Já eram nove e meia quando Kayla acabara de ajudar Clarice a arrumar a louça do jantar. O resto da família encontrava-se na sala. Mal entraram na sala, Richard dirigiu-se a Kayla.

- Kayla, podes chegar aqui?

 A rapariga assentiu com algum estranheza dirigindo-se a ele e a Damon.

-Sim?

- Tenho uma proposta para ti! Visto que chegaste à pouco tempo da Austrália, - o Damon já me contou a vossa fabulosa história de amor,- que tal sairmos hoje para beber um copo, dançar, sei lá... O que achas? Conheceres a fantástica noite da nossa cidade. Dançar,... Sei lá...

Damon olhava para ela confuso, sem saber que dizer. Ela não estava com grande disposição, mas teria de ir atrás de Damon, independentemente do sítio.

- Se o Damon quiser ir, sem problemas. Mas tenho de ir trocar de roupa, se não se importarem.

- De certeza?

- Claro! Mas então Richard dá-nos meia hora para ir-me vestir... Sim, Damon, vens comigo. Vamos. – A rapariga agarrou a mão do “namorado”, despediu-se dos anfitriões da casa e saiu para a sua casa. No elevador lembrou-se de ligar para James, observada por Damon.

- Hey, James.

- Então miúda como está a correr?

- Para já tudo bem. É para avisar que vou sair agora com o menino Darin e o primo. Não sei onde vamos, por isso, gps. Falamos melhor depois, ok?

- Qualquer coisa já sabes, chau miúda.

- Obrigada, James. Chau.

Saíram do elevador em silêncio e abriram a porta de casa. Damon informou quais os mais prováveis sítios a que iriam. Primeiro, um bar perto da marina, quase na praia e de seguida uma discoteca pela zona. Seguiram cada um para seu quarto e 30 minutos depois a campainha tocou. Era Richard que esperava-os. Damon já estava pronto e estava a fazer companhia ao primo enquanto a rapariga se arranjava, sem saber muito bem o que queria usar.

** ** ** **

Depois de alguma indecisão, decidiu que estava bem assim mesmo: um vestido preto, discreto, uma clutch pequenina e preta e uns saltos nude. Para finalizar investiu em carregar os olhos, esfumando uma sombra verde escura e preta. Vestiu um casaco preto e saiu para o corredor.

- Damon? Podes chegar aqui?

Damon apareceu subitamente e a rapariga ligou as luzes. Damon esfregou os olhos devido a claridade e depois fiquei observando a pobre miúda de cima abaixo.

- Está bem assim? – Questionou-o “Kayla”. Não obtendo resposta perguntou-lhe se queria que desse uma volta.

-Ah não, não é preciso... Acho que... Está bem, está muito bem...

- Ok, já entendi que não preciso de mudar de roupa. – esboçou um sorriso e entrou na sala, deixando Damon para trás. Uns segundos depois este foi ao encontro do primo e da suposta namorada. Saíram os três para a garagem: Damon entrou no seu BMW X1 branco, de vidros esfumados e Richard seguiu para o seu porsche cayenne preto.

Após meia hora de viagem silenciosa, entraram para um parque privado de um dos imensos bares perto da marina. Saíram do carro e o telemóvel de Kayla vibrou. Abriu a mensagem e entendeu que estava a ser seguida pelos seus colegas, o que a fez sentir-se bem mais segura.

Damon ia uns passos avançado quando a rapariga, até antes encostada ao carro, acelerou o passo atrás dele, agarrando a sua mão.

- Desculpa, falta de hábito... – Sussurrou Damon sorrindo para ela, fazendo o seu papel de namorado perfeito aos olhos dos outros.

- Sem problema, mas cuidado com isso... – Kayla falou usando a mesma linguagem corporal que ele, como um feliz e cúmplice casal. Avançaram até Richard, que se encontrava na porta do bar a falar com um segurança, que pelos vistos era amigo dos primos. Alto, entroncado, cabelo a pente zero e uns enigmáticos olhos verdes. Este era Brian, o segurança do bar “SkyBar”.

