Carnage Coffee escrita por Ana Bela


Capítulo 10
Nuvens de Dor e Morte Despejam Escuridão


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo porque sou legal *apanha*
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/163997/chapter/10

Estavam em uma sala bem ampla, mas apenas com uma mesa em um dos cantos e o resto da sala branca com assoalho bem tratado de madeira que era vazio tinha um sofá apenas no canto e com umas quatro janelas bem grandes que davam para a entrada da casa.

Hyde olhava distraído para fora da casa vendo Ken que conversava com alguém, provavelmente era a chata de Arisu. Ao menos estava conversando com alguém, sentia-se um pouco culpado de ter saído dali e nem ao menos ter dito uma palavra para ele, afinal Ken que naquele momento tormentoso estava o ajudando tanto, até havia vindo com ele e largou sua vida em Londres.

- O que foi Hideto? – Norio perguntou que o sobrinho nem dava atenção para o princípio de conversa ali.

- Ah... Nada. – Voltou os olhos inchados e vazios para o outro ali, percebendo que ele estava um pouco normal para situação, nem no rosto envelhecido mostrava alguma feição de tristeza, nem nos olhos castanhos.

- Bem... É difícil dizer isto num momento como esse, mas você herdou o dinheiro da família mais o seguro de vida dos seus pais. – Disse o encarando e viu que ele pouco se importou.

-... E daí? – Perguntou tão indiferente com aquilo, não queria dinheiro, não queria ser rico, queria apenas justiça e o assassino atrás das grades e até morto.

- Bem, você quer realmente ficar com o dinheiro? Porque se não quiser pode passar para outro parente ou deixar com o governo...

- Tio... Eu – Respirou fundo, que diabo de conversa era aquela naquele momento? -... Não tenho cabeça para isso agora.

- Eu sei disso, mas precisamos tratar disso agora... Porque se não tomar uma decisão certa o dinheiro vai direto para o governo. – Tentava explicar ao outro que o encarava tão vazio que nem parecia que tinha uma alma naquele corpo.

- Eu não sei... – Olhou mais uma vez para fora vendo o dono do café estava no quintal, agachado encostado no muro branco da casa e olhando para o nada, não mais conversava com nenhuma pessoa.

- Hideto, eu sei que é difícil isso... Até amanhã você me diz sua decisão... – Resolveu mudar de assunto, mas outro assunto que provavelmente Hyde não gostaria de ouvir. – Mas posso lhe pedir um favor?

- Sim, claro... – No momento que estava qualquer coisa aceitaria, estava tão frágil por dentro.

- Bem, como sabe aqui o trabalho não está algo fácil. – Por tal motivo até Hyde saiu dali, queria uma vida com mais oportunidades e não naquele lugar escondido. – E sua prima quer muito trabalhar, e precisa então eu lhe peço para que ela possa morar um tempo com você até arrumar um bom trabalho e alugar uma casa para si em Londres.

Hyde respirou fundo, sabia que aquilo não era uma boa ideia, já era um inferno aguentar a prima em poucas vezes que via a família, imagine todos os dias.

-... Está bem... – Concordou porque realmente não havia alternativas.

- Mesmo? Não atrapalhará sua vida?

- Vai, mas fazer o que, né? Ela vai viver as suas custas até quando? Já passou da hora de arranjar um emprego. – Disse como se aquilo fosse extremamente óbvio, Arisu tinha a sua idade e ainda dependia do pai.

- Muito obrigado Hideto, é por pouco tempo. – Abaixou um pouco a cabeça na forma de agradecimento.

-... Tudo bem... – Respondeu torcendo realmente para que fosse pouco tempo, a prima era muito mimada, nem lhe pedir aquilo fez questão, dependia do pai, era mimada desde criança sempre tendo o que queria sem limites.

- Bem já deu hora. – Disse olhando para o pequeno relógio ali em cima daquela mesa em que um estava de frente para o outro, com papéis e coisas alheias espalhadas. – Vamos então?

- Claro. – Disse já levantando, sem ânimo algum, odiava os momentos de dizer adeus, muito mais quando eram vezes de dizer adeus para sempre e para pessoas muito especiais em sua vida.

