A Vila Velha escrita por Sayurin Konata


Capítulo 1
Introdução.




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Hey, Halt! É verdade que vai para Norgate?

Halt olhou por cima do ombro, parando de arrumar a cela de Abelard e vendo Will deter Puxão, ofegante, logo atrás dele. Naturalmente ouvira o pônei de seu ex-aprendiz se aproximando ruidosamente, então não teve reação imediata. Quando a fez, olhava com aparente indiferença para a visita, a cabeça um pouco baixa, por pouco deixando que Will encarasse ansiosamente os olhos pequenos e negros do ex-professor. Um suspiro profundo do homem de cabelos grisalhos e logo este voltou a atenção para a própria montaria.

– Não poderia calar as perguntas mesmo não sendo meu aprendiz? - falou, apertando a cinta que prendia a cela. Dissera em tom aborrecido, mas por dentro continha uma leve felicidade que preferia não demonstrar.

– Bem, desculpe... - respondeu constrangido e prosseguiu mais depressa: - Mas é verdade ou não?

Halt pôs uma sacola de mantimentos nas costas de sua montaria e a prendeu com um nó e um puxão bem dados. Girando nos calcanhares após conferir se tudo estava certo para a viagem, olhou bem para o semblante inquieto e temeroso de Will e limitou-se:

– Sim, é.

– Mas acabei de me formar! - retorquiu o jovem imediatamente, afobado. - Não pode mesmo ficar? E se eu precisar de ajuda? Não sei de muito aind...

Encarando-o com mais rigidez, Halt conseguiu conter o início de uma enxurrada de argumentos. Mais um pouco e a situação corria o risco de ficar totalmente fora de controle. Em voz controlada, respondeu com transparência:

– Não vou lhe enganar dizendo que não terá de aprender certas coisas, mas para isso não depende mais de mim.

– Como tem certeza? - insistiu quase penosamente.

– Acha que eu permitiria que tomasse conta de um feudo como Redmont sozinho caso não fosse verdade?

Will ficou em silêncio. Apesar de mais ousado em fazer perguntas, continuava "calável" pelo antigo mentor. Olhando desamparado para o chão, suspirou após alguns instantes de olhar vazio, largou as rédeas que apertava com força absurda o tempo inteiro e desceu de Puxão, indo a Halt. Eram praticamente da mesma altura, mas por frustração não conseguia encarar o arqueiro mais velho nos olhos.

– Bem... - começou tristemente e admitiu: - Só posso desejar boa sorte então. Adeus, Halt. - e abraçou o amigo, dando-lhes alguns tapinhas nas costas.

Halt fez o mesmo, lembrando do abraço dado por Will quando encontrado por Horace e ele a caminho da Escandinávia, não muitos anos antes. Tinha um sorriso no canto da boca pouco antes de se afastarem.

– Sentiremos sua falta. - o rapaz continuou. - Eu, Horace, Cassandra e todos os outros. - e acrescentou uma pequena brincadeira: - Pelo menos poderei tentar enganá-lo todo ano no encontro dos arqueiros, como Gilan.

Halt ergueu uma das sobrancelhas, de leve expressando divertimento.

– Então serei obrigado a separar uma ou duas flechas só para você.

Um riso triste do jovem, dado com um breve tremor de lábios. Halt acenou brevemente com a cabeça para ele, dando um olhar significativo para ele. Então virou novamente para Abelard e montou com facilidade enquanto o cavalo trocava alguns relinchos com Puxão. Era como se despedissem também. Halt acariciou de leve o pescoço do fiel animal e apertou-lhe a barriga um pouco com os calcanhares, iniciando um trote rumo ao seu destino.

– Adeus! - despediu-se outra vez Will, aumentando o tom de voz para garantir que seria ouvido por aquele que já tinha tomado certa distância.

– Até logo para você também! - Halt respondeu, erguendo uma das mãos em gesto de despedida.

Enquanto partia sem olhar para trás, admitiu com seus botões estar com o coração na mão ao deixar Redmont e todos que lá viviam. Com a capa cinza e verde esvoaçando suavemente e o capuz na constante ameaça de revelar seus cabelos grisalhos, evitava qualquer lembrança para que não voltasse e inventasse uma desculpa qualquer para não ir a Norgate. Afinal, uma parte dele queria ficar com as pessoas que amava.

Dissipando sua mente daqueles pensamentos antes que fosse tarde, relembrou novamente do dever. Como arqueiro, não poderia deixar uma região desprotegida por capricho. Mesmo assim, estava convicto de que não relutaria na primeira oportunidade de voltar para casa.

Mal sabia como seu retorno demoraria graças à intervenções de cabelos castanhos.


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