Depois dos típicos cumprimentos entre elementos do sexo masculino e de algumas piadas, Damon entendeu que Brian estava intrigado com a presença feminina que lhe dava mão, que ia observando tudo em seu redor, e decidiu apresentá-los. Depois de todas as cortesias, Brian deixou-os passar à frente das outras pessoas. Naquele período de tempo, em que esperavam e entravam no bar, Kayla sentiu-se bastante observada pelas pessoas da fila e viu que as raparigas observavam-na a ela e aos acompanhantes com grande curiosidade mas também alguma inveja, assim como os rapazes a olhavam com curiosidade e espanto. Supostamente, Damon,o ícone do surf, estava solteiro até à um dia atrás... Seria mais um relacionamento passageiro? Ou até de apenas uma noite... Ninguém sabia.

O bar tinha as paredes exteriores em vidro, com vista à praia, e as restantes em tons de branco e decoradas com elementos de madeira. Puffs, sofás e almofadões em cores claras inspiradas na Natureza e cadeirões em madeira, eram distribuídos pelos cantos do bar, iluminado por velas, tochas e uns candeeiros suspensos. Os bares eram em madeira e haviam heras à volta das colunas. Apesar de toda a decoração remeter para um ambiente selvagem, pormenores como o aquário embutido a parede, as velas e outros pormenores deixavam o bar com um ar mais moderno.

Mal entraram, uma rapariga de cabelos curtos e loiros, estatura mediana e olhos azuis, apressou o passo até eles, com alguma dificuldade devido aos saltos astronómicos que usava e ao vestido super decotado e curto, que não a favorecia muito.

- OMG, os Darín por aqui?! OMG, que foi feito de vocês rapazes? – Falou histericamente atirando-se nos braços dos dois. – Richaaaard... – Falou ela agarrando a cara do rapaz e depositando-lhe um beijo perto dos lábios – Sempre galanteador! – De repente, vira-se para Damon, aproximando lentamente a sua cara da dele, e sussurrando – E tu, DD, desapareceste do meu radar por algum tempo... Que se passou?

- Passou que encontrou algo melhor com que se entreter... – Damon ficou branco quando Kayla falou com uma voz carregada de sarcasmo, tentando olhar para ela sem se mexer. A loira olhou de soslaio para a rapariga que, ainda de mão dada a Damon, estava um passo atrás, e revirou os olhos como se não houvesse resposta óbvia, questionando:

- E foi o quê?

- Namorada... – Ao dizer isto, a falsa ruiva deu um passo em frente, pondo-se um pouco entre a outra rapariga e o “namorado”, e levantou a sua mão e a de Damon entrelaçadas.

- Hummm... – Afastando-se lentamente a loira, que provavelmente estaria um pouco alterada, entendeu o recado, nunca tirando os olhos dos dois rapazes. – Foi um prazer rever-vos. – E rodou sobre os seus próprio pés, piscando-lhes o olho e seguindo para a mesa de umas raparigas, do mesmo género que ela, que a observavam muito atentas e comentando tudo, nada discretamente.

- Também foi um prazer conhecer-te querida! – Disse Kayla com bastante sarcasmo na voz e um sorriso de canto. – Que pessoa péssima. Desculpem se ela era vossa amiga, eu posso passar por muita coisa, mas não por estúpida ou lerda! - Ela olhou para os rapazes com alguma inocência, eles retribuíram o olhar e depois olharam-se entre eles, desmanchando-se a rir. Damon sem largar a sua mão, abraçou-a com o braço livre, ainda a rir-se e murmurou um “obrigada” no meio de gargalhadas. Depositou um beijo na sua testa e largou-a, puxando-a até uns sofás brancos perto da porta que dava para a esplanada de praia.

- Miúda, foste caída do céu, obrigada por nos livrares... daquilo! – Richard ainda se ria como um perdido quando chegaram aos sofás.

“Let me sing it again,
Richie talking again.

Everytime I cry for my baby,
She never comes back
Girl I miss your smile and your body,
My head it's gone off track
Everytime I cry for my baby
She always makes me hurt
For all the wrong I've done to you lady
Give me one more effort

And I've been through everything to be with you,
So you must know I love you.”