Ambos saíram daquela saleta e andaram pelo grande corredor daquela casa, sempre tão grande, tão aconchegante, agora parecia fria e assombrada por memórias ruins. Quando desceram as escadas viram Arisu sentada em um dos três sofás da sala, de braços cruzados e bufando muito nervosa, mas mudou a cara feia quando viu os outros dois se aproximando, pareceu ficar mais calma e os seguiu para fora da casa.

Ken continuava encostado no muro, quando viu Hyde na porta da casa foi até ele com as malas em mãos, o menor fez apenas um sinal para que ele colocasse as malas dentro da casa e seguiriam para o funeral.

 O dono do café fez o que o amigo pediu, logo em seguida saiu da casa e ficou ao lado de Hyde, o vendo agoniado e ainda mais triste, passou um dos braços nos ombros pequenos do outro, numa forma de tentar o confortar e proteger naquele momento.

Infelizmente o caminho até o cemitério era muito perto, então trataram de ir a pé, um silêncio cortante, mas também qualquer coisa dita ali seria inconveniente e ou machucaria ainda mais o coração de Hyde que estava em estilhaços, não queria chegar nunca ao cemitério.

Chegando naquele lugar moribundo foram até uma pequena sala onde tinham no centro dois caixões grandes de madeira. Hyde quando entrou naquele local claustrofóbico, viu aqueles grandes objetos e sentiu o ar morto dali não aguentou mais segurar lágrimas, chorava novamente, chorava ainda mais sentindo dentro de si doer.

- Podem abrir os caixões? – Tomou coragem e perguntou querendo uma resposta afirmativa.

-... Acho melhor não... – Uma pequena agonia percorreu o corpo do mais velho, aquilo não seria nada bom.

- Por quê? Eu já vi uma vez... – Perguntou novamente, lembrando-se de como estava o corpo do irmão, e pelo que o tio disse estava igual, apenas com mais cortes pelo corpo, mas os olhos também haviam sido arrancados e foram mortos a facadas.

-... Papai disse que foram feitos em pedacinhos. – Arisu fofocou, como se aquilo fosse importante naquele momento, havia dito o algo desnecessário fazendo com que Hyde a encarasse muito feio quase a fuzilando com o olhar.

-... – Não precisava dizer nada, seu olhar para outra já dizia tudo. – E daí? Eles são meus pais!

- Filho, melhor não... – Novamente o mais velho pronunciou, tentando tirar aquela ideia extremamente nojenta e maluca da cabeça do sobrinho.

- Por que não? Eu quero me despedir pela última vez mesmo neste estado... – Agachou-se chorando ainda mais, nem forças para se manter em pé tinha.

-... – Ken não aguentou apenas observar tudo aquilo, aproximou-se do menor e se agachou o abraçando com força. – Não fica assim, Hyde... Lembra de como foi muito difícil ver seu irmão naquele estado.

- T-tá bom então... – Disse entre os soluços, tentando se conformar com aquilo.

- Vai passar... – Acariciava o cabelo de Hyde, sentindo toda a tristeza do amigo, queria que ao menos diminuísse um pouco.

- Eu queria estar ali junto com eles... – Abraçou Ken com força, ele era o seu único amigo naquele momento.

- Não fala assim... – Abraçou-o com mais força.

Os outros dois ali observavam em silêncio, Norio se sentindo mal com aquela história toda e Arisu olhando muito feio para Ken, achou-o muito intrometido ali, ele definitivamente não deveria estar ali.

- Tudo vai passar Hyde... – Acariciava as costas do outro sentindo que ele soluçava muito em seu ombro queria o tirar dali, só estava fazendo mal ele ver aqueles caixões.

- E-eu não queria isso. – Disse fungando, estava com os olhos fechados, não queria mais ver aqueles objetos da morte.

- Eu sei que não...

Hyde se sentia ainda mais culpado, culpava-se por ter sido um filho ruim todos aqueles momentos, não valorizou os momentos alegres que tivera com a família e pouco a pouco tudo foi se perdendo, primeiro o irmão, agora os pais e nem havia dado um adeus correto para os três, não tinha mais família, não tinha um lugar para voltar.

- Eu sou tão mau... Eu não ligava todos os dias para eles, para saber como eles estavam... Nem todos os feriados passava com eles...

