamãe! – tentei chegar mais perto do buraco, mas o meu nii-san agarrou-me na mão logo a seguir. Senti-me impotente naquele instante.

- Não chores Sasuke. A mãe vai para um lugar bom. – comecei a ficar interessado. O meu nii-san sabia de tudo.

- E que lugar é esse, nii-san? – tinha o rosto novamente molhado devido ás lágrimas, mas o nii-san ia arranjar uma solução.

- Não sei onde fica, mas um dia, todos nós vamos para lá, e enquanto não podemos ir, vamos recordar a mãe todos os dias, ela vai ficar muito feliz com isso. – vi como ele forçou um sorriso. Ele nunca sorria.

Pisquei depressa os olhos sem compreender o que ele queria-me dizer. Voltei-os novamente para aqueles homens estranhos que levariam a minha mamãe contra a minha vontade. Será que eles não viam o quanto tudo aquilo doía? Na minha cabeça passaram-se recordações que pareciam ser levadas cada vez que deitavam terra.

Quando acabaram, colocaram uma pedra branca, mas a primeira impressão que tive, é que era fria, tinha uma foto da mamãe muito séria, quando ela fica mais bonita a sorrir. Sabia que também escreveram qualquer coisa, mas ainda só tenho quatro anos, e ainda não aprendi a ler muito bem.

O dia foi acabando e ficamos só eu e o meu nii-san. Eu queria saber o que ele estava a pensar, mas, ele não tinha dito mais nada, depois daquilo que me disse.

Comecei a imaginar o que pensava.

Recordava-se de risos, de choros, do colo que a mamãe dava, de quando ela dava um beijo no joelho e a dor passava, do seu perfume, de como os cabelos da mamãe eram macios, da comida saborosa que ela fazia.

Tinha nas mãos um nenúfar branco rosadinho, que só eu sabia, tinha um significado especial, porque na última vez que falei com ela, ela disse, que apesar de o nenúfar ter sempre os pés molhados, nunca deixava de sorrir.

O meu nii-san aproximou-se e disse adeus depositando um beijo nos dedos soprando.

Aquela palavra não parecia a certa.

Aproximei-me como ele, coloquei o nenúfar perto da foto, e em vez de dizer adeus, disse…

- Até logo, mamãe.

*

- Naruto -chan sabes para onde foi a minha mamãe?

Ele era o meu melhor amigo, às vezes era meio baka, mas, eu gostava dele.

- A tua mamãe? – ele colocou um dedo no queixo. – A tua mamãe também deve estar com a minha.

- E onde é que ela está?

- No céu. – ele sorriu muito feliz enquanto apontava para cima.

- Sabes se é um lugar bom? – temia pela minha mamãe,  não sabia se tinha  bolo de chocolate ou até mesmo uma cama para dormir.

- É claro que é! – levantou-se. – A minha mamãe tornou-se um anjo e agora está no céu a cuidar de mim.

Agora compreendia porque é que ela era tão suave, porque o sorriso dela me aquecia, quando ela me embalava nos braços eu adormecia, quando ela cantava sentia um calor no peito, que toda a comida dela era saborosa, porque é que sentia-me bem todos os dias. Tê-la-ia sempre por perto para cuidar de mim. Mas e agora?

- Mas elas já não estão connosco. – baixei o rosto. – Como é que elas cuidam de nós? Tenho saudades da mamãe. – e vi os meus olhos encherem-se de lágrimas.

- Sasuke-chan, não chores. –  colocou-se frente a mim. – Também tenho saudades da minha mamãe. Mas sabes que mais? Eu sei que ela queria que eu não ficasse triste, e não me deixou completamente sozinho, tenho o Iruka-sensei a cuidar de mim! E você tem o seu nii-san. – sorriu e eu sorri juntamente com ele. – Vou pedir ao Iruka-sensei para vir amanhã á escola, e você, Sasuke-chan, vais pedir ao teu nii-san?

Era verdade, amanhã na escola, teríamos de dizer uma frase bonita a alguém importante na nossa vida. A mamãe já não estava, e era verdade, tinha o meu nii-san, que também era importante para mim.

 Durante a noite ele chorava muito baixinho.

Talvez também tivesse saudades do colo da mamãe.

Ouviu até dizer…

- Terei de ser um bom irmão ou um irmão responsável? Talvez ser um irmão responsável seja a melhor opção.

O meu nii-san estava errado. Só espero que ele venha á minha escola, para saber, a diferença entre os dois. Eu vou explicar-lhe.

*

Estava nervoso. A sala estava cheia de mães, mas, havia poucos pais. Estava na secretária, e olhei para trás, em busca do nii-san mas…

Ele prometeu que vinha. Mas ele não estava. Simplesmente não estava.

- Sasuke-chan, é a tua vez.

Levantei-me da cadeira com a cabeça baixa. Para quem é que iria falar se não havia ninguém para ouvir? Foi quando levantei a cabeça e olhei uma vez mais em busca do seu rosto tão familiar, e viu ao pé da porta, ofegante, cruzando os braços depois.

Sorri timidamente. Não lhe tinha dito o verdadeiro motivo para que viesse. Tentei parecer o mais adulto possível. Coloquei as mãos á frente e comecei a puxar pela minha camiseta.

- Eu.. hum…a pessoa mais importante para mim. – olhei para ele. – É o meu nii-san. A mamãe também era e ainda é, mas também, o meu nii-san sempre foi. O meu nii-san é o melhor, ele é forte, cuida de mim, e mesmo quando está triste, tenta animar-me. Eu sei que ele tem saudades da mamãe como eu, só que agora ela está no céu com a mamãe do Naruto-chan.

- Nii-san.

Os olhares todos caíram sobre ele.

- Sim?

- Sabes qual é a diferença entre um irmão responsável e um bom irmão?

Ele abanou a cabeça.

- Um irmão responsável não pode ser. Você nunca será nada disso.

Todos os adultos presentes começaram a deitar olhares acusadores ao meu nii-san.

Talvez eles também não sabiam a diferença.

- Você é antes um bom irmão.

- O que queres dizer, Sasuke-chan? – ouvi a professora dizer.

- Um irmão responsável é alguém que segue cada passo que o irmão mais novo dá.

- E um bom irmão? – desta vez era o nii-san.

- É alguém que o irmão mais novo deseja seguir. E eu vou-te seguir para sempre!

Fim.