- De onde vem esta música? Não é da tua mala?

- Pois é! Obrigada Richard. – A rapariga esboçou um sorriso e olhou o telemóvel. – Importam-se que eu atenda?

- Claro que não, força! – Incentivou Richard. A rapariga atendeu de imediato, virando-se um pouco de lado para os rapazes e começou a falar em português.

- Tânia! – Gritou de forma contida e a tentar controlar a emoção, apesar da música abafar o som.

- Inêêêêssss! Ai, finalmente! – Do outro lado, a amiga não escondia o tom de voz, nem a emoção.

- Tenho tantas saudades tuas, tantas, tantas, que nem imaginas. Quando isto acabar tens de vir ter comigo de férias! Como é que estás? Conta-me coisas!

- Fazes-me tanta falta aqui! E estou mortinha para ir ter contigo, que tédio que para aqui vai... Eu estou bem, mas e tu? Conta-me tu coisas!

- Eu não te posso dar grandes avanços agora... Só te posso dizer que trabalho com pessoas bem interessantes. Ahahahah! Quem me dera puder contar-te tudo fofinha... Bahh, custa-me não puder desabafar e contar-te o mirabolante que para aqui anda.

- Mal acabe contas-me tudo! – Kayla conseguiu imaginar Tânia a esboçar um sorriso verdadeiro – Onde e com quem estás? Ouve-se música...

- Estou numa bar com a pessoa com quem estou a trabalhar e um familiar dele que, por acaso, aposto que ias adorar!

- Uhhhhhh, que isso acabe rápido que é para eu puder saber quem são!

- Amor, eu vou ter que desligar... Quando puder eu ligo-te e vai ligando também. Daqui a pouco vou desejar tanto que estivesse com vocês... Enfim... Desculpa.

- Não faz mal Nessie, porta-te bem por aí. Não nos esqueças, sim? Sentimos a tua falta. Bem, vá, beijinhos. Love youuuuu muito!

- Beijinhos... E porta-te tu bem! Obviamente que não me esqueço de ninguém! Também te amo muito louquinha. Chauzinho...

Quando desligou o telemóvel, a rapariga sentiu-se prestes a derramar uma lágrima. Respirou fundo, discretamente, e virou-se novamente para os rapazes.

- Peço desculpa, precisava de atender.

- Oh Kayla... Desculpa a indiscrição mas... estavas a falar com uma rapariga certo?

- Sim Richard, estava. Porquê? Podes perguntar o que quiseres, não te vou morder. Ahahah!

- É que vi a foto dela quando tiraste o telemóvel... É bonita ela, tem um sorriso bonito...

- Oh Richard, diz-me que não estás a fazer isto! Ahahahahahah! – Damon começou a gargalhar ruidosamente.

- Ahahaha, sim Richard e ainda é mais bonita ao vivo! Chama-se Tânia, tem a minha idade, é uma recente e conceituada advogada e é como irmã para mim.

- E ela não te vem visitar? O que foi? Não olhem assim para mim! Ela podia vir...

- Prometo que quando ela vier, terás prioridade em conhecê-la. E, só um aviso, não uses cantadas com ela... Não resulta, ela fica sempre por cima.

- Quem te disse que o ia fazer? – Disse Richard com cara de espanto.

- Não é preciso de dizer, basta falar contigo 5 minutos.

A esta hora já Damon sorria, olhando o primo e o seu suposto romance, divertidamente. E eles acompanhavam-no. Falaram sobre o grupo de raparigas que estavam com a Natasha: este era o nome da loira arrogante. Kayla tirou algumas informações que lhe seriam úteis mais tarde: Natasha e Allison, outra rapariga loira do grupo, tinham sido suas colegas de escola e, também, “curtes” esporádicas de certas bebedeiras. No liceu, elas chegaram perto do grupo deles a partir de uma rapariga que de ambos os grupos. No entanto, notou uma certa contenção quando falaram da rapariga que era o elo de ambos os grupos. Seria algo a averiguar.