- Hyde, você fazia o que podia... – Ken disse sabendo que o amigo não era ruim, era apenas desligado para coisas assim, mas se preocupava muito.

- Agora tá tudo acabado.

Nada mais foi dito, ambos ficaram abraçados cada um com seu pensamento, um por ter sido tão indiferente com a família por anos e o outro tentando acalmar o amigo, tentando diminuir a tristeza.

- Hideto... Desculpe, mas temos horário marcado aqui... Logo vão usar essa sala... Podemos ir? – Arisu chegou perto de Hyde e dizia baixo apenas para o pequeno ouvir.

- Ok... – Hyde se soltou de Ken, logo se levantando e enxugando as insistentes lágrimas.

Dito aquilo, a hora de enterrar aqueles corpos estava cada vez mais próxima, não havia chegado mais ninguém ali, nenhum amigo, Hyde até preferiu aquilo, sem aquele amontoado de gente como se estivesse numa festa e não num enterro.

Andavam todos lentamente por aquele cemitério totalmente vazio, era uma descida com lápides e mais lápides com grama verde morta, nada poderia acalmar Hyde, sua dor apenas aumentava mais e mais. Ele olhava tudo como se o céu fosse cair na terra, e realmente parecia aquilo, o céu nublado parecia estar tão próximo.

Ali estavam, em frente aquelas covas vazias e os caixões vinham atrás. O menor se contorcia por dentro de dor. Não poderia ser daquele modo, não poderia ter sido assim, alguém interrompeu três vidas importantes na sua e não restou nada, apenas angústia. Seus olhos estavam brilhantes por causa de tantas lágrimas que manchavam todo seu corpo via terra cobrindo um dos caixões, ficariam as três lápides da família.

Não aguentava mais aquilo, não aguentava mais aquela aflição interior, tudo aquilo era estranho demais. Não deveria ter sido daquele modo, nunca deveria ter sido. Em toda sua vida nunca imaginou que um dia aquele fim trágico teria para os familiares.

Até o momento da viagem pensou que fosse realmente um sonho ruim e quando se desse conta teria acordado para mais um costumeiro dia de trabalho, mas ao ver aqueles caixões um ao lado do outro percebeu que era a triste realidade.

Ken observava atentamente Hyde, percebeu que ele estava um pouco desligado daquilo tudo, apenas os olhos permaneciam com as lágrimas persistentes. Não sabia mais o que realmente fazer, aquele momento era apenas para se despedir daqueles corpos mortos, Hyde deveria ficar apenas em seus pensamentos.

Mas em poucos minutos o baixinho percebeu sua visão escurecer. Desmaiou, preocupando a todos ali, Ken gritava o seu nome enquanto o segurava, era dor demais para uma pessoa só suportar.

***

Abriu os olhos lentamente sentindo uma extrema dor de cabeça, sentia também um extremo cansaço nos olhos, também estavam super inchados de tanto chorar. Olhava para o teto, tudo ali silencioso, conhecia aquele teto com estrelinhas de neon coladas espalhadas ali, aquela luz também. Olhou para o lado e a primeira coisa que viu foi a figura de Arisu com aqueles trajes negros que propositalmente marcavam muito o seu corpo sentada em uma cadeira o encarando.

-... Onde eu tô?... – Perguntou com a voz sonolenta ainda não ligando totalmente os fatos.

- Tá no seu antigo quarto, Hideto. – A outra respondeu com um leve sorriso.

- O que aconteceu? – Ainda não entedia o motivo de estar ali.

- Você desmaiou lá no enterro. – Passava uma de suas mãos no cabelo bagunçado do primo.

- Ah sim... – Ao poucos se lembrava de tudo, fechou os olhos e respirou fundo querendo voltar a dormir.

- Descanse.

- Fala pro Ken ficar aqui... Não quero ficar sozinho. – Pronunciou ainda de olhos fechados sentindo-se totalmente sozinho naquele lugar frio, estava coberto com sua antiga manta quente mesmo assim sentia muito frio.

- Hideto eu estou aqui com você, não sairei daqui, não se preocupe com isso. – Arisu disse sentindo uma leve pontada novamente de raiva por a fala do outro e por um acontecimento que ocorreu enquanto Hyde estava ainda desmaiado.

- E quem disse que quero que você fique aqui? – Abriu os olhos encarando feio a prima.

- Por que está agindo assim comigo?

- Nós nunca fomos amigos, por que está tentando bancar a prestativa?

- Oras, é isso que parentes fazem, ajudam uns aos outros em momentos de dificuldade. – Tentou explicar, tirando a mão do cabelo de Hyde, estava começando a se irritar novamente.

- Que eu saiba parente de verdade tá junto em todos os momentos... E eu ouvi muito bem o que você disse para o seu pai quando meu irmão morreu... “Antes ele do que eu...” – Disse rancoroso, odiava o modo falso que a outra agia.

- Eu não quis dizer isso Hideto, que coisa horrível de se dizer... – Estava espantada, achou que o outro não havia ouvido naquele dia.

- Então o que quis dizer?

- Eu nem estava falando dele... Ás vezes você entende o que sua mente acha... – Não queria ficar mais ali, poderia dizer coisas desnecessárias, levantou-se da cadeira e foi em direção da porta.

- Tá, agora chama o Ken...

- Tá bom... – Bateu a porta com força, já não bastava o acontecimento de mais cedo não agüentaria as reclamações de Hyde.

Hyde observou a outra sair um pouco irritada do quarto, depois voltou a olhar para o teto. Sua cabeça doía demais, parecia que esteve dormindo por anos e anos para tal dor ser tão irritante. Apenas respirar já fazia com que aquela dor latejante piorasse. Não gostava de quando desmaiava, e perdera a última chance de se despedir dos pais, agora estava tudo acabado.

Sabia que teria que ser mais forte, não poderia desmaiar por qualquer motivo, claro que o motivo de seu desmaio não foi qualquer coisa, mas mesmo assim se sentia culpado nem ao menos naquele último momento com os pais conseguiu se manter um bom filho, teve que perder a consciência,não foi forte o suficiente para aguentar até o final.

Hyde se culparia pelo resto da vida por tanto motivos, queria ter feito tantas coisas com a família, que morreu cedo demais para que de uma forma tão bruta em poucos dias todos foram aniquilados.

Aquela carnificina toda sem sentido aparente havia perdido tudo, toda aquela alegria que tinha da casa em feriados ou em fins de semana que viajava para aquela casa que era um refúgio da rotina estressante, agora era um lugar frio e vazio, não havia mais vida ali, todos estavam dormindo profundamente a sete palmos do chão, o corpo mutilado pouco a pouco sendo devorado por vermes.

Aquele quarto então, nada tinha mudado desde quando fora morar em Londres, cada detalhe, o guarda-roupa com enfeites, a escrivaninha com seus vários e vários desenhos, fotos, coisas pessoais, memórias lindas. E em dias uma nuvem de dor e morte chegou e despejou na casa a escuridão.

Respirava fundo, nem conseguia mais manter os olhos abertos, como queria desaparecer de uma vez por todas. Seria mais fácil do que permanecer vivo naquele mundo sujo. Aquele sonho não saia de sua mente, duas vezes teve aquele sonho, queria ter mais uma vez, anunciando sua morte. Viver para si não valia mais a pena.

Estava sozinho no mundo, sem mais nenhum parente. Claro que ainda tinha Norio e Arisu, mas nem os considerava mesmo, ambos só estavam em reuniões de família e festas, mesmo que morassem muito próximos dos pais e do irmão.

Mas no fim, foram ambos que sobraram e estavam lá naquele dia difícil, mais uma vez. No enterro do irmão também estavam, mas tinha muitos amigos, então quase não foram notados mesmo sendo os únicos familiares de Hyde e os pais

E o seu maior ódio, o que vencia até sua culpa era a indiferença da polícia no caso do irmão, se houvessem se mexido desde o começo, com certeza poderiam ter até encontrado o culpado, ou mesmo um suspeito e a morte dos pais até nem teria acontecido. Entretanto, nada daquilo aconteceu, ficaram muito indiferentes para aquele caso.

Hyde estava agora contando com si mesmo, iria buscar informações de qualquer coisa que pudesse servir e também apressaria a polícia, não descansaria até encontrar o desgraçado culpado por aquilo tudo, uma questão de honra para si e questão de justiça, só assim a família poderia descansar em paz.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Carnage Coffee" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.