Já pelas 23 horas decidiram seguir para a discoteca. A típica discoteca grande de paredes brancas, largas colunas e luzes néon. Em cima de algumas mesas, na pista house e já depois de terem entrado para o local pelas traseiras, bailarinas dançavam. Estavam na zona VIP da discoteca que era uma espécie de varandim de primeiro andar, luxuoso, que percorria todas as pistas da discoteca. Decidiram dar uma volta por todas as pistas para que Kayla ficasse a conhecer. Enquanto passavam pelas pessoas, os primos não passavam despercebidos, nem ela, cumprimentando muitos dos outros clientes da discoteca.

Chegaram ao que parecia ser a pista latina, com uns tons um pouco diferentes dos do resto da discoteca devido aos candeeiros de pérolas coloridas pendurados e outros elementos decorativos.

Lá, um rapaz de cabelos cor de cobre, cuidadosamente despenteados e olhos azuis aproximou-se.

- D! ‘Tá-se bem boy? E quê? Pronto para o campeonato daqui a... Nada mais nada menos que 36 horas?

- Paul! Minha bitch! Claro que sim mano...

- Ei, ei, ei,... Olhem só quem é ele! O Richie! Pá! Mano!

Enquanto os três rapazes se cumprimentavam e falavam descontraidamente, Kayla sentiu-se ligeiramente fora do contexto, no entanto, aproveitou para se distanciar e aproximar-se do beiral do varandim e observar o ambiente e as pessoas, sem dar nas vistas. Encostou-se a uma coluna e pôs o seu braço sobre o corrimão. Saudades de casa. O ambiente fazia-lhe lembrar as saídas com o seu grupo e, saber que não os podia ter ali para se divertir com eles, chegava a ser doloroso.

- Espera lá... E aquela miúda que está com vocês? Quem é?

- Esta é a... A Kayla, Richard? – Damon apercebeu-se do desaparecimento quando deu um passo para trás e não sentiu a sua presença. De repente, os seus olhos pousaram sob uma figura de vestido preto, cujos olhos vagueavam pelo local, com alguma tristeza. Damon, sem justificações, seguiu em passadas apressadas ao seu encontro, e pousou a mão no seu ombro, encurralando-a na coluna. – Kayla? Está tudo bem?

- Ai, ai... Desculpa, sim está tudo óptimo. Estava só a observar o espaço e distrai-me! Peço desculpa...

- Não tens nada que pedir desculpa! Anda, vou-te apresentar aquele marmanjo.

Pegou na sua mão e puxou-a pelo caminho. Quando chegaram perto do marmanjo, Kayla foi apresentada como namorada de Damon... O coitado ficou boquiaberto e felicitou ambos. Decidiram seguir o caminho pela discoteca e sentaram-se nuns sofás brancos com uma mesa de apoio. Começaram a conversar e Damon explicou a Kayla quem eram algumas das pessoas que ele cumprimentara, como se a actualizá-la agora que ela também os iria conhecer... Afinal eram namorados. Passado cerca de meia hora a discoteca estava a abarrotar e a música começava a melhorar. Foi aqui que Richard se escapuliu com uma ruiva de olhos castanhos pelo meio da multidão, depois de lhe fazer olhinhos e sussurrar umas palavrinhas doces.

- Que casal mais macambúzio! Mexam-se, vão mas é dançar, aproveitem que já não me têm como emplastro. Hasta!

E assim, desapareceu na multidão. Kayla, receosamente questionou Damon, mantendo o seu papel de namorada para os outros:

- Tens por hábito dançar? De livre vontade quero eu dizer...

- Só se estiver bêbado... Ou acompanhado, mas muito discretamente. – E riu-se. – Visto que estou acompanhado, a música está boa e eu tenho que manter aparências... Se calhar devia dançar, mas não sei, se queres ou gostas, ou...

Neste momento já Kayla estava de pé puxando-lhe a mão com um sorriso discreto:

- Vamos?

- Sabes dançar? Quero dizer... Não duvido das tuas capacidades... É só que se não te apetecer ou assim, não há problema.

- Damon? Cala-te e mostra-me o caminho, por favor. – Dito isto, encostou-se a ele e seguiram de mão dada e sorriso estampado no rosto.

A noite apenas havia começado...